domingo, 30 de janeiro de 2011

Queria fazer um teste

Queria novamente vestir meu uniforme de Escola Pública com um EP bordado em azul no peito. Era motivo de orgulho.

Queria sim vestir aquela camisa branca com minha saia azul marinho, pregueada. Minha meia subiria até quase alcançar os joelhos e eu entraria em formação com os colegas. Colocaria minha pasta no chão ao lado da merendeira, pertinho do tornozelo. Então a diretora da escola iria lá para a frente e puxaria um dos hinos que aprendemos: Hino à Bandeira, Hino Nacional, Canção do Expedicionário, Hino da Independência... Qualquer um era belíssimo para mim, eu não tinha preferências.

Quando cantávamos a gente se sentia maior do que era, capaz até algum grande ato de heroísmo.

Se eu voltasse... Ah... Eu respiraria fundo debaixo daquele sol ainda morno. Respiraria já esperando a emoção infalível que me sobreviria. Eu amava os hinos. Eles me faziam acreditar que éramos um povo heróico, forte e idealista.

Não me envergonho de dizer que ainda sinto grande emoção quando ouço nossos hinos. Só que não é  a mesma emoção de antigamente, romântica e cheia de imagens ideais. É uma emoção mista de saudade (imensa!) , sentimento de perda e lamento. Uma emoção de quem vê a beleza de nossos sentimentos juvenis dobrar o rio na chalana.


"Lá vai a chalana! Bem longe se vai
Cruzando o remanso do rio Paraguai
Oh chalana, sem querer tu aumentas minha dor
Nessas águas tão serenas vais levando o meu (nosso!)  amor!"

É possível que alguns jovens ainda se emocionem com nossos hinos. Uns poucos ainda ficariam arrepiados mas mesmo esses poucos não teriam coragem de confessar essa "falha" para os colegas.  Nós, do passado, tínhamos. Amar a pátria era bonito, não um atestado de babaquice.

Antigamente era um orgulho estudar em escola pública. No tempo dos militares. Só quem ia para escola particular eram os alunos vadios (ou burros) que pudessem pagar. Lá, qualquer bestalhão passava. Quem era bom mesmo, estudava em escola pública.


"- Não quer estudar? Vive repetindo? Então cai fora e dá a vaga para outro."  

Os bons tinham vaga certa na escola pública e estufavam o peito. Lembro de um episódio no qual minha mãe teve que ir atrás de conseguir um ATESTADO DE POBREZA para poder manter minha matrícula. Sério!

Mãe, por favor, traga aquele meu uniforme branco e azul marinho! E minhas meias três quartos. Pegue minha mão e me leve tranquilamente pelas ruas do Estácio. Cumprimente o Kid Moringueira, nosso vizinho ilustre.   Despeça-me com um beijo e me deixe entrar no pátio pois os colegas já estão em posição de sentido. Quero sentir tudo de novo, mãe! Quero ouvir o hino! Deixe eu ser criança novamente, só mais uma vez. Quero sentir de novo aquela vontade de chorar, aquele orgulho e aquele amor pelos soldados.

"Se alguém quer matar-me de amor, que me mate no Estácio..."

Queria fazer o teste. Queria repetir todo o cenário e descobrir se ainda tenho coração para aquilo tudo. é lindo o que uma criança é capaz de sentir e o que um adulto é capaz de manter se não for  seriamente atrapalhado.


Por mais terras que eu percorra, não permita Deus que eu morra sem que eu volte para lá, para aquele passado arborizado, para só mais uma vez me sentir brasileira-com-muito-orgulho.

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

ACÍDIA E CURIOSITAS

ACÍDIA E CURIOSITAS? Que raio é isso?

Aqui abaixo repito com as minhas palavras o que o blog Historia Viva comenta sobre o tema.  Reflitam, oh néscios!

Há um desejo de ver que acaba pervertendo o sentido original da visão. A finalidade da visão é perceber a  realidade. Só que a tal "concupiscência dos olhos" ("curiositas") é o desejo vazio de ver por ver, sem interesse algum em perceber a realidade. É então uma perversão do desejo natural de conhecer. É o olhar do tolo.


Agostinho diz que a avidez dos gulosos não é de saciar-se, mas de comer e saborear. O mesmo se pode dizer da curiositas (concupiscência dos olhos), que gosta de ver sem o desejo de penetrar na verdade, mas só de se deixar levar pelo mundo, sem rumo, sem finalidade e, por fim, sem proveito.


Tomás de Aquino mostra que a curiositas é uma vagabundagem mental que leva à dissipação do espírito. Como assim? Vou explicar: a pessoa se torna vazia, nula, fútil, sem conteúdo.  Essa pobreza de espírito a leva, necessariamente,  ao colinho de outro mal: o sujeito cai na acídia.  Ô desgraça!


E o que é acídia? Ah, isso também muitos de nós sabemos. Acídia é aquela tristeza modorrenta do coração, aquele tédio interior. É quando, mesmo inconscientemente, o sujeito não se julga capaz de ser tudo aquilo para o qual ele foi criado. Ou melhor: acha que não tem como desfrutar de todas as suas possibilidades como ser humano. A pessoa se sente condenada à nulidade, incapaz de um feito importante. Essa modorra (essa palavra é boa!) tem cara fúnebre e cria um ciclo vicioso:  a vagabundagem dos olhos leva a um profundo tédio interior e à ânsia desesperada por diversão (justamente para fugir do vazio).  A diversão só socorre o sujeito por um pouco de tempo; aí ele cai na modorra de novo. Muitos acabam lançando mão do uso de drogas, para aliviar-se da secura interior.


A vagabundagem visual/mental é um repúdio às próprias possibilidades do ser. É se conformar com a mediocridade.


A acídia manifesta-se assim, diz  São Tomás de Aquino: 


1) Primeiro vem a "dissipação do espírito" (dispersão, diluição. O mundo não está cheio de gentinha rala, sem conteúdo, que só fala abobrinha? Pois é.) 


2) A 'dissipação do espírito' manifesta-se, por sua vez, na tagarelice, na vontade indomável de distrair-se ("sair da torre do espírito e derramar-se no variado"), numa irrequietação interior, na insatisfação insaciável da curiositas.

3) Desespero:  assim como o apetite pode degenerar em gula, o desejo de conhecimento também pode degenerar em "curiositas". A perversão do desejo de conhecer pode significar que o homem perdeu a capacidade de "habitar em si próprio". Cruel.   Aí a vida da pessoa se resume em procurar, com disfarçada angústia, mil caminhos para alcançar um bem-estar que só a  serenidade de um coração senhor de si pode alcançar.  


Uma vida inteiramente vivida é o que todo mundo quer. Mas a pessoa que se abandona à curiositas não tem realmente vida, apenas é levado pelo vento. Então seu destino é ir mendigando pela existência para ver se consegue ter a sensação de que goza uma vida intensa, quando na verdade nem sabe o que é isso.


Não é assim mesmo que acontece? E não é sábio entender que evitar a "concupiscência dos  olhos" não é um favor que se faz à religião, mas a si mesmo?


As crianças evitam o mal por obediência ou medo; 
O ser adulto o evita por entender o que ele realmente significa;
Os tolos simplesmente não o evitam.

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

23.01.67 - Uma enchente muito antiga


(Clique na imagem para vê-la ampliada e assim tornar possível  a sua leitura.)

Hoje essa reportagem faz exatamente 44 anos. Ver esse jornal depois de tanto tempo me emocionou bastante.  Minha mãe talvez nem tenha visto...  bem, aqui vai um pouco da minha história:

Perdi meu pai em uma das enchentes do Rio de Janeiro, em janeiro. Este é o jornal que noticia a data em que ele morreu. Lembrem esse nome: Bartholomeu da Silva Corrêa. 

Ele fazia, de ônibus (empresa Única), o trajeto Rio-São Paulo quando, devido às chuvas,  houve o deslizamento de parte de um morro na Serra das Araras (km 55) . O desmoronamento inundou a rodovia, arrastou e soterrou na lama carros, caminhões e ônibus, inclusive o ônibus onde meu pai estava. Foi um horror. Disseram que havia carretas viradas "de cabeça pra baixo" das quais só se via as pontas das rodas. Era muita, muita lama.

Minha mãe peregrinou muitos dias no local e no IML na tentativa inútil de reconhecer o corpo do meu pai. Ela disse que chegou a ver um homem com uma roupa parecida com a dele e porte físico também parecido,  só que este homem tinha dente de ouro e meu pai não tinha dente de ouro (na época era moda encapar pelo menos um dente com uma folha de ouro.).  Ela sempre contava o quanto era horrível e difícil ter que ver, por tantos dias, aquele monte de gente morta enfileirada. Era um espetáculo horrendo. Defuntos com a barriga enorme, cheios de lama, expostos. 

Dos trinta e sete viajantes do ônibus, trinta e seis foram encontrados - mortos. Meu pai tanto poderia estar entre esses mortos enfileirados (veja a foto) quanto poderia ser o trigésimo sétimo que jamais foi encontrado.



Sempre guardei dentro de mim a esperança de que um dia ele iria aparecer de novo dizendo" Não morri! Finalmente consegui voltar pra casa!"  Gastei anos imaginando e editando de mil formas essa cena,  que jamais aconteceu.  Não dizem que a vida imita a arte? Pois é, porque seria absurdo ele aparecer um dia, vivinho da silva, vindo me dar um grande abraço?  Nesse mundão doido, tudo pode acontecer.

"- Mas se ele não morreu, porque não voltou?"  Sim, você deve estar querendo me jogar essa pergunta como quem lança uma bola de basquete nos peitos do jogador. Tenho a dizer o seguinte: ele pode ter perdido a memória de vez ou temporariamente. Se foi temporariamente, pode ter receado voltar pra casa e não encontrar mais o mesmo contexto. Poderia ter receado encontrar minha mãe com outro homem, sei lá. Filme é filme.

De uma forma ou de outra tenho uma coisa curiosa a contar:  lembro que certa vez a minha saudosa madrinha, dona Althema, chegou comigo com os olhos marejados, meio pálida, com uma expressão estranha no rosto e me disse muito emocionada que naquele momento ela estava tendo uma visão! Ela estava "vendo" o meu pai e ele não estava morto. Ele estava sem um braço, o qual teria sido perdido no acidente, e por isso, dizia ela, ele não queria voltar pra casa;  porque estava se sentindo um inválido.

Achei que ela estava pirando mas ao mesmo tempo imaginei que poderia ser verdade. Quem sabe? Ele era mesmo esquisitão e uma atitude dessa não seria de todo improvável. Minha mãe contava que ele se recusava a comprar um carro, embora pudesse. Ele sempre lhe dizia que jamais queria ter um carro porque temia demais que um dia houvesse um acidente por sua culpa; ele dizia que jamais se perdoaria se um dia perdesse ou machucasse um filho, que ele não tinha estrutura emocional para suportar uma coisa dessa.

Bem, uma pessoa que pensa assim pode muito bem não voltar pra casa porque não tem braço, vocês não acham?

sábado, 22 de janeiro de 2011

Quarenta e cinco reais!


Caramba, eu paguei isso pra assistir um filme? Paguei. Mereço 45 açoites.

Fiquei es-can-da-li-za-da  quando vi o preço mas uma estranha força me levou a ir até o fim na empreitada. Paguei.  KINOPLEX é o nome do bicho. Um cinema metido a cinema de luxo, com a assinatura de um tal Severiano Ribeiro.

Antes de entrar na sala de projeção temos um hall de espera com pufs, lustres modernos, toalete bonito. Você sabe que gosto dessas coisas, né. Sou uma fraca mesmo...  Lá dentro as poltronas são enormes com todo conforto que você acha que merece. Bem, por 45 reais eu achei que merecia mesmo.

Entrei e sentei em minha poltrona numerada, revestida de couro, com lugar para esticar as pernas. Daqui a pouco senta ao lado uma moça. Passados uns minutinhos entra uma garçonete trazendo uma bandeja com as pipocas da moça, o refrigerante, guardanapo, - kit completo. É mole ou quer mais? Eu também quis ser servida porque (repito) como vocÊs sabem, sou uma fraca e gosto muito dessas coisas. Comprei água e o copinho era daqueles descartáveis transparentes, mais caros. A bandeja com o "combo" de pipocas era diferente daquelas que você conhece. As pipocas podem ser saborizadas e vem com recipientezinhos com manteiga líquida. Vi também que eles oferecem a opção de uns outros líquidos coloridos para jogar na pipoca mas eu não descobri o que eram, então não posso contar pra vocÊs.

Eu estava pagando pelo quê mesmo? Pelas poltronas? Não. Pela garçonete tazendo pipoca? Acho que também não. O filme? Não, se fosse só pelo filme eu poderia me dirigir ao cinema ao lado.

A gente paga por ilusão. Somos todos uns bebezões.

A gente paga pra fazer de conta que somos finos, elegantes, que pertencemos a uma estirpe distinta, acostumada ao luxo e habituada a ser servida. Ha ha ha! Tudo mentira mas a gente entra no jogo. Pagamos e os figurantes se comportam direitinho, como se eles também fossem habituados a tratar com a alta "soçaite". Ha ha ha de novo.  A brincadeira é a de que estamos perfeitamente dispostos e aptos a pagar pelo luxo e que isso é coisa corriqueira, tão natural que seria impensável a vida sem essas e outras mordomias. Pagamos pela brincadeirinha de fazer de conta que só o que é de melhor pode nos tocar e nos satisfazer.

Todos sabemos: não somos nada disso. Todos já experimentamos tomar banho em um cubículos de 50 centímetros quadrados. Todos já convivemos com copos de geléia pra beber suco, com lençóis 90% poliéster, com os bandejões da vida, o pneu careca há meses, o crediário. E nenhum de nós gosta de jogar dinheiro fora - Deus nos livre.  Então porque entramos nessa?

Pra fazer de conta. Vida real é um prato que enjoa. Tem que dar uma variada, colocar um molho diferente e esse molho se chama sonho, fingimento, faz-de-conta. Sonhar é de graça mas se queremos a ajuda de cenário e figurante, temos que pagar por isso. E pagamos. Eu paguei.

Se vale a pena? Não sei até agora, mas que foi bom, foi.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

O tempo passa...


Algumas coisas não deveriam ter mudado...

Tenho saudade do tempo em que as pessoas faziam aniversário. Era um evento, lembra?  Os presentes eram colocados sobre a cama do aniversariante... Era legal conferir as embalagens, comentar, manusear.  Hoje é tão diferente!  As pessoas não fazem mais aniversário nem completam anos. Agora elas só fazem "niver". Só "niver". "Ah, amanhã é o meu niver!"

Gente, "niver" é uma festa muito chata, cheia de patricinhas tirando foto para colocar no Orkut. Uma artificialidade só.  Confesso que não vejo graça alguma em ir a um "niver". Os aniversários não, eram datas  especiais e muito aguardadas. Os retratos produzidos na festa logo logo viravam relíquia - ao contrário das fotos atuais, que não valem um vintém. Quem faz dedicatória atrás de foto hoje em dia? Ninguém. Mas receber um retrato com alguns dizeres elegantes atrás era realmente uma distinção.

Pois é, fazer aniversário e fotografar era romântico,  algo sentimental. Fazer "niver" e bater foto é tão corriqueiro e descartável!

Lembra da bicicleta? Ah, bons tempos em que as pessoas andavam de bicicleta...  Pois eu ainda ando, mesmo estando  demodèe.

As bicicletas eram alvo de apreço, viravam quase um bicho de estimação. Tinham a cara e o cheiro do dono, faziam parte da família. Feliz era a criança que possuía uma. Era-nos permitido andar pelos quarteirões do bairro com nossa bicicleta sem problema algum e a gente a emprestava para os amigos. Todo mundo pedia: "-Deixa eu dar uma voltinha?"  Agora não sei o que houve. As pessoas abandonaram a boa e fiel bicicleta e só querem andar de "bike".

"-Você vai como?"  
"-Ah, eu vou de bike!"

Credo. Bicicletas eram saudáveis e divertidas, enquanto que as "bikes" dão até calo na bunda. Sério. Tem encha a boca dizendo que anda de "bike" como se isso fosse mais chique do que andar de bicicleta. Não é.

Eu também gostava bastante de refrigerante, mas agora a gente praticamente só encontra "refri" à venda. Tiraram o refrigerante das prateleiras não sei por quê. Eles eram muito mais gostosos do que os degenerados "refri" de hoje em dia.  Agora me diga: qual a graça de pegar uma "bike" e ir comprar um "refri"?  Ficou pesado, ficou sem graça, perdeu aquela coisa de criança, de juventude. Acho que "refri" nem mata a sede direito. E ainda amarela os dentes.

Não me convide para ir de bike tomar um refri porque eu não vou. Tô logo avisando.

Ei, e você lembra de todo aquele pessoal da galeria? A turma simples e animada que lotava os estádios, lembra?  Pois é, morreram todos. Foram substituídos pela "galera", que é um povo bem menos simpático e numeroso. A turma da galeria era imensa, colorida e animada. Já a "galera" é diferente... É um grupelho cheio de espinhas, mal vestido e com os pés enormes.  E ainda por cima se recusam a andar de ônibus. Ou eles andam de "bike" ou de "buzão". Dá pra aceitar?

Odeio andar de "buzão".  Os ônibus eram mais elegantes e ventilados, não sei se você se recorda. Dava até para iniciar um diálogo simpático e cordial com o viajante ao lado. No ônibus a gente até conhecia o trocador (ou cobrador, como queiram). Eu andava de rabo-de-cavalo no ônibus, flutuava meu olhar de relance por toda a cidade, como quem vê um cartão postal. Via chuva, via sol e descia sempre no ponto, de cabeça erguida. No "buzão" não, tudo é meio hostil e o motorista mete o pé no freio de qualquer jeito. Tô fora, prefiro ir a pé.  Até porque andar a pé é sempre uma maravilha.

Eu não disse que é "mara!" , eu disse que é uma maravilha.

Acho ridícula essa mania de dizer agora que tudo é "maaara!"   A boca fica até mole: "Essa galera é  maaara!".  Ai, que antipático!   Pra piorar, fique sabendo que "MARA" quer dizer "AMARGA", tá.

Ah coisa boa voltar do colégio a pé, acenar para o menino que vai no ônibus e torcer para encontrar com ele sábado no parque, passeando ambos de bicicleta e parando pra tomar um refrigerante.  Bons tempos. Era a minha belle epóque...

É... mesmo com pouca verba a vida já foi bem mais elegante.

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Um homem feio

Recentemente dediquei um tempo para responder perguntas no Yahoo! Resposta. Cara, tem de tudo. O que menos tem é pergunta inteligente, mas... fiz por distração.  Olhe só um exemplo: adolescente angustiada porque está sendo cercada por um pretendente feio:

A PERGUNTA:

O QUE EU FAÇO? ELE ME AMA EU GOSTO DELE MAS ACHO ELE FEIO.

"Eu adoro ele por isso ja fiquei com ele, nao foi pela beleza e sim pelo que ele é..uma pessoa gigante de alma, e ele realmente gosta de mim, me adimira, me venera, me observa como se eu fosse a unica pessoa da terra...faz de tuudo pra me ver bem..faz de tudo por mim..nao para de me olha..parece q fica hipnotizado.. Eu do uma chance a ele ? Eu gosto mto dele como amigo...mas nao o acho bonito..
oq eu faço ??

MINHA RESPOSTA:

Aqui o que menos importa é se ele é feio ou bonito. Pelo que dá para perceber, você não gosta dele: só gosta do que ele sente por você. Você fica encantada, vaidosa, adora ser bajulada. Não condeno porque também gosto (rsrsrs) mas claro que isso não é amor.  Estou só avisando.

Não digo que você não deva dar uma chance. Dê uma chance - não a ele, mas a você. Uma chance de descobrir que pode se apaixonar e viver uma coisa maravilhosa com esse cara. Uma chance de superar a futilidade das aparências, uma chance de, quem sabe, crescer.

Detalhe: prefiro um feio que me trate como rainha do que um bonito que me trate como súdita.

OUTRAS CONSIDERAÇÕES:

Utilidade prática de ter um homem bonito:

1) Fazer inveja às amigas;
2) Fazer inveja às amigas;
3) Fazer inveja às amigas;
4) (Isso não é pouco! hehehe).

Mulher, pra se excitar, não depende da beleza do parceiro. Nesse quesito somos o contrário dos homens. Diria até que somos superiores.  Não que não influencie. Influencia, mas não determina. Entre um feio eficiente e um bonito "devagar", qualquer Mulher prefere um feio eficiente. Ao contrário dos homens, que na maioria das vezes vendem a alma ao Diabo em troca de uma estampa e tão embevecidos ficam com isso que demoram um tempo para notarem que nada funciona a contento naquela Barbie.

Claro, para  a maioria isso não chega a ser grande problema porque acabam arranjando uma feinha eficiente por debaixo dos panos.

Detalhe: tudo bem, esse cara aí da foto... Acho que exagerei. Não gosto de chavões mas "ninguém merece!"

domingo, 16 de janeiro de 2011

A dor que queremos



Você gosta de sentir dor? Não, ninguém gosta. Alguém pode responder que "depende" ...  mas não é "disso" que eu estou falando. Estou falando de dor na alma, não "daquela dorzinha gostosa".

Uma pergunta: queremos nos livrar de tudo o que dói?  Se pudesse, você se livraria de tudo o que lhe traz sofrimento interior? Ou:  a verdade dói,   mas você se livraria de todas as verdades que te doem? Preferiria passar uma borracha e ignorá-las pra sempre?

A verdade dói, mas não queremos nos livrar dela.  Dói mas eu quero. E quem não quer a verdade está fadado a errar mais e sofrer mais.  Mas não é só a verdade que dói. Há algo muito parecido com a verdade que dói igualmente: É a  MEMÓRIA.  De fato, a memória é a nossa verdade.

Quantas vezes já ouvi pessoas dizerem "como eu gostaria de esquecer isso!" ou "se eu pudesse, riscaria isso de minha mente."  Pois mente. Mente quem diz isso.

Tenho algumas lembranças que doem.  Pensando bem... tenho numerosas lembranças que doem "móooointo". Muitas vezes fantasiei que estava seno hipnotizada para esquecer meus micos existenciais só que não eram fantasias sinceras. Esquecer o que vivi e o que fiz é o mesmo que esquecer quem eu sou. Não quero isso sabe porquê? Porque eu me amo.

Já pensei algumas vezes que o passado é igual a dente estragado: só serve pra doer.  Porque não extraí-lo? Só que se eu extrair meu dente passado, continuarei sendo quem sou? Não. Por isso é que não quero. Tá vendo como eu me amo?

Daí concluo que eu gosto de mim mais do que imaginava. Gosto a ponto de continuar querendo a dor que me faz ser eu mesma.

Aos que se amam e que por isso aturam o próprio passado, tenho uma boa notícia: com o tempo o passado perde seu veneno. Experiência própria, vá por mim.  O ferrão do passado vai ficando broxinha, broxinha... E então, quando o passado parar de doer e virar só lembrança inodora e sem fundo musical, aí você será mais você, mais completo e com uma etapa vencida.

Etapas são para serem vencidas, não para serem "puladas". Essa é a dor que queremos.

sábado, 15 de janeiro de 2011

Camila Pitanga - um porre

Rapidinho: é irritante. Não há uma entrevista com a Camila Pitanga na qual ela não venha atacar de preta. Acho um porre essa mania que ela tem de ficar repetindo que é negra e que acha isso o máximo. Primeiro porque ela NÃO É NEGRA. Segundo porque ser negra não é o máximo, ser branca não é o máximo, ser índia não é o máximo. Máximo é prestar, é ter caráter, é ter bom coração.

Camila gosta de ficar posando de "mulher negra que venceu na vida e deu uma banana pro preconceito." Ah, me poupe. Vai dizer pra mim que ela teve que lutar contra o preconceito? Só se foi contra o preconceito por ser bonita. O pai dela pode ser negro, a mãe, a avó, o cachorro, o papagaio, mas ela não é. Ela apenas tem sangue negro nas veias, igualzinho a 100% dos brasileiros.  Parece que ela acha que posar de "atriz negra" lhe traz alguma aura especial. Não traz, só enche o saco essa forçação de barra.  Alguém tem que dizer pra ela que negra é a Glória Maria, o Lázaro Ramos, a Thaís Araújo. Camila Pitanga é mulata. Qual o problema de ser mulata? É algo depreciativo por acaso?  "Mulata" pode não ser uma classificação científica mas você entende do que estou falando e é isso que interessa. Pra Camila faltou tinta!  Ela é branca demais pra ser preta. Se ela não gosta da cor que tem, deveria passar carvão na cara.

É o Michael Jackson às avessas...

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Ainda sobre as algemas

Lembra do que eu comentei certa vez sobre a decisão da Justiça de que a Polícia não deve mais algemar bandidos presos?  Quer dizer: pode, desde que ele adivinhe o que o preso está pensando (se é perigoso mesmo, se não é mas resolveu ser, se não é mas está desesperado, etc) . Pois é, se o policial adivinhar o que vai na cabeça do preso, pode algemar sim. Mas é claro que depois o advogado do bandido vai processar o poolicial porque como ele só poderia provar que o bandido era perigoso? 

Pois bem, como eu ia dizendo, ainda a respeito desse assunto tenho uma triste ilustração da vida REAL:  no dia 19 de março de 1988 um Policial Federal estava transferindo um preso. O preso, que estava sendo conduzido sem algemas, em determinado momento pulou sobre o Policial, deu-lhe uma "gravata", tirou-lhe a arma e o matou. 

Em 1988 poderíamos achar que o Policial foi imprudente em não algemá-lo. Hoje diriam que ele agiu certo e morreu porque a vida é assim mesmo, "quem mandou ser Polícia?"


Obs: "Dar gravada", pra quem não sabe, é isso aí, da foto:

Borimbora?

No Brasil qualquer mané legisla, mesmo se for para regular atividades  de categorias funcionais cujo trabalho eles nem suspeitam de como é desempenhado.

NUNCA ANTES NA HISTÓRIA DESSE PAÍS a vida dos bandidos foi tão facilitada. Se por um lado o Governo joga para a galera que nunca o crime foi tão combatido, por outro lado dificulta e desestimula no que pode a ação da polícia. No quesito "sacanear com a Polícia" não há limites para a criatividade do poder.

Como se não bastasse exigirem que os policiais ADIVINHEM o que o preso está pensando para só então algemá-lo, agora o MINISTÉRIO DA JUSTIÇA e a SECRETARIA DOS DIREITOS HUMANOS (eles, de novo! Só podia ser...) pensaram muito e chegaram à brilhante conclusão de que a Policial Federal por exemplo não pode mais apontar a arma para o bandido. Tem que dar chance de o bandido apontar a dele primeiro para a brincadeira ser mais justa. É mole?

"O governo federal estima que 20% dos 35 mil homicídios ocorridos anualmente no Brasil derivam de confrontos entre bandidos e polícia – ou de balas perdidas decorrentes desses tiroteios. As autoridades estimam que mais da metade das mortes poderia ser evitada com emprego de armas não letais e adoção de condutas voltadas para a preservação da vida..."

A preocupação aqui, como sempre, é com a arma na mão da Polícia, não com a arma na mão do bandido. Ao invés de caírem de pau em operações para desarmar bandidos e ver quem os está suprindo com armas, eles fazem o contrário. Ao invés de pensarem que não haveria mortes se os bandidos não atirassem, o raciocínio torto dessa gente é: não haveriam mortes se os policiais não atirassem. É assustador. Tudo isso para satisfazer  a pressão dos desocupados dos Direitos Humanos.

Segundo esta resolução, a polícia tem que fazer um discurso antes de se defender: "Senhor bandido, cuidado. Nós estamos armados e podemos atirar se você não se comportar bem!"  Calcule aí o tempo que leva pra dizer isso e o tempo que leva para o criminoso simplesmente apertar um gatilho na cara do policial.

Outra idéia de jerico: se o bandido estiver fugindo, mesmo armando, não é para atirar. É porque aí a vida do policial não está em jogo. Tudo bem, mas e a vida das outras pessoas? Um bandido armado fugindo é pra deixar passar? Esses gênios não raciocinaram que o bandido fugindo armado pode pegar qualquer um como refém, pode atirar a esmo etc? A maioria está drogada. Vá confiar em bandido drogado.

Atirar pelas costas de alguém em fuga é crime. Tudo bem. Mas se ele foge armado, é um perigo em potencial. Além do mais portar arma sem o devido Porte é crime também.

Seguindo esse mesmo raciocínio temos outra providência iluminada: o policial também  não pode abordar ninguém apontando-lhe uma arma.  Agora raciocine:  Você é um policial. Vê um bandido mas só pode sacar a arma do coldre se o bandido apontar a dele primeiro. PIADA!  Você, polical, vai prender uma pessoa. Segundo essa resolução, tem que ir prender torcendo para o bandidinho ser bem obediente. Você nao pode intimidá-lo com arma nem contê-lo com algemas. Se ele se revoltar, problema seu.

Porque não acabam de vez com a Polícia?

Ou seja: o policial só pode sacar depois que o bandido estiver com uma arma apontada na direção dele. Ou será que esses senhores dos Direitos Humanos e simpatizantes imaginam que depois que o bandido apontar a arma vai dar tempo de ainda o policial tirar a dele do coldre para se defender?

É a política do "pão e circo".  O circo, lógico, fica por conta de decisões desse calibre. Os palhaços somos nós.

"Justiça proíbe tiro de advertência para Força Nacional, PF e PRF."

Ao invés de simplesmente punir os policiais que atiram irresponsavelmente, eles acham mais fácil algemar os policiais que querem trabalhar direito.

É impressionante como NINGUÉM PENSA na segurança do policial.

Imagine de novo que você é um Policial Federal e um bandido avança em sua direção com uma faca. Fazer o quê? Sua arma é muito mais potente do que a dele, então é covardia apontar-lhe a sua, né?  Você deve esperar ele chegar perto, ver se ele quer mesmo te esfaquear ou se é só onda... aí depooooois você tenta se defender. Se der tempo.

Outra situação: você vai prender uma pessoa. Não sabe se ele está armando. Você vai chegar perto dele, com a arma no coldre, como a "Justiça" quer.   Ele pode te dar um soco, pode te desarmar ou pode sacar uma arma qualquer e te matar. Não é muito mais seguro chegar já com a arma em punho? Assim ele se intimida e ninguém se fere. Mas a "Justiça" acha que você, policial, deve chegar no bandido com a cara e a coragem e pedir a Deus que ele não seja muito doido nem muito forte nem muito malvado.

Se o policial não pode defender nem a si mesmo, como vai defender os outros?

A solução, para ele não perder o emprego é dedicar-se à arte de embromar, enrolar todo mundo e arrumar desculpas para não se meter em nenhuma situação realmente perigosa. Claro.

 Olha mais essa pérola: "Atirar  contra  uma  pessoa  só  será  autorizado  em  caso  de  legítima  defesa  própria  ou  de 
terceiros."   Grande novidade!   Desde quando a polícia está autorizada a atirar de graça em todo mundo?  Mandam para o mundo essa notícia como se só agora essa regra existisse. Descobriram a pólvora. 

Agora os policiais tem que ir trabalhar com uma maleta portando todo o tipo de armas: as  letais (pra enfeitar) e as não letais (para morrer).   

Alguém tem que avisar aos nobres e cultos alienados que decidem sobre a vida dos outros, que gás de pimenta, bastões etc  só podem ser usados se o policial estiver PERTINHO do bandido. De longe não funciona. Agora vá chegar perto de um marmanjo armado e aponte para ele seu gás pimenta. Experimente só pra ver o que acontece.  

No caso das algemas, imagine: 

1- Há presos que se submetem às ordens policiais e não dão trabalho;
2- Há os desesperados, que uma vez dentro da viatura tentam se jogar lá fora. Sim, isso já aconteceu. Resultado: se o doido se joga, o policial ainda vai responder por tentativa de homicídio.
3- Há os que tentam desarmar o policial mais próximo e tomar-lhe a arma. Imagine isso acontecendo dentro de uma viatura em movimento! 
4- Bandidos podem fugir. Tudo bem, já que o Juiz vai soltar mesmo. O problema é que no final das contas o pobre policial ainda vai responder por suspeita de ter recebido propina para facilitar a fuga. Quer dizer:  não pode algemar, o desgraçado foge e o policial ainda pode ir para a cadeia por isso. Não é mais fácil deixar os bandidos em paz e não prender mais ninguém?

Com essas novas leis só quem não está frito é o policial vagabundo, que não trabalha, não investiga, não prende e ainda recebe propina. Esse aí não tem que se preocupar com nada: com armas nem com algemas nem com leizinhas ridículas. 

Sabe, isso tudo dá um tremendo desânimo. "Borimbora" daqui?

domingo, 9 de janeiro de 2011

Reflexões sobre o samba

Depois de longa observação, pesquisa e meditação cheguei ao veredicto:  samba é coisa de Deus.  Foi ele quem bolou todo o lance.   Bolou pra nos dar uma colher de chá nessa nossa vidinha você-sabe-como. Sacando nossas saudades, tristezas, sonhos interrompidos, dívidas e carências ele jogou lá do alto batuque, acordes, cadência e molejo para nos dar momentos de esquecimento e ingênua alegria.

Pois é, pra chorar ou para rir, para comemorar ou enquanto esperamos que a vida se resolva, o samba é uma lindeza ritmada, um bálsamo, um subir de degrau que a gente vai indo e de repente deixa tudo pra lá.  Ele nos eleva. Como? Não sei, só sei que é assim.  Quem já se arrepiou entende do que estou falando. Você pode começar desmotivado e chocho, mas daqui a pouco aquela coisa boa te toma, você se irmana com todo mundo e entra numa bolha de beleza compartilhada.  Tudo isso ele faz.  Talvez por esse motivo que Vinícius de Moraes tenha dito que  "o bom samba é uma forma de oração". É verdade.

Ele disse também que "o samba é a tristeza que balança". Não tenho melhor definição.   Sambar é falar de amor e de dor com graça e sorriso.  É tornar-se humano no sentido mais elevado do termo.  É tecer numa canção todos os fatos da vida, fazer uma passarela e sapatear em cima.  Viver o samba é falar de desencontro como se fosse encontro, despedida como se fosse abraço, lágrima como se fosse gargalhada.  É sonhar como se tivéssemos alcançado, rebolar como se tivéssemos graça, cantar junto como se fôssemos irmãos. O samba é o consolo de quem sofre, a união dos que não se conhecem, o beabá da paixão e sensibilidade.  É ainda a prova incontestável de que somos feitos para algo maior, seja lá o que isso signifique pra você.

Em resumo: é mesmo uma forma de oração.  É como uma mão que levanta nosso queixo e nos faz ver beleza onde não havia.

Eu amo o bom samba. O BOM samba, não essas porcarias que chamam de "pagode", onde se juntam meia dúzia de carinhas de mal gosto cantando música furreca com letras pobres. Quem só ouve esse tipo de "pagode" não sabe o que é ficar todo arrepiado ouvindo PELA PORTA ABERTA ,  FOI UM RIO QUE PASSOU EM MINHA VIDA ,  VAI PASSAR ou O QUE? É O QUE É?  Samba que não arrepia não é samba, é brincadeira de mal gosto.

Pode estar tudo ruim, mas no meio do batuque a cabeça dá uma iluminada e a gente acaba proclamando, todo orgulhoso:  

DIGA ESPELHO MEU SE HÁ NA AVENIDA ALGUÉM MAIS FELIZ QUE EU!


(E aquela postagem sobre o Marx? ah, esquece!)

Dinheiro = Poder

Em primeiro lugar: não me xingue.

Li esses dias a seguinte frase: "Sem sombra de dúvida, a vontade do capitalista consiste em encher os bolsos, o mais que possa..." (Karl Marx)


Discordo.


Ou concordo, se em seguida Marx emendar que todos somos capitalistas.

Não são "os capitalistas" que querem encher os bolsos.  Isso é o que TODOS querem, até Marx. Todos gostam de dinheiro e duvido muito que ele não gostasse.


Isto posto...  Tenho a dizer que ninguém quer dinheiro pelo dinheiro em si. O que o dinheiro tem de desejável é a sensação de segurança e poder que ele traz, coisa que todos querem, tanto os monstruosos capitalistas quanto os revolucionários, os proletários, os comunistas, os socialistas e os fumados em geral.

Acontece que todos os que demonizam os capitalistas têm ânsia por poder  na mesma intensidade que os capitalistas tem ânsia por dinheiro. Se considerarmos que dinheiro é poder... vemos a hipocrisia de certos discursos "revolucionários".


Não se deve criar nada para o homem  - muito menos as leis - sem levar em conta como o homem realmente é.  As leis não servem para modificar a nossa natureza, mas para impor limites a ela.


Limites ao capitalismo? Não sou economista mas se é possível fazer isso sem detonar a economia nem engessar a livre iniciativa, sou a favor. 

Ora, se segurança e poder são desejos comuns a todos os homens e se os comunistas e socialistas e capitalistas são homens, há de se concordar que eles querem exatamente as mesmas coisas. Só que não fica bem proclamar isso em um discurso.  Daí vem a malícia de fazer crer que só os outros têm ambições.

Se somos todos ávidos e isso é admitido sem hipocrisia, tudo bem! A partir daí dá até para pensar em emlhorar o que temos. Mas se partirmos da mentira, fica difícil. Se partirmos da idéia de que "os outros" é que são o lobo mau, aí não há esperança mesmo.


Todo o nosso sistema econômico e de governo tem de partir desse pressuposto. Nossas leis tem que ser formuladas para domar a avidez do homem, que se volta frequentemente contra o seu próximo.  


Alguns podem dizer que a proposta dos sistemas anti capitalistas é justamente esse. Pode parecer que sim, mas não é, pois se baseia em pressupostos equivocados: 


1) O pressuposto de que estamos lutando contra "eles". Isso é nefasto. 
2) O pressuposto de que quem luta contra "eles" (os capitalistas) possui uma pureza ideológica celeste, por isso não precisa ser contido. Mentira. Quando o cão raivoso põe o pé no poder, fica no mínimo igual aos outros. No mínimo! 
3) O pressuposto de que quem luta contra "eles" precisa de uma dose muito maior de poder para dar conta dessa tarefa tão árdua. 

É totalmente idiota e contraproducente acreditar que "eles" (o outro grupo) querem "encher os bolsos"  e "nós"  não queremos isso.


O grande problema é que as pessoas que querem lutar contra "eles", não admitem que são da mesma laia.  Sim, as mesmas pessoas que querem lutar "contra eles"  acabam requerendo da sociedade um poder absoluto para alcançar o objetivo de acabar com a ambição "deles" enquanto quem quer mais e mais poder é igualmente ambicioso e insensível.  

Um ambicioso poderoso é basicamente um sujeito PERIGOSO. 


Enquanto o poder corrompe, o poder absoluto corrompe absolutamente (John Emerich Edward Dalberg-Acton).  Todos os que separam a sociedade em "eles" e "nós", se colocam numa posição de superioridade maligna.  


Por exemplo: todo ditador é rico. Quem manda, dispõe de.


Civilizar (legislar) significa impor limites ao que somos.Somos ambiciosos, invejosos, ávidos, competitivos. Não são "eles" que são assim, somos todos.  NINGUÉM ESTÁ ACIMA DE QUALQUER SUSPEITA nem o "puro militante contra a burguesia e a favor da igualdade".


Pensar uma sociedade não é sentar em uma cátedra para separar o joio do trigo, mas admitir que temos todos, basicamente, os mesmos anseios e impulsos. 


Quem não se enxerga, não enxerga mais nada. E quem não enxerga nada, não tem capacidade nem direito de governar ninguém.


Desculpa aí, Marx! Comecei com você mas sobrou para os seus discípulos.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Tiradas do Filipe

NO TWITTER:

Se o Microsoft Word fizesse vestibular, tiraria no máximo uns 7,5 em português.

Eu ia escrever um post no meu blog sobre o Dia do Sexo, mas ficou só com um parágrafo. Ejaculação precoce.

Eu fui anotar um telefone da internet pro papel e o primeiro passo foi dar Ctrl C.

Vendo meu voto pro político que fizer um bom mandato.

O bom de ser mendigo é não levar desaforo pra casa.

Não me interesso por súmulas do STF. Gosto de saber mesmo é de gravidez de famosas.

Se eu fosse um bairro, não gostaria de ter o nome de Moema.

Gente, preciso dizer que mudei minha posição diante da vida. Eu tava sentado, agora tô deitado. É isso.

Tem gente que, em vez de casar, entra em união instável.

Como diria o poeta mudo: "..."

Gente, descobri uma nova risada, ainda mais moderna: "alkmalkmsalkmalkms"

Tenho a mesma altura do Ronaldo Fofômeno e pelo menos 17kg a menos. Tenho chance de ir à copa, nem que seja pra tomar um cafezinho.

"Ministro sugere sexo contra a hipertensão" é a versão masculina de "Relaxa e Goza".

No G1: "Presa entre lâminas, garota só quebra perna". O editor certamente torcia por um esmagamento de crânio.

Basquete do Brasil jogou como nunca e perdeu como sempre.

"Caminhão tomba e 3 mil cervejas foram perdidas" (ORM). Calma, não se desesperem: era Cerpa.

Hoje trabalhei mais que photoshopador da Marta Suplicy.

Tô na dúvida se o nome da minha banda vai ser Esbulho Possessório ou Movimentos Peristálticos.

. Eu não protejo meus tweets porque eles sabem se defender sozinhos.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Sinais











Vejo você bem longe
Do outro lado do rio
Não claramente
Não quero falar-te mas quero contato
Envio-te sinais veementes e secretos

Envio-te meus mais intensos pensamentos
Doloridas saudades
Coisas pulsantes e sem nome
Aflições sufocadas
Não percebes?

Mando-te gaviões e gaivotas
E escuros pássaros mudos
Mas eles não te encontram
Não te tocam
Não se chocam contra teu peito quente

Mando-te sinais veementes
Que chegariam a Andrômeda
Que chegariam a Deus!
Que Ele me valha
Enquanto sangro

A água corre muda e funda
E forma  redemoinhos contorcidos

Distância é a mais certeira definição de morte
Mas ela será vencida
Quando também eu atravessar
Numa embarcação branca de ossos
Que preparo com desvelo

Toda distância é morte
Todo rio será vencido.

Concentro-me
E envio-te corvos
E pensamentos vermelhos
Sentimentos emaranhados
E dores de filha
Mas não me olhas, não dás sinal!
Então corto meus pés e os lanço
Em desespero mando também joelhos e pernas
Na esperança de que te achem
Que me vejas neles
Que te lembres!

Pois vai também a cabeça
Que cai pesada, some
E ressurge resoluta e encharcada
Minutos... horas...
Aí vão meus olhos
Que flutuam pasmos
Sem ter onde agarrar
Dou-te tufos de cabelos
Muito unidos e emaranhados

Ninhos meus
Nascedouros de medos e amores
Jogo-te minhas unhas cravadas nas vísceras
Que te pasmarão
Que te agredirão pela sua feiúra
Elas percorrem a correnteza em dores
Deixando um rastro, um véu,
Um cheiro.

Mando-te mãos e cérebro
- Que tudo se perca!
E o punhal com que me decepei vai junto
Seja ele a testemunha da intensidade
De tudo isso que não vês.

O rio arrasta seu véu
Como uma noiva em transe
Meus sinais são buquê
Eu fico
Não sigo
Irei mais tarde
Quando não aguentar mais

Agora acompanho com os olhos
Apreensiva
Esse estranha procissão
E a coleta que farás.

Pra começar bem o ano

(Texto de Luis Fernando Veríssimo)


Dizem que todos os dias você deve comer uma maçã por causa do ferro. E uma banana pelo potássio. E também uma laranja pela vitamina C. Uma xícara de chá verde sem açúcar para prevenir a diabetes.

Todos os dias deve-se tomar ao menos dois litros de água. E uriná-los, o que consome o dobro do tempo. 

Todos os dias deve-se tomar um Yakult pelos lactobacilos (que ninguém sabe bem o que é, mas que aos bilhões, ajudam a digestão).

Cada dia uma Aspirina, previne infarto. Uma taça de vinho tinto também. Uma de vinho branco estabiliza o sistema nervoso. Um copo de cerveja, para... não lembro bem para o que, mas faz bem.

O benefício adicional é que se você tomar tudo isso ao mesmo tempo e tiver um derrame, nem vai perceber.

Todos os dias deve-se comer fibra. Muita fibra. Fibra suficiente para fazer um pulôver.

Você deve fazer entre quatro e seis refeições leves diariamente. E nunca se esqueça de mastigar pelo menos cem vezes cada garfada. Só para comer, serão cerca de cinco horas do dia...

E não esqueça de escovar os dentes depois de comer. Ou seja, você tem que escovar os dentes depois da maçã, da banana, da laranja, das seis refeições e enquanto tiver dentes, passar fio dental, massagear a gengiva, escovar a língua e bochechar com Plax.

Melhor, inclusive, ampliar o banheiro e aproveitar para colocar um equipamento de som, porque entre a água, a fibra e os dentes, você vai passar ali várias horas por dia.

Há que se dormir oito horas por noite e trabalhar outras oito por dia, mais as cinco comendo são vinte e uma. Sobram três, desde que você não pegue trânsito.

As estatísticas comprovam que assistimos três horas de TV por dia. Menos você, porque todos os dias você vai caminhar ao menos meia hora (por experiência própria, após quinze minutos dê meia volta e comece a voltar, ou a meia hora vira uma).

E você deve cuidar das amizades, porque são como uma planta: devem ser regadas diariamente, o que me faz pensar em quem vai cuidar delas quando eu estiver viajando.

Deve-se estar bem informado também, lendo dois ou três jornais por dia para comparar as informações.

Ah! E o sexo !
Todos os dias, tomando o cuidado de não se cair na rotina. Há que ser criativo, inovador para renovar a sedução. Isso leva tempo e nem estou falando de sexo tântrico.

Também precisa sobrar tempo para varrer, passar, lavar roupa, pratos e espero que você não tenha um bichinho de estimação. Na minha conta são 29 horas por dia.

A única solução que me ocorre é fazer várias dessas coisas ao mesmo tempo!!! Por exemplo, tomar banho frio com a boca aberta, assim você toma água e escova os dentes. Chame os amigos junto com os seus pais. Beba o vinho, coma a maçã e a banana junto com a sua mulher na cama.

Ainda bem que somos crescidinhos, senão ainda teria um Danoninho e se sobrarem 5 minutos, uma colherada de leite de magnésia.

Agora tenho que ir.

É o meio do dia, e depois da cerveja, do vinho e da maçã, tenho que ir ao banheiro. E já que vou, levo um jornal...Tchau....

Se sobrar um tempinho, me manda um e-mail.



terça-feira, 4 de janeiro de 2011

"Oh My God"

Achei bem bonito esse vídeo. Curta.


Cocoon - "Oh My God" from Seduce Management on Vimeo.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Menos glórias

Acabei de receber um texto muito bom em minha caixa de e-mail. Eu poderia postá-lo aqui mas por quê fazê-lo se você vai acabar recebendo também, mais cedo ou mais tarde? No entanto, meu precioso comentário não está ao alcance de qualquer mané.

Não adianta ter as bolsas mais caras, os carros mais impressionantes nem frequentar os lugares mais glamourosos. Nem adianta ser bonito, culto, bom de papo. Ter sucesso não rende taaaanta felicidade. Uma vida boa, realmente boa, indiscutivelmente boa é medida pelo seguinte: TER TEMPO.

Você tem tempo?

Tempo sim é qualidade de vida. Já ouvi falar de empresários que não conseguem parar pois todo passeio, festa, almoço e jantar são na verdade reuniões de negócios disfarçadas. Há pessoas que constroem casas mas não têm tempo de tirar uma soneca em sua varanda; vivem amarelando no escritório ou vagando exaustos pelos hotéis do mundo. Ora bolas, pra quê eu quero dinheiro se não for pra usufruí-lo?

Bora ao cinema? Vamos reunir a turma para um bate papo? Vamos para a academia?  Vamos dar uma voltinha no shopping?  Vá lá em casa que eu quero que você prove minha nova receita.  Não?! Você não tem tempo? Então meu filho, não importa a marca do seu carro ou da sua roupa: você é um pobre coitado e a sua qualidade de vida pode ser classificada como "bosta".

Adianta ter carro e só usa-lo para trabalhar? Adianta ter um lindo quarto mas não poder de vez em quando permanecer na cama lendo uma revistinha? Adianta uma sala bonita se só passamos por ela de relance, indo ou vindo do trabalho? Adianta uma linda mesa com cadeiras se não sento nela e nem me reúno com os amigos para uma macarronada?

Melhor ter menos glórias e mais tempo. Tempo é vida.

Falam mal dos caboclos que vivem nas beiras dos rios e não procuram "melhorar de vida". Como assim?  Passar a vida correndo atrás do vendo é mesmo uma vida melhor? Muito desses ribeirinhos tem tudo: comida todo dia, peixe, farinha, açaí, frutas, sexo, filhos, passeios, amigos com os quais podem conversar, rir, falar da vida (a quanto tempo você não vê os seus amigos?), um barquinho (você tem um?)  e a imensidão dos rios e das florestas. E ainda fazem o próprio horário de trabalho. 

Você tem certeza de que a nossa  maneira de viver é uma opção melhor? 
Eles os são burros? 
Ou os burros (de carga) somos nós?

sábado, 1 de janeiro de 2011

Pensamento do dia

De tudo, ficaram três coisas:

A certeza de estar sempre começando,
a certeza de que é preciso continuar
e a certeza de ser interrompido antes de terminar.

Fazer da interrupção um caminho novo,
da queda um passo de dança,
do medo uma escada,
do sonho uma ponte,
da procura um encontro.
                          
Fernando Sabino

domingo, 30 de janeiro de 2011

Queria fazer um teste

Queria novamente vestir meu uniforme de Escola Pública com um EP bordado em azul no peito. Era motivo de orgulho.

Queria sim vestir aquela camisa branca com minha saia azul marinho, pregueada. Minha meia subiria até quase alcançar os joelhos e eu entraria em formação com os colegas. Colocaria minha pasta no chão ao lado da merendeira, pertinho do tornozelo. Então a diretora da escola iria lá para a frente e puxaria um dos hinos que aprendemos: Hino à Bandeira, Hino Nacional, Canção do Expedicionário, Hino da Independência... Qualquer um era belíssimo para mim, eu não tinha preferências.

Quando cantávamos a gente se sentia maior do que era, capaz até algum grande ato de heroísmo.

Se eu voltasse... Ah... Eu respiraria fundo debaixo daquele sol ainda morno. Respiraria já esperando a emoção infalível que me sobreviria. Eu amava os hinos. Eles me faziam acreditar que éramos um povo heróico, forte e idealista.

Não me envergonho de dizer que ainda sinto grande emoção quando ouço nossos hinos. Só que não é  a mesma emoção de antigamente, romântica e cheia de imagens ideais. É uma emoção mista de saudade (imensa!) , sentimento de perda e lamento. Uma emoção de quem vê a beleza de nossos sentimentos juvenis dobrar o rio na chalana.


"Lá vai a chalana! Bem longe se vai
Cruzando o remanso do rio Paraguai
Oh chalana, sem querer tu aumentas minha dor
Nessas águas tão serenas vais levando o meu (nosso!)  amor!"

É possível que alguns jovens ainda se emocionem com nossos hinos. Uns poucos ainda ficariam arrepiados mas mesmo esses poucos não teriam coragem de confessar essa "falha" para os colegas.  Nós, do passado, tínhamos. Amar a pátria era bonito, não um atestado de babaquice.

Antigamente era um orgulho estudar em escola pública. No tempo dos militares. Só quem ia para escola particular eram os alunos vadios (ou burros) que pudessem pagar. Lá, qualquer bestalhão passava. Quem era bom mesmo, estudava em escola pública.


"- Não quer estudar? Vive repetindo? Então cai fora e dá a vaga para outro."  

Os bons tinham vaga certa na escola pública e estufavam o peito. Lembro de um episódio no qual minha mãe teve que ir atrás de conseguir um ATESTADO DE POBREZA para poder manter minha matrícula. Sério!

Mãe, por favor, traga aquele meu uniforme branco e azul marinho! E minhas meias três quartos. Pegue minha mão e me leve tranquilamente pelas ruas do Estácio. Cumprimente o Kid Moringueira, nosso vizinho ilustre.   Despeça-me com um beijo e me deixe entrar no pátio pois os colegas já estão em posição de sentido. Quero sentir tudo de novo, mãe! Quero ouvir o hino! Deixe eu ser criança novamente, só mais uma vez. Quero sentir de novo aquela vontade de chorar, aquele orgulho e aquele amor pelos soldados.

"Se alguém quer matar-me de amor, que me mate no Estácio..."

Queria fazer o teste. Queria repetir todo o cenário e descobrir se ainda tenho coração para aquilo tudo. é lindo o que uma criança é capaz de sentir e o que um adulto é capaz de manter se não for  seriamente atrapalhado.


Por mais terras que eu percorra, não permita Deus que eu morra sem que eu volte para lá, para aquele passado arborizado, para só mais uma vez me sentir brasileira-com-muito-orgulho.

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

ACÍDIA E CURIOSITAS

ACÍDIA E CURIOSITAS? Que raio é isso?

Aqui abaixo repito com as minhas palavras o que o blog Historia Viva comenta sobre o tema.  Reflitam, oh néscios!

Há um desejo de ver que acaba pervertendo o sentido original da visão. A finalidade da visão é perceber a  realidade. Só que a tal "concupiscência dos olhos" ("curiositas") é o desejo vazio de ver por ver, sem interesse algum em perceber a realidade. É então uma perversão do desejo natural de conhecer. É o olhar do tolo.


Agostinho diz que a avidez dos gulosos não é de saciar-se, mas de comer e saborear. O mesmo se pode dizer da curiositas (concupiscência dos olhos), que gosta de ver sem o desejo de penetrar na verdade, mas só de se deixar levar pelo mundo, sem rumo, sem finalidade e, por fim, sem proveito.


Tomás de Aquino mostra que a curiositas é uma vagabundagem mental que leva à dissipação do espírito. Como assim? Vou explicar: a pessoa se torna vazia, nula, fútil, sem conteúdo.  Essa pobreza de espírito a leva, necessariamente,  ao colinho de outro mal: o sujeito cai na acídia.  Ô desgraça!


E o que é acídia? Ah, isso também muitos de nós sabemos. Acídia é aquela tristeza modorrenta do coração, aquele tédio interior. É quando, mesmo inconscientemente, o sujeito não se julga capaz de ser tudo aquilo para o qual ele foi criado. Ou melhor: acha que não tem como desfrutar de todas as suas possibilidades como ser humano. A pessoa se sente condenada à nulidade, incapaz de um feito importante. Essa modorra (essa palavra é boa!) tem cara fúnebre e cria um ciclo vicioso:  a vagabundagem dos olhos leva a um profundo tédio interior e à ânsia desesperada por diversão (justamente para fugir do vazio).  A diversão só socorre o sujeito por um pouco de tempo; aí ele cai na modorra de novo. Muitos acabam lançando mão do uso de drogas, para aliviar-se da secura interior.


A vagabundagem visual/mental é um repúdio às próprias possibilidades do ser. É se conformar com a mediocridade.


A acídia manifesta-se assim, diz  São Tomás de Aquino: 


1) Primeiro vem a "dissipação do espírito" (dispersão, diluição. O mundo não está cheio de gentinha rala, sem conteúdo, que só fala abobrinha? Pois é.) 


2) A 'dissipação do espírito' manifesta-se, por sua vez, na tagarelice, na vontade indomável de distrair-se ("sair da torre do espírito e derramar-se no variado"), numa irrequietação interior, na insatisfação insaciável da curiositas.

3) Desespero:  assim como o apetite pode degenerar em gula, o desejo de conhecimento também pode degenerar em "curiositas". A perversão do desejo de conhecer pode significar que o homem perdeu a capacidade de "habitar em si próprio". Cruel.   Aí a vida da pessoa se resume em procurar, com disfarçada angústia, mil caminhos para alcançar um bem-estar que só a  serenidade de um coração senhor de si pode alcançar.  


Uma vida inteiramente vivida é o que todo mundo quer. Mas a pessoa que se abandona à curiositas não tem realmente vida, apenas é levado pelo vento. Então seu destino é ir mendigando pela existência para ver se consegue ter a sensação de que goza uma vida intensa, quando na verdade nem sabe o que é isso.


Não é assim mesmo que acontece? E não é sábio entender que evitar a "concupiscência dos  olhos" não é um favor que se faz à religião, mas a si mesmo?


As crianças evitam o mal por obediência ou medo; 
O ser adulto o evita por entender o que ele realmente significa;
Os tolos simplesmente não o evitam.

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

23.01.67 - Uma enchente muito antiga


(Clique na imagem para vê-la ampliada e assim tornar possível  a sua leitura.)

Hoje essa reportagem faz exatamente 44 anos. Ver esse jornal depois de tanto tempo me emocionou bastante.  Minha mãe talvez nem tenha visto...  bem, aqui vai um pouco da minha história:

Perdi meu pai em uma das enchentes do Rio de Janeiro, em janeiro. Este é o jornal que noticia a data em que ele morreu. Lembrem esse nome: Bartholomeu da Silva Corrêa. 

Ele fazia, de ônibus (empresa Única), o trajeto Rio-São Paulo quando, devido às chuvas,  houve o deslizamento de parte de um morro na Serra das Araras (km 55) . O desmoronamento inundou a rodovia, arrastou e soterrou na lama carros, caminhões e ônibus, inclusive o ônibus onde meu pai estava. Foi um horror. Disseram que havia carretas viradas "de cabeça pra baixo" das quais só se via as pontas das rodas. Era muita, muita lama.

Minha mãe peregrinou muitos dias no local e no IML na tentativa inútil de reconhecer o corpo do meu pai. Ela disse que chegou a ver um homem com uma roupa parecida com a dele e porte físico também parecido,  só que este homem tinha dente de ouro e meu pai não tinha dente de ouro (na época era moda encapar pelo menos um dente com uma folha de ouro.).  Ela sempre contava o quanto era horrível e difícil ter que ver, por tantos dias, aquele monte de gente morta enfileirada. Era um espetáculo horrendo. Defuntos com a barriga enorme, cheios de lama, expostos. 

Dos trinta e sete viajantes do ônibus, trinta e seis foram encontrados - mortos. Meu pai tanto poderia estar entre esses mortos enfileirados (veja a foto) quanto poderia ser o trigésimo sétimo que jamais foi encontrado.



Sempre guardei dentro de mim a esperança de que um dia ele iria aparecer de novo dizendo" Não morri! Finalmente consegui voltar pra casa!"  Gastei anos imaginando e editando de mil formas essa cena,  que jamais aconteceu.  Não dizem que a vida imita a arte? Pois é, porque seria absurdo ele aparecer um dia, vivinho da silva, vindo me dar um grande abraço?  Nesse mundão doido, tudo pode acontecer.

"- Mas se ele não morreu, porque não voltou?"  Sim, você deve estar querendo me jogar essa pergunta como quem lança uma bola de basquete nos peitos do jogador. Tenho a dizer o seguinte: ele pode ter perdido a memória de vez ou temporariamente. Se foi temporariamente, pode ter receado voltar pra casa e não encontrar mais o mesmo contexto. Poderia ter receado encontrar minha mãe com outro homem, sei lá. Filme é filme.

De uma forma ou de outra tenho uma coisa curiosa a contar:  lembro que certa vez a minha saudosa madrinha, dona Althema, chegou comigo com os olhos marejados, meio pálida, com uma expressão estranha no rosto e me disse muito emocionada que naquele momento ela estava tendo uma visão! Ela estava "vendo" o meu pai e ele não estava morto. Ele estava sem um braço, o qual teria sido perdido no acidente, e por isso, dizia ela, ele não queria voltar pra casa;  porque estava se sentindo um inválido.

Achei que ela estava pirando mas ao mesmo tempo imaginei que poderia ser verdade. Quem sabe? Ele era mesmo esquisitão e uma atitude dessa não seria de todo improvável. Minha mãe contava que ele se recusava a comprar um carro, embora pudesse. Ele sempre lhe dizia que jamais queria ter um carro porque temia demais que um dia houvesse um acidente por sua culpa; ele dizia que jamais se perdoaria se um dia perdesse ou machucasse um filho, que ele não tinha estrutura emocional para suportar uma coisa dessa.

Bem, uma pessoa que pensa assim pode muito bem não voltar pra casa porque não tem braço, vocês não acham?

sábado, 22 de janeiro de 2011

Quarenta e cinco reais!


Caramba, eu paguei isso pra assistir um filme? Paguei. Mereço 45 açoites.

Fiquei es-can-da-li-za-da  quando vi o preço mas uma estranha força me levou a ir até o fim na empreitada. Paguei.  KINOPLEX é o nome do bicho. Um cinema metido a cinema de luxo, com a assinatura de um tal Severiano Ribeiro.

Antes de entrar na sala de projeção temos um hall de espera com pufs, lustres modernos, toalete bonito. Você sabe que gosto dessas coisas, né. Sou uma fraca mesmo...  Lá dentro as poltronas são enormes com todo conforto que você acha que merece. Bem, por 45 reais eu achei que merecia mesmo.

Entrei e sentei em minha poltrona numerada, revestida de couro, com lugar para esticar as pernas. Daqui a pouco senta ao lado uma moça. Passados uns minutinhos entra uma garçonete trazendo uma bandeja com as pipocas da moça, o refrigerante, guardanapo, - kit completo. É mole ou quer mais? Eu também quis ser servida porque (repito) como vocÊs sabem, sou uma fraca e gosto muito dessas coisas. Comprei água e o copinho era daqueles descartáveis transparentes, mais caros. A bandeja com o "combo" de pipocas era diferente daquelas que você conhece. As pipocas podem ser saborizadas e vem com recipientezinhos com manteiga líquida. Vi também que eles oferecem a opção de uns outros líquidos coloridos para jogar na pipoca mas eu não descobri o que eram, então não posso contar pra vocÊs.

Eu estava pagando pelo quê mesmo? Pelas poltronas? Não. Pela garçonete tazendo pipoca? Acho que também não. O filme? Não, se fosse só pelo filme eu poderia me dirigir ao cinema ao lado.

A gente paga por ilusão. Somos todos uns bebezões.

A gente paga pra fazer de conta que somos finos, elegantes, que pertencemos a uma estirpe distinta, acostumada ao luxo e habituada a ser servida. Ha ha ha! Tudo mentira mas a gente entra no jogo. Pagamos e os figurantes se comportam direitinho, como se eles também fossem habituados a tratar com a alta "soçaite". Ha ha ha de novo.  A brincadeira é a de que estamos perfeitamente dispostos e aptos a pagar pelo luxo e que isso é coisa corriqueira, tão natural que seria impensável a vida sem essas e outras mordomias. Pagamos pela brincadeirinha de fazer de conta que só o que é de melhor pode nos tocar e nos satisfazer.

Todos sabemos: não somos nada disso. Todos já experimentamos tomar banho em um cubículos de 50 centímetros quadrados. Todos já convivemos com copos de geléia pra beber suco, com lençóis 90% poliéster, com os bandejões da vida, o pneu careca há meses, o crediário. E nenhum de nós gosta de jogar dinheiro fora - Deus nos livre.  Então porque entramos nessa?

Pra fazer de conta. Vida real é um prato que enjoa. Tem que dar uma variada, colocar um molho diferente e esse molho se chama sonho, fingimento, faz-de-conta. Sonhar é de graça mas se queremos a ajuda de cenário e figurante, temos que pagar por isso. E pagamos. Eu paguei.

Se vale a pena? Não sei até agora, mas que foi bom, foi.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

O tempo passa...


Algumas coisas não deveriam ter mudado...

Tenho saudade do tempo em que as pessoas faziam aniversário. Era um evento, lembra?  Os presentes eram colocados sobre a cama do aniversariante... Era legal conferir as embalagens, comentar, manusear.  Hoje é tão diferente!  As pessoas não fazem mais aniversário nem completam anos. Agora elas só fazem "niver". Só "niver". "Ah, amanhã é o meu niver!"

Gente, "niver" é uma festa muito chata, cheia de patricinhas tirando foto para colocar no Orkut. Uma artificialidade só.  Confesso que não vejo graça alguma em ir a um "niver". Os aniversários não, eram datas  especiais e muito aguardadas. Os retratos produzidos na festa logo logo viravam relíquia - ao contrário das fotos atuais, que não valem um vintém. Quem faz dedicatória atrás de foto hoje em dia? Ninguém. Mas receber um retrato com alguns dizeres elegantes atrás era realmente uma distinção.

Pois é, fazer aniversário e fotografar era romântico,  algo sentimental. Fazer "niver" e bater foto é tão corriqueiro e descartável!

Lembra da bicicleta? Ah, bons tempos em que as pessoas andavam de bicicleta...  Pois eu ainda ando, mesmo estando  demodèe.

As bicicletas eram alvo de apreço, viravam quase um bicho de estimação. Tinham a cara e o cheiro do dono, faziam parte da família. Feliz era a criança que possuía uma. Era-nos permitido andar pelos quarteirões do bairro com nossa bicicleta sem problema algum e a gente a emprestava para os amigos. Todo mundo pedia: "-Deixa eu dar uma voltinha?"  Agora não sei o que houve. As pessoas abandonaram a boa e fiel bicicleta e só querem andar de "bike".

"-Você vai como?"  
"-Ah, eu vou de bike!"

Credo. Bicicletas eram saudáveis e divertidas, enquanto que as "bikes" dão até calo na bunda. Sério. Tem encha a boca dizendo que anda de "bike" como se isso fosse mais chique do que andar de bicicleta. Não é.

Eu também gostava bastante de refrigerante, mas agora a gente praticamente só encontra "refri" à venda. Tiraram o refrigerante das prateleiras não sei por quê. Eles eram muito mais gostosos do que os degenerados "refri" de hoje em dia.  Agora me diga: qual a graça de pegar uma "bike" e ir comprar um "refri"?  Ficou pesado, ficou sem graça, perdeu aquela coisa de criança, de juventude. Acho que "refri" nem mata a sede direito. E ainda amarela os dentes.

Não me convide para ir de bike tomar um refri porque eu não vou. Tô logo avisando.

Ei, e você lembra de todo aquele pessoal da galeria? A turma simples e animada que lotava os estádios, lembra?  Pois é, morreram todos. Foram substituídos pela "galera", que é um povo bem menos simpático e numeroso. A turma da galeria era imensa, colorida e animada. Já a "galera" é diferente... É um grupelho cheio de espinhas, mal vestido e com os pés enormes.  E ainda por cima se recusam a andar de ônibus. Ou eles andam de "bike" ou de "buzão". Dá pra aceitar?

Odeio andar de "buzão".  Os ônibus eram mais elegantes e ventilados, não sei se você se recorda. Dava até para iniciar um diálogo simpático e cordial com o viajante ao lado. No ônibus a gente até conhecia o trocador (ou cobrador, como queiram). Eu andava de rabo-de-cavalo no ônibus, flutuava meu olhar de relance por toda a cidade, como quem vê um cartão postal. Via chuva, via sol e descia sempre no ponto, de cabeça erguida. No "buzão" não, tudo é meio hostil e o motorista mete o pé no freio de qualquer jeito. Tô fora, prefiro ir a pé.  Até porque andar a pé é sempre uma maravilha.

Eu não disse que é "mara!" , eu disse que é uma maravilha.

Acho ridícula essa mania de dizer agora que tudo é "maaara!"   A boca fica até mole: "Essa galera é  maaara!".  Ai, que antipático!   Pra piorar, fique sabendo que "MARA" quer dizer "AMARGA", tá.

Ah coisa boa voltar do colégio a pé, acenar para o menino que vai no ônibus e torcer para encontrar com ele sábado no parque, passeando ambos de bicicleta e parando pra tomar um refrigerante.  Bons tempos. Era a minha belle epóque...

É... mesmo com pouca verba a vida já foi bem mais elegante.

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Um homem feio

Recentemente dediquei um tempo para responder perguntas no Yahoo! Resposta. Cara, tem de tudo. O que menos tem é pergunta inteligente, mas... fiz por distração.  Olhe só um exemplo: adolescente angustiada porque está sendo cercada por um pretendente feio:

A PERGUNTA:

O QUE EU FAÇO? ELE ME AMA EU GOSTO DELE MAS ACHO ELE FEIO.

"Eu adoro ele por isso ja fiquei com ele, nao foi pela beleza e sim pelo que ele é..uma pessoa gigante de alma, e ele realmente gosta de mim, me adimira, me venera, me observa como se eu fosse a unica pessoa da terra...faz de tuudo pra me ver bem..faz de tudo por mim..nao para de me olha..parece q fica hipnotizado.. Eu do uma chance a ele ? Eu gosto mto dele como amigo...mas nao o acho bonito..
oq eu faço ??

MINHA RESPOSTA:

Aqui o que menos importa é se ele é feio ou bonito. Pelo que dá para perceber, você não gosta dele: só gosta do que ele sente por você. Você fica encantada, vaidosa, adora ser bajulada. Não condeno porque também gosto (rsrsrs) mas claro que isso não é amor.  Estou só avisando.

Não digo que você não deva dar uma chance. Dê uma chance - não a ele, mas a você. Uma chance de descobrir que pode se apaixonar e viver uma coisa maravilhosa com esse cara. Uma chance de superar a futilidade das aparências, uma chance de, quem sabe, crescer.

Detalhe: prefiro um feio que me trate como rainha do que um bonito que me trate como súdita.

OUTRAS CONSIDERAÇÕES:

Utilidade prática de ter um homem bonito:

1) Fazer inveja às amigas;
2) Fazer inveja às amigas;
3) Fazer inveja às amigas;
4) (Isso não é pouco! hehehe).

Mulher, pra se excitar, não depende da beleza do parceiro. Nesse quesito somos o contrário dos homens. Diria até que somos superiores.  Não que não influencie. Influencia, mas não determina. Entre um feio eficiente e um bonito "devagar", qualquer Mulher prefere um feio eficiente. Ao contrário dos homens, que na maioria das vezes vendem a alma ao Diabo em troca de uma estampa e tão embevecidos ficam com isso que demoram um tempo para notarem que nada funciona a contento naquela Barbie.

Claro, para  a maioria isso não chega a ser grande problema porque acabam arranjando uma feinha eficiente por debaixo dos panos.

Detalhe: tudo bem, esse cara aí da foto... Acho que exagerei. Não gosto de chavões mas "ninguém merece!"

domingo, 16 de janeiro de 2011

A dor que queremos



Você gosta de sentir dor? Não, ninguém gosta. Alguém pode responder que "depende" ...  mas não é "disso" que eu estou falando. Estou falando de dor na alma, não "daquela dorzinha gostosa".

Uma pergunta: queremos nos livrar de tudo o que dói?  Se pudesse, você se livraria de tudo o que lhe traz sofrimento interior? Ou:  a verdade dói,   mas você se livraria de todas as verdades que te doem? Preferiria passar uma borracha e ignorá-las pra sempre?

A verdade dói, mas não queremos nos livrar dela.  Dói mas eu quero. E quem não quer a verdade está fadado a errar mais e sofrer mais.  Mas não é só a verdade que dói. Há algo muito parecido com a verdade que dói igualmente: É a  MEMÓRIA.  De fato, a memória é a nossa verdade.

Quantas vezes já ouvi pessoas dizerem "como eu gostaria de esquecer isso!" ou "se eu pudesse, riscaria isso de minha mente."  Pois mente. Mente quem diz isso.

Tenho algumas lembranças que doem.  Pensando bem... tenho numerosas lembranças que doem "móooointo". Muitas vezes fantasiei que estava seno hipnotizada para esquecer meus micos existenciais só que não eram fantasias sinceras. Esquecer o que vivi e o que fiz é o mesmo que esquecer quem eu sou. Não quero isso sabe porquê? Porque eu me amo.

Já pensei algumas vezes que o passado é igual a dente estragado: só serve pra doer.  Porque não extraí-lo? Só que se eu extrair meu dente passado, continuarei sendo quem sou? Não. Por isso é que não quero. Tá vendo como eu me amo?

Daí concluo que eu gosto de mim mais do que imaginava. Gosto a ponto de continuar querendo a dor que me faz ser eu mesma.

Aos que se amam e que por isso aturam o próprio passado, tenho uma boa notícia: com o tempo o passado perde seu veneno. Experiência própria, vá por mim.  O ferrão do passado vai ficando broxinha, broxinha... E então, quando o passado parar de doer e virar só lembrança inodora e sem fundo musical, aí você será mais você, mais completo e com uma etapa vencida.

Etapas são para serem vencidas, não para serem "puladas". Essa é a dor que queremos.

sábado, 15 de janeiro de 2011

Camila Pitanga - um porre

Rapidinho: é irritante. Não há uma entrevista com a Camila Pitanga na qual ela não venha atacar de preta. Acho um porre essa mania que ela tem de ficar repetindo que é negra e que acha isso o máximo. Primeiro porque ela NÃO É NEGRA. Segundo porque ser negra não é o máximo, ser branca não é o máximo, ser índia não é o máximo. Máximo é prestar, é ter caráter, é ter bom coração.

Camila gosta de ficar posando de "mulher negra que venceu na vida e deu uma banana pro preconceito." Ah, me poupe. Vai dizer pra mim que ela teve que lutar contra o preconceito? Só se foi contra o preconceito por ser bonita. O pai dela pode ser negro, a mãe, a avó, o cachorro, o papagaio, mas ela não é. Ela apenas tem sangue negro nas veias, igualzinho a 100% dos brasileiros.  Parece que ela acha que posar de "atriz negra" lhe traz alguma aura especial. Não traz, só enche o saco essa forçação de barra.  Alguém tem que dizer pra ela que negra é a Glória Maria, o Lázaro Ramos, a Thaís Araújo. Camila Pitanga é mulata. Qual o problema de ser mulata? É algo depreciativo por acaso?  "Mulata" pode não ser uma classificação científica mas você entende do que estou falando e é isso que interessa. Pra Camila faltou tinta!  Ela é branca demais pra ser preta. Se ela não gosta da cor que tem, deveria passar carvão na cara.

É o Michael Jackson às avessas...

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Ainda sobre as algemas

Lembra do que eu comentei certa vez sobre a decisão da Justiça de que a Polícia não deve mais algemar bandidos presos?  Quer dizer: pode, desde que ele adivinhe o que o preso está pensando (se é perigoso mesmo, se não é mas resolveu ser, se não é mas está desesperado, etc) . Pois é, se o policial adivinhar o que vai na cabeça do preso, pode algemar sim. Mas é claro que depois o advogado do bandido vai processar o poolicial porque como ele só poderia provar que o bandido era perigoso? 

Pois bem, como eu ia dizendo, ainda a respeito desse assunto tenho uma triste ilustração da vida REAL:  no dia 19 de março de 1988 um Policial Federal estava transferindo um preso. O preso, que estava sendo conduzido sem algemas, em determinado momento pulou sobre o Policial, deu-lhe uma "gravata", tirou-lhe a arma e o matou. 

Em 1988 poderíamos achar que o Policial foi imprudente em não algemá-lo. Hoje diriam que ele agiu certo e morreu porque a vida é assim mesmo, "quem mandou ser Polícia?"


Obs: "Dar gravada", pra quem não sabe, é isso aí, da foto:

Borimbora?

No Brasil qualquer mané legisla, mesmo se for para regular atividades  de categorias funcionais cujo trabalho eles nem suspeitam de como é desempenhado.

NUNCA ANTES NA HISTÓRIA DESSE PAÍS a vida dos bandidos foi tão facilitada. Se por um lado o Governo joga para a galera que nunca o crime foi tão combatido, por outro lado dificulta e desestimula no que pode a ação da polícia. No quesito "sacanear com a Polícia" não há limites para a criatividade do poder.

Como se não bastasse exigirem que os policiais ADIVINHEM o que o preso está pensando para só então algemá-lo, agora o MINISTÉRIO DA JUSTIÇA e a SECRETARIA DOS DIREITOS HUMANOS (eles, de novo! Só podia ser...) pensaram muito e chegaram à brilhante conclusão de que a Policial Federal por exemplo não pode mais apontar a arma para o bandido. Tem que dar chance de o bandido apontar a dele primeiro para a brincadeira ser mais justa. É mole?

"O governo federal estima que 20% dos 35 mil homicídios ocorridos anualmente no Brasil derivam de confrontos entre bandidos e polícia – ou de balas perdidas decorrentes desses tiroteios. As autoridades estimam que mais da metade das mortes poderia ser evitada com emprego de armas não letais e adoção de condutas voltadas para a preservação da vida..."

A preocupação aqui, como sempre, é com a arma na mão da Polícia, não com a arma na mão do bandido. Ao invés de caírem de pau em operações para desarmar bandidos e ver quem os está suprindo com armas, eles fazem o contrário. Ao invés de pensarem que não haveria mortes se os bandidos não atirassem, o raciocínio torto dessa gente é: não haveriam mortes se os policiais não atirassem. É assustador. Tudo isso para satisfazer  a pressão dos desocupados dos Direitos Humanos.

Segundo esta resolução, a polícia tem que fazer um discurso antes de se defender: "Senhor bandido, cuidado. Nós estamos armados e podemos atirar se você não se comportar bem!"  Calcule aí o tempo que leva pra dizer isso e o tempo que leva para o criminoso simplesmente apertar um gatilho na cara do policial.

Outra idéia de jerico: se o bandido estiver fugindo, mesmo armando, não é para atirar. É porque aí a vida do policial não está em jogo. Tudo bem, mas e a vida das outras pessoas? Um bandido armado fugindo é pra deixar passar? Esses gênios não raciocinaram que o bandido fugindo armado pode pegar qualquer um como refém, pode atirar a esmo etc? A maioria está drogada. Vá confiar em bandido drogado.

Atirar pelas costas de alguém em fuga é crime. Tudo bem. Mas se ele foge armado, é um perigo em potencial. Além do mais portar arma sem o devido Porte é crime também.

Seguindo esse mesmo raciocínio temos outra providência iluminada: o policial também  não pode abordar ninguém apontando-lhe uma arma.  Agora raciocine:  Você é um policial. Vê um bandido mas só pode sacar a arma do coldre se o bandido apontar a dele primeiro. PIADA!  Você, polical, vai prender uma pessoa. Segundo essa resolução, tem que ir prender torcendo para o bandidinho ser bem obediente. Você nao pode intimidá-lo com arma nem contê-lo com algemas. Se ele se revoltar, problema seu.

Porque não acabam de vez com a Polícia?

Ou seja: o policial só pode sacar depois que o bandido estiver com uma arma apontada na direção dele. Ou será que esses senhores dos Direitos Humanos e simpatizantes imaginam que depois que o bandido apontar a arma vai dar tempo de ainda o policial tirar a dele do coldre para se defender?

É a política do "pão e circo".  O circo, lógico, fica por conta de decisões desse calibre. Os palhaços somos nós.

"Justiça proíbe tiro de advertência para Força Nacional, PF e PRF."

Ao invés de simplesmente punir os policiais que atiram irresponsavelmente, eles acham mais fácil algemar os policiais que querem trabalhar direito.

É impressionante como NINGUÉM PENSA na segurança do policial.

Imagine de novo que você é um Policial Federal e um bandido avança em sua direção com uma faca. Fazer o quê? Sua arma é muito mais potente do que a dele, então é covardia apontar-lhe a sua, né?  Você deve esperar ele chegar perto, ver se ele quer mesmo te esfaquear ou se é só onda... aí depooooois você tenta se defender. Se der tempo.

Outra situação: você vai prender uma pessoa. Não sabe se ele está armando. Você vai chegar perto dele, com a arma no coldre, como a "Justiça" quer.   Ele pode te dar um soco, pode te desarmar ou pode sacar uma arma qualquer e te matar. Não é muito mais seguro chegar já com a arma em punho? Assim ele se intimida e ninguém se fere. Mas a "Justiça" acha que você, policial, deve chegar no bandido com a cara e a coragem e pedir a Deus que ele não seja muito doido nem muito forte nem muito malvado.

Se o policial não pode defender nem a si mesmo, como vai defender os outros?

A solução, para ele não perder o emprego é dedicar-se à arte de embromar, enrolar todo mundo e arrumar desculpas para não se meter em nenhuma situação realmente perigosa. Claro.

 Olha mais essa pérola: "Atirar  contra  uma  pessoa  só  será  autorizado  em  caso  de  legítima  defesa  própria  ou  de 
terceiros."   Grande novidade!   Desde quando a polícia está autorizada a atirar de graça em todo mundo?  Mandam para o mundo essa notícia como se só agora essa regra existisse. Descobriram a pólvora. 

Agora os policiais tem que ir trabalhar com uma maleta portando todo o tipo de armas: as  letais (pra enfeitar) e as não letais (para morrer).   

Alguém tem que avisar aos nobres e cultos alienados que decidem sobre a vida dos outros, que gás de pimenta, bastões etc  só podem ser usados se o policial estiver PERTINHO do bandido. De longe não funciona. Agora vá chegar perto de um marmanjo armado e aponte para ele seu gás pimenta. Experimente só pra ver o que acontece.  

No caso das algemas, imagine: 

1- Há presos que se submetem às ordens policiais e não dão trabalho;
2- Há os desesperados, que uma vez dentro da viatura tentam se jogar lá fora. Sim, isso já aconteceu. Resultado: se o doido se joga, o policial ainda vai responder por tentativa de homicídio.
3- Há os que tentam desarmar o policial mais próximo e tomar-lhe a arma. Imagine isso acontecendo dentro de uma viatura em movimento! 
4- Bandidos podem fugir. Tudo bem, já que o Juiz vai soltar mesmo. O problema é que no final das contas o pobre policial ainda vai responder por suspeita de ter recebido propina para facilitar a fuga. Quer dizer:  não pode algemar, o desgraçado foge e o policial ainda pode ir para a cadeia por isso. Não é mais fácil deixar os bandidos em paz e não prender mais ninguém?

Com essas novas leis só quem não está frito é o policial vagabundo, que não trabalha, não investiga, não prende e ainda recebe propina. Esse aí não tem que se preocupar com nada: com armas nem com algemas nem com leizinhas ridículas. 

Sabe, isso tudo dá um tremendo desânimo. "Borimbora" daqui?

domingo, 9 de janeiro de 2011

Reflexões sobre o samba

Depois de longa observação, pesquisa e meditação cheguei ao veredicto:  samba é coisa de Deus.  Foi ele quem bolou todo o lance.   Bolou pra nos dar uma colher de chá nessa nossa vidinha você-sabe-como. Sacando nossas saudades, tristezas, sonhos interrompidos, dívidas e carências ele jogou lá do alto batuque, acordes, cadência e molejo para nos dar momentos de esquecimento e ingênua alegria.

Pois é, pra chorar ou para rir, para comemorar ou enquanto esperamos que a vida se resolva, o samba é uma lindeza ritmada, um bálsamo, um subir de degrau que a gente vai indo e de repente deixa tudo pra lá.  Ele nos eleva. Como? Não sei, só sei que é assim.  Quem já se arrepiou entende do que estou falando. Você pode começar desmotivado e chocho, mas daqui a pouco aquela coisa boa te toma, você se irmana com todo mundo e entra numa bolha de beleza compartilhada.  Tudo isso ele faz.  Talvez por esse motivo que Vinícius de Moraes tenha dito que  "o bom samba é uma forma de oração". É verdade.

Ele disse também que "o samba é a tristeza que balança". Não tenho melhor definição.   Sambar é falar de amor e de dor com graça e sorriso.  É tornar-se humano no sentido mais elevado do termo.  É tecer numa canção todos os fatos da vida, fazer uma passarela e sapatear em cima.  Viver o samba é falar de desencontro como se fosse encontro, despedida como se fosse abraço, lágrima como se fosse gargalhada.  É sonhar como se tivéssemos alcançado, rebolar como se tivéssemos graça, cantar junto como se fôssemos irmãos. O samba é o consolo de quem sofre, a união dos que não se conhecem, o beabá da paixão e sensibilidade.  É ainda a prova incontestável de que somos feitos para algo maior, seja lá o que isso signifique pra você.

Em resumo: é mesmo uma forma de oração.  É como uma mão que levanta nosso queixo e nos faz ver beleza onde não havia.

Eu amo o bom samba. O BOM samba, não essas porcarias que chamam de "pagode", onde se juntam meia dúzia de carinhas de mal gosto cantando música furreca com letras pobres. Quem só ouve esse tipo de "pagode" não sabe o que é ficar todo arrepiado ouvindo PELA PORTA ABERTA ,  FOI UM RIO QUE PASSOU EM MINHA VIDA ,  VAI PASSAR ou O QUE? É O QUE É?  Samba que não arrepia não é samba, é brincadeira de mal gosto.

Pode estar tudo ruim, mas no meio do batuque a cabeça dá uma iluminada e a gente acaba proclamando, todo orgulhoso:  

DIGA ESPELHO MEU SE HÁ NA AVENIDA ALGUÉM MAIS FELIZ QUE EU!


(E aquela postagem sobre o Marx? ah, esquece!)

Dinheiro = Poder

Em primeiro lugar: não me xingue.

Li esses dias a seguinte frase: "Sem sombra de dúvida, a vontade do capitalista consiste em encher os bolsos, o mais que possa..." (Karl Marx)


Discordo.


Ou concordo, se em seguida Marx emendar que todos somos capitalistas.

Não são "os capitalistas" que querem encher os bolsos.  Isso é o que TODOS querem, até Marx. Todos gostam de dinheiro e duvido muito que ele não gostasse.


Isto posto...  Tenho a dizer que ninguém quer dinheiro pelo dinheiro em si. O que o dinheiro tem de desejável é a sensação de segurança e poder que ele traz, coisa que todos querem, tanto os monstruosos capitalistas quanto os revolucionários, os proletários, os comunistas, os socialistas e os fumados em geral.

Acontece que todos os que demonizam os capitalistas têm ânsia por poder  na mesma intensidade que os capitalistas tem ânsia por dinheiro. Se considerarmos que dinheiro é poder... vemos a hipocrisia de certos discursos "revolucionários".


Não se deve criar nada para o homem  - muito menos as leis - sem levar em conta como o homem realmente é.  As leis não servem para modificar a nossa natureza, mas para impor limites a ela.


Limites ao capitalismo? Não sou economista mas se é possível fazer isso sem detonar a economia nem engessar a livre iniciativa, sou a favor. 

Ora, se segurança e poder são desejos comuns a todos os homens e se os comunistas e socialistas e capitalistas são homens, há de se concordar que eles querem exatamente as mesmas coisas. Só que não fica bem proclamar isso em um discurso.  Daí vem a malícia de fazer crer que só os outros têm ambições.

Se somos todos ávidos e isso é admitido sem hipocrisia, tudo bem! A partir daí dá até para pensar em emlhorar o que temos. Mas se partirmos da mentira, fica difícil. Se partirmos da idéia de que "os outros" é que são o lobo mau, aí não há esperança mesmo.


Todo o nosso sistema econômico e de governo tem de partir desse pressuposto. Nossas leis tem que ser formuladas para domar a avidez do homem, que se volta frequentemente contra o seu próximo.  


Alguns podem dizer que a proposta dos sistemas anti capitalistas é justamente esse. Pode parecer que sim, mas não é, pois se baseia em pressupostos equivocados: 


1) O pressuposto de que estamos lutando contra "eles". Isso é nefasto. 
2) O pressuposto de que quem luta contra "eles" (os capitalistas) possui uma pureza ideológica celeste, por isso não precisa ser contido. Mentira. Quando o cão raivoso põe o pé no poder, fica no mínimo igual aos outros. No mínimo! 
3) O pressuposto de que quem luta contra "eles" precisa de uma dose muito maior de poder para dar conta dessa tarefa tão árdua. 

É totalmente idiota e contraproducente acreditar que "eles" (o outro grupo) querem "encher os bolsos"  e "nós"  não queremos isso.


O grande problema é que as pessoas que querem lutar contra "eles", não admitem que são da mesma laia.  Sim, as mesmas pessoas que querem lutar "contra eles"  acabam requerendo da sociedade um poder absoluto para alcançar o objetivo de acabar com a ambição "deles" enquanto quem quer mais e mais poder é igualmente ambicioso e insensível.  

Um ambicioso poderoso é basicamente um sujeito PERIGOSO. 


Enquanto o poder corrompe, o poder absoluto corrompe absolutamente (John Emerich Edward Dalberg-Acton).  Todos os que separam a sociedade em "eles" e "nós", se colocam numa posição de superioridade maligna.  


Por exemplo: todo ditador é rico. Quem manda, dispõe de.


Civilizar (legislar) significa impor limites ao que somos.Somos ambiciosos, invejosos, ávidos, competitivos. Não são "eles" que são assim, somos todos.  NINGUÉM ESTÁ ACIMA DE QUALQUER SUSPEITA nem o "puro militante contra a burguesia e a favor da igualdade".


Pensar uma sociedade não é sentar em uma cátedra para separar o joio do trigo, mas admitir que temos todos, basicamente, os mesmos anseios e impulsos. 


Quem não se enxerga, não enxerga mais nada. E quem não enxerga nada, não tem capacidade nem direito de governar ninguém.


Desculpa aí, Marx! Comecei com você mas sobrou para os seus discípulos.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Tiradas do Filipe

NO TWITTER:

Se o Microsoft Word fizesse vestibular, tiraria no máximo uns 7,5 em português.

Eu ia escrever um post no meu blog sobre o Dia do Sexo, mas ficou só com um parágrafo. Ejaculação precoce.

Eu fui anotar um telefone da internet pro papel e o primeiro passo foi dar Ctrl C.

Vendo meu voto pro político que fizer um bom mandato.

O bom de ser mendigo é não levar desaforo pra casa.

Não me interesso por súmulas do STF. Gosto de saber mesmo é de gravidez de famosas.

Se eu fosse um bairro, não gostaria de ter o nome de Moema.

Gente, preciso dizer que mudei minha posição diante da vida. Eu tava sentado, agora tô deitado. É isso.

Tem gente que, em vez de casar, entra em união instável.

Como diria o poeta mudo: "..."

Gente, descobri uma nova risada, ainda mais moderna: "alkmalkmsalkmalkms"

Tenho a mesma altura do Ronaldo Fofômeno e pelo menos 17kg a menos. Tenho chance de ir à copa, nem que seja pra tomar um cafezinho.

"Ministro sugere sexo contra a hipertensão" é a versão masculina de "Relaxa e Goza".

No G1: "Presa entre lâminas, garota só quebra perna". O editor certamente torcia por um esmagamento de crânio.

Basquete do Brasil jogou como nunca e perdeu como sempre.

"Caminhão tomba e 3 mil cervejas foram perdidas" (ORM). Calma, não se desesperem: era Cerpa.

Hoje trabalhei mais que photoshopador da Marta Suplicy.

Tô na dúvida se o nome da minha banda vai ser Esbulho Possessório ou Movimentos Peristálticos.

. Eu não protejo meus tweets porque eles sabem se defender sozinhos.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Sinais











Vejo você bem longe
Do outro lado do rio
Não claramente
Não quero falar-te mas quero contato
Envio-te sinais veementes e secretos

Envio-te meus mais intensos pensamentos
Doloridas saudades
Coisas pulsantes e sem nome
Aflições sufocadas
Não percebes?

Mando-te gaviões e gaivotas
E escuros pássaros mudos
Mas eles não te encontram
Não te tocam
Não se chocam contra teu peito quente

Mando-te sinais veementes
Que chegariam a Andrômeda
Que chegariam a Deus!
Que Ele me valha
Enquanto sangro

A água corre muda e funda
E forma  redemoinhos contorcidos

Distância é a mais certeira definição de morte
Mas ela será vencida
Quando também eu atravessar
Numa embarcação branca de ossos
Que preparo com desvelo

Toda distância é morte
Todo rio será vencido.

Concentro-me
E envio-te corvos
E pensamentos vermelhos
Sentimentos emaranhados
E dores de filha
Mas não me olhas, não dás sinal!
Então corto meus pés e os lanço
Em desespero mando também joelhos e pernas
Na esperança de que te achem
Que me vejas neles
Que te lembres!

Pois vai também a cabeça
Que cai pesada, some
E ressurge resoluta e encharcada
Minutos... horas...
Aí vão meus olhos
Que flutuam pasmos
Sem ter onde agarrar
Dou-te tufos de cabelos
Muito unidos e emaranhados

Ninhos meus
Nascedouros de medos e amores
Jogo-te minhas unhas cravadas nas vísceras
Que te pasmarão
Que te agredirão pela sua feiúra
Elas percorrem a correnteza em dores
Deixando um rastro, um véu,
Um cheiro.

Mando-te mãos e cérebro
- Que tudo se perca!
E o punhal com que me decepei vai junto
Seja ele a testemunha da intensidade
De tudo isso que não vês.

O rio arrasta seu véu
Como uma noiva em transe
Meus sinais são buquê
Eu fico
Não sigo
Irei mais tarde
Quando não aguentar mais

Agora acompanho com os olhos
Apreensiva
Esse estranha procissão
E a coleta que farás.

Pra começar bem o ano

(Texto de Luis Fernando Veríssimo)


Dizem que todos os dias você deve comer uma maçã por causa do ferro. E uma banana pelo potássio. E também uma laranja pela vitamina C. Uma xícara de chá verde sem açúcar para prevenir a diabetes.

Todos os dias deve-se tomar ao menos dois litros de água. E uriná-los, o que consome o dobro do tempo. 

Todos os dias deve-se tomar um Yakult pelos lactobacilos (que ninguém sabe bem o que é, mas que aos bilhões, ajudam a digestão).

Cada dia uma Aspirina, previne infarto. Uma taça de vinho tinto também. Uma de vinho branco estabiliza o sistema nervoso. Um copo de cerveja, para... não lembro bem para o que, mas faz bem.

O benefício adicional é que se você tomar tudo isso ao mesmo tempo e tiver um derrame, nem vai perceber.

Todos os dias deve-se comer fibra. Muita fibra. Fibra suficiente para fazer um pulôver.

Você deve fazer entre quatro e seis refeições leves diariamente. E nunca se esqueça de mastigar pelo menos cem vezes cada garfada. Só para comer, serão cerca de cinco horas do dia...

E não esqueça de escovar os dentes depois de comer. Ou seja, você tem que escovar os dentes depois da maçã, da banana, da laranja, das seis refeições e enquanto tiver dentes, passar fio dental, massagear a gengiva, escovar a língua e bochechar com Plax.

Melhor, inclusive, ampliar o banheiro e aproveitar para colocar um equipamento de som, porque entre a água, a fibra e os dentes, você vai passar ali várias horas por dia.

Há que se dormir oito horas por noite e trabalhar outras oito por dia, mais as cinco comendo são vinte e uma. Sobram três, desde que você não pegue trânsito.

As estatísticas comprovam que assistimos três horas de TV por dia. Menos você, porque todos os dias você vai caminhar ao menos meia hora (por experiência própria, após quinze minutos dê meia volta e comece a voltar, ou a meia hora vira uma).

E você deve cuidar das amizades, porque são como uma planta: devem ser regadas diariamente, o que me faz pensar em quem vai cuidar delas quando eu estiver viajando.

Deve-se estar bem informado também, lendo dois ou três jornais por dia para comparar as informações.

Ah! E o sexo !
Todos os dias, tomando o cuidado de não se cair na rotina. Há que ser criativo, inovador para renovar a sedução. Isso leva tempo e nem estou falando de sexo tântrico.

Também precisa sobrar tempo para varrer, passar, lavar roupa, pratos e espero que você não tenha um bichinho de estimação. Na minha conta são 29 horas por dia.

A única solução que me ocorre é fazer várias dessas coisas ao mesmo tempo!!! Por exemplo, tomar banho frio com a boca aberta, assim você toma água e escova os dentes. Chame os amigos junto com os seus pais. Beba o vinho, coma a maçã e a banana junto com a sua mulher na cama.

Ainda bem que somos crescidinhos, senão ainda teria um Danoninho e se sobrarem 5 minutos, uma colherada de leite de magnésia.

Agora tenho que ir.

É o meio do dia, e depois da cerveja, do vinho e da maçã, tenho que ir ao banheiro. E já que vou, levo um jornal...Tchau....

Se sobrar um tempinho, me manda um e-mail.



terça-feira, 4 de janeiro de 2011

"Oh My God"

Achei bem bonito esse vídeo. Curta.


Cocoon - "Oh My God" from Seduce Management on Vimeo.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Menos glórias

Acabei de receber um texto muito bom em minha caixa de e-mail. Eu poderia postá-lo aqui mas por quê fazê-lo se você vai acabar recebendo também, mais cedo ou mais tarde? No entanto, meu precioso comentário não está ao alcance de qualquer mané.

Não adianta ter as bolsas mais caras, os carros mais impressionantes nem frequentar os lugares mais glamourosos. Nem adianta ser bonito, culto, bom de papo. Ter sucesso não rende taaaanta felicidade. Uma vida boa, realmente boa, indiscutivelmente boa é medida pelo seguinte: TER TEMPO.

Você tem tempo?

Tempo sim é qualidade de vida. Já ouvi falar de empresários que não conseguem parar pois todo passeio, festa, almoço e jantar são na verdade reuniões de negócios disfarçadas. Há pessoas que constroem casas mas não têm tempo de tirar uma soneca em sua varanda; vivem amarelando no escritório ou vagando exaustos pelos hotéis do mundo. Ora bolas, pra quê eu quero dinheiro se não for pra usufruí-lo?

Bora ao cinema? Vamos reunir a turma para um bate papo? Vamos para a academia?  Vamos dar uma voltinha no shopping?  Vá lá em casa que eu quero que você prove minha nova receita.  Não?! Você não tem tempo? Então meu filho, não importa a marca do seu carro ou da sua roupa: você é um pobre coitado e a sua qualidade de vida pode ser classificada como "bosta".

Adianta ter carro e só usa-lo para trabalhar? Adianta ter um lindo quarto mas não poder de vez em quando permanecer na cama lendo uma revistinha? Adianta uma sala bonita se só passamos por ela de relance, indo ou vindo do trabalho? Adianta uma linda mesa com cadeiras se não sento nela e nem me reúno com os amigos para uma macarronada?

Melhor ter menos glórias e mais tempo. Tempo é vida.

Falam mal dos caboclos que vivem nas beiras dos rios e não procuram "melhorar de vida". Como assim?  Passar a vida correndo atrás do vendo é mesmo uma vida melhor? Muito desses ribeirinhos tem tudo: comida todo dia, peixe, farinha, açaí, frutas, sexo, filhos, passeios, amigos com os quais podem conversar, rir, falar da vida (a quanto tempo você não vê os seus amigos?), um barquinho (você tem um?)  e a imensidão dos rios e das florestas. E ainda fazem o próprio horário de trabalho. 

Você tem certeza de que a nossa  maneira de viver é uma opção melhor? 
Eles os são burros? 
Ou os burros (de carga) somos nós?

sábado, 1 de janeiro de 2011

Pensamento do dia

De tudo, ficaram três coisas:

A certeza de estar sempre começando,
a certeza de que é preciso continuar
e a certeza de ser interrompido antes de terminar.

Fazer da interrupção um caminho novo,
da queda um passo de dança,
do medo uma escada,
do sonho uma ponte,
da procura um encontro.
                          
Fernando Sabino