sexta-feira, 28 de março de 2008

O Meu Olhar - Alberto Caeiro


O meu olhar é nítido como um girassol.
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda,
E de, vez em quando olhando para trás...

E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
E eu sei dar por isso muito bem...
Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras...

Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do Mundo...
Creio no mundo como num malmequer,
Porque o vejo. Mas não penso nele
Porque pensar é não compreender ...
O Mundo não se fez para pensarmos nele
(Pensar é estar doente dos olhos)
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo...

Eu não tenho filosofia: tenho sentidos...
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso,
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe por que ama, nem o que é amar ...
Amar é a eterna inocência,
E a única inocência não pensar...

sexta-feira, 21 de março de 2008

Integração

O vento não sopra. Nada é arejado.
Embora afirmem e reafirmem que tudo é passageiro
Continuo achando que as vezes esse passageiro demora demais.

Os pensamentos são os mesmos. As dificuldades também.
E nem sempre escrever ajuda.

Ajuda olhar para o céu e interpretar suas cores.
Quando cinza, pense. Quando cinza, lembre; sinta tudo de novo e reflita a respeito.
Quando negro, respeite o mistério; pense no além, suba um degrau.
Quando azul sorria. Apenas sorria porque tudo estará colorido e você está mais jovem que ontem.
Olhe e interprete o céu. Siga a chuva.
Integre-se alegremente ao aleatório.
Acho que essa é a resposta.

Cristina Faraon

segunda-feira, 17 de março de 2008

Eu quero a minha jaca!


Meia noite: horário fatal em que zumbis, vampiros, fantasmas, bruxas, almas inquietas e outros subprodutos das trevas vagueiam por aí procurando emoções. Deve ser frustrante essa procura. São todos uns morto-vivos! Claro que o "emociômetro" está desativado há séculos.

Qual a espectativa sobrenatural para a meia noite? O que podemos esperar de inusitado?


Quando criança eu ouvia histórias de que os brinquedos ganhavam vida a meia-noite; bonecas saíam de suas caixas, soldadinhos escapuliam das prateleiras, todos brincavam a noite toda, curtiam adoidado, namoravam, guerreavam, viviam todas as fantasias impostas pelo fabricante. Depois iam para os seus lugares com a cara mais lépida.

Feitiço da meia-noite... Na caixa do meu cérebro nao encontro mais compartimentos para essas fantasias. Chato. As crendices são burras mas interessantes. Quando a gente acretida em coisas do além somos cercados por emoções bem especiais.

O que posso esperar de "encantado" para depois de um dia de trabalho? Se tiver sorte, sono. E se tiver mais sorte ainda, sonhos malucos. Isso!

Adoro sonhos malucos. Ultimamente tenho sido brindada por vários deles. Quanto mais desvairado melhor.


Esses dias sonhei com um simpático bode voador que visitava todo o prédio onde, no sonho, eu residia. Ele fazia suas rondas diárias janela por janela. Era branco e suas asas, postiças. Mas funcionavam perfeitamente. No sonho eu tentava decifrar o significado daquela ronda; tinha que haver um motivo profundo para que o bode voador se sentisse impelido a visitar todas as janelas do prédio. Era uma missão, algo misterioso e coberto de significado... Hummm.... Aí acordei. Foi quando descobri que a missão do bode era apenas me entreter. Nada mais nobre.


Sonhos que se parecem com a vida real não tem graça nenhuma. Ora, se estou dormindo e disponibilizo minha mente aos sonhos, é justamente para poder meter o pé na jaca! Exijo minha jaca assim que eu fechar meus olhos!

Sonhar que estou numa fila de banco? Que almocei feijão com arroz, que terminou o crédito do celular, que o barrigudo da esquina está me cantando? Pelo amor de Deus, acordem-me com uma tijolada amiga.

Mal vejo a hora de chegar a próxima meia-noite!


Cristina Faraon

terça-feira, 11 de março de 2008

O mistério de Eva


De fato não tenho condições de falar nada que já não tenha sido dito a respeito do Holocausto mas estou aqui humildemente postando algumas impressões que não passarão para a história.

Vi e revi o filme A Queda e embora a figura de Hitler esteja um tanto manjada ele permanece em minhas impressões como um ET inexplicável. Uns dizem que ele era doido varrido, outros juram que não, que ele sabia muito bem o que estava fazendo.
Como vou saber? Pra mim ele tinha o pior da loucura e o pior da lucidez.
E pensando bem... talvez toda maldade seja loucura. Talvez sejamos todos loucos. E ainda mais: talvez loucura maior seja existir algum tipo de bondade nesse "lindo balão azul".

Estou enjoada da imagem de Hitler e de seus clones por isso não foi ele quem me impressionou no filme. Quem me impressionou foi sua mulher, Eva Braun. Ela não me sai da cabeça! Gestos, riso, roupas, porte físico, penteado... Vi uns quinhentos vídeos dela no Youtube. Ela sozinha, com amigas ou com seu estranho marido. Conclusão: ela também era estranha. E mais ainda do que ele.

Era estranha por ser cheia de vida, pela sua imensa simpatia, juventude, energia, meninice, sensualidade. No filme era mostrada assim e nas imagens da vida real notei que o filme foi bem fiel. Pode ir lá conferir.
Nada disso parece ter a ver com Hitler. Os dois juntos pareciam mais um malabarismo do que um casal. Mas aí é que está: não parecia mas a história e a lógica dizem que tinha que haver algo em comum neles - e não era bondade.

Ele tinha cara de mau; ela não. Ela parecia ser o seu oposto, o que não deixa de ser suspeito.

Para mim Eva Braun é um desafio e uma provocação. Esse casal esfregou em nossa cara que o mal pode ter muitas caras e que frequentemente escapole às redes da nossa percepção.
Eva... Jovem, ágil, irrequieta, gentil. Mas leal a Hitler como um cão! Do que não seria capaz sob as ordens dele? Hein?

Para não nos confundir, bem que ela poderia ter nos feito o favor de aparecer contrariada nas fotos, com cara sorumbática. Aí nós prontamente imaginaríamos que ela estava com ele a força, por medo, que temia negar-se a um homem tão poderoso. Isso daria um filme, um drama, uma história melosa. Mas que nada: Eva era a imagem da alegria esfuziante. Eu hein!

Se nosso método de avaliação da maldade humana é mesmo assim tão falho, estamos em maus lençóis.

Só há uma salvação. Só há um consolo. Existe a chance de que Eva tenha sido mesmo assim, meio maluquete como o filme sugere. Uma criança tolinha e gentil, flutuando em um mundo paralelo. Pateta, mas não cruel.

Tomara. Se foi, o mundo está a salvo. Se não foi... não entendo mais nada.

Cristina Faraon

sábado, 8 de março de 2008

Rosa

Ganhei uma rosa
Rosas são lindas
Não se devolve uma rosa, sob nenhuma hipótese
Tenho uma rosa do Dia da Mulher a me desafiar
Ela não ri de mim,
Apenas me olha com as mãos na cintura
A perguntar: "e aí? Vai dizer o que agora?"

Rosas são bonitas
Mal-criadas e atrevidas

Minha vingança
É vê-la fenecer
Mais rápido que eu.

Quando ganhar uma rosa
Aproveite pra medir
O quanto você tem de durona

Rosa...

Não pra devolver
Mas pra reter
E pra rever
O momento primeiro
Distante passado
De quando ele estava
Tão apaixonado.

Cristina Faraon

sexta-feira, 28 de março de 2008

O Meu Olhar - Alberto Caeiro


O meu olhar é nítido como um girassol.
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda,
E de, vez em quando olhando para trás...

E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
E eu sei dar por isso muito bem...
Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras...

Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do Mundo...
Creio no mundo como num malmequer,
Porque o vejo. Mas não penso nele
Porque pensar é não compreender ...
O Mundo não se fez para pensarmos nele
(Pensar é estar doente dos olhos)
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo...

Eu não tenho filosofia: tenho sentidos...
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso,
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe por que ama, nem o que é amar ...
Amar é a eterna inocência,
E a única inocência não pensar...

sexta-feira, 21 de março de 2008

Integração

O vento não sopra. Nada é arejado.
Embora afirmem e reafirmem que tudo é passageiro
Continuo achando que as vezes esse passageiro demora demais.

Os pensamentos são os mesmos. As dificuldades também.
E nem sempre escrever ajuda.

Ajuda olhar para o céu e interpretar suas cores.
Quando cinza, pense. Quando cinza, lembre; sinta tudo de novo e reflita a respeito.
Quando negro, respeite o mistério; pense no além, suba um degrau.
Quando azul sorria. Apenas sorria porque tudo estará colorido e você está mais jovem que ontem.
Olhe e interprete o céu. Siga a chuva.
Integre-se alegremente ao aleatório.
Acho que essa é a resposta.

Cristina Faraon

segunda-feira, 17 de março de 2008

Eu quero a minha jaca!


Meia noite: horário fatal em que zumbis, vampiros, fantasmas, bruxas, almas inquietas e outros subprodutos das trevas vagueiam por aí procurando emoções. Deve ser frustrante essa procura. São todos uns morto-vivos! Claro que o "emociômetro" está desativado há séculos.

Qual a espectativa sobrenatural para a meia noite? O que podemos esperar de inusitado?


Quando criança eu ouvia histórias de que os brinquedos ganhavam vida a meia-noite; bonecas saíam de suas caixas, soldadinhos escapuliam das prateleiras, todos brincavam a noite toda, curtiam adoidado, namoravam, guerreavam, viviam todas as fantasias impostas pelo fabricante. Depois iam para os seus lugares com a cara mais lépida.

Feitiço da meia-noite... Na caixa do meu cérebro nao encontro mais compartimentos para essas fantasias. Chato. As crendices são burras mas interessantes. Quando a gente acretida em coisas do além somos cercados por emoções bem especiais.

O que posso esperar de "encantado" para depois de um dia de trabalho? Se tiver sorte, sono. E se tiver mais sorte ainda, sonhos malucos. Isso!

Adoro sonhos malucos. Ultimamente tenho sido brindada por vários deles. Quanto mais desvairado melhor.


Esses dias sonhei com um simpático bode voador que visitava todo o prédio onde, no sonho, eu residia. Ele fazia suas rondas diárias janela por janela. Era branco e suas asas, postiças. Mas funcionavam perfeitamente. No sonho eu tentava decifrar o significado daquela ronda; tinha que haver um motivo profundo para que o bode voador se sentisse impelido a visitar todas as janelas do prédio. Era uma missão, algo misterioso e coberto de significado... Hummm.... Aí acordei. Foi quando descobri que a missão do bode era apenas me entreter. Nada mais nobre.


Sonhos que se parecem com a vida real não tem graça nenhuma. Ora, se estou dormindo e disponibilizo minha mente aos sonhos, é justamente para poder meter o pé na jaca! Exijo minha jaca assim que eu fechar meus olhos!

Sonhar que estou numa fila de banco? Que almocei feijão com arroz, que terminou o crédito do celular, que o barrigudo da esquina está me cantando? Pelo amor de Deus, acordem-me com uma tijolada amiga.

Mal vejo a hora de chegar a próxima meia-noite!


Cristina Faraon

terça-feira, 11 de março de 2008

O mistério de Eva


De fato não tenho condições de falar nada que já não tenha sido dito a respeito do Holocausto mas estou aqui humildemente postando algumas impressões que não passarão para a história.

Vi e revi o filme A Queda e embora a figura de Hitler esteja um tanto manjada ele permanece em minhas impressões como um ET inexplicável. Uns dizem que ele era doido varrido, outros juram que não, que ele sabia muito bem o que estava fazendo.
Como vou saber? Pra mim ele tinha o pior da loucura e o pior da lucidez.
E pensando bem... talvez toda maldade seja loucura. Talvez sejamos todos loucos. E ainda mais: talvez loucura maior seja existir algum tipo de bondade nesse "lindo balão azul".

Estou enjoada da imagem de Hitler e de seus clones por isso não foi ele quem me impressionou no filme. Quem me impressionou foi sua mulher, Eva Braun. Ela não me sai da cabeça! Gestos, riso, roupas, porte físico, penteado... Vi uns quinhentos vídeos dela no Youtube. Ela sozinha, com amigas ou com seu estranho marido. Conclusão: ela também era estranha. E mais ainda do que ele.

Era estranha por ser cheia de vida, pela sua imensa simpatia, juventude, energia, meninice, sensualidade. No filme era mostrada assim e nas imagens da vida real notei que o filme foi bem fiel. Pode ir lá conferir.
Nada disso parece ter a ver com Hitler. Os dois juntos pareciam mais um malabarismo do que um casal. Mas aí é que está: não parecia mas a história e a lógica dizem que tinha que haver algo em comum neles - e não era bondade.

Ele tinha cara de mau; ela não. Ela parecia ser o seu oposto, o que não deixa de ser suspeito.

Para mim Eva Braun é um desafio e uma provocação. Esse casal esfregou em nossa cara que o mal pode ter muitas caras e que frequentemente escapole às redes da nossa percepção.
Eva... Jovem, ágil, irrequieta, gentil. Mas leal a Hitler como um cão! Do que não seria capaz sob as ordens dele? Hein?

Para não nos confundir, bem que ela poderia ter nos feito o favor de aparecer contrariada nas fotos, com cara sorumbática. Aí nós prontamente imaginaríamos que ela estava com ele a força, por medo, que temia negar-se a um homem tão poderoso. Isso daria um filme, um drama, uma história melosa. Mas que nada: Eva era a imagem da alegria esfuziante. Eu hein!

Se nosso método de avaliação da maldade humana é mesmo assim tão falho, estamos em maus lençóis.

Só há uma salvação. Só há um consolo. Existe a chance de que Eva tenha sido mesmo assim, meio maluquete como o filme sugere. Uma criança tolinha e gentil, flutuando em um mundo paralelo. Pateta, mas não cruel.

Tomara. Se foi, o mundo está a salvo. Se não foi... não entendo mais nada.

Cristina Faraon

sábado, 8 de março de 2008

Rosa

Ganhei uma rosa
Rosas são lindas
Não se devolve uma rosa, sob nenhuma hipótese
Tenho uma rosa do Dia da Mulher a me desafiar
Ela não ri de mim,
Apenas me olha com as mãos na cintura
A perguntar: "e aí? Vai dizer o que agora?"

Rosas são bonitas
Mal-criadas e atrevidas

Minha vingança
É vê-la fenecer
Mais rápido que eu.

Quando ganhar uma rosa
Aproveite pra medir
O quanto você tem de durona

Rosa...

Não pra devolver
Mas pra reter
E pra rever
O momento primeiro
Distante passado
De quando ele estava
Tão apaixonado.

Cristina Faraon