segunda-feira, 30 de julho de 2007

Efeito ploft



Existem vários tipos de alegria. Sim, a vida é bela.
Entre os principais tipos, em nossas vidas é possível nos depararmos com uma autêntica "alegria uau"... ou com aquela que podemos chamar de "alegria ploft". E em que consiste esse estranho fenômeno "ploft"?
Primeiramente consiste em não ser realmente estranho. É mais presente em nossas vidas do que queremos admitir. Convivemos com ele, mas geralmente fingimos que não existe.

E porque fingimos? Porque é frustrante, claro! E ninguém quer andar por aí passando atestado de tolo.
Funciona assim: a gente adquire um pacote de alegria a determinado preço e pensa que vai durar um tempão. Só que você sabe:"pensando morreu um burro". Mal a gente consegue "aquela coisa legal" e cadê seu principal acessório? Vazou. Aí procuramos no armário, reviramos a casa toda e nada. Não é assim? Retornamos apressados à lixeira pedindo a Deus que ninguém tenha cuspido por lá e resgatamos a embalagem da loja com o olhar ansioso que nada mais é do que um prenuncio do desapontamento que virá a seguir. Tão certo quanto a noite seguindo-se ao dia.
Você já fez isso? Já revirou as sacolas de lojas sem encontrar aquela coisinha preciosa? E em seguida sentou na beirada da cama pensativo... e se tocou de que sua conquista não passava de mais uma "alegria ploft"?

Pois é, você foi enganado. De novo.J á deveríamos ter aprendido a lição, mas como somos teimosos! Por que será que caímos sempre no mesmo truque?
E agora vamos ao que mais importa: como detectar uma "alegria ploft" - essa safada que atenta contra a nossa auto estima.
Geralmente nós a conseguimos com dinheiro. Nem sempre, mas geralmente.Você passa trocentos anos para comprar um IPod achando que ele renderá meses de prazer e para sua surpresa pouco depois descobre que ele é apenas mais um treco no meio das suas coisas. E como tem trecos nas suas coisas!
Esses dias comprei uma bolsa. Não sabia que era "ploft", juro! Vou denunciar ao PROCON. Tenho meus direitos de consumidora!
Uma etiqueta na mercadoria deveria prevenir os compradores: "Atenção, esse produto é"ploft" - e em baixo, com letras menores: "Não exija deste produto mais do que ele pode dar. Ele perde o brilho em 24 hs ou, com sorte, depois de algumas semanas - mas inevitavelmente perde o brilho."Nenhum vendedor dá essa dica. Acho que eles ficam rindo de nós, à socapa.

Morte aos vendedores!
Brincadeirinha.
Também é possível conseguir "alegria ploft" contando mentiras, inventando histórias para impressionar as pessoas e coisas assim. Você acha que aquela glória vai duraaaaar mas em pouco tempo a "alegria ploft" mostra sua verdadeira face: amarela.
Diplomas geralmente são "ploft". Pergunte aí pra galera quanto tempo durou aquela alegria de "ser formado". Claro que é bom ter diploma mas aquela empolgação também é um barato! E eu a quero de volta!Quero minha empolgação de volta! Uma não: todas elas!
Nem vou dar outros exemplos porque você também já achou em sua vida essa pirita. Quem mais encontra é quem mais procura. Comece a procurar e vai surgir um monte de "ploft" pululando à sua frente. Mas fique na sua, vá vivendo na boa sem grandes pretensões e verá surgir de vez em quando uma autêntica "uau!"
Isso está ficando com cara de auto-ajuda, mas não é. Eu, que estou escrevendo, não vou ganhar nem um tostão com isso! Sendo assim, não é auto-ajuda. Certo?
É temerário fazer listas mas vou me arriscar a dizer que filho não é"ploft", é um "uau!" autêntico. E dura pra caramba. Saúde é "uau" mas a gente demora a perceber.
Para completar e no intuito de simplificar (só que complicando) digo a você que um "uau" pode virar"ploft" e vice-versa, dependendo do proprietário. Uma semente que você tenha plantado e que tenha virado flor pode ser um autêntico "uau" em sua vida. Mas se você só queria se exibir para os amigos e ninguém deu a mínima, pode virar "ploft" rapidinho. Cuidado!
Jesus é "uau" - religião é "ploft". Amor é "uau" - transa ocasional é "ploft". Uma casa nova pode ser "uau" ou "ploft" dependendo da cabeça de seu possuidor.
Agora existe um lance macabro: tem gente que "plofa" tudo onde põe a mão. Afaste-se dessas pessoas!
Em minha vida tenho um monte de "alegria uau". Beleza. Mas de vez em quando caio no conto do "ploft", como no confessado lance daquela bolsa.
É... acho que tenho um monte de "ploft" mofando em minha vida. Não sei o que fazer com eles. Alguém aí dá uma idéia?

Quem sabe um leilão?
Acho que uma pergunta vem bem a calhar:

E VOCÊ? É "UAU" OU PLOFT"?
Obs.: Eu sou os dois.
Cristina Faraon

quinta-feira, 19 de julho de 2007

Sugestão

Acho que você deveria ler isto:

http://alvesilva.wordpress.com/tag/politica/

domingo, 8 de julho de 2007

Brincadeira das sete horas


Agora deitei e fechei os olhos. É aquela preguiça das sete horas da noite. Aquela, antes de a gente resolver tomar logo o banho. Não vou dormir. Não é hora de dormir.
Eu gostava de ficar assim, sozinha, desde quando ainda era pequena e ninguém que eu amava ainda havia morrido.

Fecho os olhos e entrego-me àquela brincadeira gostosa de "fazer de conta". É fácil. Basta ficar quietinha e se concentrar. Você manda em sua mente e ela lhe leva para onde você desejar e para a época que você quiser. Basta querer muito, mas muito mesmo. Adicione um bocado de saudade e melancolia que tudo funciona melhor.

Faz-de-conta que sou criança. Sim, sou pequena e estou deitada na cama dos meus pais. Não é hora de dormir. Ainda não jantei. Mamãe vai me chamar daqui a pouco.

(Está funcionando!)

A luz do quarto está apagada mas a da sala está acesa e clareia parte do meu corpo sobre a cama. Tomei banho há pouco. Sinto o cheiro gostoso da sopa que mamãe está fazendo. Sinto-me querida e segura. Meu vestidinho está limpo, estou penteada e a cama dos meus pais é tão cheirosa! O quarto está em ordem e sinto também o cheiro do chão recém encerado junto com o da sopa, do meu vestido, dos lençóis. Sinto um aconchego dentro de mim, uma coisa gostosa me oprimindo o peito. Quase dói. Acho que é felicidade.

Meu pai saiu agora do banho. Ele entra no quarto com uma nuvem de aromas úmidos. O vapor da água quente chega a mim quase como um carinho, quase como um ser vivo. Reconheço seu sabonete e, de olhos fechados, vejo-o enrolado na toalha. Ele me parece uma pessoa enorme. Seus cabelos escuros e cheios estão ainda ensopados. Ele está cansado do trabalho mas feliz, faminto e em paz. O mundo lá fora não existe e ele me ama. Não abro os olhos mas sei que ele é o homem mais bonito do mundo. Sua voz está dentro de mim mesmo quando calado.

Continuo assim, deitada e vendo tudo mesmo com os olhos fechados. Ouço ele abrir o vidro de colônia. Cai um talher na cozinha. Meu irmão fecha a gaveta.

Chegou uma visita que vai jantar com a gente. Minha mãe sai rapidamente da cozinha - ouço seus passos - e vai receber a visita.

É uma mulher. Sei que minha mãe vai me chamar para cumprimentá-la mas eu não quero. Quero ficar aqui, assim, sentindo o meu mundo, adivinhando onde está cada pessoa, o que estão fazendo e sentindo a paz de cada uma delas. Sei que meu irmãozinho está quase dormindo e que minha irmã brinca com as bonecas.

Daqui as pouco vão me chamar. Daqui a pouco terei de beijar a visita. Daqui a pouco iremos jantar. Mas está tão gostoso aqui, na cama do papai! Ele penteou os cabelos... escuros, molhados. Ele fala alguma coisa na sala. As pessoas estão rindo. Acho que eles estão falando das crianças - falando em nós! Acho que somos muito importantes.

Que gostoso! Quero ficar mais tempo aqui.
Que saudade! Que sopa cheirosa...

Sei que falta pouco.
Vou contar: um... dois... três... quatro...


Cristina Faraon

segunda-feira, 2 de julho de 2007

Adivinha!

Adivinhem onde eu estava. Adivinhem o que eu estava fazendo. Uma pista: chapéu enfeitado com fitas (onde se usa? Cerimônia de formatura? Enterro? Semana da Pátria? Dia do Índio? Todos os Santos? Finados?)
Outra dica: o sorriso de orelha a orelha. Tá, essa dica não vale porque nas mudanças de lua eu costumo sorrir muito. Mas essa é infalível: vestido suadíssimo.
Não adivinhou? Então você é de Plutão e não teremos diálogo. Quem desiste sou eu.

Porcaria de lei!!! - Texto de Olavo de Carvalho

Ilustres senhores parlamentares:

Vossas Excelências podem votar, se quiserem, essa porcaria de lei que proíbe criticar o homossexualismo. Podem votá-la até por unanimidade. Podem votá-la sob os aplausos da Presidência da República, da ONU, do Foro de São Paulo, de George Soros, das fundações internacionais bilionárias, do Jô Soares, do beautiful people inteiro.Não vou cumpri-la. Não vou cumpri-la nem hoje, nem amanhã, nem nunca. Por princípio, não cumpro leis que me proíbam de criticar ou elogiar o que quer que seja. Nem as que me ordenem fazê-lo.

Não creio que haja, entre os céus e a terra nada que mereça imunidade a priori contra a possibilidade de críticas. Nem reis, nem papas, nem santos, nem sábios, nem profetas reivindicaram jamais um privilégio tão alto. Nem os faraós, nem Júlio César, nem Átila, o huno, nem Gengis Khan ambicionaram tão excelsa prerrogativa.

O próprio Deus, quando Jó lhe atirou as recriminações mais medonhas, não tapou a boca do profeta. Ouviu tudo pacientemente e depois respondeu. As únicas criaturas que tentaram vetar de antemão toda crítica possível foram Adolf Hitler, Josef Stálin, Mao-Tse-Tung e Pol-Pot. Só o que conseguiram com isso foi descer abaixo da animalidade, igualar-se a vampiros e demônios, tornar-se alvos da repulsa universal.

Nada é incriticável. Quanto mais o simples gostinho que algumas pessoas têm de fazer certas coisas na cama.

Nunca na minha vida parei para pensar se havia algo de errado no homossexualismo. Agora estou começando a desconfiar que há. Nenhuma coisa certa, nenhuma coisa boa, nenhuma coisa limpa necessita se esconder por trás de uma lei hedionda que criminaliza opiniões. Quem está de boa intenção recebe críticas sem medo, porque sabe que é capaz de respondê-las no campo da razão, talvez até de humilhar o adversário com a prova da sua ignorância e má-fé. Só quem sabe que está errado precisa se proteger dos críticos com uma armadura jurídica que aliás o desmascara mais do que nenhum deles jamais poderia fazê-lo. Só quem não tem o que responder pode pedir socorro ao aparato repressivo do Estado para fugir da discussão. E quanto mais se esconde, mais põe sua fraqueza à mostra.

Sim, senhores. Nunca, ao longo dos séculos, alguém rebaixou, humilhou, desmascarou e escarneceu da comunidade gay como Vossas Excelências estão em vias de fazer. As pessoas podem ter acusado os homossexuais de fingidos, de ridículos, de tarados, de pecadores. Ninguém jamais os qualificou de tiranos, de nazistas, de inimigos da liberdade, de opressores da espécie humana. Vossas Excelências vão dar a eles, numa só canetada, todas essas lindas qualidades. Depois não reclamem quando aqueles a quem essa lei estúpida jura proteger se tornarem objeto de temor e ódio gerais, como acontece a todos os que tomam de seus desafetos o direito à palavra.

Quem, aprovada a PLC 122/ 06, se sentirá à vontade para conversar com pessoas que podem mandá-lo para a cadeia à primeira palavrinha desagradável? Os homossexuais nunca foram discriminados como dizem que o são. Graças a Vossas Excelências, serão evitados como a peste.

FONTE: http://jbonline.terra.com.br/editorias/pais/papel/2007/05/24/pais20070524013.html

segunda-feira, 30 de julho de 2007

Efeito ploft



Existem vários tipos de alegria. Sim, a vida é bela.
Entre os principais tipos, em nossas vidas é possível nos depararmos com uma autêntica "alegria uau"... ou com aquela que podemos chamar de "alegria ploft". E em que consiste esse estranho fenômeno "ploft"?
Primeiramente consiste em não ser realmente estranho. É mais presente em nossas vidas do que queremos admitir. Convivemos com ele, mas geralmente fingimos que não existe.

E porque fingimos? Porque é frustrante, claro! E ninguém quer andar por aí passando atestado de tolo.
Funciona assim: a gente adquire um pacote de alegria a determinado preço e pensa que vai durar um tempão. Só que você sabe:"pensando morreu um burro". Mal a gente consegue "aquela coisa legal" e cadê seu principal acessório? Vazou. Aí procuramos no armário, reviramos a casa toda e nada. Não é assim? Retornamos apressados à lixeira pedindo a Deus que ninguém tenha cuspido por lá e resgatamos a embalagem da loja com o olhar ansioso que nada mais é do que um prenuncio do desapontamento que virá a seguir. Tão certo quanto a noite seguindo-se ao dia.
Você já fez isso? Já revirou as sacolas de lojas sem encontrar aquela coisinha preciosa? E em seguida sentou na beirada da cama pensativo... e se tocou de que sua conquista não passava de mais uma "alegria ploft"?

Pois é, você foi enganado. De novo.J á deveríamos ter aprendido a lição, mas como somos teimosos! Por que será que caímos sempre no mesmo truque?
E agora vamos ao que mais importa: como detectar uma "alegria ploft" - essa safada que atenta contra a nossa auto estima.
Geralmente nós a conseguimos com dinheiro. Nem sempre, mas geralmente.Você passa trocentos anos para comprar um IPod achando que ele renderá meses de prazer e para sua surpresa pouco depois descobre que ele é apenas mais um treco no meio das suas coisas. E como tem trecos nas suas coisas!
Esses dias comprei uma bolsa. Não sabia que era "ploft", juro! Vou denunciar ao PROCON. Tenho meus direitos de consumidora!
Uma etiqueta na mercadoria deveria prevenir os compradores: "Atenção, esse produto é"ploft" - e em baixo, com letras menores: "Não exija deste produto mais do que ele pode dar. Ele perde o brilho em 24 hs ou, com sorte, depois de algumas semanas - mas inevitavelmente perde o brilho."Nenhum vendedor dá essa dica. Acho que eles ficam rindo de nós, à socapa.

Morte aos vendedores!
Brincadeirinha.
Também é possível conseguir "alegria ploft" contando mentiras, inventando histórias para impressionar as pessoas e coisas assim. Você acha que aquela glória vai duraaaaar mas em pouco tempo a "alegria ploft" mostra sua verdadeira face: amarela.
Diplomas geralmente são "ploft". Pergunte aí pra galera quanto tempo durou aquela alegria de "ser formado". Claro que é bom ter diploma mas aquela empolgação também é um barato! E eu a quero de volta!Quero minha empolgação de volta! Uma não: todas elas!
Nem vou dar outros exemplos porque você também já achou em sua vida essa pirita. Quem mais encontra é quem mais procura. Comece a procurar e vai surgir um monte de "ploft" pululando à sua frente. Mas fique na sua, vá vivendo na boa sem grandes pretensões e verá surgir de vez em quando uma autêntica "uau!"
Isso está ficando com cara de auto-ajuda, mas não é. Eu, que estou escrevendo, não vou ganhar nem um tostão com isso! Sendo assim, não é auto-ajuda. Certo?
É temerário fazer listas mas vou me arriscar a dizer que filho não é"ploft", é um "uau!" autêntico. E dura pra caramba. Saúde é "uau" mas a gente demora a perceber.
Para completar e no intuito de simplificar (só que complicando) digo a você que um "uau" pode virar"ploft" e vice-versa, dependendo do proprietário. Uma semente que você tenha plantado e que tenha virado flor pode ser um autêntico "uau" em sua vida. Mas se você só queria se exibir para os amigos e ninguém deu a mínima, pode virar "ploft" rapidinho. Cuidado!
Jesus é "uau" - religião é "ploft". Amor é "uau" - transa ocasional é "ploft". Uma casa nova pode ser "uau" ou "ploft" dependendo da cabeça de seu possuidor.
Agora existe um lance macabro: tem gente que "plofa" tudo onde põe a mão. Afaste-se dessas pessoas!
Em minha vida tenho um monte de "alegria uau". Beleza. Mas de vez em quando caio no conto do "ploft", como no confessado lance daquela bolsa.
É... acho que tenho um monte de "ploft" mofando em minha vida. Não sei o que fazer com eles. Alguém aí dá uma idéia?

Quem sabe um leilão?
Acho que uma pergunta vem bem a calhar:

E VOCÊ? É "UAU" OU PLOFT"?
Obs.: Eu sou os dois.
Cristina Faraon

quinta-feira, 19 de julho de 2007

Sugestão

Acho que você deveria ler isto:

http://alvesilva.wordpress.com/tag/politica/

domingo, 8 de julho de 2007

Brincadeira das sete horas


Agora deitei e fechei os olhos. É aquela preguiça das sete horas da noite. Aquela, antes de a gente resolver tomar logo o banho. Não vou dormir. Não é hora de dormir.
Eu gostava de ficar assim, sozinha, desde quando ainda era pequena e ninguém que eu amava ainda havia morrido.

Fecho os olhos e entrego-me àquela brincadeira gostosa de "fazer de conta". É fácil. Basta ficar quietinha e se concentrar. Você manda em sua mente e ela lhe leva para onde você desejar e para a época que você quiser. Basta querer muito, mas muito mesmo. Adicione um bocado de saudade e melancolia que tudo funciona melhor.

Faz-de-conta que sou criança. Sim, sou pequena e estou deitada na cama dos meus pais. Não é hora de dormir. Ainda não jantei. Mamãe vai me chamar daqui a pouco.

(Está funcionando!)

A luz do quarto está apagada mas a da sala está acesa e clareia parte do meu corpo sobre a cama. Tomei banho há pouco. Sinto o cheiro gostoso da sopa que mamãe está fazendo. Sinto-me querida e segura. Meu vestidinho está limpo, estou penteada e a cama dos meus pais é tão cheirosa! O quarto está em ordem e sinto também o cheiro do chão recém encerado junto com o da sopa, do meu vestido, dos lençóis. Sinto um aconchego dentro de mim, uma coisa gostosa me oprimindo o peito. Quase dói. Acho que é felicidade.

Meu pai saiu agora do banho. Ele entra no quarto com uma nuvem de aromas úmidos. O vapor da água quente chega a mim quase como um carinho, quase como um ser vivo. Reconheço seu sabonete e, de olhos fechados, vejo-o enrolado na toalha. Ele me parece uma pessoa enorme. Seus cabelos escuros e cheios estão ainda ensopados. Ele está cansado do trabalho mas feliz, faminto e em paz. O mundo lá fora não existe e ele me ama. Não abro os olhos mas sei que ele é o homem mais bonito do mundo. Sua voz está dentro de mim mesmo quando calado.

Continuo assim, deitada e vendo tudo mesmo com os olhos fechados. Ouço ele abrir o vidro de colônia. Cai um talher na cozinha. Meu irmão fecha a gaveta.

Chegou uma visita que vai jantar com a gente. Minha mãe sai rapidamente da cozinha - ouço seus passos - e vai receber a visita.

É uma mulher. Sei que minha mãe vai me chamar para cumprimentá-la mas eu não quero. Quero ficar aqui, assim, sentindo o meu mundo, adivinhando onde está cada pessoa, o que estão fazendo e sentindo a paz de cada uma delas. Sei que meu irmãozinho está quase dormindo e que minha irmã brinca com as bonecas.

Daqui as pouco vão me chamar. Daqui a pouco terei de beijar a visita. Daqui a pouco iremos jantar. Mas está tão gostoso aqui, na cama do papai! Ele penteou os cabelos... escuros, molhados. Ele fala alguma coisa na sala. As pessoas estão rindo. Acho que eles estão falando das crianças - falando em nós! Acho que somos muito importantes.

Que gostoso! Quero ficar mais tempo aqui.
Que saudade! Que sopa cheirosa...

Sei que falta pouco.
Vou contar: um... dois... três... quatro...


Cristina Faraon

segunda-feira, 2 de julho de 2007

Adivinha!

Adivinhem onde eu estava. Adivinhem o que eu estava fazendo. Uma pista: chapéu enfeitado com fitas (onde se usa? Cerimônia de formatura? Enterro? Semana da Pátria? Dia do Índio? Todos os Santos? Finados?)
Outra dica: o sorriso de orelha a orelha. Tá, essa dica não vale porque nas mudanças de lua eu costumo sorrir muito. Mas essa é infalível: vestido suadíssimo.
Não adivinhou? Então você é de Plutão e não teremos diálogo. Quem desiste sou eu.

Porcaria de lei!!! - Texto de Olavo de Carvalho

Ilustres senhores parlamentares:

Vossas Excelências podem votar, se quiserem, essa porcaria de lei que proíbe criticar o homossexualismo. Podem votá-la até por unanimidade. Podem votá-la sob os aplausos da Presidência da República, da ONU, do Foro de São Paulo, de George Soros, das fundações internacionais bilionárias, do Jô Soares, do beautiful people inteiro.Não vou cumpri-la. Não vou cumpri-la nem hoje, nem amanhã, nem nunca. Por princípio, não cumpro leis que me proíbam de criticar ou elogiar o que quer que seja. Nem as que me ordenem fazê-lo.

Não creio que haja, entre os céus e a terra nada que mereça imunidade a priori contra a possibilidade de críticas. Nem reis, nem papas, nem santos, nem sábios, nem profetas reivindicaram jamais um privilégio tão alto. Nem os faraós, nem Júlio César, nem Átila, o huno, nem Gengis Khan ambicionaram tão excelsa prerrogativa.

O próprio Deus, quando Jó lhe atirou as recriminações mais medonhas, não tapou a boca do profeta. Ouviu tudo pacientemente e depois respondeu. As únicas criaturas que tentaram vetar de antemão toda crítica possível foram Adolf Hitler, Josef Stálin, Mao-Tse-Tung e Pol-Pot. Só o que conseguiram com isso foi descer abaixo da animalidade, igualar-se a vampiros e demônios, tornar-se alvos da repulsa universal.

Nada é incriticável. Quanto mais o simples gostinho que algumas pessoas têm de fazer certas coisas na cama.

Nunca na minha vida parei para pensar se havia algo de errado no homossexualismo. Agora estou começando a desconfiar que há. Nenhuma coisa certa, nenhuma coisa boa, nenhuma coisa limpa necessita se esconder por trás de uma lei hedionda que criminaliza opiniões. Quem está de boa intenção recebe críticas sem medo, porque sabe que é capaz de respondê-las no campo da razão, talvez até de humilhar o adversário com a prova da sua ignorância e má-fé. Só quem sabe que está errado precisa se proteger dos críticos com uma armadura jurídica que aliás o desmascara mais do que nenhum deles jamais poderia fazê-lo. Só quem não tem o que responder pode pedir socorro ao aparato repressivo do Estado para fugir da discussão. E quanto mais se esconde, mais põe sua fraqueza à mostra.

Sim, senhores. Nunca, ao longo dos séculos, alguém rebaixou, humilhou, desmascarou e escarneceu da comunidade gay como Vossas Excelências estão em vias de fazer. As pessoas podem ter acusado os homossexuais de fingidos, de ridículos, de tarados, de pecadores. Ninguém jamais os qualificou de tiranos, de nazistas, de inimigos da liberdade, de opressores da espécie humana. Vossas Excelências vão dar a eles, numa só canetada, todas essas lindas qualidades. Depois não reclamem quando aqueles a quem essa lei estúpida jura proteger se tornarem objeto de temor e ódio gerais, como acontece a todos os que tomam de seus desafetos o direito à palavra.

Quem, aprovada a PLC 122/ 06, se sentirá à vontade para conversar com pessoas que podem mandá-lo para a cadeia à primeira palavrinha desagradável? Os homossexuais nunca foram discriminados como dizem que o são. Graças a Vossas Excelências, serão evitados como a peste.

FONTE: http://jbonline.terra.com.br/editorias/pais/papel/2007/05/24/pais20070524013.html