Depois de muito custo e tu-tu-tu no ouvido, finalmente consegui falar com o Papai Noel. O problema é que empenhei-me tanto em conseguir o número telefônico, depois em conseguir a ligação em si, que deixei pra lá o principal: falar o quê?
Claro que você deve estar se perguntando: se queria tanto falar com ele, deveria ter um motivo. E tive: tédio. Estava entediada, com as unhas feitas, cabelo pintado, tudo em dia mas queria fazer alguma coisa diferente. A noite me encontraria com amigas e queria ter algo a contar. Falar das injustiças do trabalho, de política ou das minhas últimas aventuras no shopping, nem pensar. Quem quer ser previsível? Eu poderia chocá-las com uma conversa diferente, mais criativa, mostrar que meu círculo de amizades se amplia a cada semana - e com gente importante, viu!
Não sei por quê não pensei em algum artista. Acho que porque estava passando um carro de som perto de casa, e tocava daquelas músicas natalinas. A associação foi imediata: por que não falar com o próprio Papai Noel?
Não consegui no mesmo dia. E não vou dizer como consegui o número dele; tenho que resguardar minhas fontes de informação. Sinto muito. O importante é que uma semana depois lá estava eu em frente ao telefone desde cedo, tentando um contato. Se ele existia, iria me atender.
Finalmente atendem (uau!) e era o próprio. Eu jurava que ele tinha uma secretária ou pelo menos uma mulher. Acho que ele se separou daquela velhinha simpática que aparece nos cartões porque, como disse, ele mesmo atendeu:
Papai Noel - Alô?
Cristina - É... er... é da casa do Papai Noel?
Papai Noel - Sim.
Cristina - Dá pra chamar ele pra mim?
Papai Noel - Não.
Cristina - (silêncio...) Não!? E por quê não?
Papai Noel - Porque é ele mesmo quem está falando - hehehe
Cristina - Me faça o favor de chamar o Papai Noel?
Papai Noel - Mas sou eu!
Cristina - O verdadeiro, quando ri faz "ho ho ho" e não "he he he".
Papai Noel - Minha filha, eu estou de folga; só faço "ho ho ho" no Natal.
Cristina - Ah tá. Desculpa aí.
Papai Noel - Sim, mas diga: o que você deseja?
Cristina - (Ai! O que eu desejo mesmo?) É... Desejo dizer que tenho um desejo.
Papai Noel - Todos temos. E daí?
Cristina - Éeee... Bem... Quero fazer meu pedido.
Papai Noel - Você quer dizer que GOSTARIA de ser atendida em um pedido, não é? Já disse que estou de folga.
Cristina - Sim, é isso. Desculpa, é que estou nervosa.
Papai Noel - E eu tô ficando. Pois sim, diga logo minha filha.
Cristina - É... eu... (cara, o que eu quero mesmo?)
Papai Noel - Já sei: você deseja ligar outra hora.
Cristina - Calma! (velho ranzinza!) O senhor não sabe o trabalho que tive para conseguir falar com o senhor! Bem, meu pedido é: DESEJO PAZ PARA O MUNDO (caramba, isso não é nada original!).
Papai Noel - Cumé?
Cristina- É, paz para o mundo.
Papai Noel - Você é miss por acaso? Só elas fazem esses pedidos idiotas.
Cristina - Poxa! O que há de errado com o meu pedido?
Papai Noel - Em primeiro lugar, nunca vi fazer pedido por telefone. Para o Papai Noel só se faz pedido por cartinha escrita à mão. É a norma.
Cristina- Que "Norma"? Não conheço...
Papai Noel - Ai meu saco... Quando tocou o telefone pensei que fosse a faxineira.
Cristina - Da próxima vez vou atacar de faxineira; talvez o senhor me atenda melhor.
Papai Noel - Quer que eu desligue?
Cristina - Nãããooo! Me diga, é só isso que está errado em meu pedido?
Papai Noel - Não. Em segundo lugar seu pedido está irregular também porque você só pode pedir uma coisa de cada vez.
Cristina- Mas é o que eu estou fazendo!
Papai Noel - Não. Está pedindo para o mundo todo, então são mais de 6 bilhões de "pazes".
Cristina- Caramba, não tinha pensado nisso.
Papai Noel - Além do mais você não pode pedir pelos outros. Já perguntou se cada pessoa no mundo prefere mesmo paz? Já perguntou?
Cristina - Não...
Papai Noel - Pois é. Depois vem uma multidão de cartas me esculhambando porque mandei o que não pediram.
Cristina - Mas todo mundo vai querer paz.
Papai Noel - Tolinha! Isso é o que você pensa. Conheço uma doida que só quer o marido da outra - e isso é guerra, não paz. Tem gente que prefere um carro, outros preferem o poder. Paz? Tá em baixa.
Cristina - Quer dizer que tenho que fazer um pedido só para mim?
Papai Noel- Isso! Finalmente entendeu.
Cristina - E por escrito?
Papai Noel - Claro.
Cristina - (Burocracia...) Não quer que reconheça firma também?
Papai Noel - Até que você me deu uma boa idéia!
Cristina - Pô, o senhor não tá me levando a sério!
Papai Noel - he he he - ou ho ho ho, como preferir. Mas sim, vai querer paz mesmo?
Cristina - Claro, mas...
Papai Noel - Tem sólida, líquida e gasosa. Qual prefere?
Cristina - Quer dizer: o senhor vai me dar mesmo qualquer coisa que eu pedir?
Papai Noel - Sim, ou não me chamo Papai Noel. Seu pacote de paz já está sendo providenciado.
Cristina - Nãããoooo! Peraí!
Papai Noel - O que foi?
Cristina - Pensando bem... não dá pra me arrumar uma viagenzinha para a Europa com o Taylor Lautner? É isso que eu quero.
Papai Noel - (Mais uma fútil...) Peraí, uma coisa ou outra! Ou Europa ou Taylor.
Cristina - Caramba!
Papai Noel - Vou quebrar o teu galho: vou realizar teus pedidos: Europa, com boa companhia mas... e a tal paz?
Cristina - Quebra esse galho que já fica tudo em paz por aqui, velhinho!