sábado, 23 de outubro de 2010

Arnold Toynbee e as novelas

Ninguém sabia quem era esse cara até um internauta ter a idéia de mandar a frase dele pra todo mundo. E o mundo gostou, porque passa e repassa:

"O maior castigo para aqueles que não se interessam por política, é que serão governados pelos que se interessam."

Já estou de saco cheio dessa frase. Já recebi um zilhão de vezes no meu e-mail. O cara era economista e tenho certeza de que deve ter falado alguma outra coisa digna de registro. Mas não, só lembram disso.

Só porque estou enjoada da frase dele, resolvi dar uma "respostada". Quem não gosta de política não merece castigo.  É igualzinho a não gostar de novela. A gente assiste, morre de raiva das mentiras, das armações, dos protagonistas abestados, dos beijos que não aconteceram, dos beijos que não deveriam acontecer... e não pode mudar nada.

Novela me irrita porque não gosto de me sentir de pés e mãos atados. Nem gosto das mentiras deslavadas da novela. Uma vez assisti um pedaço de novela, mas dava pra sacar essa: uma mulher beirando os sessenta anos é abandonada pelo marido. Ela, dona de casa, totalmente alienada do mercado de trabalho. Pois foi descartada num dia e no outro meteu a cara no mercado e tornou-se empresária bem sucedida. Só pra dar mais raiva, ainda aparece um coroa lindo, daqueles cujo cardápio é só coelha pa Play Boy, e se apaixona por ela. Pra piorar: o marido se arrepende e a quer de volta. Ah, vai mentir assim lá na "onde-vocêsabe".

Pois é: não posso influenciar na história nem xingar o autor nem dar dicas aos personagens nem matar os safados. Droga, quer dizer que minha missão como expectadora é ficar sentada e engolir toda aquela historinha que deveria me divertir, mas só me irrita?

Gostar de política é assistir política como quem assiste novela. Você torce, vibra, discute mas não passa de um zé ninguém que não pode fazer nada. Os personagens farão o que quiserem independentemente da opinião do  ser culto e reles  que os assiste. A única recompensa de "assistir política" é sentir-se culto e informado. Isso é de ótimo efeito nas mesas de bar. E só. Se você não tem pendor nem fibra para ser um líder, você só serve para ter úlcera.

Não quero ter úlcera. O Ministério da Saúde adverte: novela e política fazem mal à saúde.

Fico imaginando (momento de ficção!) se os políticos, do outro lado da tela, também não "assistem o povo". Já pensou? Eles se divertiriam vendo a gente xingá-los e dariam gargalhadas da nossa raivinha impotente. Sabe a brincadeira do moleque que quando passa no portão da vizinha adora irritar o cão bravo só porque sabe que ele está preso? Pois é. Nós, sendo assistidos do outro lado da tela, devemos causar a mesma emoção safada: eles nos irritam e riem muito porque estamos presos.

Quer saber?  Na condição de blogueira eu completo a frase do economista Arnold Toynbee.   Ele disse que o castigo dos que não se interessam por política é ser governado pelos que se interessam. E eu digo  que o castigo dos que SE INTERESSAM por política é mais cruel ainda: é terem o mesmíssimo castigo dos que não se interessam.

Ora bolas!

E eu, que tinha dito que não falaria mais em política...

Um comentário:

  1. kkkkkkk... Essa foi a primeira vez que tive acordo com uma postagem sua sobre política ... realmente é assim que me sinto hoje e olha que também já estive entre os que se interessavam (e muito) por política. E não só essa política mesquinha que é a eleitoral, pois achava que era necessário postura crítica (que no final é postura política) diante da vida... agora tô me lichando, essa que é a verdade! tô só tentando tirar o máximo prazer da vida até a morte chegar. Bjim,

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sábado, 23 de outubro de 2010

Arnold Toynbee e as novelas

Ninguém sabia quem era esse cara até um internauta ter a idéia de mandar a frase dele pra todo mundo. E o mundo gostou, porque passa e repassa:

"O maior castigo para aqueles que não se interessam por política, é que serão governados pelos que se interessam."

Já estou de saco cheio dessa frase. Já recebi um zilhão de vezes no meu e-mail. O cara era economista e tenho certeza de que deve ter falado alguma outra coisa digna de registro. Mas não, só lembram disso.

Só porque estou enjoada da frase dele, resolvi dar uma "respostada". Quem não gosta de política não merece castigo.  É igualzinho a não gostar de novela. A gente assiste, morre de raiva das mentiras, das armações, dos protagonistas abestados, dos beijos que não aconteceram, dos beijos que não deveriam acontecer... e não pode mudar nada.

Novela me irrita porque não gosto de me sentir de pés e mãos atados. Nem gosto das mentiras deslavadas da novela. Uma vez assisti um pedaço de novela, mas dava pra sacar essa: uma mulher beirando os sessenta anos é abandonada pelo marido. Ela, dona de casa, totalmente alienada do mercado de trabalho. Pois foi descartada num dia e no outro meteu a cara no mercado e tornou-se empresária bem sucedida. Só pra dar mais raiva, ainda aparece um coroa lindo, daqueles cujo cardápio é só coelha pa Play Boy, e se apaixona por ela. Pra piorar: o marido se arrepende e a quer de volta. Ah, vai mentir assim lá na "onde-vocêsabe".

Pois é: não posso influenciar na história nem xingar o autor nem dar dicas aos personagens nem matar os safados. Droga, quer dizer que minha missão como expectadora é ficar sentada e engolir toda aquela historinha que deveria me divertir, mas só me irrita?

Gostar de política é assistir política como quem assiste novela. Você torce, vibra, discute mas não passa de um zé ninguém que não pode fazer nada. Os personagens farão o que quiserem independentemente da opinião do  ser culto e reles  que os assiste. A única recompensa de "assistir política" é sentir-se culto e informado. Isso é de ótimo efeito nas mesas de bar. E só. Se você não tem pendor nem fibra para ser um líder, você só serve para ter úlcera.

Não quero ter úlcera. O Ministério da Saúde adverte: novela e política fazem mal à saúde.

Fico imaginando (momento de ficção!) se os políticos, do outro lado da tela, também não "assistem o povo". Já pensou? Eles se divertiriam vendo a gente xingá-los e dariam gargalhadas da nossa raivinha impotente. Sabe a brincadeira do moleque que quando passa no portão da vizinha adora irritar o cão bravo só porque sabe que ele está preso? Pois é. Nós, sendo assistidos do outro lado da tela, devemos causar a mesma emoção safada: eles nos irritam e riem muito porque estamos presos.

Quer saber?  Na condição de blogueira eu completo a frase do economista Arnold Toynbee.   Ele disse que o castigo dos que não se interessam por política é ser governado pelos que se interessam. E eu digo  que o castigo dos que SE INTERESSAM por política é mais cruel ainda: é terem o mesmíssimo castigo dos que não se interessam.

Ora bolas!

E eu, que tinha dito que não falaria mais em política...

Um comentário:

  1. kkkkkkk... Essa foi a primeira vez que tive acordo com uma postagem sua sobre política ... realmente é assim que me sinto hoje e olha que também já estive entre os que se interessavam (e muito) por política. E não só essa política mesquinha que é a eleitoral, pois achava que era necessário postura crítica (que no final é postura política) diante da vida... agora tô me lichando, essa que é a verdade! tô só tentando tirar o máximo prazer da vida até a morte chegar. Bjim,

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