quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Heath Ledger - o louco que sofre... e que morre

É isso aí: o ator Heath Ledger recebeu indicação para o prêmio Globo de Ouro por sua atuação como Coringa em "Batman - The Dark Knight”. Ele também trabalhou no filme "O segredo de Brokeback mountain" - que não assisti ainda. (Estou me preparando psicologicamente para ver dois viados dando beijos de língua.)

Geralmente os personagens malucos existem para dar ódio ou para nos fazer refletir no quanto nossa mente é sujeita a deformidades horríveis causadas por fatos tantas vezes aleatórios da vida.

Heath, como Coringa, no fez rir com o cenho tenso. Ele conseguiu passar para nós um peso interior, um mal estar generalizado que era impossível ignorar. Em seus modos amalucados ele atraía para si todas as atenções.

Já "conheci" Coringas de aparência bem cuidada, corpo ágil como de acrobata, maquiagem caprichosa e caprichada, aspecto inodoro, aspecto travesso e sorridentes mas com aquela alegria estridente e idiota que nos irrita mais do que qualquer outra coisa. Não nesse caso.

Nesse filme o Coringa tem a aparência de quem não dorme há dias, não toma banho, alimenta-se mal, cheira mal, é viciado, não sabe mais sorrir. Olhamo-lo e intuímos que um dia já foi um bom rapaz, mas simplesmente se perdeu.

Heath Ledger fez o papel do louco que sofre, sagra por dentro e por isso esmurra o mundo sem sentir mais dor. Mais convincente ainda se tornou quando de fato morreu. Difícil separar uma coisa da outra. Não vamos nos esquecer dele.

Cristina Faraon


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Notícia atualizada (01/01/09)

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Jesus Luz & Madonna - Um conto


Claro que havia expectativas em relação a ela. Se eu dissesse o contrário a mentira seria mais tola do que a verdade de dizer que tive crises de ansiedade no primeiro ensaio que soube que ela estaria presente. Nem precisava porque sequer cheguei perto. De longe ela nada mais é do que o que se vê em fotos e telas. Surpresa nenhuma.
Um dia ela chegou perto e falou comigo. Assim, sem mais nem menos.

Conversamos rapidamente na frente de todo mundo. Depois fui ao seu camarim. Acho que ninguém viu mas também não me demorei.




Como é Madonna de perto? Ela é como eu pensei que fosse. Fisicamente não houve surpresa alguma. A surpresa foi por conta de eu descobrir que jamais havia pensado nela de outra forma que não fosse fisicamente. Não parecia ser nem mais jovem nem mais velha, mais bonita ou menos bonita, gorda ou magra. Era como eu achava que fosse por fora e isso quase me surpreendeu porque de um modo geral os popstar nunca são como pensamos.



Ela há muito passou do tempo de se importar em ser vista sem maquiagem. Estava ali, alvíssima e segura como a lua. O que vi em minha frente? Vi a lua surpreendentemente maternal como jamais pensei que fosse. É assim que ela é: clara e forte, imperturbável ao ser longamente fitada. O olhar permanece azul e profundo e nesse momento balancei.


Tocou em meu braço e dei-me conta de que me perguntava algo sobre a festa, sobre o pós-show. Gostou do meu braço, olhou-me. Tive vontade de abraçá-la e na despedida abracei. Me senti pequeno e aconchegado. Foi rápido mas adorei seu cheiro. Queria sentir mais.

Como um carinha como eu poderia ser enxergado como pessoa por uma mulher como ela? Como chegar naquele coração? Mas... para quê chegar naquele coração?

Nossas vidas são pontilhadas de instantes, alguns muito especiais e todos eles têm a vocação da efemeridade. Conhecedores da sua volatilidade, afligimo-nos. O que é eterno não precisa ser pontuado porque cobre uma vida toda mas os instantes especiais desaparecem como fadas travessas, duendes, aparições. Precisamos segurá-los bem firme e olhar em seus olhos por mais tempo antes que sumam para sempre



Madonna... ela é delicada. E o mais surpreendente: tem um quê de maternal até então impensável. Não sei se é no jeito de falar, de olhar... não sei explicar. Tem um aconchego assim, de mãe mesmo, que chama a gente para o meio dos seios com uma autoridade irresistível. Seu olhos são profundos, quase melosos e contrastam com a figura autoritária que a gente vê no palco. Soube muito de sua vida tão somente olhando dentro deles. Oceano.

Quero levar-lhe alguma coisa hoje a noite. Um pequeno momento eterno. Para ela poderá ser banal mas para mim não.










É cansativo mas as exigências de um mega show, ao contrário do que pensam, me ajudam demais em momentos como esse. Uma separação... Muito melhor não pensar nisso. Essa semana mais do que nunca vou me dedicar aos ensaios, a cada detalhe do que for preciso. Quero dormir exausta sempre. Só preciso dormir bem na véspera da apresentação.



Hoje conheci um rapaz - um modelo. Lindo como tantos outros. Senti que ele não se aproximaria se eu não tomasse a iniciativa. Foi o que fiz. Por que fiz? Porque estou tensa, porque estou cansada, porque posso, porque ele é lindo e jovem e cheio de vontade de crescer.



Conversamos rapidamente em meu camarim. Banalidade: nome, você conhece os EUA? Aceita uma cerveja? Gostei do jeito que me olhou. Geralmente esses meninos colocam-se na posição de mercadoria. Esse apenas me fitava e sorria de um jeito despretensioso, como se estivesse tranquilo com a idéia já certa de que não havia como nascer dali alguma coisa maior, um relacionamento. Olhava-me apenas atento a princípio. Depois, pareceu-me, já com crescente simpatia. Em alguns momentos pareceu-me lamentar que não palmilhássemos as mesmas estradas na vida, só aquele breve cruzamento.



Novo, muito novo para ter notado tão de pronto que jamais me apegaria a ele. E no entanto ele é lindo, tão lindo quanto pode ser uma pantera que escolha livremente deitar em seu tapete e partir para a selva tão logo deseje. Infinitamente mais livre do que eu.



Jovem e quente e duro. Claro que o desejei. Claro que seria meu. E claro, ele iria gostar sim.



Estivemos juntos outras poucas vezes, brevemente, antes de estarmos a sós.

Não é justo olhar um homem como um animal de estimaçao mas eu assim o vi. Mas me redimo porque esse olhar sobre ele não foi gerado no sentido caprichoso do termo mas da melhor maneira que se possa entendê-lo: na paixão que nos desperta a idéia da beleza selvagem capturada e usufruida dia e noite sob os olhos, ao alcance da mão. Quem nunca desejou apanhar um tigre, tê-lo, brincar com ele?

Ele não esperava nada de mim. Gostei disso também. Eu não esperava que ele conseguisse me comover - mas conseguiu.



Quando por fim descansei em seu torax enorme ele me falou, como todos falam, de suas primeiras impressões a meu respeito. Ri de sua ingenuidade ao contar que se surpreendeu ao encontrar em mim um "ar maternal" marcante e bonito. Que homem diria isso a uma mulher mais velha sem pedir desculpas logo em seguida? Mas ele disse, e com tanta graça e sinceridade que comoveu. Ele viu em mim o que penso ter de mais importante, o que mais prezo. Foi o maior elogio que um homem poderia me dar.

Levantou-se e vasculhou os bolsos de seu jeans. Voltou com um minúsculo pacote de presente. Não me entregou. Ele mesmo abriu e de lá tirou uma finíssima corrente de ouro com uma pequena imagem da Madona com a qual circundou meu pescoço. Nesse movimento senti seu hálito novamente. Essa imagem já possuía um significado enorme e lagrimei. Ando especialmente emotiva esses dias.



Estaremos juntos no Ano Novo. Não se trata de um romance. Não se trata de nada que não seja um hoje no qual preciso estar com alguém que não faça planos nem peça "presentes" para estar comigo; que não meça as palavras e que daí acabe dizendo sem querer coisas que me acalente o coração. Alguém que veja em mim a mãe que tanto prezo, que pensei que ninguém mais visse. Por fim, que entenda que preciso descansar minha cabeça em um peito assim... como um barco moreno perdido no oceano azul.



Cristina Faraon







Os Simpsons - PARTE II



Bem, já disse que adoro Os Simpsons. Por quê raios adoro os Simpsons?

Agora já acostumei mas eles são feios, muito feios. Considerei (da primeira vez que vi) horrívelmente desagradável a voz da Margie e desnecessariamente feio o seu cabelo. E etc, etc. Depois fui deixando-me cativar pela crítica ferina que costumam fazer a respeito do modo de vida ocidental. Os diálogos são impregnados de malícia e fel. M
as isso ainda não é motivo suficiente para gostar tanto deles.

Homer por exemplo é o cara mais execrável do mundo!

Talvez agora surja uma interessante discução a respeito da força que a familia empresta ao ser humano; uma espécie de "moldura de dignidade" que o circunda (posso dizer assim?) sem a qual ele não seria nada. Admitamos: o Holmer seria insuportável sem a família dele. Nâo teria a menor graça. Será que foi essa a "mensagem subliminar" que seus idealizadores quiseram passar? Talvez não porque poderia ser considerado piegas demais.

Mas peraí! Qual o problema em ser piegas? Se a onda sempre foi contrariar regras estabelecidas então eles acertaram em cheio no calo dos moderninhos-abaixo-a-família. Aliás estes espécimens ainda existem? Deixa pra lá, continuemos:

Uma família legal... com um pai abaixo da crítica mas pai ainda assim, cercado de gente que está com ele de um jeito ou de outro. Estão juntos e formam alguma coisa talvez não muito exemplar mas que vale a pena ser preservada. Alguma coisa bonita que a gente nem sabe explicar bem o por quê de ser bonita.

Por que gostamos tanto dos Simpsons? Bart e Homer são incorretíssimos e mostram pra todo mundo sem o menor pudor TODAS as nossas vergonhas (aqueles defeitos e pensamentos horríveis que passamos a vida toda tentando enfiar debaixo do tapete). Como podem se sentir tão a vontade dizendo o que dizem? Como um pai aperta o pescoço do filho daquele jeito e a gente ainda ri? E o filho supera tudo! Seria essa a grande resposta? Seria isso o que eles tem de mais atraente?

Provavelmente sim.

Eles podem morrer de inveja, de despeito e desrespeito, pagar o bem com o mal, ser gananciosos, odiosos, vis, vingativos, preguiçosos e tudo o mais e ainda assim continuam tendo uma família, são amados e até têm vizinhos bons. O mundo deles jamais desmorona.

Os Flanders (uns chatos, "certinhos" demais para os padrões Simpsons) são cristãos verdadeiros e os aceitam como são; estão sempre dispostos a ajudá-los e perdoá-los. Você não gostaria que isso existisse?

Eles não são tudo o que gostaríamos de ser mas têm tudo o que gostaríamos de ter, essa é que é a verdade. Não vivem aflitos tentando "conservar o amor incondicional" dos outros; eles simplesmente o têm. E abusam, claro.

Os Simpsons representam a liberdade de exercermos nossa humanidade sem grandes efeitos colaterais. No final sempre dá tudo certo e eles ainda têm milhões de fãs.

Cristina Faraon

Bom e de graça!

Sabe esse lance de que "a felicidade está em aproveitar as coisas simples da vida?" Pois não é que é verdade?

Ontem a noite, depois de dar uma corrida "pela honra da firma" resolvi tomar um banho diferente. Eu já estava ha mais de ano sem usar o chuveirão lá do fundo do meu quintal, então resolvi porque à noite não tem iluminação por lá. Então...

Gente, uma delícia! Eu ali no escuro em "trajes sumaríssimos" (isso é um eufemismo) tomando banho frio nos fundos quintal, lá no cantinho olhando o céu cheinho de estrelas. Vento... silêncio... e o melhor: o gostinho de travessura... Sabe aquele gosto assim de coisa que não deveria ser feita mas é booooooommm?

Ora vejam, algo simples demais e tão prazeiroso. Por que não fiz isso antes, Deus do Céu? E tudo isso aqui à minha disposição noite após noite sendo desperdiçado. E de brinde o prazer de ver minha casa de outro ângulo. Curioso; de lá pra cá ela me pareceu tão mais simpatica, aconchegante e gostosa!

Agora fica a indagação: o que será que tem por aí dentro da categoria "coisas simples da vida" que estou perdendo por simples bobeira ? Por por favor alguém por aí me dê a dica!!!!

domingo, 28 de dezembro de 2008

BlogBlogs.Com.Br

Os Simpsons - PARTE I


PARTE I - O FILME

Estou com uma penca de comentários de filmes "véios". Bem, não ganho dinheiro com isso e vou escrevendo conforme sou impelida pela minha memória recentíssima.

Assisti Os Simpsons no cimema faz tempo mas não deu vontade de escrever só que hoje assisti novamente em DVD. A-do-rei.

Esta postagem nem é tanto uma "crítica de cinema". É uma coisa mais geral sobre Os Simpsons "tipo assim", a razão de ser de gostar deles. Por isso ela está sendo dividida em duas partes. Nessa primeira vou falar rapidinho sobre o filme e na outra, mais sobre eles.


Sobre o filme: Superlegal. Se ainda não assistiu, assista. Só.

Dica: ao pegar o DVD acione o recurso de legendas. Os diálogos da história são ricos, muito interessantes mesmo. Uma palavra, uma simples frase dá o tom da piada. Infelizmente varias vezes não dá pra entender o que o personagem dizem (as coisas acontecem rápido) e perde-se com isso boas risadas. Vá por mim: embora seja "dublado" não dispense as legendas.

Cena marcante: aquela da crise na cidade de Springfield. Eu rio sozinha só de lembrar. A igreja fica em uma esquina e o bar da cidade (a "concorrência") fica do outro lado da rua. No momento da calamidade os crentes desesperaram-se, desistiram de orar e correram para o bar para encher a cara. Todos! O pessoal do bar, com igual desespero, gritando e correndo com as mãos para o alto, socaram-se todos na igreja para ver se conseguiam encher a cara de esperança. Cena hilária e também muito sutil.

Interessante o deboche ao nosso frequente apego a um determinado modo de vida quando sabemos que TUDO é posto à prova na hora do "pega pra capar".


No fundo no fundo sempre desconfiamos que do outro lado da rua pode existir alguma coisa que nos acalente... alguma coisa que talvez seja boa mas que nunca nos interessamos em conhecer mas não queremos admitir isso agora para não dar o braço porque somos orgulhosos, preguiçosos e conservadores. Só que na crise ninguém fica de sapato alto.

Um barato.

(Continua)


The Simpsons Movie
dir. David Silverman
roteiro: James L. Brooks e Matt Groening
eua, 2007
87 min.


sábado, 27 de dezembro de 2008

Lisbon Revisited - Álvaro de Campos

(Esse cara é um barato!)

NÃO: Não quero nada.
Já disse que não quero nada
Não me tragam estéticas!
Não me falem em moral!
Tirem-me daqui a metafísica!
Que mal fiz eu aos deuses todos?
Se têm a verdade, guardem-na!
Não me macem, por amor de Deus!

Queriam-me casado, fútil, quotidiano e tributável?
Vão para o diabo sem mim,
Ou deixem-me ir sozinho para o diabo!
Para que havemos de ir juntos?

Não me peguem no braço!
Não gosto que me peguem no braço. Quero ser sozinho.
Já disse que sou sozinho!...

( Leia o texto completo)

quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Sex and the City e Sarah Jessica Parker


Claro que vem totalmente atrasada essa minha postagem a respeito do seriado Sex and the City. Acho que ele já até "saiu de linha" mas vá lá. Caiu no gosto popular, fez sucesso e ainda deve estar vendendo DVD´s. Como o blog é meu, vou dizer minha opinião: achei uma droga.

Não assisti a muitos episódios mas os poucos que vi foram suficientes. Fraquíssimos. Personagens extremamentes caricatos, forçados demais. Tem a tarada, a romântica, a batalhadora legal e a protagonista amiga nossa - Carrie. Todas trazem um carimbo na testa.

A "protagonista amiga nossa" (Sarah Jessica Parker) faz a maior força para ser Jennifer Aniston mas não consegue nem chegar perto. Olho para Carrie e não consigo deixar de ver uma coroa pensando que convence como adolescente: suspiros de adolescente, olhares de adolescente, frescurinhas de adolescente, duvidazinhas de adolescente, nervosinha no primeiro encontro, apaixonadinha como se tivesse 13 anos - uma retardada. Cara, não combina! A muié tá passada da casa dos quarenta!

Aquela cara, aquele esforço de produção não evitam o obvio! Aqueles olhares melosos, sorrisinhos tolos, comportamentinho cheio de dúvidas quando conhece um cara legal e vai para um primeiro encontro oh... parece que ela fez quinze anos um dia desses mas com aquela cara de balzaquiana, me poupem!

Claro que não tenho nada contra as balzaquianas. Sou uma delas e conheço o meu potencial. O problema é passar dos quarenta com palpitações e sorrisinhos de Hello Kitty o tempo todo. Irrita.

Sex and the City é assim e Sarah Jessica Parker, pra piorar, faz papel de mulher bonita - o que decididamente ela não é. Baixinha, carente de carnes, bunda zero, pernas finas como espaguete e rosto... E pensa ser encantadora se comportando como ginasiana.

Os episódios trazem histórias saídas de livros de auto ajuda para solteironas. Sabe essas lições requentadas? Pois é. Sinceramente não entendo o motivo deste seriado ter conseguido cativar alguém.

E antes que você pergunte vou logo respondendo: não, eu hoje não estou de mal humor.

Cristina Faraon

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Gilberto "Knuttz" Soares, os críticos e os amigos

Acabei de ler um artigo de Gilberto "Knuttz" Soares intitulado "Uma horda de chatos" referindo-se aos críticos de cinema.

Nos primeiros parágrafos deu logo vontade de parar de ler. Mas se quero falar mal do cara devo pelo menos ler seu texto até o final.

Achei incrível ele dizer, do filme “O Amante” (começo dos anos 90, um filme francês) que foi chatíssimo. Gente, ele achou aquela obra prima chatíssima! Eu vi e amei. Vi sem ler a crítica. Fui ao cinema por falta do que fazer na época, fui na sorte. Depois é que descobri que estava sendo badaladíssio, elogiadíssimo etc. Filme maravilhoso e esse "poço de sensibilidade" consegue dormir. Mas tenho que respeitar, tenho que respeitar, tenho que respeitar.

Mas dá pra entender: dormindo não dá pra gostar nem de sexo. O senhor Gilberto diz que dormiu no cinema? Tudo bem, o gosto é dele mas será que ele dormiria tendo a Juliana Paes fungando em seu pescoço? Não, peguei pesado. Não deve ser a mesma coisa.

Acho que o rapaz deve mesmo é deve ter sentido falta de umas perseguições de carro, umas explosões, essas coisas. Outro estilo.

Depois de detonar com os críticos, chamá-los de chatos e dizer que os ignora quase que por completo ele resolve remendar um pouco dizendo que "não estou falando que críticos são inúteis, longe disso..." Hum, tá.

Vou falar por mim. Tenho minhas opiniões próprias, claro, mas gosto dos críticos. Eles me são bem úteis. Para o meu gosto não acertam todas, mas a gente concorda lá pela casa dos 85%. Tanto faz se leio a crítica antes ou depois de assistir o filme; quando vou checar, é tiro e queda. Com o tempo fui vendo que dar uma olhadinha no que eles dizem antes de eu sair de casa pode me poupar de contrariedades.

Não me limito a eles, claro. Algumas vezes teimei, fui pelos amigos, pelo trailer, pelo cartaz do filme... e quebrei a cara. Geralmente quebro a cara mas já houve situações sim nas quais eu os ignorei e valeu a pena. Poucas.

Agora, amigo... Amigo é fria quase que na certa. Eu os ouço, mas é perder tempo. Tenho uns amigos que consulto sempre "ao contrário". Se fulano gostou, certamente o filme é uma bosta. A margem de erro entre os amigos fica lá pela casa dos 60%. Prefiro os críticos.

Mas só para não dizer que o Gilberto está de todo errado, vou citar um caso em que a crítica me traiu. Foi em relação ao filme O Piano. Fui assistir pensando que era liiindo! A fotografia era mesmo, mas a história... não vi nada de mais. Mas não cheguei a dormir.

Quanto aos amigos: meus amigos adoraram À Espera de um Milagre. Para mim ess filme não passou de uma sequência de idiotices. Ridículo. E O Pianista? Aquele, do cara narigudo? Um interminável control C + control V de tudo o que é filme de segunda guerra que você já viu. Um requentadão, nada mais.

Voltando a alfinetar Gilberto, ele encerra suas palavras fazendo duas coisas:

1) Dando um conselho: "seja você mesmo seu crítico!" É um conselho de utilidade zero. Preciso de crítico antes de assistir. Depois, todo mundo "é seu próprio crítico", ora! Todo mundo sai do cinema achando alguma coisa. Exceto aqueles que dormiram, claro.

2) Sugerindo que ao invés de críticos, frequentemos sites de aficcionados em cinema. Só que nesses sites eles colocam listas de filmes bons, clássicos, fazem indicações... E tudo isso não deixa de ser crítica, ora bolas!

Já sei do que Gilberto não gosta: ele não gosta de ser flagrado na contamão de um intelectual. Melhor discordar de sites, no genérico, do que de um punhado renomado que diz que tal coisa é boa mas ele não consegue apreciar...


Cristina Faraon

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Implicando com Paulo Coelho - Postagem inaugural

Dica para 2009: quando você estiver triste, tristinho, mais sem graça que a top model magricela da passarela, visite o site do Paulo Coelho. Não estou ganhando nada com essa propaganda, mas você, leitor assídulo, merece a dica. Ele é tão engraçado, gente! Vale a pena o clique.

Perdeu o emprego? Bateram seu carro? O arroz queimou? Só ganhou presente peba no Natal? Leia o blog do PC. Acreditem: lá ele fala tanta, mas tanta merda que levanta a moral de qualquer um. Exemplo:

A lição "edificante" de hoje é repassada através da história comovente de um cara chamado Chibli. Chibli viu um cão tentando beber água, só que cão era tão babaca mas tão babaca que não conseguia beber porque por várias vezes se assustava com a própria imagem no poço e caía fora. Acho que essa besta deveria era morrer. O mundo nao precisa de cães tão tontos, mas tudo bem. Moral da história? tcham tcham tcham tcham! Ele viu a luz! O cão? Não, o Chibli!

Não entendeu? O episódio fez com que o cão fosse o primeiro mestre de Chibli. Chibli viu a luz! Aleluia! Lindo, né? (ora vá se ...)

O cara é um gênio do humor. Vou implicar com ele de vez em quando.

Cristina Faraon

sábado, 20 de dezembro de 2008

Capitães da Areia - Jorge Amado



A respeito do livro Capitães da Areia escreveu Milton Hatoum que “A meu ver, este romance de Jorge Amado antecipou de um modo lúcido e incisivo a vida das crianças que esmolam nas ruas das cidades brasileiras. E essa é uma das mensagens mais poderosas de Capitães da Areia. Hoje a violência urbana tem uma relação estreita com o tráfico de drogas, enquanto os meninos desta obra de ficção furtam para sobreviver. Mas , até certo ponto, as raízes do problema são as mesmas...”

Certo. Na minha opinião esta obra bem pode ser traduzida em uma única frase: “EU NÃO DISSE?”

É um livro profético; o que era terror naquela época hoje é visto como fichinha. Ele previu e acertou e esse é o grande mérito do livro e só por essa via pode ser chamado de “atual”. Mas cá pra nós, acho que ele acertou sem querer.

Também disse Milton Hatoum (no posfácio) que esta obra fora censurada e queimada em 1937 em Salvador. Deve ser pelo tanto que Jorge Amado chama violência, roubo e toda a sorte de crime de “atos de heroísmo”. Leia o livro e você verá que não estou exagerando.

Todos os crimes são tratados como atos heróicos, uma coisa a ser admirada e louvada. Dora, a garota de 13 anos que ingressou no grupo e fez questão de assaltar e fazer o diabo igual aos meninos foi quase que canonizada, “virou estrela no firmamento”! Volta Seca ingressou no grupo de Lampião, matou trocentos e ganhou na história uma moral tão grande que nem Tiradentes lhe faria sombra.

Prefiro Cidade de Deus, que mostra as coisas como são, cada um é o que é e ninguém aparece como santo. É mais real admitir que ninguém sabe onde estão as respostas.

Mas Jorge Amado não quis profetizar, quis escrever um romance. Quis inovar para a época e talvez isso significasse surpreender o leitor fazendo-o sentir ternura por quem seria impensável sentir ternura. Para isso percorreu o caminho da aflição: por um lado tinha a tarefa de nos convencer de que os meninos eram muito, mas muito malvados (se não o fizesse, a história perderia a base). Por outro lado, se a gente pegasse muita raiva dos moleques o autor perderia também o fio da sua grande idéia (que era justamente nos levar a gostar deles). E o que ele fez? Oscilou o tempo todo.

Os crimes mais violentos foram descritos geralmente através de figurantes (não na crueza do presente); as vezes eram contados seguindo-se de grande admiração pelo ato de “heroísmo”. Ou então os meninos apenas estavam reagindo a uma violência gratuita contra eles. Em suma: sempre havia uma justificativa.

Não existe possibilidade alguma de olharmos os delinqüentes de hoje e reconhecermos neles um Professor, um Gato, Sem Pernas ou Dora. Sinceramente. A gente tem que ler o livro e imaginar que a história se passou em outro planeta.

Se Jorge Amado queria nos mostrar que nem sempre os bandidos são tão maus quanto a mídia quer nos fazer crer, acho que o enfoque poderia ser outro (lembra do Lúcio Flávio?). A história poderia pender para outro lado; Amado poderia mostrar que suas contravenções foram aumentadas por puro preconceito e interesses escusos de uma imprensa tendenciosa e manipuladora etc etc etc . Tudo bem mas ele não foi por aí. Preferiu repetir mil vezes que os Capitães da Areia eram o Satanás, o cão-chupando-manga, temidos, renomados, um terror e tal e tal e ao mesmo tempo uns bebês fofinhos. Demorava-se em descrever crianças unidas por fortes laços de amizade e lealdade dormindo juntas, irmanadas sob estrelas num cenário inebriante, comovedor, ninadas pelas ondas do mar, ora na chuva, ora no sol... E de repente, como que para não nos deixar esquecer de que estamos tratando de delinqüentes terríveis, menciona algum crime dos Capitães da Areia assim, só para refrescar a memória.

O chato disso tudo é que ele fala não como um narrador mas como um admirador o tempo todo. Os espertos, valentes e destemidos Capitães da Areia. Os "batutas". Aí entram mais uns criminhos de nada, e tal... e eles voltam para o cais e entra de novo a música triste, a amizade, lealdade e bondade celestial que existe entre eles. “Eles não conhecem o pecado.”

Só mais essa, para eu passar para a outra parte da minha opinião: Pedro Bala, chefe da gangue, certa vez "estupra" uma garota. Tudo bem, até aí nada de mais, ele foi até legal porque deixou a garota virgem; doeu, machucou mas, a pedidos, foi por trás. Gente fina, né? Em outra ocasião ele tem nova oportunidade com outra garota mas segura seus instinto (e o de seus companheiros) porque esta nova vítima “não passava de uma menina” e garante a ela que ninguém ali lhe faria mal algum.

Ora, todos ali eram meninos! E as meninas (a estuprada e a poupada) eram quase da mesma idade. Tudo bem, a preservada era loira e a outra uma “negrinha”. Tá explicado.

MAS...

Sim, o livro tem seus grandes momentos. Tirante tudo o que foi acima exposto, tocou-me profundamente o drama psicológico dos personagens. Nisso Jorge Amado foi magnífico. O sofrimento sincero, a confusão dolorida do pobre padre José Pedro, a culpa lancinante e a vontade louca que Pirulito acalentava de ver a luz, servir a Deus, fazer o bem... o desespero lancinante de Sem Pernas ao se ver na iminência de abandonar aquilo que mais desejou na sua vida. Ele estava tão feliz que era de cortar o coração. A felicidade dele doía na gente. Seu desespero e desmoronamento foram as cenas mais fortes para mim.

Estes foram alguns dos momentos verdadeiros e muito bem escritos da história. Foram dramas reais, próprios de gente de carne e osso. Agora sim pude me sentir um deles, pude entendê-los e reconhecer a cara de um por um e acreditar que existiam. Porque não há nessa vida quem não se embaralhe na floresta da verdade, quem não sofra entre duas decisões “acertadas e conflitantes” e nem enlouqueça de dor sozinho no mundo. Nisso Jorge Amado arrasou. Cada personagem sozinho, como sozinhos somos todos nós, teve que debater-se em suas questões, ter seu peito dilacerado e por fim corajosamente seguiram em frente.

Os que tiveram chance seguiram em frente. Esse sim foi o verdadeiro ato heróico dos personagens e a lição preciosa do livro.

Cristina Faraon

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

A Natura e seus mistérios


Estive lendo dia desses um folheto da Natura. Na descrição dos batons, além dos cremosos e dos de efeito aveludado (que prefiro mil vezes) podemos encontrar, caras amigas, os cintilantes, os extrabrilho e até - vejam vocês! - os magníficos "brilho extracintilante". Que coisa! Fiquei deveras impressionada. E confusa.
Adoro imaginar o que leio e minha mente como que travou quando não consegui visualizar nada descrito assim pelo folheto que pudesse ser usado fora de um circo.

Alguém aí pode me explicar qual a diferença entre um batom cintilante, um extrabrilho (que teoricamente deveria cintilar) e o tal super-hiper "brilho extracintilante"? Por precaução acho que deveriam colocar um rótulo com o clássico aviso "mantenha fora do alcance das crianças" porque é possível que o troço dê choque.

Seria seguro usa-lo na chuva? E com o secador de cabelos ligado haveria problema?

Se o tal batom tem mesmo as propriedades que o nome sugere, deveria ser usado com grande proveito pelos guardas de trânsito durante a noite.

Lembrando de minhas amigas, não me vem à lembrança nenhuma que tenha surgido alguma vez na minha frente com uma boca assim tão "translumbrante". Hmmm... Acho que não vou comprar não. Talvez não seja elegante sair assim, fosforecendo pelo mundo.
Entre um bico seco e um bico espantoso, fico com a primeira opção.
Cristina Faraon

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Pro Quinan


Que o ano não feche suas portas
Sem que, com zêlo cuidemos
De nossa pequena horta.

Que Jesus, travessamente
Lasque um beijo em tua barba
E percebas de repente
Bem mais leve a tua carga

E até olhes com candura
As breguices de Natal
E encontres nova ventura
Em teu mundo opcional.

Não cristão? Mas todo bom
Sem neve? Que tal chocolate?
Poltrona macia e marrom
E alguém... com boca escarlate.

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Começando a escrever - minhas dicas


Preâmbulo:
Por algum motivo sobre o qual ainda não refleti o suficiente, despertei com o espírito leve. Uma luz sobre mim brilhou e então achei-me em perfeitas condições de dar os seguintes conselhos aos meus leitores, os quais serão valiosos para que ingressarem, uma vez guiados pela Luz, no mundo fabuloso da literatura. É possível que meus conselhos não passem de um breve palito de fósforo diante da longa estrada que cada um de vós tem pela frente... Ou quem sabe valha menos que um fósforo queimado. Vossa sabedoria certamente discernirá. E ao final das contas quem pode garantir que o quê serve para o quê em nossa curta passagem pela terra? Tudo não termina mesmo debaixo de sete palmos? Então vamos lá.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Mais frio!


Precisava que a tarde morna
Transmudasse em tarde fria
Pra então justificar
Essa irmã melancolia.

Como eu, está chovendo
Só falta o dia esfriar
Mais um pouco e você chega
Saberei o que falar?

Artrose nas velhas janelas
Estéreis riachos sem peixes
E prédios com mil sentinelas
Cuidando que não me deixes

Poucas cores nas sombrinhas
Pouco tempo pra almoçar
Meu vestido sem florinhas
E um rádio a cochichar

A tarde parece gripada
Encharcada e reticente
Chove grosso, chove fino
E chovem sentenças na gente

Deveria esfriar mais
E nevar a não poder
E sumirem os transeuntes
Até tudo esmaecer

Meu rosto agora sombrio
Riria então pra neblina
Irmanado com o frio

Um véu de camada fina.

Meu corpo seria de inverno
Petulante e transparente
Riacho gelado no ermo
Frio, nu e displicente.

Mas falta chover bem pesado

Com mais frio, até doer
Até que o mundo em meus braços
Eu sentisse esmaecer.

Cristina Faraon

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

domingo, 7 de dezembro de 2008

A mágica dos sem noção



Pois ali estávamos nós, mais no frio que no calor, mas nada nos incomodava a não ser aquele doce aperto no coração que nos sobrevêm quando estamos muito felizes. Cavalgávamos os quatro sem pressa mas parecia-me que só eu estava consciente da beleza desembestada que eles formavam como trio.

Eles eram leves e despreocupados, jovens e livres dessas noçoes pesadas que incluem a fatal passagem do tempo e da morte até dos tristes cavalos que montam. Divertiam-se, riam muito enquanto eu me esforçava tentando organizar minhas emoções e armazena-las em ordem alfabética para não esquecer nunca mais.


Provavelmente nem se davam conta de que estavam no auge da juventude e da beleza e que aquela era precisamente a estação do amor e da procriação e que por isso e por tudo o mais eles detinham poderes que deixavam cair displicentemente pelo caminho enquanto cavalgavam, como se fossem folhinhas engraçadas mas sem utilidade. Poderiam conquistar o mundo, a afeição de feras e escorpiões e trazer o gosto à vida de pessoas amarguradas. Poderes. Mas tãosdespreocupados estavam que também desconheciam que talvez nunca mais fossem tão adequados à viver e conquistar assim, com a despretensão de quem recebe uma caixa de jóias que nem sabe ainda se quer usar.

Eles entendiam, Deus do Céu, que formavam um quadro dos mais desejáveis da terra? Que eram três jovens felizes, rindo à toa de qualquer besteira, que eram perfeitos, sem sombras atrás de si, sem maldições que os acompanhassem, com corações vigorosos capazes de tudo e que o Amor lhes os apontava o caminho? Notavam que viviam porque queriam, tão-somente, e essa lei se aplicaria ainda para tudo o mais na face da terra? E que ainda por muitos anos poderiam suspirar e fazerem-se obedecer por pernas fortes, braços firmes e percoços altaneiros?


E eu? E eu estava inserida naquela realidade também. Não como num sonho, mas de forma igualmente palpável. Eu estava lá e por isso (sorte minha!) em um momento mágico fui como que puxada por eles - ou pela beleza que vinha disso tudo - sim, fui puxada para um lugar/momento que me pareceu ser... imagine! O Auge da Minha Vida!

Cristina Faraon

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Jogos Mortais V

(Leia o comentário)

Fantasma inquieto

A verdade verdadeira é que estou em São Paulo e não sei bem onde foi parar aquela vitalidade, aquele espírito inquieto, curioso e jovial. Tudo o que tenho é um espírito murcho e embolorado a me acompanhar dia e noite. Não ressequei. Embolorei - o que é bem mais incômodo, sob a minha avaliação.

Deve ser uma fase. Tem que ser uma fase. Estou me desconhecendo. Dentro de mim continuo sendo como antes e querendo as mesmas coisas mas algo me pesa, algo me prende. É alguma coisa inconclusa. Sabe esses filme nos quais alguém morre mas seu espírito cisma de azucrinar alguém que teve mais sorte e continua no mundo dos vivos? Pois é, vive cobrando coisas e não larga o pé até que determinada coisa seja realizada. Depois que o cara dá o braço a torcer e faz a vontade do fantasma-mala ele arruma a trouxa e vai-se para o além. Pois é mais ou menos assim.

Na tentativa de ressuscitar a Cristina espevitada que sei que ainda dorme dentro de mim, amanhã faremos uma programação mais animada. Encontraremos amigos e deveremos passear no "Simbad Safari". Tomara que seja legal. Desconfio de que seja algo meio infantil mas deve render boas fotos.

Hoje corri e já me sinto um pouco melhor.

Você, que estava morrendo de vontade de saber os pormenores de como me sinto, anote aí as notícias mais frescas.

Cristina

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Ah... Natal na França...


Hoje vi uma apresentação de Power Point liiiiinda. Natal na França. Fiquei encantada e sob este encantamento nâo resisti: juntei todas as minhas economias, "esqueci" de pagar as dívidas, pedi dinheiro emprestado aos amigos e voei para a França. Ah...

Todo mundo sabe o que é neve mas nem todos sabem o que é neve bem educada, comportada e posando para foto. É outra coisa!

Neve decorativa, colorida por lâmpadas, abraçando pinheiros, encostada amistosamente em portas e janelas lindamente enfeitadas... Tudo iluminado. Xô trevas! Um primor. Laços vermelhos. Cães com laços vermelhos. Gatos. Ratos, se os há, com lacinhos e meias vermelhas. E ainda por cima (ou por trás, sei lá) um coral de crianças saudáveis e cheirosas (ninguém canta tão bem se não for saudável e cheiroso) entoando (quem canta é pobre; rico "entoa") comoventes canções.

Cá com os meus botões me arrisco a perguntar, de mim para mim e muito discretamente: o que essas canções tem de comovente, se não compreendo uma vírgula do que esses pirralhos "entoam"? Ao que meu "eu mais elevado" prontamente responde: " -E quem precisa entender? A arte transcende a tudo e se você nao percebe isso com o espírito é porque ele não evoluiu; deve portando recolher-se ao porão, que é o seu lugar." Eu percebi sim! Se não sou convidada para jantar nas casas francesas pelo menos para passear de botas de couro nas ruas nevadas faço jus.

Voltando: ninguém precisa mesmo entender a letra das canções. Devem falar qualquer coisa sobre amor, paz no mundo, essas coisas que combinam com os enfeites de Natal. Tudo a ver. Em janeiro vai tudo para as gavetas.


A verdade é que podemos dar mil rodeios. Podemos até nos emocionar mas toda essa produção pode muito bem ser traduzida em cifrões.

Ruas tranquilas sem trombadinha? Dinheiro. Porque ninguém segura em casa um pivete faminto.

Ruas com a neve aplainada à máquina: dinheiro. Nenhum turista vai se atolar de boa vontade na neve, ainda que seja na França.

Luzes natalinas confeitando casas, árvores, janelas e o que mais aparecer: dinheiro. Ou você acha que aquele derrame de estrelas foi descuido de São Pedro? Ou será que os donos dos imóveis passaram o dia pendurados perigosamente em escadas para pendurar aquelas luzinhas lindas? Claro que não. Eles pagaram um profissional para isso porque eles têm dinheiro. Em minha casa eu faço tudo por conta própria. E fica tudo torto.

E o coral? Dinheiro. Quem vai ensaiar dia e noite um monte de pentelhos se não for para receber um bom incentivo? E quem vai levá-los a cantar se for de graça? Ninguém, a não ser para promover o lançamento do CD. De qualquer modo isso representa dinheiro.

Dinheiro, dinheiro, dinheiro. Ainda mais porque até onde eu sei os franceses não são lá muito devotos de coisa nenhuma a não ser da Igualdade, Liberdade e Fraternidade - e olha lá. Até essas três santas estão meio em baixa. O fato é que se eles se fantasiam de Natal só pode sem por um único e reluzente motivo: dinheiro.

Mundo cão.

Natal... criancinhas loiras de nariz e bochechas vermelhas fazendo biquinho na França, bem agasalhadas, andando seguras pelas ruas brancas, janelas claras (sem grades, meus amigos!!!) deixando-nos ver mesas "de revista" com aves certificadas fazendo pose na mesa, pães com algo além da casca, caldos com ervas finas, nozes frescas fazendo coro com troços fumegantes, queijos em inúmeras tonalidades e com todos os tamanhos de buraquinhos... Ah como o Natal é lindo!

Mas aqui no meio na neve e com um certo receio de ser mandada aos porões, fico novamente me perguntando: o Natal não fica capenga e sem sentido sem aquele garotinho da mangedoura? Sem aqueles anjos, aquela estrela, sem aqueles profetas falando da virgem que... Tá, tá, não vou falar mais nada. A passagem pra França me custou muito caro e já estou vendo uns olhos metralhando em minha direção.

Mas os magos do Oriente... a anunciação... Isso tudo é mais bonito que essa decoração toda. Pra mim é.

Cá pra nós, bem baixinho: Feliz Natal!


Cristina Faraon

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Teses de mal humor (isso passa!)



1- O bom de ficar sozinho é que ninguém te enche o saco; o ruim é que ninguém te ajuda.

2- Em qualquer situação o lado ruim sempre suplanta o lado bom.

3- O lado bom é provisório; o ruim é permanente e progressivo.

4- O problema de ajudar os outros é que você está sempre se desajudando.

5- Empreste dinheiro e perca um amigo.

6- Ninguém vai ao médico para ser curado, mas para trocar de doença.

7- Marido não passa de um homem amestrado. Se o seu não é, pode ter certeza de que a amestrada é você.

8- "Seja você mesma" é a frase que desmente todos os truques para fisgar homens.

9- Anote aí: não existe "hora boa" para divorciar. (Só os malvados se divertem.)

Primeira fase: você não quer criar um bebê sozinha, quer?
Segunda fase: Ele precisa da figura do pai. Sabe como é, a sexualidade se formando... Não seja egoísta. Espere mais um pouco.
Terceira fase: ele está se preparando para o vestibular. Você não quer prejudicá-lo e estragar tudo!
Quarta fase: Deixa o menino se formar! Ou ele se forma ou se junta com aquele monte de maconheiros e a culpa vai ser toda sua.
Quinta fase: Ele está estudando para concurso e precisa de serenidade. Você não quer esculhambar com o mundinho dele.
Sexta fase: a criança quer casar... precisa do apoio dos pais. Depois você separa.
Sétima fase: Netinho! Que amor! Vocês tem toda a estrutura para ficar com o bebê enquanto o casalzinho se estabiliza na vida. Eles precisam desse apoio nesse início da vida de casados. Você vai negar?
Oitava fase: Você está um caco e as doenças mútuas tornam impráticável o exercício da liberdade. Divorciar pra quê?

11- O problema de sair de férias é que eu tenho que me levar junto.

12- As maravilhas da amizade:

Amizade é uma flor a ser cultivada. Para te-la sempre viçosa necessário se faz:

Tempo ao telefone (de preferência ao celular $)
Tempo no restaurante ($)
Tempo no barzinho ($)
Final de semana na praia ($$)
Não ingerir o homem alheio por maior que seja o seu jejum
Não fazer charme para o homem alheio por maior que seja sua vaidade
Aceitar (heroicamente!) convites para programas de índio
Fazer convites para programas de índio (vingança: uma lição de vida)
Emprestar roupas e acessórios ($)
Lembrar do aniversário ($) e principalmente e acima de tudo
Disposição para engordar junto sem reclamar ($).

É importante saber que quem quer ser magra fica em casa comendo alface. Magra, reluzente, olhando-se no espelho e sozinha.

Se isso for muito deprimente (e é!) é aconselhável ir para a academia onde só se trocam frases rápidas e sorrisos imperfeitos, mas é preferível à sepultura do seu lar.

Amizade pressupõe quilos extras. Quanto mais amigos você tem, mais gordo você será. Isso é tão certo quanto um dia seguir-se a noite. Se você diz que tem muitos amigos mas não engorda com eles, fique sabendo que está se auto enganando. O que você tem é um monte de conhecidos inúteis, personagens de sonhos e nada mais. Se você morrer talvez eles nem chorem.

Amizade e gordura funciona mais ou menos com a proporcionalidade de sucesso econômico e o carrão. Pode não corresponder 100% mas tem alguma coisa a ver sim. Na questão da balança a genética pode influenciar assim como na questão "sucesso financeiro" várias outras questões podem influenciar (mau gosto, humildade, endividamento etc) mas repito: tem a ver.

Exceto as pequenas exceções que pousam sobre todo assunto por mais bem abordado que tenha sido, o que eu acabo de dizer nessa minha estranha postagem é a mais absoluta verdade. Nada que um mal humorado diga é passível de discordância!

Quando eu melhorar escreverei coisas mais simpáticas.

Cristina Faraon

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Cigana


Olho em seus olhos e vejo tudo, ainda que eles fujam de mim, perturbados.

Houve uma pessoa em sua vida que jamais foi esquecida e dói muito não saber onde ela está. Tomara que esteja feliz... mas se não estiver, pensará em você?

Pensará em você com a mesma melancolia, com a mesma dor da perda, com esse choro estéril, essa dor seca?

Será que você salta em seus pensamentos durante o dia em inesperados flashes e, assim como você, em um segundo ela vai para um passado do qual retorna desconsolada?

É isso o que te consome quando precisas parar. Eu sei, eu vejo.

Às vezes você pensa que não aconteceu; - "Nada aconteceu!" E tenta misturar tudo às confusões de um passado desarrumado. Nem sempre funciona. Ela existiu sim, com todos os detalhes, todos os suores, todas as ansiedades, todas as fibras, vozes e demoras que tornam uma história real.

Essa pessoa existiu indiscutivelmente e você lembra dela quando chove muito e não há nada a fazera não ser esperar a chuva passar. Lembra também quando o dia está acabando e o mundo parece cansado, cansado. O céu se contorce em alaranjados sem fim e tudo o que lhe resta é voltar para casa.

Você amou, era recíproco mas escapou-lhe das mãos. Nenhum detalhe explica o inexplicável. Fica uma esperança de retomar, de juntar cacos, de voltar ao não-sei-onde onde o elo se quebrou.

Sei sobre você. Sei da sua esperança tímida que não se anuncia nem bate no peito, mas espera e espera como criança teimosa que não acredita que a mãe morreu e abre os olhos de madrugada esperando até de novo ser engolida pelo manto do sono. É uma coisa só sua lá no fundo do coração. Ninguém sabe, nem seu filho mais querido.

Talvez essa pessoa esteja lhe esperando no mesmo silêncio, na mesma esquina enevoada das suas memórias mútuas. Talvez espere alguém sem rugas, sem filhos, sem vinte anos de financiamento a pagar. Alguém jovem, do passado. Talvez esse alguém não seja mais você.

Cristina Faraon

sábado, 22 de novembro de 2008

Peliculóide


(Leia o comentário)

Sábado a tarde


Estou em casa sábado a tarde cumprindo a promessa que fiz a mim mesma de não sair nem por decreto, nem se minha tapera pegasse fogo.

São 17:50 e até agora, promessa cumprida: estou enclausurada e a casa está pegando fogo. Calor insuportável, o inferno em vida.

Fiquei para descansar da semana cansativa de mil compromissos, coisinhas e coisonas para resolver. Agora questiono minha decisão. Deveria ter ido para o clube em trajes mínimos. Ou ido ao shopping, geladinho, tomar sorvete e estourar o cartão. Mas não, fiquei aqui toda preguenta de suor. E tem mais: a prisão voluntária em regime domiciliar acabou por me levar a abusar novamente do tempo em frente ao computador. Tô pra pegar nojo dessa maquininha. Estou usando óculos e a culpa é dela!

Poucas coisas me deixam mais estressada do que calor, suor escorrendo, abafado. Sob essas condições eu saio do sério, me descontrolo; tanto posso matar quanto confessar o pior crime.

Essa foto aí é refrescante por si só. Postei só pra aliviar mas acho que depois vou trocar. Ela refresca mas dá falta de ar...

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Ondas concêntricas


Acabei de ver um filme: "O Vidente". Bom.

O que gostei mesmo foi de uma frase especial que é dita tanto no inicio quanto no final da história. Algo assim:

"O lance do futuro é que toda vez que você olha pra ele, ele muda - porque você olhou para ele. Olhar altera tudo."

Instigante.

Por isso não podemos olhar o futuro. Talvez até pudéssemos, mas ele não se deixa observar longamente, só em relances, borrões indiscerníveis quando muito. Porque direcionar-lhe o olhar é o mesmo que matá-lo. Isso é a coisa mais lógica e redonda deste mundo.

Para não matar o futuro deveríamos olhá-lo do lado de fora, não do lado de dentro onde estamos, onde as coisas acontecem. Quem olha o futuro não pode estar dentro do tempo sob pena de dissolver o observado.

Não adianta: por mais imóveis que tentemos ficar, ao nosso redor formam-se ondas concêntricas totalmente fora do nosso controle. Como a pedra no lago.

Impossível jogar uma pedra no lago e observá-la afundar em um movimento solitário. Nunca um movimento é solitário. A água não fica imóvel, mas engole a pedra entre convulsões irreprimíveis. Círcuros ondulantes se formarão a partir dali denunciando a origem da irregularidade. Espalhar-se-ão, mudarão o posicionamento das folhas nas margens, o trajeto dos peixes, o reflexo da lua, tudo! Muda tudo.

... Círculos formando pequenas ondas que alterarão bilhões de pequenos fatos desnorteando-os... e o futuro esvaecerá irremediavelmente como se nunca tivesse existido.

Nossos olhos assassinos são o centro, o "buraco" na água onde cai a pedra da verdade. Assim como no lago, olhar o futuro é jogar uma pedra no lago do presente.

É meio triste saber que nosso olhar é cáustico, destrutivo, alterador, que ele faz com que o que será deixe de sê-lo antes de ter sido.

É a pior das mortes. Nós nos transformamos em lembrança mas ele - o futuro - quando morre vira apenas ilusão. Porque o futuro que não acontece é o que? É um delírio, uma idéia vaga, é quase nada.

Fora do tempo não há círculos. Quando você sair do tempo poderá olhar tranquilamente o futuro. Só que aí ele também deixará de ser futuro para ser, teimosamente, um eterno presente.

Cristina Faraon

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Um vale de lágrimas

Todos precisamos de um bom lugar pra chorar. Minha mãe sempre dizia, quando eu fazia alguma coisa errada: "faz! Depois vai chorar na cama, que é lugar quente!"



Chorar na cama pode ser bom, mas só para quem dorme sozinho. Não, só pra quem mora sozinho se não, vem sempre alguém bater à porta para te chamar, oferecer alguma coisa, perguntar onde está a chave, se você empresta aquele livro... Pra encher o saco, enfim.



Tem o banheiro mas geralmente na hora mais "sentida" aparece alguém também pra te assombrar na porta. Chorar no banheiro do trabalho então é bandeira total. Não só ficam espreitando seu tempo de permanência como todo mundo nota os olhos vermelhos. Batom novo, esmalte em dia, brinco de ouro, nada notam mas olho inchado é "sucesso total". E ainda fazem comentários. Se a chorona for mulher casada, com certeza vão atribuir tudo à uma suposta amante do marido e blá blá blá.



Chorar na igreja é permitido, até porque pode passar por louvável devoção. Ou... podem atribuir o 'pinga pinga" a puro remorso por algum pecado horrível que você acabou de cometer. Quer um conselho? Não chore na igreja.



Cinema então, nem se fala! É o pior lugar do mundo. Aquele bando de pipoqueiros de alto astral, credo! Todo mundo ri de você, um cutuca o outro pra mostrar a sua cara, ninguém se solidariza e ainda te acham uma banana.



Decididamente o melhor lugar do mundo para chorar é no carro da gente. Pra quem o tem, claro. Parado ou em movimento, ali é nossa bolha de privacidade. É o lugar fofo, uma espécie de útero com fundo musical.



Chorar com música tem o seu valor. Experimente! É bem mais legal porque a música, quando adequada, se solidariza com você. Um bom fundo musical faz com que seu choro sempre pareça plenamente procedente. Além do mais a música ajuda a esvaziar os reservatórios de lágrimas que você carrega. Geralmente por mais que a gente chore sempre sobram uns mililitros lá dentro. A música "passa o perfex" e você fica em dia consigo mesma, chega ao seu destino zerada, com a alma lavada e enxaguada, como gosto de dizer. E no carro dá até para soluçar! Não é em todo lugar que dá pra soluçar. Diga um, fora o cemitério. Não tem, viu? Nem debaixo d'água, porque aí você se afoga. É meio arriscado.



Vá por mim e faça o teste. Pense em algo bem triste, ponha uma música comovente e mande água. Você vai ver que beleza.



Chorar dá a impressão de que a alma ficou mais limpa. Pode não ter ficado, mas a impressão já faz a prática valer a pena.



Acho que chorar tem efeito contrário a beijar. Chorar alivia, desafoga. Beijar ... bem, é o contrário MESMO; você vira uma panela de pressão. Ninguém se alivia beijando. Acho que você precisa chorar.



Hoje estou falando muito em choro . É porque hoje já verti a minha quota.



Estou com saudade da minha mãe. Se ela estivesse aqui já teria me telefonado e dito mil palavras carinhosas pelo meu aniversário. Todas as frases começariam por "minha filha". Qualquer coisa que viesse depois era só acessório.



Nunca mais vou ouvir uma voz doce e feminina me dizer: "Minha filha, Deus te guarde! Feliz aniversário! Que Deus abençôe seus filhos, seu marido. Você é uma bênção! Que ele te faça uma boa mãe e uma mulher sábia."



Ela sempre dizia coisas assim, me abraçava, comprava algum presentinho, escrevia um cartão... Hoje não tenho mais isso. Então chorei. No carro e com. E ponto final.



Cristina Faraon



terça-feira, 11 de novembro de 2008

Bolha de felicidade


Cansados, cansados. Tiramos oitocentas fotos, transamos no hotel depois do cochilo e saímos pelas redondezas. encontramos poetas de bigode, poetas de violão, poetas encaracolados, enamorados, bêbados, jovens e velhos. Estranho... Pra todo canto que olho... todo mundo é poeta!
Eu hein!
Um brinde a isso!
Chope gelado, frituras irresponsáveis, o corpo amolecendo gostoso. Cheiros, cheiros diversos: de farofa, tapioquinha, churrasquinho de gato, batatinha, pipoca, do látex dos balões das crianças, da vala, da tinta da nossa camisa recém comprada.
De tanto andar o sapato dói. A gente tira, joga longe mas depois vai buscar, morrendo de rir. Aí aproveita e ri dos velhos, dos jovens, do gato pirento, da criança chorona. Melhor sentar um pouco.
Mesa do bar na rua, é claro, e violão aveludado. Entremeamos silêncios tranquilos com impulsos falantes. Imaginamos ganhar na loteria, imaginamos perder tudo, sair do país, ficar por aqui e virar pescadores... Imaginamos situações incríveis quando olhamos para o céu ou para a rua.
Mais tarde vamos dormir agarradinhos. Todas as nossas falas vão se misturar em nossa cabeça e vão gerar os sonhos mais malucos do mundo.
Adoro sonhos malucos, desses que a gente conta e as pessoas nos olham pensando "credo, que cabeça!"
Sonhos malucos vão bem no barzinho, vão bem em roupas de algodão, vão bem na praia. Só deveríamos sonhar maluquices porque nem sempre podemos vive-las. Sonhar que morri e vivi de novo, que montei em um tubarão, viajei em um avião inflável, que comia melado com feijão, que riscava o carro do vizinho, que todo mundo ria da gente, que a roupa se dissolveu em público, que viramos cangurus saltitantes, que nossa casa era molenga e a chave era de biscoito...
Assim, passeando com o cabelo ressecado do sol, a barriga cheia de tanta besteira, o tempo não passa nem deixa de passar. Não vai nem fica.
O tempo passa quando temos pressa e deixa de passar sei lá quando. Mas quando se ama e se está feliz, feliz ao ponto da irresponsabilidade, sem segunda-feira pra encarar, aí o tempo não passa nem pára. Ele é simplesmente é jogado fora, de-fe-nes-tra-do.
Quero tudo isso, mas com o sentimento que essa foto inspira, esse ar de coisa boa, comida mineira, cuzcuz baiano, caipirinha.
Saudade das noites mornas de beira de praia. Saldade das saias longas nas noites mornas de beira de praia. Saudade de mim ontem, com uma pequena bolha no pé, uma bolha de tão feliz. Sabe como? Dessas que aliviam mansamente no geladinho do mar.
Cristina Faraon

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Morrer de amor



Tava pensando...

Em meus passos pelo mundo ainda não encontrei nenhum "africano" com o estômago inchado e perninhas finas. Estranho, pois sei que eles existem. Não ouço crianças chorando de fome. Nenhuma pe apareceu suplicante, puxando a barra de minha saia pedindo um pedaço de pão. O máximo que vejo pela rua são uns pedintes (quase "exigintes") que me despertam mais receio do que simpatia.

Jamais dou de cara com essas pessoas realmente carentes. Nossos caminhos não se cruzam. Não há acaso que nos ajude. Estamos separadas por uma espécie de arame farpado social. Farpado e eletrificado.

Esses dias decidi: chega de ouvir falar. Quero ver com os meus olhos, não com os olhos dos outros. Não através de um vidro. Quero sentir, quero acordar, quero desmilinguir de amor.

Do sentimentalismo aos atos, um grande abismo.

Ao expressar a descabida intenção de "ir lá" ao vivo e a cores fui veementemente advertida. Há perigos incontáveis espreitando nessas localidades mais carentes. "Loucura, Cristina! É loucura!"

Existe uma mulher com filhos sofridos em algum lugar.Existe um pai desempregado, crianças cariadas, pés sujos. Como chegar neles?

Quando penso nisso parece-me que moram em outro planeta. Preciso de menos poesia e mais determinação. Preciso não me achar tão importante, mas minha família me acha importante. Meus amigos também. "Não vá, não invente! Não se meta, deixa de onda! Quer morrer? Pense bem."

Eles, os ultracarentes, tem as necessidades deles, mas também tenho as minhas. Preciso ser eletrificada por um amor desmedido, "um amor maior que eu". Mas como amar desmedidamente quem só existe na conversa dos outros e nas fotos?

Eu queria ver para sentir, para acionar o Alguém Melhor que deve existir (em algum lugar!) dentro de mim. Queria descobrir com o meu próprio coração que não preciso de tantos sapatos, que meus amigos podem ficar sem presentes de aniversário, que já tenho batons suficientes, que posso comer em casa, que não vou morrer se meu sofá não for trocado. Já sei de tudo isso, claro, mas quero que meu coração me diga. Ou quero ouvir isso pelos olhos da menina grávida.

Queria descobrir a minha melhor parte mas entendi que fazer o bem com as próprias mãos pode ser uma aventura de uma mente delirante. É como ser voluntário de guerra: quase uma burrice.

Enfiar-me pelas ruelas entrelaçadas do mundo é hoje meu desafio mas eu teria que fazer isso escondido.

Eu faria isso escondido? Convido alguém para ir comigo? Vou sozinha? Visto-me de freira? Ainda respeitam freiras? É burrice? "É o amor que mexe com minha cabeça e me deixa assim"? É doidice? É uma fase?

Para os muito "oculpados" há sempre a opção pré-fabricada de cooperar com uma instituição de caridade. Ajuda mas ... amar é muito mais do que isso e eu acabei de dizer que "quero um amor maior que eu".

Amar é olhar nos olhos. Dar dinheiro que passa de mão em mão e nem sei se chega lá, não me torna uma pessoa melhor nem mais humana. Serve para amenizar minha consciência, fazer com que eu me sinta bem sem precisar saber nem o nome do assistido. Dar dinheiro para instituições faz algum bem aos carentes, é verdade. Algum bem, mas não "o bem". É melhor do que nada mas não tem o mesmo valor que oferecer amizade, carinho, um ombro amigo, o meu endereço.

Sei lá... a proposta de Cristo é muito mais radical do que "isso aí". E não me sai da cabeça a proposta de Cristo. Ele disse para amarmos o próximo. Se não me aproximo do próximo ele jamais será meu próximo e eu jamais o amarei.

Jesus propôs envolvimento e isso é tudo o que não queremos. Queremos dar dinheiro. Claro, sai mais em conta, não suja as mãos nem a gola da camisa e não se perde o horário do cinema.

Confesso: não amo fotos de crianças magras nem mutiladas. O que sinto é apenas uma agonia, um grande mal estar quando vejo. Isso não é amor.

O que quero? Quero pirar, é isso. Quero sentir medo na primeira vez - só da primeira vez. Depois ser tomada pela ousadia dos apaixonados na loucura do não medir.

Eu amaria se pudesse chegar perto.
Eu quero chegar perto.
Eu quero chegar perto?
Sabe, o que eu queria mesmo era morrer de amor.

Cristina Faraon

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Receita condenada



Época de eleições é a época em que mais repetem uma das frases que mais me irritam: "

O eleitor não sabe votar. Tudo o que está acontecendo é culpa do eleitor porque é ele quem coloca o político lá."

Sempre tem um babacão na televisão (rimou!) dizendo isso com ares de "pensem nisso!"

Sinto ânsias assassinas quando ouço esse tipo de coisa. Primeiro porque a gente só pode votar em quem é candidato. Se os candidatos que aparecem são todos da mesma estirpe, que culpa tem o eleitor?


UMA PARÁBOLA:

Imaginemos que VOCÊ vai participar de um concurso de culinária. Todos os participantes terão que preparar o mesmo prato. Para isso eles tem a disposição uma grande cozinha com todos os ingredientes necessários à execução do prato mas tem o seguinte: é exigência dos organizadores que não pode ser utilizada nem uma pitada de sal que não tenha sido fornecida por eles.

Ao final do concurso os cozinheiros estão frustrados: todos os pratos ficaram horríveis. Nenhum candidato saiu-e bem. Motivo: os ingredientes fornecidos pelos organizadores do concurso eram problemáticos: uns estavam estragados, outros eram de péssima qualidade. Observou-se também que alguns estavam com os rótulos trocados. Como cozinhar bem nessas condições?


Como você acha que os participantes se sentiriam se alguém declarasse que eles eram incompetentes?

Não seria justo dizer isso, uma vez que eles eram obrigados a se limitar ao material fornecido! Se eles pudessem escolher com o que cozinhar, não escolheriam nada do que havia naquela cozinha maldita.

MORAL DA HISTÓRIA:


O mesmo acontece conosco. Nas eleições somos incentivados a fazer grandes mudanças no país, votar com consciência blá blá blá... Louvam as maravilhas do poder do voto mas ninguém faz a ressalva de que se a receita desandar a culpa pode estar na qualidade do material oferecido.

Só posso votar em quem é candidato.

Esse é o primeiro motivo pelo qual fico irritada com a tal frase infeliz. O segundo motivo é o mesmo. O terceiro, também. Fico três vezes irada pela mesma coisa.

Cristina Faraon

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Maldade feminina


Conversa de duas amigas durante uma apresentação de um grupo de jazz:

Amiga 1- Hmmmm... Esse músico aí é uma graça!

Amiga 2- Você acha?! Sei não...

Amiga 1- Você não acha? Bem, é que eu tenho um "problema" com músicos: tenho um fraco por eles.

Amiga 2- Ah querida! Te aconselho então a fazer terapia. Financeiramente sai bem mais em conta.

Mulheres... rsrsrs

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Poema sem sentido


Amor se mede?
Na balança:
Sexo, companheirismo,
Capacidade de ir levando
Indefinidamente.
Indefinidamente?

Qual a prova incontestável do amor?
É treinar a surdez dos sentidos
Para não enlouquecer?
É enlouquecer tranquilamente
Como quem sangra?

Bebedeiras, surras homéricas?
Traição, ração rala, goteira,
Mau cheiro, pobreza extrema?
Tanques de roupas sujas?
Dormir no chão?
Invisibilidade mútua?
Fome, muita fome?

Qual o peso do amor?
(Não há aferidor mundiamente aceito...)
Pense nos calos do seu amor:
Quanto ele te cobra
Por passar uma temporada?
Qual o preço de capinar
Seu triste jardim no inverno?
Quais os calos do seu amor?

Um escarro - um beijo de língua
Outro escarro - eu te amo.
Um cuspe - você é tudo pra mim.

Esse poema não faz sentido...

Cristina Faraon

terça-feira, 21 de outubro de 2008

O esconderijo da felicidade

Eu mesma já repeti, em tom empolado, que "a felicidade está dentro de cada um de nós". Não vou desdizer; vou apenas implicar com isso porque hoje estou com a macaca.

Se alguém viesse hoje me dizer que a felicidade está dentro de mim eu mandaria essa pessoa catar coquinho - no mínimo.

Hoje, em um lampejo, descobri que não há nada mais cruel do que esse lance. Não haveria outro lugar mais facinho para a Felicidade se esconder não? Que saco! Dizer que ela está dentro de mim é o mesmo que ir ao médico doido de dor e ele dizer na sua cara que você não tem nada. Fica tudo na mesma exceto por um novo fato: agora você odeia os médicos.

Se a felicidade estivesse em alguma caverna, hordas de pessoas esperançosas fariam expedições. Muitas morreriam no caminho. Poucas encontrariam. Outras ainda - talvez a maioria - jamais conseguiria juntar dinheiro suficiente para sair por aí procurando a felicidade mas isso não seria assim tão ruim.

Por exemplo: não jogo na loteria mas adoro pensar que um dia pode me dar um estalo (ou algo mais glamouroso) na minha cabeça e de repente eu entrar em uma casa lotérica, apostar uns trocados e "bamburrar". Sabe, é reconfortante pensar nisso. Claro que a felicidade em potencial é uma felicidade de "um e noventa e nove" mas é melhor do que nada! Por outro lado, se proibissem as apostas para sempre eu ficaria revoltada, triste, com um pesado sentimento de perda. Não jogo mas adoro pensar que posso ficar rica, que a porta está aberta, basta economizar o dinheiro do sorvete.

Dizer que a felicidade está dentro de nós é mais ou menos como alguém dizer que você é feliz sim! "Procure dentro de si!" Ah, vai tomar no banho!

Se ela estivesse no fundo do mar, no alto da montanha, no colchão do último imperador da China, debaixo da mesquita, no turbante do Aiatolá... aí eu poderia dizer para mim mesma: não vou lá porque não tô a fim hoje mas se for, posso vir a ser a criatura mais venturosa do mundo. Ah... um dia eu me decido, podem anotar.

Mas não! Localizaram a Ventura Infinda dentro de mim. Cara, você tem idéia da bagunça que é aqui por dentro? Esconder a felicidade dentro de mim é como fazer um concurso com o intuito único de não deixar ninguém ser aprovado.

Dentro de mim tem selva, mar, caverna, luz, escuridão, almofadas velhas... Se duvidar tem até turbante de aiatolá. E peixe frito. Não duvide não. E plantação de manjericão com anjos jardineiros tocando harpa. É por aí.

Faz o seguinte: quando eu estiver de mal humor (como hoje) diga que a felicidade está no Céu com os anjinhos... Ou diga que ela não existe. Isso! Fica melhor. Mas não se atreva a afirmar que ela está dentro de mim que aí eu não respondo pelos meus atos.

Cristina Faraon

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Preocupante

Estou percebendo em mim vários sintomas de velhice:

1- Os homens mais lindos, na minha opinião, foram lindos há uns 40 anos atrás, mais ou menos;
2- As melhores músicas que conheço foram composta há mais de vinte anos;
3- Descobri que aqueles cantores que eu considerava insuportáveis quado tinha 12 anos são, na verdade, maravilhosos;
4- Não acredito mais que eu possa mudar o mundo;
5- As músicas frenéticas tocadas ininterruptamente nas academias estão começando a me enjoar;
6- Começo a concordar que beleza é bom mas não é tão importante quanto eu imaginava;
7- Adoro ficar sentada na cadeira de balanço do pátio de casa. Estou começando a achar isso melhor do que muitos programas que antes me interessavam;
8- Não tenho mais paciência para usar, como antigamente, um sapato desconfortável só por ser lindo.
9- As roupas justas, que eu adorava, estão começando a me incomodar. Entrei numa de priorizar o conforto.
10- Estou pensando seriamente em fazer um lifting;
11- Um cruzeiro marítimo já não me parece mais uma idéia abominável.
12- Minha gaveta já tem permissão para receber algumas calcinhas confortáveis, não só as sex;
13- Começo a me sentir ridícula de mini saia - coisa que sempre adorei.
14- Uso tranquilamente roupas que há um tempo atrás eu achava "de velha".
15- Também uso bijuterias, tonalidade de batom e de esmalte que me paerciam coisas "de velha".
16- Os mais jovens já riram de algumas de minhas gírias que (dizem) não serem mais usadas há uns 15 anos pelo menos.
17- Não vejo graça nesse lance de "ficar".
18- A gritaria e risadagem sem fim dos adolescentes me cansam a beleza.
19 - Não faço mais exercícios físicos apenas por motivos estéticos.
20- Adoro ambientes tranquilos;
21- Não tenho mais a menor tesão em sair pulando atrás de um trio elétrico. Na verdade nunca saí, mas antigamente eu tinha vontade.
22- Descobri que eu não era uma adolescente horrorosa;
23- Lamento imensamente os anos que sofri me achado uma bruxa desengonçada. A adolescência é mesmo uma porcaria.
24- Nunca mais senti aquela sensação desagradável de ser horrorosa.
25- Não fico imaginando o que vou ganhar em meu aniversário ou no Natal.
26- Jamais namoraria um hippie. Antigamente eu os achava o máximo.

Tem mais, mas não vou escrever agora. Estou cansadinha.

Cristina Faraon

domingo, 12 de outubro de 2008

Uma lição de vida


Filho: "Papai, me ensine sobre a vida!"...

Pai: "O que mais você quer saber?"

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

A importância de um blog em nossas vidas



Descobri que o uso do blog tem uma função social inestimável. Ele nos ajuda, entre outras coisas, a sermos mais palatáveis em nosso meio e, assim, mantermos nossos preciosos amigos.

Trocando em miúdos: a principal função de um blog é poupar os ouvidos dos outros. Um blog nos livra do mico de pulverizarmos pelo mundo as nossas opiniões desnecessárias.

Eu mesma tenho opinião pra praticamente tudo, da existência de vida extraterrestre a legalização do aborto, da importância do trema ao sexo dos anjos. É só me consultar.Lâmpada

Felizmente também tenho auto crítica e penso: será que as pessoas estão mesmo interessadas em saber como foi meu dia ou o que penso a respeito disso ou daquilo? É aí que entra o blog! Sabe, você tem a impressão de estar falando para uma multidão atenta e paciente com todo o tempo do mundo. Não é o sonho de todo orador? Não é o sonho de todo o chato? Não seria o SEU sonho, caro leitor? Dá pra curtir longamente essa fantasia como uma espécie de orgasmo múltiplo. Ao mesmo tempo não lhe pesará a dolorosa desconfiança de estar sendo um mala sem alça. Lê quem quiser - você é inocente.

Ah ... Suave consolo de quem precisa se expressar!

Olho para o meu passado e sinto um certo desconforto. Eu era chatona. Era só alguém "dar mole" que lá vinha eu com minhas idéias. Pior: todas as idéias eram defendidas, não explanadas. Sabe, acho que eu tinha um quê de militante não sei-de-quê. E como todos sabemos, e ninguém aguenta papo de militante.

Em meu achismo irrefreável acho agora que todos os militantes do mundo deveriam ter um blog. Deveriam ser forçados a isso sob pena de serem escurraçados de seu habitat. O lance é terapêutico! Eles despejariam na internet toda a sua indignação ou amargura ou seja-lá-o-que-fosse e aliviariam suas represas emocionais. O que sobraria para os nossos ouvidos seria uma ou outra palavra de ordem perfeitamente digeríveis.

Que bela trégua dariam para os amigos na mesa do bar! Já chegariam ali com a alma lavada e enxaguada. Ninguém teria medo de tocar "naquele" assunto porque saberia que o tal Ser Pensante limitar-se-ia à breve curiosidade do questionador e brindaria a todos com o mínimo necessário em palavras, uma clara e breve explicação para depois escorregar alegremente para outro assunto. Seria assim porque tudo o mais já estaria devidamente publicado no blog. Brilhante!

Mesa de bar e festa de amigo é para falar abobrinha. Até quando o assunto é sério, nessas ocasiões ele precisa ser rapidamente esculhambado se não, não tem graça. E é para ter graça.

Só para você ter uma idéia: se não fosse esse blog eu já teria sucumbido a tentação de ser militante de blog: invadiria festas e bares tentando convencer as pessoas da necessidade de blogarem para não enfadarem nem enfartarem. Como tenho esse espaço, vou salvar o texto e ficar calminha calminha.Não conte para ninguém

Cristina Faraon

quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Heath Ledger - o louco que sofre... e que morre

É isso aí: o ator Heath Ledger recebeu indicação para o prêmio Globo de Ouro por sua atuação como Coringa em "Batman - The Dark Knight”. Ele também trabalhou no filme "O segredo de Brokeback mountain" - que não assisti ainda. (Estou me preparando psicologicamente para ver dois viados dando beijos de língua.)

Geralmente os personagens malucos existem para dar ódio ou para nos fazer refletir no quanto nossa mente é sujeita a deformidades horríveis causadas por fatos tantas vezes aleatórios da vida.

Heath, como Coringa, no fez rir com o cenho tenso. Ele conseguiu passar para nós um peso interior, um mal estar generalizado que era impossível ignorar. Em seus modos amalucados ele atraía para si todas as atenções.

Já "conheci" Coringas de aparência bem cuidada, corpo ágil como de acrobata, maquiagem caprichosa e caprichada, aspecto inodoro, aspecto travesso e sorridentes mas com aquela alegria estridente e idiota que nos irrita mais do que qualquer outra coisa. Não nesse caso.

Nesse filme o Coringa tem a aparência de quem não dorme há dias, não toma banho, alimenta-se mal, cheira mal, é viciado, não sabe mais sorrir. Olhamo-lo e intuímos que um dia já foi um bom rapaz, mas simplesmente se perdeu.

Heath Ledger fez o papel do louco que sofre, sagra por dentro e por isso esmurra o mundo sem sentir mais dor. Mais convincente ainda se tornou quando de fato morreu. Difícil separar uma coisa da outra. Não vamos nos esquecer dele.

Cristina Faraon


Leia a noíticia
Notícia atualizada (01/01/09)

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Jesus Luz & Madonna - Um conto


Claro que havia expectativas em relação a ela. Se eu dissesse o contrário a mentira seria mais tola do que a verdade de dizer que tive crises de ansiedade no primeiro ensaio que soube que ela estaria presente. Nem precisava porque sequer cheguei perto. De longe ela nada mais é do que o que se vê em fotos e telas. Surpresa nenhuma.
Um dia ela chegou perto e falou comigo. Assim, sem mais nem menos.

Conversamos rapidamente na frente de todo mundo. Depois fui ao seu camarim. Acho que ninguém viu mas também não me demorei.




Como é Madonna de perto? Ela é como eu pensei que fosse. Fisicamente não houve surpresa alguma. A surpresa foi por conta de eu descobrir que jamais havia pensado nela de outra forma que não fosse fisicamente. Não parecia ser nem mais jovem nem mais velha, mais bonita ou menos bonita, gorda ou magra. Era como eu achava que fosse por fora e isso quase me surpreendeu porque de um modo geral os popstar nunca são como pensamos.



Ela há muito passou do tempo de se importar em ser vista sem maquiagem. Estava ali, alvíssima e segura como a lua. O que vi em minha frente? Vi a lua surpreendentemente maternal como jamais pensei que fosse. É assim que ela é: clara e forte, imperturbável ao ser longamente fitada. O olhar permanece azul e profundo e nesse momento balancei.


Tocou em meu braço e dei-me conta de que me perguntava algo sobre a festa, sobre o pós-show. Gostou do meu braço, olhou-me. Tive vontade de abraçá-la e na despedida abracei. Me senti pequeno e aconchegado. Foi rápido mas adorei seu cheiro. Queria sentir mais.

Como um carinha como eu poderia ser enxergado como pessoa por uma mulher como ela? Como chegar naquele coração? Mas... para quê chegar naquele coração?

Nossas vidas são pontilhadas de instantes, alguns muito especiais e todos eles têm a vocação da efemeridade. Conhecedores da sua volatilidade, afligimo-nos. O que é eterno não precisa ser pontuado porque cobre uma vida toda mas os instantes especiais desaparecem como fadas travessas, duendes, aparições. Precisamos segurá-los bem firme e olhar em seus olhos por mais tempo antes que sumam para sempre



Madonna... ela é delicada. E o mais surpreendente: tem um quê de maternal até então impensável. Não sei se é no jeito de falar, de olhar... não sei explicar. Tem um aconchego assim, de mãe mesmo, que chama a gente para o meio dos seios com uma autoridade irresistível. Seu olhos são profundos, quase melosos e contrastam com a figura autoritária que a gente vê no palco. Soube muito de sua vida tão somente olhando dentro deles. Oceano.

Quero levar-lhe alguma coisa hoje a noite. Um pequeno momento eterno. Para ela poderá ser banal mas para mim não.










É cansativo mas as exigências de um mega show, ao contrário do que pensam, me ajudam demais em momentos como esse. Uma separação... Muito melhor não pensar nisso. Essa semana mais do que nunca vou me dedicar aos ensaios, a cada detalhe do que for preciso. Quero dormir exausta sempre. Só preciso dormir bem na véspera da apresentação.



Hoje conheci um rapaz - um modelo. Lindo como tantos outros. Senti que ele não se aproximaria se eu não tomasse a iniciativa. Foi o que fiz. Por que fiz? Porque estou tensa, porque estou cansada, porque posso, porque ele é lindo e jovem e cheio de vontade de crescer.



Conversamos rapidamente em meu camarim. Banalidade: nome, você conhece os EUA? Aceita uma cerveja? Gostei do jeito que me olhou. Geralmente esses meninos colocam-se na posição de mercadoria. Esse apenas me fitava e sorria de um jeito despretensioso, como se estivesse tranquilo com a idéia já certa de que não havia como nascer dali alguma coisa maior, um relacionamento. Olhava-me apenas atento a princípio. Depois, pareceu-me, já com crescente simpatia. Em alguns momentos pareceu-me lamentar que não palmilhássemos as mesmas estradas na vida, só aquele breve cruzamento.



Novo, muito novo para ter notado tão de pronto que jamais me apegaria a ele. E no entanto ele é lindo, tão lindo quanto pode ser uma pantera que escolha livremente deitar em seu tapete e partir para a selva tão logo deseje. Infinitamente mais livre do que eu.



Jovem e quente e duro. Claro que o desejei. Claro que seria meu. E claro, ele iria gostar sim.



Estivemos juntos outras poucas vezes, brevemente, antes de estarmos a sós.

Não é justo olhar um homem como um animal de estimaçao mas eu assim o vi. Mas me redimo porque esse olhar sobre ele não foi gerado no sentido caprichoso do termo mas da melhor maneira que se possa entendê-lo: na paixão que nos desperta a idéia da beleza selvagem capturada e usufruida dia e noite sob os olhos, ao alcance da mão. Quem nunca desejou apanhar um tigre, tê-lo, brincar com ele?

Ele não esperava nada de mim. Gostei disso também. Eu não esperava que ele conseguisse me comover - mas conseguiu.



Quando por fim descansei em seu torax enorme ele me falou, como todos falam, de suas primeiras impressões a meu respeito. Ri de sua ingenuidade ao contar que se surpreendeu ao encontrar em mim um "ar maternal" marcante e bonito. Que homem diria isso a uma mulher mais velha sem pedir desculpas logo em seguida? Mas ele disse, e com tanta graça e sinceridade que comoveu. Ele viu em mim o que penso ter de mais importante, o que mais prezo. Foi o maior elogio que um homem poderia me dar.

Levantou-se e vasculhou os bolsos de seu jeans. Voltou com um minúsculo pacote de presente. Não me entregou. Ele mesmo abriu e de lá tirou uma finíssima corrente de ouro com uma pequena imagem da Madona com a qual circundou meu pescoço. Nesse movimento senti seu hálito novamente. Essa imagem já possuía um significado enorme e lagrimei. Ando especialmente emotiva esses dias.



Estaremos juntos no Ano Novo. Não se trata de um romance. Não se trata de nada que não seja um hoje no qual preciso estar com alguém que não faça planos nem peça "presentes" para estar comigo; que não meça as palavras e que daí acabe dizendo sem querer coisas que me acalente o coração. Alguém que veja em mim a mãe que tanto prezo, que pensei que ninguém mais visse. Por fim, que entenda que preciso descansar minha cabeça em um peito assim... como um barco moreno perdido no oceano azul.



Cristina Faraon







Os Simpsons - PARTE II



Bem, já disse que adoro Os Simpsons. Por quê raios adoro os Simpsons?

Agora já acostumei mas eles são feios, muito feios. Considerei (da primeira vez que vi) horrívelmente desagradável a voz da Margie e desnecessariamente feio o seu cabelo. E etc, etc. Depois fui deixando-me cativar pela crítica ferina que costumam fazer a respeito do modo de vida ocidental. Os diálogos são impregnados de malícia e fel. M
as isso ainda não é motivo suficiente para gostar tanto deles.

Homer por exemplo é o cara mais execrável do mundo!

Talvez agora surja uma interessante discução a respeito da força que a familia empresta ao ser humano; uma espécie de "moldura de dignidade" que o circunda (posso dizer assim?) sem a qual ele não seria nada. Admitamos: o Holmer seria insuportável sem a família dele. Nâo teria a menor graça. Será que foi essa a "mensagem subliminar" que seus idealizadores quiseram passar? Talvez não porque poderia ser considerado piegas demais.

Mas peraí! Qual o problema em ser piegas? Se a onda sempre foi contrariar regras estabelecidas então eles acertaram em cheio no calo dos moderninhos-abaixo-a-família. Aliás estes espécimens ainda existem? Deixa pra lá, continuemos:

Uma família legal... com um pai abaixo da crítica mas pai ainda assim, cercado de gente que está com ele de um jeito ou de outro. Estão juntos e formam alguma coisa talvez não muito exemplar mas que vale a pena ser preservada. Alguma coisa bonita que a gente nem sabe explicar bem o por quê de ser bonita.

Por que gostamos tanto dos Simpsons? Bart e Homer são incorretíssimos e mostram pra todo mundo sem o menor pudor TODAS as nossas vergonhas (aqueles defeitos e pensamentos horríveis que passamos a vida toda tentando enfiar debaixo do tapete). Como podem se sentir tão a vontade dizendo o que dizem? Como um pai aperta o pescoço do filho daquele jeito e a gente ainda ri? E o filho supera tudo! Seria essa a grande resposta? Seria isso o que eles tem de mais atraente?

Provavelmente sim.

Eles podem morrer de inveja, de despeito e desrespeito, pagar o bem com o mal, ser gananciosos, odiosos, vis, vingativos, preguiçosos e tudo o mais e ainda assim continuam tendo uma família, são amados e até têm vizinhos bons. O mundo deles jamais desmorona.

Os Flanders (uns chatos, "certinhos" demais para os padrões Simpsons) são cristãos verdadeiros e os aceitam como são; estão sempre dispostos a ajudá-los e perdoá-los. Você não gostaria que isso existisse?

Eles não são tudo o que gostaríamos de ser mas têm tudo o que gostaríamos de ter, essa é que é a verdade. Não vivem aflitos tentando "conservar o amor incondicional" dos outros; eles simplesmente o têm. E abusam, claro.

Os Simpsons representam a liberdade de exercermos nossa humanidade sem grandes efeitos colaterais. No final sempre dá tudo certo e eles ainda têm milhões de fãs.

Cristina Faraon

Bom e de graça!

Sabe esse lance de que "a felicidade está em aproveitar as coisas simples da vida?" Pois não é que é verdade?

Ontem a noite, depois de dar uma corrida "pela honra da firma" resolvi tomar um banho diferente. Eu já estava ha mais de ano sem usar o chuveirão lá do fundo do meu quintal, então resolvi porque à noite não tem iluminação por lá. Então...

Gente, uma delícia! Eu ali no escuro em "trajes sumaríssimos" (isso é um eufemismo) tomando banho frio nos fundos quintal, lá no cantinho olhando o céu cheinho de estrelas. Vento... silêncio... e o melhor: o gostinho de travessura... Sabe aquele gosto assim de coisa que não deveria ser feita mas é booooooommm?

Ora vejam, algo simples demais e tão prazeiroso. Por que não fiz isso antes, Deus do Céu? E tudo isso aqui à minha disposição noite após noite sendo desperdiçado. E de brinde o prazer de ver minha casa de outro ângulo. Curioso; de lá pra cá ela me pareceu tão mais simpatica, aconchegante e gostosa!

Agora fica a indagação: o que será que tem por aí dentro da categoria "coisas simples da vida" que estou perdendo por simples bobeira ? Por por favor alguém por aí me dê a dica!!!!

domingo, 28 de dezembro de 2008

BlogBlogs.Com.Br

Os Simpsons - PARTE I


PARTE I - O FILME

Estou com uma penca de comentários de filmes "véios". Bem, não ganho dinheiro com isso e vou escrevendo conforme sou impelida pela minha memória recentíssima.

Assisti Os Simpsons no cimema faz tempo mas não deu vontade de escrever só que hoje assisti novamente em DVD. A-do-rei.

Esta postagem nem é tanto uma "crítica de cinema". É uma coisa mais geral sobre Os Simpsons "tipo assim", a razão de ser de gostar deles. Por isso ela está sendo dividida em duas partes. Nessa primeira vou falar rapidinho sobre o filme e na outra, mais sobre eles.


Sobre o filme: Superlegal. Se ainda não assistiu, assista. Só.

Dica: ao pegar o DVD acione o recurso de legendas. Os diálogos da história são ricos, muito interessantes mesmo. Uma palavra, uma simples frase dá o tom da piada. Infelizmente varias vezes não dá pra entender o que o personagem dizem (as coisas acontecem rápido) e perde-se com isso boas risadas. Vá por mim: embora seja "dublado" não dispense as legendas.

Cena marcante: aquela da crise na cidade de Springfield. Eu rio sozinha só de lembrar. A igreja fica em uma esquina e o bar da cidade (a "concorrência") fica do outro lado da rua. No momento da calamidade os crentes desesperaram-se, desistiram de orar e correram para o bar para encher a cara. Todos! O pessoal do bar, com igual desespero, gritando e correndo com as mãos para o alto, socaram-se todos na igreja para ver se conseguiam encher a cara de esperança. Cena hilária e também muito sutil.

Interessante o deboche ao nosso frequente apego a um determinado modo de vida quando sabemos que TUDO é posto à prova na hora do "pega pra capar".


No fundo no fundo sempre desconfiamos que do outro lado da rua pode existir alguma coisa que nos acalente... alguma coisa que talvez seja boa mas que nunca nos interessamos em conhecer mas não queremos admitir isso agora para não dar o braço porque somos orgulhosos, preguiçosos e conservadores. Só que na crise ninguém fica de sapato alto.

Um barato.

(Continua)


The Simpsons Movie
dir. David Silverman
roteiro: James L. Brooks e Matt Groening
eua, 2007
87 min.


sábado, 27 de dezembro de 2008

Lisbon Revisited - Álvaro de Campos

(Esse cara é um barato!)

NÃO: Não quero nada.
Já disse que não quero nada
Não me tragam estéticas!
Não me falem em moral!
Tirem-me daqui a metafísica!
Que mal fiz eu aos deuses todos?
Se têm a verdade, guardem-na!
Não me macem, por amor de Deus!

Queriam-me casado, fútil, quotidiano e tributável?
Vão para o diabo sem mim,
Ou deixem-me ir sozinho para o diabo!
Para que havemos de ir juntos?

Não me peguem no braço!
Não gosto que me peguem no braço. Quero ser sozinho.
Já disse que sou sozinho!...

( Leia o texto completo)

quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Sex and the City e Sarah Jessica Parker


Claro que vem totalmente atrasada essa minha postagem a respeito do seriado Sex and the City. Acho que ele já até "saiu de linha" mas vá lá. Caiu no gosto popular, fez sucesso e ainda deve estar vendendo DVD´s. Como o blog é meu, vou dizer minha opinião: achei uma droga.

Não assisti a muitos episódios mas os poucos que vi foram suficientes. Fraquíssimos. Personagens extremamentes caricatos, forçados demais. Tem a tarada, a romântica, a batalhadora legal e a protagonista amiga nossa - Carrie. Todas trazem um carimbo na testa.

A "protagonista amiga nossa" (Sarah Jessica Parker) faz a maior força para ser Jennifer Aniston mas não consegue nem chegar perto. Olho para Carrie e não consigo deixar de ver uma coroa pensando que convence como adolescente: suspiros de adolescente, olhares de adolescente, frescurinhas de adolescente, duvidazinhas de adolescente, nervosinha no primeiro encontro, apaixonadinha como se tivesse 13 anos - uma retardada. Cara, não combina! A muié tá passada da casa dos quarenta!

Aquela cara, aquele esforço de produção não evitam o obvio! Aqueles olhares melosos, sorrisinhos tolos, comportamentinho cheio de dúvidas quando conhece um cara legal e vai para um primeiro encontro oh... parece que ela fez quinze anos um dia desses mas com aquela cara de balzaquiana, me poupem!

Claro que não tenho nada contra as balzaquianas. Sou uma delas e conheço o meu potencial. O problema é passar dos quarenta com palpitações e sorrisinhos de Hello Kitty o tempo todo. Irrita.

Sex and the City é assim e Sarah Jessica Parker, pra piorar, faz papel de mulher bonita - o que decididamente ela não é. Baixinha, carente de carnes, bunda zero, pernas finas como espaguete e rosto... E pensa ser encantadora se comportando como ginasiana.

Os episódios trazem histórias saídas de livros de auto ajuda para solteironas. Sabe essas lições requentadas? Pois é. Sinceramente não entendo o motivo deste seriado ter conseguido cativar alguém.

E antes que você pergunte vou logo respondendo: não, eu hoje não estou de mal humor.

Cristina Faraon

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Gilberto "Knuttz" Soares, os críticos e os amigos

Acabei de ler um artigo de Gilberto "Knuttz" Soares intitulado "Uma horda de chatos" referindo-se aos críticos de cinema.

Nos primeiros parágrafos deu logo vontade de parar de ler. Mas se quero falar mal do cara devo pelo menos ler seu texto até o final.

Achei incrível ele dizer, do filme “O Amante” (começo dos anos 90, um filme francês) que foi chatíssimo. Gente, ele achou aquela obra prima chatíssima! Eu vi e amei. Vi sem ler a crítica. Fui ao cinema por falta do que fazer na época, fui na sorte. Depois é que descobri que estava sendo badaladíssio, elogiadíssimo etc. Filme maravilhoso e esse "poço de sensibilidade" consegue dormir. Mas tenho que respeitar, tenho que respeitar, tenho que respeitar.

Mas dá pra entender: dormindo não dá pra gostar nem de sexo. O senhor Gilberto diz que dormiu no cinema? Tudo bem, o gosto é dele mas será que ele dormiria tendo a Juliana Paes fungando em seu pescoço? Não, peguei pesado. Não deve ser a mesma coisa.

Acho que o rapaz deve mesmo é deve ter sentido falta de umas perseguições de carro, umas explosões, essas coisas. Outro estilo.

Depois de detonar com os críticos, chamá-los de chatos e dizer que os ignora quase que por completo ele resolve remendar um pouco dizendo que "não estou falando que críticos são inúteis, longe disso..." Hum, tá.

Vou falar por mim. Tenho minhas opiniões próprias, claro, mas gosto dos críticos. Eles me são bem úteis. Para o meu gosto não acertam todas, mas a gente concorda lá pela casa dos 85%. Tanto faz se leio a crítica antes ou depois de assistir o filme; quando vou checar, é tiro e queda. Com o tempo fui vendo que dar uma olhadinha no que eles dizem antes de eu sair de casa pode me poupar de contrariedades.

Não me limito a eles, claro. Algumas vezes teimei, fui pelos amigos, pelo trailer, pelo cartaz do filme... e quebrei a cara. Geralmente quebro a cara mas já houve situações sim nas quais eu os ignorei e valeu a pena. Poucas.

Agora, amigo... Amigo é fria quase que na certa. Eu os ouço, mas é perder tempo. Tenho uns amigos que consulto sempre "ao contrário". Se fulano gostou, certamente o filme é uma bosta. A margem de erro entre os amigos fica lá pela casa dos 60%. Prefiro os críticos.

Mas só para não dizer que o Gilberto está de todo errado, vou citar um caso em que a crítica me traiu. Foi em relação ao filme O Piano. Fui assistir pensando que era liiindo! A fotografia era mesmo, mas a história... não vi nada de mais. Mas não cheguei a dormir.

Quanto aos amigos: meus amigos adoraram À Espera de um Milagre. Para mim ess filme não passou de uma sequência de idiotices. Ridículo. E O Pianista? Aquele, do cara narigudo? Um interminável control C + control V de tudo o que é filme de segunda guerra que você já viu. Um requentadão, nada mais.

Voltando a alfinetar Gilberto, ele encerra suas palavras fazendo duas coisas:

1) Dando um conselho: "seja você mesmo seu crítico!" É um conselho de utilidade zero. Preciso de crítico antes de assistir. Depois, todo mundo "é seu próprio crítico", ora! Todo mundo sai do cinema achando alguma coisa. Exceto aqueles que dormiram, claro.

2) Sugerindo que ao invés de críticos, frequentemos sites de aficcionados em cinema. Só que nesses sites eles colocam listas de filmes bons, clássicos, fazem indicações... E tudo isso não deixa de ser crítica, ora bolas!

Já sei do que Gilberto não gosta: ele não gosta de ser flagrado na contamão de um intelectual. Melhor discordar de sites, no genérico, do que de um punhado renomado que diz que tal coisa é boa mas ele não consegue apreciar...


Cristina Faraon

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Implicando com Paulo Coelho - Postagem inaugural

Dica para 2009: quando você estiver triste, tristinho, mais sem graça que a top model magricela da passarela, visite o site do Paulo Coelho. Não estou ganhando nada com essa propaganda, mas você, leitor assídulo, merece a dica. Ele é tão engraçado, gente! Vale a pena o clique.

Perdeu o emprego? Bateram seu carro? O arroz queimou? Só ganhou presente peba no Natal? Leia o blog do PC. Acreditem: lá ele fala tanta, mas tanta merda que levanta a moral de qualquer um. Exemplo:

A lição "edificante" de hoje é repassada através da história comovente de um cara chamado Chibli. Chibli viu um cão tentando beber água, só que cão era tão babaca mas tão babaca que não conseguia beber porque por várias vezes se assustava com a própria imagem no poço e caía fora. Acho que essa besta deveria era morrer. O mundo nao precisa de cães tão tontos, mas tudo bem. Moral da história? tcham tcham tcham tcham! Ele viu a luz! O cão? Não, o Chibli!

Não entendeu? O episódio fez com que o cão fosse o primeiro mestre de Chibli. Chibli viu a luz! Aleluia! Lindo, né? (ora vá se ...)

O cara é um gênio do humor. Vou implicar com ele de vez em quando.

Cristina Faraon

sábado, 20 de dezembro de 2008

Capitães da Areia - Jorge Amado



A respeito do livro Capitães da Areia escreveu Milton Hatoum que “A meu ver, este romance de Jorge Amado antecipou de um modo lúcido e incisivo a vida das crianças que esmolam nas ruas das cidades brasileiras. E essa é uma das mensagens mais poderosas de Capitães da Areia. Hoje a violência urbana tem uma relação estreita com o tráfico de drogas, enquanto os meninos desta obra de ficção furtam para sobreviver. Mas , até certo ponto, as raízes do problema são as mesmas...”

Certo. Na minha opinião esta obra bem pode ser traduzida em uma única frase: “EU NÃO DISSE?”

É um livro profético; o que era terror naquela época hoje é visto como fichinha. Ele previu e acertou e esse é o grande mérito do livro e só por essa via pode ser chamado de “atual”. Mas cá pra nós, acho que ele acertou sem querer.

Também disse Milton Hatoum (no posfácio) que esta obra fora censurada e queimada em 1937 em Salvador. Deve ser pelo tanto que Jorge Amado chama violência, roubo e toda a sorte de crime de “atos de heroísmo”. Leia o livro e você verá que não estou exagerando.

Todos os crimes são tratados como atos heróicos, uma coisa a ser admirada e louvada. Dora, a garota de 13 anos que ingressou no grupo e fez questão de assaltar e fazer o diabo igual aos meninos foi quase que canonizada, “virou estrela no firmamento”! Volta Seca ingressou no grupo de Lampião, matou trocentos e ganhou na história uma moral tão grande que nem Tiradentes lhe faria sombra.

Prefiro Cidade de Deus, que mostra as coisas como são, cada um é o que é e ninguém aparece como santo. É mais real admitir que ninguém sabe onde estão as respostas.

Mas Jorge Amado não quis profetizar, quis escrever um romance. Quis inovar para a época e talvez isso significasse surpreender o leitor fazendo-o sentir ternura por quem seria impensável sentir ternura. Para isso percorreu o caminho da aflição: por um lado tinha a tarefa de nos convencer de que os meninos eram muito, mas muito malvados (se não o fizesse, a história perderia a base). Por outro lado, se a gente pegasse muita raiva dos moleques o autor perderia também o fio da sua grande idéia (que era justamente nos levar a gostar deles). E o que ele fez? Oscilou o tempo todo.

Os crimes mais violentos foram descritos geralmente através de figurantes (não na crueza do presente); as vezes eram contados seguindo-se de grande admiração pelo ato de “heroísmo”. Ou então os meninos apenas estavam reagindo a uma violência gratuita contra eles. Em suma: sempre havia uma justificativa.

Não existe possibilidade alguma de olharmos os delinqüentes de hoje e reconhecermos neles um Professor, um Gato, Sem Pernas ou Dora. Sinceramente. A gente tem que ler o livro e imaginar que a história se passou em outro planeta.

Se Jorge Amado queria nos mostrar que nem sempre os bandidos são tão maus quanto a mídia quer nos fazer crer, acho que o enfoque poderia ser outro (lembra do Lúcio Flávio?). A história poderia pender para outro lado; Amado poderia mostrar que suas contravenções foram aumentadas por puro preconceito e interesses escusos de uma imprensa tendenciosa e manipuladora etc etc etc . Tudo bem mas ele não foi por aí. Preferiu repetir mil vezes que os Capitães da Areia eram o Satanás, o cão-chupando-manga, temidos, renomados, um terror e tal e tal e ao mesmo tempo uns bebês fofinhos. Demorava-se em descrever crianças unidas por fortes laços de amizade e lealdade dormindo juntas, irmanadas sob estrelas num cenário inebriante, comovedor, ninadas pelas ondas do mar, ora na chuva, ora no sol... E de repente, como que para não nos deixar esquecer de que estamos tratando de delinqüentes terríveis, menciona algum crime dos Capitães da Areia assim, só para refrescar a memória.

O chato disso tudo é que ele fala não como um narrador mas como um admirador o tempo todo. Os espertos, valentes e destemidos Capitães da Areia. Os "batutas". Aí entram mais uns criminhos de nada, e tal... e eles voltam para o cais e entra de novo a música triste, a amizade, lealdade e bondade celestial que existe entre eles. “Eles não conhecem o pecado.”

Só mais essa, para eu passar para a outra parte da minha opinião: Pedro Bala, chefe da gangue, certa vez "estupra" uma garota. Tudo bem, até aí nada de mais, ele foi até legal porque deixou a garota virgem; doeu, machucou mas, a pedidos, foi por trás. Gente fina, né? Em outra ocasião ele tem nova oportunidade com outra garota mas segura seus instinto (e o de seus companheiros) porque esta nova vítima “não passava de uma menina” e garante a ela que ninguém ali lhe faria mal algum.

Ora, todos ali eram meninos! E as meninas (a estuprada e a poupada) eram quase da mesma idade. Tudo bem, a preservada era loira e a outra uma “negrinha”. Tá explicado.

MAS...

Sim, o livro tem seus grandes momentos. Tirante tudo o que foi acima exposto, tocou-me profundamente o drama psicológico dos personagens. Nisso Jorge Amado foi magnífico. O sofrimento sincero, a confusão dolorida do pobre padre José Pedro, a culpa lancinante e a vontade louca que Pirulito acalentava de ver a luz, servir a Deus, fazer o bem... o desespero lancinante de Sem Pernas ao se ver na iminência de abandonar aquilo que mais desejou na sua vida. Ele estava tão feliz que era de cortar o coração. A felicidade dele doía na gente. Seu desespero e desmoronamento foram as cenas mais fortes para mim.

Estes foram alguns dos momentos verdadeiros e muito bem escritos da história. Foram dramas reais, próprios de gente de carne e osso. Agora sim pude me sentir um deles, pude entendê-los e reconhecer a cara de um por um e acreditar que existiam. Porque não há nessa vida quem não se embaralhe na floresta da verdade, quem não sofra entre duas decisões “acertadas e conflitantes” e nem enlouqueça de dor sozinho no mundo. Nisso Jorge Amado arrasou. Cada personagem sozinho, como sozinhos somos todos nós, teve que debater-se em suas questões, ter seu peito dilacerado e por fim corajosamente seguiram em frente.

Os que tiveram chance seguiram em frente. Esse sim foi o verdadeiro ato heróico dos personagens e a lição preciosa do livro.

Cristina Faraon

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

A Natura e seus mistérios


Estive lendo dia desses um folheto da Natura. Na descrição dos batons, além dos cremosos e dos de efeito aveludado (que prefiro mil vezes) podemos encontrar, caras amigas, os cintilantes, os extrabrilho e até - vejam vocês! - os magníficos "brilho extracintilante". Que coisa! Fiquei deveras impressionada. E confusa.
Adoro imaginar o que leio e minha mente como que travou quando não consegui visualizar nada descrito assim pelo folheto que pudesse ser usado fora de um circo.

Alguém aí pode me explicar qual a diferença entre um batom cintilante, um extrabrilho (que teoricamente deveria cintilar) e o tal super-hiper "brilho extracintilante"? Por precaução acho que deveriam colocar um rótulo com o clássico aviso "mantenha fora do alcance das crianças" porque é possível que o troço dê choque.

Seria seguro usa-lo na chuva? E com o secador de cabelos ligado haveria problema?

Se o tal batom tem mesmo as propriedades que o nome sugere, deveria ser usado com grande proveito pelos guardas de trânsito durante a noite.

Lembrando de minhas amigas, não me vem à lembrança nenhuma que tenha surgido alguma vez na minha frente com uma boca assim tão "translumbrante". Hmmm... Acho que não vou comprar não. Talvez não seja elegante sair assim, fosforecendo pelo mundo.
Entre um bico seco e um bico espantoso, fico com a primeira opção.
Cristina Faraon

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Pro Quinan


Que o ano não feche suas portas
Sem que, com zêlo cuidemos
De nossa pequena horta.

Que Jesus, travessamente
Lasque um beijo em tua barba
E percebas de repente
Bem mais leve a tua carga

E até olhes com candura
As breguices de Natal
E encontres nova ventura
Em teu mundo opcional.

Não cristão? Mas todo bom
Sem neve? Que tal chocolate?
Poltrona macia e marrom
E alguém... com boca escarlate.

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Começando a escrever - minhas dicas


Preâmbulo:
Por algum motivo sobre o qual ainda não refleti o suficiente, despertei com o espírito leve. Uma luz sobre mim brilhou e então achei-me em perfeitas condições de dar os seguintes conselhos aos meus leitores, os quais serão valiosos para que ingressarem, uma vez guiados pela Luz, no mundo fabuloso da literatura. É possível que meus conselhos não passem de um breve palito de fósforo diante da longa estrada que cada um de vós tem pela frente... Ou quem sabe valha menos que um fósforo queimado. Vossa sabedoria certamente discernirá. E ao final das contas quem pode garantir que o quê serve para o quê em nossa curta passagem pela terra? Tudo não termina mesmo debaixo de sete palmos? Então vamos lá.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Mais frio!


Precisava que a tarde morna
Transmudasse em tarde fria
Pra então justificar
Essa irmã melancolia.

Como eu, está chovendo
Só falta o dia esfriar
Mais um pouco e você chega
Saberei o que falar?

Artrose nas velhas janelas
Estéreis riachos sem peixes
E prédios com mil sentinelas
Cuidando que não me deixes

Poucas cores nas sombrinhas
Pouco tempo pra almoçar
Meu vestido sem florinhas
E um rádio a cochichar

A tarde parece gripada
Encharcada e reticente
Chove grosso, chove fino
E chovem sentenças na gente

Deveria esfriar mais
E nevar a não poder
E sumirem os transeuntes
Até tudo esmaecer

Meu rosto agora sombrio
Riria então pra neblina
Irmanado com o frio

Um véu de camada fina.

Meu corpo seria de inverno
Petulante e transparente
Riacho gelado no ermo
Frio, nu e displicente.

Mas falta chover bem pesado

Com mais frio, até doer
Até que o mundo em meus braços
Eu sentisse esmaecer.

Cristina Faraon

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

domingo, 7 de dezembro de 2008

A mágica dos sem noção



Pois ali estávamos nós, mais no frio que no calor, mas nada nos incomodava a não ser aquele doce aperto no coração que nos sobrevêm quando estamos muito felizes. Cavalgávamos os quatro sem pressa mas parecia-me que só eu estava consciente da beleza desembestada que eles formavam como trio.

Eles eram leves e despreocupados, jovens e livres dessas noçoes pesadas que incluem a fatal passagem do tempo e da morte até dos tristes cavalos que montam. Divertiam-se, riam muito enquanto eu me esforçava tentando organizar minhas emoções e armazena-las em ordem alfabética para não esquecer nunca mais.


Provavelmente nem se davam conta de que estavam no auge da juventude e da beleza e que aquela era precisamente a estação do amor e da procriação e que por isso e por tudo o mais eles detinham poderes que deixavam cair displicentemente pelo caminho enquanto cavalgavam, como se fossem folhinhas engraçadas mas sem utilidade. Poderiam conquistar o mundo, a afeição de feras e escorpiões e trazer o gosto à vida de pessoas amarguradas. Poderes. Mas tãosdespreocupados estavam que também desconheciam que talvez nunca mais fossem tão adequados à viver e conquistar assim, com a despretensão de quem recebe uma caixa de jóias que nem sabe ainda se quer usar.

Eles entendiam, Deus do Céu, que formavam um quadro dos mais desejáveis da terra? Que eram três jovens felizes, rindo à toa de qualquer besteira, que eram perfeitos, sem sombras atrás de si, sem maldições que os acompanhassem, com corações vigorosos capazes de tudo e que o Amor lhes os apontava o caminho? Notavam que viviam porque queriam, tão-somente, e essa lei se aplicaria ainda para tudo o mais na face da terra? E que ainda por muitos anos poderiam suspirar e fazerem-se obedecer por pernas fortes, braços firmes e percoços altaneiros?


E eu? E eu estava inserida naquela realidade também. Não como num sonho, mas de forma igualmente palpável. Eu estava lá e por isso (sorte minha!) em um momento mágico fui como que puxada por eles - ou pela beleza que vinha disso tudo - sim, fui puxada para um lugar/momento que me pareceu ser... imagine! O Auge da Minha Vida!

Cristina Faraon

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Jogos Mortais V

(Leia o comentário)

Fantasma inquieto

A verdade verdadeira é que estou em São Paulo e não sei bem onde foi parar aquela vitalidade, aquele espírito inquieto, curioso e jovial. Tudo o que tenho é um espírito murcho e embolorado a me acompanhar dia e noite. Não ressequei. Embolorei - o que é bem mais incômodo, sob a minha avaliação.

Deve ser uma fase. Tem que ser uma fase. Estou me desconhecendo. Dentro de mim continuo sendo como antes e querendo as mesmas coisas mas algo me pesa, algo me prende. É alguma coisa inconclusa. Sabe esses filme nos quais alguém morre mas seu espírito cisma de azucrinar alguém que teve mais sorte e continua no mundo dos vivos? Pois é, vive cobrando coisas e não larga o pé até que determinada coisa seja realizada. Depois que o cara dá o braço a torcer e faz a vontade do fantasma-mala ele arruma a trouxa e vai-se para o além. Pois é mais ou menos assim.

Na tentativa de ressuscitar a Cristina espevitada que sei que ainda dorme dentro de mim, amanhã faremos uma programação mais animada. Encontraremos amigos e deveremos passear no "Simbad Safari". Tomara que seja legal. Desconfio de que seja algo meio infantil mas deve render boas fotos.

Hoje corri e já me sinto um pouco melhor.

Você, que estava morrendo de vontade de saber os pormenores de como me sinto, anote aí as notícias mais frescas.

Cristina

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Ah... Natal na França...


Hoje vi uma apresentação de Power Point liiiiinda. Natal na França. Fiquei encantada e sob este encantamento nâo resisti: juntei todas as minhas economias, "esqueci" de pagar as dívidas, pedi dinheiro emprestado aos amigos e voei para a França. Ah...

Todo mundo sabe o que é neve mas nem todos sabem o que é neve bem educada, comportada e posando para foto. É outra coisa!

Neve decorativa, colorida por lâmpadas, abraçando pinheiros, encostada amistosamente em portas e janelas lindamente enfeitadas... Tudo iluminado. Xô trevas! Um primor. Laços vermelhos. Cães com laços vermelhos. Gatos. Ratos, se os há, com lacinhos e meias vermelhas. E ainda por cima (ou por trás, sei lá) um coral de crianças saudáveis e cheirosas (ninguém canta tão bem se não for saudável e cheiroso) entoando (quem canta é pobre; rico "entoa") comoventes canções.

Cá com os meus botões me arrisco a perguntar, de mim para mim e muito discretamente: o que essas canções tem de comovente, se não compreendo uma vírgula do que esses pirralhos "entoam"? Ao que meu "eu mais elevado" prontamente responde: " -E quem precisa entender? A arte transcende a tudo e se você nao percebe isso com o espírito é porque ele não evoluiu; deve portando recolher-se ao porão, que é o seu lugar." Eu percebi sim! Se não sou convidada para jantar nas casas francesas pelo menos para passear de botas de couro nas ruas nevadas faço jus.

Voltando: ninguém precisa mesmo entender a letra das canções. Devem falar qualquer coisa sobre amor, paz no mundo, essas coisas que combinam com os enfeites de Natal. Tudo a ver. Em janeiro vai tudo para as gavetas.


A verdade é que podemos dar mil rodeios. Podemos até nos emocionar mas toda essa produção pode muito bem ser traduzida em cifrões.

Ruas tranquilas sem trombadinha? Dinheiro. Porque ninguém segura em casa um pivete faminto.

Ruas com a neve aplainada à máquina: dinheiro. Nenhum turista vai se atolar de boa vontade na neve, ainda que seja na França.

Luzes natalinas confeitando casas, árvores, janelas e o que mais aparecer: dinheiro. Ou você acha que aquele derrame de estrelas foi descuido de São Pedro? Ou será que os donos dos imóveis passaram o dia pendurados perigosamente em escadas para pendurar aquelas luzinhas lindas? Claro que não. Eles pagaram um profissional para isso porque eles têm dinheiro. Em minha casa eu faço tudo por conta própria. E fica tudo torto.

E o coral? Dinheiro. Quem vai ensaiar dia e noite um monte de pentelhos se não for para receber um bom incentivo? E quem vai levá-los a cantar se for de graça? Ninguém, a não ser para promover o lançamento do CD. De qualquer modo isso representa dinheiro.

Dinheiro, dinheiro, dinheiro. Ainda mais porque até onde eu sei os franceses não são lá muito devotos de coisa nenhuma a não ser da Igualdade, Liberdade e Fraternidade - e olha lá. Até essas três santas estão meio em baixa. O fato é que se eles se fantasiam de Natal só pode sem por um único e reluzente motivo: dinheiro.

Mundo cão.

Natal... criancinhas loiras de nariz e bochechas vermelhas fazendo biquinho na França, bem agasalhadas, andando seguras pelas ruas brancas, janelas claras (sem grades, meus amigos!!!) deixando-nos ver mesas "de revista" com aves certificadas fazendo pose na mesa, pães com algo além da casca, caldos com ervas finas, nozes frescas fazendo coro com troços fumegantes, queijos em inúmeras tonalidades e com todos os tamanhos de buraquinhos... Ah como o Natal é lindo!

Mas aqui no meio na neve e com um certo receio de ser mandada aos porões, fico novamente me perguntando: o Natal não fica capenga e sem sentido sem aquele garotinho da mangedoura? Sem aqueles anjos, aquela estrela, sem aqueles profetas falando da virgem que... Tá, tá, não vou falar mais nada. A passagem pra França me custou muito caro e já estou vendo uns olhos metralhando em minha direção.

Mas os magos do Oriente... a anunciação... Isso tudo é mais bonito que essa decoração toda. Pra mim é.

Cá pra nós, bem baixinho: Feliz Natal!


Cristina Faraon

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Teses de mal humor (isso passa!)



1- O bom de ficar sozinho é que ninguém te enche o saco; o ruim é que ninguém te ajuda.

2- Em qualquer situação o lado ruim sempre suplanta o lado bom.

3- O lado bom é provisório; o ruim é permanente e progressivo.

4- O problema de ajudar os outros é que você está sempre se desajudando.

5- Empreste dinheiro e perca um amigo.

6- Ninguém vai ao médico para ser curado, mas para trocar de doença.

7- Marido não passa de um homem amestrado. Se o seu não é, pode ter certeza de que a amestrada é você.

8- "Seja você mesma" é a frase que desmente todos os truques para fisgar homens.

9- Anote aí: não existe "hora boa" para divorciar. (Só os malvados se divertem.)

Primeira fase: você não quer criar um bebê sozinha, quer?
Segunda fase: Ele precisa da figura do pai. Sabe como é, a sexualidade se formando... Não seja egoísta. Espere mais um pouco.
Terceira fase: ele está se preparando para o vestibular. Você não quer prejudicá-lo e estragar tudo!
Quarta fase: Deixa o menino se formar! Ou ele se forma ou se junta com aquele monte de maconheiros e a culpa vai ser toda sua.
Quinta fase: Ele está estudando para concurso e precisa de serenidade. Você não quer esculhambar com o mundinho dele.
Sexta fase: a criança quer casar... precisa do apoio dos pais. Depois você separa.
Sétima fase: Netinho! Que amor! Vocês tem toda a estrutura para ficar com o bebê enquanto o casalzinho se estabiliza na vida. Eles precisam desse apoio nesse início da vida de casados. Você vai negar?
Oitava fase: Você está um caco e as doenças mútuas tornam impráticável o exercício da liberdade. Divorciar pra quê?

11- O problema de sair de férias é que eu tenho que me levar junto.

12- As maravilhas da amizade:

Amizade é uma flor a ser cultivada. Para te-la sempre viçosa necessário se faz:

Tempo ao telefone (de preferência ao celular $)
Tempo no restaurante ($)
Tempo no barzinho ($)
Final de semana na praia ($$)
Não ingerir o homem alheio por maior que seja o seu jejum
Não fazer charme para o homem alheio por maior que seja sua vaidade
Aceitar (heroicamente!) convites para programas de índio
Fazer convites para programas de índio (vingança: uma lição de vida)
Emprestar roupas e acessórios ($)
Lembrar do aniversário ($) e principalmente e acima de tudo
Disposição para engordar junto sem reclamar ($).

É importante saber que quem quer ser magra fica em casa comendo alface. Magra, reluzente, olhando-se no espelho e sozinha.

Se isso for muito deprimente (e é!) é aconselhável ir para a academia onde só se trocam frases rápidas e sorrisos imperfeitos, mas é preferível à sepultura do seu lar.

Amizade pressupõe quilos extras. Quanto mais amigos você tem, mais gordo você será. Isso é tão certo quanto um dia seguir-se a noite. Se você diz que tem muitos amigos mas não engorda com eles, fique sabendo que está se auto enganando. O que você tem é um monte de conhecidos inúteis, personagens de sonhos e nada mais. Se você morrer talvez eles nem chorem.

Amizade e gordura funciona mais ou menos com a proporcionalidade de sucesso econômico e o carrão. Pode não corresponder 100% mas tem alguma coisa a ver sim. Na questão da balança a genética pode influenciar assim como na questão "sucesso financeiro" várias outras questões podem influenciar (mau gosto, humildade, endividamento etc) mas repito: tem a ver.

Exceto as pequenas exceções que pousam sobre todo assunto por mais bem abordado que tenha sido, o que eu acabo de dizer nessa minha estranha postagem é a mais absoluta verdade. Nada que um mal humorado diga é passível de discordância!

Quando eu melhorar escreverei coisas mais simpáticas.

Cristina Faraon

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Cigana


Olho em seus olhos e vejo tudo, ainda que eles fujam de mim, perturbados.

Houve uma pessoa em sua vida que jamais foi esquecida e dói muito não saber onde ela está. Tomara que esteja feliz... mas se não estiver, pensará em você?

Pensará em você com a mesma melancolia, com a mesma dor da perda, com esse choro estéril, essa dor seca?

Será que você salta em seus pensamentos durante o dia em inesperados flashes e, assim como você, em um segundo ela vai para um passado do qual retorna desconsolada?

É isso o que te consome quando precisas parar. Eu sei, eu vejo.

Às vezes você pensa que não aconteceu; - "Nada aconteceu!" E tenta misturar tudo às confusões de um passado desarrumado. Nem sempre funciona. Ela existiu sim, com todos os detalhes, todos os suores, todas as ansiedades, todas as fibras, vozes e demoras que tornam uma história real.

Essa pessoa existiu indiscutivelmente e você lembra dela quando chove muito e não há nada a fazera não ser esperar a chuva passar. Lembra também quando o dia está acabando e o mundo parece cansado, cansado. O céu se contorce em alaranjados sem fim e tudo o que lhe resta é voltar para casa.

Você amou, era recíproco mas escapou-lhe das mãos. Nenhum detalhe explica o inexplicável. Fica uma esperança de retomar, de juntar cacos, de voltar ao não-sei-onde onde o elo se quebrou.

Sei sobre você. Sei da sua esperança tímida que não se anuncia nem bate no peito, mas espera e espera como criança teimosa que não acredita que a mãe morreu e abre os olhos de madrugada esperando até de novo ser engolida pelo manto do sono. É uma coisa só sua lá no fundo do coração. Ninguém sabe, nem seu filho mais querido.

Talvez essa pessoa esteja lhe esperando no mesmo silêncio, na mesma esquina enevoada das suas memórias mútuas. Talvez espere alguém sem rugas, sem filhos, sem vinte anos de financiamento a pagar. Alguém jovem, do passado. Talvez esse alguém não seja mais você.

Cristina Faraon

sábado, 22 de novembro de 2008

Peliculóide


(Leia o comentário)

Sábado a tarde


Estou em casa sábado a tarde cumprindo a promessa que fiz a mim mesma de não sair nem por decreto, nem se minha tapera pegasse fogo.

São 17:50 e até agora, promessa cumprida: estou enclausurada e a casa está pegando fogo. Calor insuportável, o inferno em vida.

Fiquei para descansar da semana cansativa de mil compromissos, coisinhas e coisonas para resolver. Agora questiono minha decisão. Deveria ter ido para o clube em trajes mínimos. Ou ido ao shopping, geladinho, tomar sorvete e estourar o cartão. Mas não, fiquei aqui toda preguenta de suor. E tem mais: a prisão voluntária em regime domiciliar acabou por me levar a abusar novamente do tempo em frente ao computador. Tô pra pegar nojo dessa maquininha. Estou usando óculos e a culpa é dela!

Poucas coisas me deixam mais estressada do que calor, suor escorrendo, abafado. Sob essas condições eu saio do sério, me descontrolo; tanto posso matar quanto confessar o pior crime.

Essa foto aí é refrescante por si só. Postei só pra aliviar mas acho que depois vou trocar. Ela refresca mas dá falta de ar...

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Ondas concêntricas


Acabei de ver um filme: "O Vidente". Bom.

O que gostei mesmo foi de uma frase especial que é dita tanto no inicio quanto no final da história. Algo assim:

"O lance do futuro é que toda vez que você olha pra ele, ele muda - porque você olhou para ele. Olhar altera tudo."

Instigante.

Por isso não podemos olhar o futuro. Talvez até pudéssemos, mas ele não se deixa observar longamente, só em relances, borrões indiscerníveis quando muito. Porque direcionar-lhe o olhar é o mesmo que matá-lo. Isso é a coisa mais lógica e redonda deste mundo.

Para não matar o futuro deveríamos olhá-lo do lado de fora, não do lado de dentro onde estamos, onde as coisas acontecem. Quem olha o futuro não pode estar dentro do tempo sob pena de dissolver o observado.

Não adianta: por mais imóveis que tentemos ficar, ao nosso redor formam-se ondas concêntricas totalmente fora do nosso controle. Como a pedra no lago.

Impossível jogar uma pedra no lago e observá-la afundar em um movimento solitário. Nunca um movimento é solitário. A água não fica imóvel, mas engole a pedra entre convulsões irreprimíveis. Círcuros ondulantes se formarão a partir dali denunciando a origem da irregularidade. Espalhar-se-ão, mudarão o posicionamento das folhas nas margens, o trajeto dos peixes, o reflexo da lua, tudo! Muda tudo.

... Círculos formando pequenas ondas que alterarão bilhões de pequenos fatos desnorteando-os... e o futuro esvaecerá irremediavelmente como se nunca tivesse existido.

Nossos olhos assassinos são o centro, o "buraco" na água onde cai a pedra da verdade. Assim como no lago, olhar o futuro é jogar uma pedra no lago do presente.

É meio triste saber que nosso olhar é cáustico, destrutivo, alterador, que ele faz com que o que será deixe de sê-lo antes de ter sido.

É a pior das mortes. Nós nos transformamos em lembrança mas ele - o futuro - quando morre vira apenas ilusão. Porque o futuro que não acontece é o que? É um delírio, uma idéia vaga, é quase nada.

Fora do tempo não há círculos. Quando você sair do tempo poderá olhar tranquilamente o futuro. Só que aí ele também deixará de ser futuro para ser, teimosamente, um eterno presente.

Cristina Faraon

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Um vale de lágrimas

Todos precisamos de um bom lugar pra chorar. Minha mãe sempre dizia, quando eu fazia alguma coisa errada: "faz! Depois vai chorar na cama, que é lugar quente!"



Chorar na cama pode ser bom, mas só para quem dorme sozinho. Não, só pra quem mora sozinho se não, vem sempre alguém bater à porta para te chamar, oferecer alguma coisa, perguntar onde está a chave, se você empresta aquele livro... Pra encher o saco, enfim.



Tem o banheiro mas geralmente na hora mais "sentida" aparece alguém também pra te assombrar na porta. Chorar no banheiro do trabalho então é bandeira total. Não só ficam espreitando seu tempo de permanência como todo mundo nota os olhos vermelhos. Batom novo, esmalte em dia, brinco de ouro, nada notam mas olho inchado é "sucesso total". E ainda fazem comentários. Se a chorona for mulher casada, com certeza vão atribuir tudo à uma suposta amante do marido e blá blá blá.



Chorar na igreja é permitido, até porque pode passar por louvável devoção. Ou... podem atribuir o 'pinga pinga" a puro remorso por algum pecado horrível que você acabou de cometer. Quer um conselho? Não chore na igreja.



Cinema então, nem se fala! É o pior lugar do mundo. Aquele bando de pipoqueiros de alto astral, credo! Todo mundo ri de você, um cutuca o outro pra mostrar a sua cara, ninguém se solidariza e ainda te acham uma banana.



Decididamente o melhor lugar do mundo para chorar é no carro da gente. Pra quem o tem, claro. Parado ou em movimento, ali é nossa bolha de privacidade. É o lugar fofo, uma espécie de útero com fundo musical.



Chorar com música tem o seu valor. Experimente! É bem mais legal porque a música, quando adequada, se solidariza com você. Um bom fundo musical faz com que seu choro sempre pareça plenamente procedente. Além do mais a música ajuda a esvaziar os reservatórios de lágrimas que você carrega. Geralmente por mais que a gente chore sempre sobram uns mililitros lá dentro. A música "passa o perfex" e você fica em dia consigo mesma, chega ao seu destino zerada, com a alma lavada e enxaguada, como gosto de dizer. E no carro dá até para soluçar! Não é em todo lugar que dá pra soluçar. Diga um, fora o cemitério. Não tem, viu? Nem debaixo d'água, porque aí você se afoga. É meio arriscado.



Vá por mim e faça o teste. Pense em algo bem triste, ponha uma música comovente e mande água. Você vai ver que beleza.



Chorar dá a impressão de que a alma ficou mais limpa. Pode não ter ficado, mas a impressão já faz a prática valer a pena.



Acho que chorar tem efeito contrário a beijar. Chorar alivia, desafoga. Beijar ... bem, é o contrário MESMO; você vira uma panela de pressão. Ninguém se alivia beijando. Acho que você precisa chorar.



Hoje estou falando muito em choro . É porque hoje já verti a minha quota.



Estou com saudade da minha mãe. Se ela estivesse aqui já teria me telefonado e dito mil palavras carinhosas pelo meu aniversário. Todas as frases começariam por "minha filha". Qualquer coisa que viesse depois era só acessório.



Nunca mais vou ouvir uma voz doce e feminina me dizer: "Minha filha, Deus te guarde! Feliz aniversário! Que Deus abençôe seus filhos, seu marido. Você é uma bênção! Que ele te faça uma boa mãe e uma mulher sábia."



Ela sempre dizia coisas assim, me abraçava, comprava algum presentinho, escrevia um cartão... Hoje não tenho mais isso. Então chorei. No carro e com. E ponto final.



Cristina Faraon



terça-feira, 11 de novembro de 2008

Bolha de felicidade


Cansados, cansados. Tiramos oitocentas fotos, transamos no hotel depois do cochilo e saímos pelas redondezas. encontramos poetas de bigode, poetas de violão, poetas encaracolados, enamorados, bêbados, jovens e velhos. Estranho... Pra todo canto que olho... todo mundo é poeta!
Eu hein!
Um brinde a isso!
Chope gelado, frituras irresponsáveis, o corpo amolecendo gostoso. Cheiros, cheiros diversos: de farofa, tapioquinha, churrasquinho de gato, batatinha, pipoca, do látex dos balões das crianças, da vala, da tinta da nossa camisa recém comprada.
De tanto andar o sapato dói. A gente tira, joga longe mas depois vai buscar, morrendo de rir. Aí aproveita e ri dos velhos, dos jovens, do gato pirento, da criança chorona. Melhor sentar um pouco.
Mesa do bar na rua, é claro, e violão aveludado. Entremeamos silêncios tranquilos com impulsos falantes. Imaginamos ganhar na loteria, imaginamos perder tudo, sair do país, ficar por aqui e virar pescadores... Imaginamos situações incríveis quando olhamos para o céu ou para a rua.
Mais tarde vamos dormir agarradinhos. Todas as nossas falas vão se misturar em nossa cabeça e vão gerar os sonhos mais malucos do mundo.
Adoro sonhos malucos, desses que a gente conta e as pessoas nos olham pensando "credo, que cabeça!"
Sonhos malucos vão bem no barzinho, vão bem em roupas de algodão, vão bem na praia. Só deveríamos sonhar maluquices porque nem sempre podemos vive-las. Sonhar que morri e vivi de novo, que montei em um tubarão, viajei em um avião inflável, que comia melado com feijão, que riscava o carro do vizinho, que todo mundo ria da gente, que a roupa se dissolveu em público, que viramos cangurus saltitantes, que nossa casa era molenga e a chave era de biscoito...
Assim, passeando com o cabelo ressecado do sol, a barriga cheia de tanta besteira, o tempo não passa nem deixa de passar. Não vai nem fica.
O tempo passa quando temos pressa e deixa de passar sei lá quando. Mas quando se ama e se está feliz, feliz ao ponto da irresponsabilidade, sem segunda-feira pra encarar, aí o tempo não passa nem pára. Ele é simplesmente é jogado fora, de-fe-nes-tra-do.
Quero tudo isso, mas com o sentimento que essa foto inspira, esse ar de coisa boa, comida mineira, cuzcuz baiano, caipirinha.
Saudade das noites mornas de beira de praia. Saldade das saias longas nas noites mornas de beira de praia. Saudade de mim ontem, com uma pequena bolha no pé, uma bolha de tão feliz. Sabe como? Dessas que aliviam mansamente no geladinho do mar.
Cristina Faraon

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Morrer de amor



Tava pensando...

Em meus passos pelo mundo ainda não encontrei nenhum "africano" com o estômago inchado e perninhas finas. Estranho, pois sei que eles existem. Não ouço crianças chorando de fome. Nenhuma pe apareceu suplicante, puxando a barra de minha saia pedindo um pedaço de pão. O máximo que vejo pela rua são uns pedintes (quase "exigintes") que me despertam mais receio do que simpatia.

Jamais dou de cara com essas pessoas realmente carentes. Nossos caminhos não se cruzam. Não há acaso que nos ajude. Estamos separadas por uma espécie de arame farpado social. Farpado e eletrificado.

Esses dias decidi: chega de ouvir falar. Quero ver com os meus olhos, não com os olhos dos outros. Não através de um vidro. Quero sentir, quero acordar, quero desmilinguir de amor.

Do sentimentalismo aos atos, um grande abismo.

Ao expressar a descabida intenção de "ir lá" ao vivo e a cores fui veementemente advertida. Há perigos incontáveis espreitando nessas localidades mais carentes. "Loucura, Cristina! É loucura!"

Existe uma mulher com filhos sofridos em algum lugar.Existe um pai desempregado, crianças cariadas, pés sujos. Como chegar neles?

Quando penso nisso parece-me que moram em outro planeta. Preciso de menos poesia e mais determinação. Preciso não me achar tão importante, mas minha família me acha importante. Meus amigos também. "Não vá, não invente! Não se meta, deixa de onda! Quer morrer? Pense bem."

Eles, os ultracarentes, tem as necessidades deles, mas também tenho as minhas. Preciso ser eletrificada por um amor desmedido, "um amor maior que eu". Mas como amar desmedidamente quem só existe na conversa dos outros e nas fotos?

Eu queria ver para sentir, para acionar o Alguém Melhor que deve existir (em algum lugar!) dentro de mim. Queria descobrir com o meu próprio coração que não preciso de tantos sapatos, que meus amigos podem ficar sem presentes de aniversário, que já tenho batons suficientes, que posso comer em casa, que não vou morrer se meu sofá não for trocado. Já sei de tudo isso, claro, mas quero que meu coração me diga. Ou quero ouvir isso pelos olhos da menina grávida.

Queria descobrir a minha melhor parte mas entendi que fazer o bem com as próprias mãos pode ser uma aventura de uma mente delirante. É como ser voluntário de guerra: quase uma burrice.

Enfiar-me pelas ruelas entrelaçadas do mundo é hoje meu desafio mas eu teria que fazer isso escondido.

Eu faria isso escondido? Convido alguém para ir comigo? Vou sozinha? Visto-me de freira? Ainda respeitam freiras? É burrice? "É o amor que mexe com minha cabeça e me deixa assim"? É doidice? É uma fase?

Para os muito "oculpados" há sempre a opção pré-fabricada de cooperar com uma instituição de caridade. Ajuda mas ... amar é muito mais do que isso e eu acabei de dizer que "quero um amor maior que eu".

Amar é olhar nos olhos. Dar dinheiro que passa de mão em mão e nem sei se chega lá, não me torna uma pessoa melhor nem mais humana. Serve para amenizar minha consciência, fazer com que eu me sinta bem sem precisar saber nem o nome do assistido. Dar dinheiro para instituições faz algum bem aos carentes, é verdade. Algum bem, mas não "o bem". É melhor do que nada mas não tem o mesmo valor que oferecer amizade, carinho, um ombro amigo, o meu endereço.

Sei lá... a proposta de Cristo é muito mais radical do que "isso aí". E não me sai da cabeça a proposta de Cristo. Ele disse para amarmos o próximo. Se não me aproximo do próximo ele jamais será meu próximo e eu jamais o amarei.

Jesus propôs envolvimento e isso é tudo o que não queremos. Queremos dar dinheiro. Claro, sai mais em conta, não suja as mãos nem a gola da camisa e não se perde o horário do cinema.

Confesso: não amo fotos de crianças magras nem mutiladas. O que sinto é apenas uma agonia, um grande mal estar quando vejo. Isso não é amor.

O que quero? Quero pirar, é isso. Quero sentir medo na primeira vez - só da primeira vez. Depois ser tomada pela ousadia dos apaixonados na loucura do não medir.

Eu amaria se pudesse chegar perto.
Eu quero chegar perto.
Eu quero chegar perto?
Sabe, o que eu queria mesmo era morrer de amor.

Cristina Faraon

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Receita condenada



Época de eleições é a época em que mais repetem uma das frases que mais me irritam: "

O eleitor não sabe votar. Tudo o que está acontecendo é culpa do eleitor porque é ele quem coloca o político lá."

Sempre tem um babacão na televisão (rimou!) dizendo isso com ares de "pensem nisso!"

Sinto ânsias assassinas quando ouço esse tipo de coisa. Primeiro porque a gente só pode votar em quem é candidato. Se os candidatos que aparecem são todos da mesma estirpe, que culpa tem o eleitor?


UMA PARÁBOLA:

Imaginemos que VOCÊ vai participar de um concurso de culinária. Todos os participantes terão que preparar o mesmo prato. Para isso eles tem a disposição uma grande cozinha com todos os ingredientes necessários à execução do prato mas tem o seguinte: é exigência dos organizadores que não pode ser utilizada nem uma pitada de sal que não tenha sido fornecida por eles.

Ao final do concurso os cozinheiros estão frustrados: todos os pratos ficaram horríveis. Nenhum candidato saiu-e bem. Motivo: os ingredientes fornecidos pelos organizadores do concurso eram problemáticos: uns estavam estragados, outros eram de péssima qualidade. Observou-se também que alguns estavam com os rótulos trocados. Como cozinhar bem nessas condições?


Como você acha que os participantes se sentiriam se alguém declarasse que eles eram incompetentes?

Não seria justo dizer isso, uma vez que eles eram obrigados a se limitar ao material fornecido! Se eles pudessem escolher com o que cozinhar, não escolheriam nada do que havia naquela cozinha maldita.

MORAL DA HISTÓRIA:


O mesmo acontece conosco. Nas eleições somos incentivados a fazer grandes mudanças no país, votar com consciência blá blá blá... Louvam as maravilhas do poder do voto mas ninguém faz a ressalva de que se a receita desandar a culpa pode estar na qualidade do material oferecido.

Só posso votar em quem é candidato.

Esse é o primeiro motivo pelo qual fico irritada com a tal frase infeliz. O segundo motivo é o mesmo. O terceiro, também. Fico três vezes irada pela mesma coisa.

Cristina Faraon

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Maldade feminina


Conversa de duas amigas durante uma apresentação de um grupo de jazz:

Amiga 1- Hmmmm... Esse músico aí é uma graça!

Amiga 2- Você acha?! Sei não...

Amiga 1- Você não acha? Bem, é que eu tenho um "problema" com músicos: tenho um fraco por eles.

Amiga 2- Ah querida! Te aconselho então a fazer terapia. Financeiramente sai bem mais em conta.

Mulheres... rsrsrs

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Poema sem sentido


Amor se mede?
Na balança:
Sexo, companheirismo,
Capacidade de ir levando
Indefinidamente.
Indefinidamente?

Qual a prova incontestável do amor?
É treinar a surdez dos sentidos
Para não enlouquecer?
É enlouquecer tranquilamente
Como quem sangra?

Bebedeiras, surras homéricas?
Traição, ração rala, goteira,
Mau cheiro, pobreza extrema?
Tanques de roupas sujas?
Dormir no chão?
Invisibilidade mútua?
Fome, muita fome?

Qual o peso do amor?
(Não há aferidor mundiamente aceito...)
Pense nos calos do seu amor:
Quanto ele te cobra
Por passar uma temporada?
Qual o preço de capinar
Seu triste jardim no inverno?
Quais os calos do seu amor?

Um escarro - um beijo de língua
Outro escarro - eu te amo.
Um cuspe - você é tudo pra mim.

Esse poema não faz sentido...

Cristina Faraon

terça-feira, 21 de outubro de 2008

O esconderijo da felicidade

Eu mesma já repeti, em tom empolado, que "a felicidade está dentro de cada um de nós". Não vou desdizer; vou apenas implicar com isso porque hoje estou com a macaca.

Se alguém viesse hoje me dizer que a felicidade está dentro de mim eu mandaria essa pessoa catar coquinho - no mínimo.

Hoje, em um lampejo, descobri que não há nada mais cruel do que esse lance. Não haveria outro lugar mais facinho para a Felicidade se esconder não? Que saco! Dizer que ela está dentro de mim é o mesmo que ir ao médico doido de dor e ele dizer na sua cara que você não tem nada. Fica tudo na mesma exceto por um novo fato: agora você odeia os médicos.

Se a felicidade estivesse em alguma caverna, hordas de pessoas esperançosas fariam expedições. Muitas morreriam no caminho. Poucas encontrariam. Outras ainda - talvez a maioria - jamais conseguiria juntar dinheiro suficiente para sair por aí procurando a felicidade mas isso não seria assim tão ruim.

Por exemplo: não jogo na loteria mas adoro pensar que um dia pode me dar um estalo (ou algo mais glamouroso) na minha cabeça e de repente eu entrar em uma casa lotérica, apostar uns trocados e "bamburrar". Sabe, é reconfortante pensar nisso. Claro que a felicidade em potencial é uma felicidade de "um e noventa e nove" mas é melhor do que nada! Por outro lado, se proibissem as apostas para sempre eu ficaria revoltada, triste, com um pesado sentimento de perda. Não jogo mas adoro pensar que posso ficar rica, que a porta está aberta, basta economizar o dinheiro do sorvete.

Dizer que a felicidade está dentro de nós é mais ou menos como alguém dizer que você é feliz sim! "Procure dentro de si!" Ah, vai tomar no banho!

Se ela estivesse no fundo do mar, no alto da montanha, no colchão do último imperador da China, debaixo da mesquita, no turbante do Aiatolá... aí eu poderia dizer para mim mesma: não vou lá porque não tô a fim hoje mas se for, posso vir a ser a criatura mais venturosa do mundo. Ah... um dia eu me decido, podem anotar.

Mas não! Localizaram a Ventura Infinda dentro de mim. Cara, você tem idéia da bagunça que é aqui por dentro? Esconder a felicidade dentro de mim é como fazer um concurso com o intuito único de não deixar ninguém ser aprovado.

Dentro de mim tem selva, mar, caverna, luz, escuridão, almofadas velhas... Se duvidar tem até turbante de aiatolá. E peixe frito. Não duvide não. E plantação de manjericão com anjos jardineiros tocando harpa. É por aí.

Faz o seguinte: quando eu estiver de mal humor (como hoje) diga que a felicidade está no Céu com os anjinhos... Ou diga que ela não existe. Isso! Fica melhor. Mas não se atreva a afirmar que ela está dentro de mim que aí eu não respondo pelos meus atos.

Cristina Faraon

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Preocupante

Estou percebendo em mim vários sintomas de velhice:

1- Os homens mais lindos, na minha opinião, foram lindos há uns 40 anos atrás, mais ou menos;
2- As melhores músicas que conheço foram composta há mais de vinte anos;
3- Descobri que aqueles cantores que eu considerava insuportáveis quado tinha 12 anos são, na verdade, maravilhosos;
4- Não acredito mais que eu possa mudar o mundo;
5- As músicas frenéticas tocadas ininterruptamente nas academias estão começando a me enjoar;
6- Começo a concordar que beleza é bom mas não é tão importante quanto eu imaginava;
7- Adoro ficar sentada na cadeira de balanço do pátio de casa. Estou começando a achar isso melhor do que muitos programas que antes me interessavam;
8- Não tenho mais paciência para usar, como antigamente, um sapato desconfortável só por ser lindo.
9- As roupas justas, que eu adorava, estão começando a me incomodar. Entrei numa de priorizar o conforto.
10- Estou pensando seriamente em fazer um lifting;
11- Um cruzeiro marítimo já não me parece mais uma idéia abominável.
12- Minha gaveta já tem permissão para receber algumas calcinhas confortáveis, não só as sex;
13- Começo a me sentir ridícula de mini saia - coisa que sempre adorei.
14- Uso tranquilamente roupas que há um tempo atrás eu achava "de velha".
15- Também uso bijuterias, tonalidade de batom e de esmalte que me paerciam coisas "de velha".
16- Os mais jovens já riram de algumas de minhas gírias que (dizem) não serem mais usadas há uns 15 anos pelo menos.
17- Não vejo graça nesse lance de "ficar".
18- A gritaria e risadagem sem fim dos adolescentes me cansam a beleza.
19 - Não faço mais exercícios físicos apenas por motivos estéticos.
20- Adoro ambientes tranquilos;
21- Não tenho mais a menor tesão em sair pulando atrás de um trio elétrico. Na verdade nunca saí, mas antigamente eu tinha vontade.
22- Descobri que eu não era uma adolescente horrorosa;
23- Lamento imensamente os anos que sofri me achado uma bruxa desengonçada. A adolescência é mesmo uma porcaria.
24- Nunca mais senti aquela sensação desagradável de ser horrorosa.
25- Não fico imaginando o que vou ganhar em meu aniversário ou no Natal.
26- Jamais namoraria um hippie. Antigamente eu os achava o máximo.

Tem mais, mas não vou escrever agora. Estou cansadinha.

Cristina Faraon

domingo, 12 de outubro de 2008

Uma lição de vida


Filho: "Papai, me ensine sobre a vida!"...

Pai: "O que mais você quer saber?"

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

A importância de um blog em nossas vidas



Descobri que o uso do blog tem uma função social inestimável. Ele nos ajuda, entre outras coisas, a sermos mais palatáveis em nosso meio e, assim, mantermos nossos preciosos amigos.

Trocando em miúdos: a principal função de um blog é poupar os ouvidos dos outros. Um blog nos livra do mico de pulverizarmos pelo mundo as nossas opiniões desnecessárias.

Eu mesma tenho opinião pra praticamente tudo, da existência de vida extraterrestre a legalização do aborto, da importância do trema ao sexo dos anjos. É só me consultar.Lâmpada

Felizmente também tenho auto crítica e penso: será que as pessoas estão mesmo interessadas em saber como foi meu dia ou o que penso a respeito disso ou daquilo? É aí que entra o blog! Sabe, você tem a impressão de estar falando para uma multidão atenta e paciente com todo o tempo do mundo. Não é o sonho de todo orador? Não é o sonho de todo o chato? Não seria o SEU sonho, caro leitor? Dá pra curtir longamente essa fantasia como uma espécie de orgasmo múltiplo. Ao mesmo tempo não lhe pesará a dolorosa desconfiança de estar sendo um mala sem alça. Lê quem quiser - você é inocente.

Ah ... Suave consolo de quem precisa se expressar!

Olho para o meu passado e sinto um certo desconforto. Eu era chatona. Era só alguém "dar mole" que lá vinha eu com minhas idéias. Pior: todas as idéias eram defendidas, não explanadas. Sabe, acho que eu tinha um quê de militante não sei-de-quê. E como todos sabemos, e ninguém aguenta papo de militante.

Em meu achismo irrefreável acho agora que todos os militantes do mundo deveriam ter um blog. Deveriam ser forçados a isso sob pena de serem escurraçados de seu habitat. O lance é terapêutico! Eles despejariam na internet toda a sua indignação ou amargura ou seja-lá-o-que-fosse e aliviariam suas represas emocionais. O que sobraria para os nossos ouvidos seria uma ou outra palavra de ordem perfeitamente digeríveis.

Que bela trégua dariam para os amigos na mesa do bar! Já chegariam ali com a alma lavada e enxaguada. Ninguém teria medo de tocar "naquele" assunto porque saberia que o tal Ser Pensante limitar-se-ia à breve curiosidade do questionador e brindaria a todos com o mínimo necessário em palavras, uma clara e breve explicação para depois escorregar alegremente para outro assunto. Seria assim porque tudo o mais já estaria devidamente publicado no blog. Brilhante!

Mesa de bar e festa de amigo é para falar abobrinha. Até quando o assunto é sério, nessas ocasiões ele precisa ser rapidamente esculhambado se não, não tem graça. E é para ter graça.

Só para você ter uma idéia: se não fosse esse blog eu já teria sucumbido a tentação de ser militante de blog: invadiria festas e bares tentando convencer as pessoas da necessidade de blogarem para não enfadarem nem enfartarem. Como tenho esse espaço, vou salvar o texto e ficar calminha calminha.Não conte para ninguém

Cristina Faraon