quinta-feira, 29 de abril de 2010

Poesia & Opressão

Dizem que poeta sofre. Não gosto disso que dizem. Só que existe um monte de coisas das quais também não gosto mas que existem a despeito do meu não-gostar. Pois toma-te mais uma.

A poesia não sai do coração assim, de graça. Ela sai por estar sendo amassada, espremida e espetada lá dentro. Sai porque não aguenta mais ficar. Sai de boca aberta contando pra todo mundo, berrando, denunciando um estado de coisas que não pode ser, que não se contém em si e chega de discrição!

Poemar é jogar no ventilador, é mostrar a bunda. Toda poesia é uma denúncia contra o próprio coração - ingrata moradia.

Difícil é escrever profundamente na paz, na maciota, no gozo de uma ventura. Até porque a ventura requer tempo para ser gozada e ninguém ousará interrompê-la para escrever um mau verso. Ainda mais sabendo quão melhor verso será esse quando a ventura se for. Espere que a alegria vire as costas; aí você pega a caneta.

É verdade que existem poesias luminosas. Só que as singelas alegrias das vidas felizes não se prestam à poesia. Pra render um bom verso a alegria tem que ser opressiva. A felicidade do poeta tem que ser uma pérola caída num rosário de tristezas e assim surpreender tanto mas tanto a ponto de causar perplexidade e comoção. A alegria de onde sai poesia tem que ser como o sol entrando na cela escura e solitária do preso; tem que ofuscar, doer o peito imitando a tristeza e fazer o poeta sair gritando do mesmo modo, denunciando que aquilo tudo não cabe, que a vida não é assim e ai meu Deus eu vou morrer, que coisa linda!

As poesias que não nascem da opressão da angústia ou da opressão da felicidade extrema, são chatas. Cha-tas; piegas, maquiadas, adocicadas. Enjoam. Dá até formiga.

Isso tudo é pra dizer que a pausa na qual me encontro vem de uma certa nulidade calma e não-pensante. Um momento da vida, por assim dizer. Ainda assim fica uma dorzinha: a dor da saudade da poesia com todos os seus tormentos. E há também agora a dor da expectativa a respeito do que virá perturbar a serenidade do meu não-pensar. 

No parágrafo anterior já há estão expostas duas dores. Mas duas dores é pouco demais para um poeta.

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Pensamento do dia

"A vingança nunca é plena, mata a alma e a envenena".

Saudade das cebolas...

(O texto é de Caio Fábio D'Araújo filho. Gostei)
As cebolas do Egito se tornaram famosas muito mais pelas lamurias de Israel enquanto peregrinava pelo deserto do que porque qualquer outra razão ou virtude.  O fato é que Israel fantasiou sobre as cebolas do Egito como nem os egípcios jamais o fizeram.  No Egito eles reclamavam de tudo, e nem viam as cebolas...

Agora, no deserto, comendo o maná que caía do céu todas as manhãs, e algumas codornizes que se “suicidavam” sobre eles de vez em quando, eles desenvolveram um fetiche acerca das cebolas do Egito.

Saudades do Egito.
Saudades da escravidão.
Saudades da servidão.
Saudades da opressão.
Saudades dos exatores.
Saudades das grandes pedras levadas às Pirâmides e monumentos.
Saudades do Nilo.
Saudades de Faraó.
Saudades da angustia.
Saudades de tudo...

Mas eram as cebolas as simbolizações de tal desejo: comer cebolas.

Eu gosto muito de cebola. Cebola de todo jeito, mas, especialmente, crua.  Já tive uma compulsão por cebola...  Sim! Em 1998, no mês de dezembro, todo estressado, oprimido de todos os lados, temendo que meu corpo não agüentasse as pressões, os cercos, as ameaças, as sentenças, e tudo o mais — comecei a sentir necessidade de comer cebola. 
Descascava a cebola e a comia crua.  Depois descobri que era meu corpo que estava pedindo a cebola. Posteriormente um médico veio a me receitar cebola e alho por 21 dias.
Que jejum! Somente cebola, alho, alface nas duas primeiras semanas, e, depois, somente cebola e alho; a salvação era poder beber muita água.  E não foi o médico do Conde Drácula quem me receitou tal dieta. Mas funcionou. E, como resultado, limpou meu sangue, que estava uma lama de plasma dês-sistematizado. Entretanto, nunca mais senti tal desejo!
Como cebola de modo normal; e não sinto nenhum impulso especial, muito menos saudade de cebola.

Todavia, esse súbito desejo por cebolas do Egito é um fenômeno psicológico comum entre os homens.

Sentir saudades das cebolas do passado é a doença de muitos!  Ora, pergunta você:  O que é sentir saudades das cebolas do Egito?

O Egito é o passado. As cebolas são as transferências que se faz quando o que era ainda futuro se faz presente contra as nossas expectativas, ou ilusões, ou rabugices.

Assim, alguém pede a Deus libertação de algo ou de alguém, ou de uma situação terrível. Algo tão ruim quanto existir para construir Pirâmides para faraós.  Sim! Era uma relação adoecida e perversa, ou um casamento mal e odiento, ou ainda era um patrão tarado por controle.  A pessoa fica livre!...   Mas, então, depois de um tempo, sente saudades da doença como um porco deseja a lama!

Desse modo, a saudade da cebola do Egito é qualquer coisa que no passado tenha sido uma desgraça, e que, agora, pela falta de senso de realidade, se torne para nós o que nunca antes foi ou será.

É assim que toda hora vejo pessoas que me angustiavam a alma com suas dores, de súbito, terem a cara de pau de vir até mim dizendo maravilhas sobre aquilo mesmo que no passado as matava de tristeza.

Saudades das cebolas do Egito é a doença que se abateu sobre Israel para sempre!

Jesus mesmo disse que nos dias Dele as cebolas do Egito se manifestavam pelo humor dos religiosos, os quais, à semelhança de meninos em uma praça, se convidados a cantar, diziam “não”, e se conclamados a brincar de chorar, também diziam “não”.  As saudades das cebolas do Egito se expressam como o limbo de descontentamento e de irrealidade que acomete a muita gente.

Ora, quando a pessoa não anda em contentamento, jamais aprenderá a viver sem fazer transferências de ilusórias felicidades para as cebolas do Egito.   Somente o contentamento em Deus é que pode nos fazer viver sem esquecimento auto-imposto, sem auto-engano, sem transformações arbitrarias de angustias passadas em memórias de alegria, sem maquiagens de mentira na realidade, e, sobretudo, sem o surto de abraçar a sucuri que nos matava, só que agora a chamando de “meu amor”.  É o olhar do contentamento o poder que nos mantém na realidade.

Sim! Pois sem o contentamento que excede ao entendimento [e as sensorialidades], e que decorre da fé, ninguém pode viver cada dia o seu próprio mal; e isto sem a fantasia de que o que um dia se pensou ter, e que se descobriu que era mal, não retorne a nós com poderes de sedução semelhantes aos das cebolas do Egito.

Contentamento, no entanto, é filho da confiança no cuidado do Pai por nós.   É por isto que se diz que o justo viverá pela fé, pois, de fato, tudo volta sempre para o mesmo lugar: confiar ou não confiar.  Quem não anda pela fé, quando o deserto se alonga, e a jornada demora, muitas vezes acaba chamando “urubu de meu louro”.

Ora, quando é assim tem gente que fica com saudade até da morte da qual um dia fugiu. Você é um desses?


Caio

23 de setembro de 2008
Lago Norte
Brasília
DF

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Tudo e Todos











Todo lugar é lindo quando se é livre
Todo lugar é perigoso quando se tem medo
Toda lembrança dói quando a alma adoeceu
Tudo parece possível quando a gente é jovem

Todo amor é o último quando é o primeiro
Todo amor é o primeiro quando é sincero
Todo ser vivo é bonito quando olhado de perto
Toda pessoa é feia quando vista sem amor

Nada é verdadeDizem os mestres
Mas tudo subsiste teimosamenet
E exige decifração
Porque não pode existir
Sem luz.

Cristina Faraon



quinta-feira, 22 de abril de 2010

Pensamento do dia

"Para os amargos, os heróis e os loucos sempre foram fascinantes: eles não têm medo de viver ou morrer. Tanto os heróis como os loucos são indiferentes diante do perigo, e seguem adiante.
O louco se suicida, o herói se oferece ao martírio em nome de uma causa – mas ambos morrem, e os amargos passam muitas noites e dias comentando o absurdo e a glória dos dois tipos."

Paulo Coelho (acredita?!!)

segunda-feira, 19 de abril de 2010

INTERVALOS

Já não cabem mais declarações
Na verdade não cabe mais nada
Toda explicação é despropositada
Todo comentário é inconveniente
Não há mais que se falar
Em conserto ou em “será”
É estranho o ponto em que chegamos
No qual todos os comentários 
Caem como pedras no vidro

Dobramos  esquinas, cada um a sua
Rasgamos o tapete vermelho
Que nos levava a um destino comum
Mudamos a rota
Numa guinada mortal
Os anjos se escandalizaram
Com pureza desinformada
“- Absurdo dos absurdos!”
Que, no entanto, aconteceu...

... e continua acontecendo
A cada dia, a cada hora
Como goteira funesta
Que chora no fim da festa

Nosso afastamento
É progressivo e presente
Já que “passado”
É o que parou de acontecer.

Preferia que tivesses me deixado
Assim eu poderia, com propriedade
Perguntar “por quê?”

Perguntaria ao  céu, às aves,
Às feras e às crianças
Ninguém me responderia
Mas  entenderiam minha perplexidade
E eu ganharia abraços


Preferia que tivesses me deixado
Assim eu poderia imaginar motivos à noite
E ir dormindo  aos poucos, suavemente,
Enquanto tentasse desvendar
Nossa intrincada equação

Eu teria pena de mim mesma, ou ódio
Só para ter o prazer 
De perdoar-me  depois
E então levantar a cabeça
Totalmente consolada.

Será sempre uma anomalia
Uma dor, um suspiro,
A povoar os intervalos da minha felicidade
Quando a lembrança me assaltar
Levarei as mãos ao rosto
Em um ato involuntário
E perdoável

Então
Na pausa da felicidade
Farei reverente silêncio
Pra poder me recompor
E descobrir novamente
Que não há nada de novo
Debaixo do meu sol
Tudo são espumas...
Espumas de ondas passadas

“Durma em paz, alma minha!”

O passado
Não é uma árvore que ficou para trás
Na beira da estrada
Penso que seja uma ave  
Que nos acompanha grasnando
Desajeitadamente
As músicas que cantávamos.

Questão existencial

Esses dias recebi um e-mail de um amigo. Ele estava incomodado com uma dúvida:

"... recebi este e mail do meu irmão mais velho. PERGUNTA:


"Interessante que ontem eu estava pensando e analisando, a trajetória de minha vida, desde a adolescência, até hoje e a pergunta que sempre fica sem resposta quando faço isso, é a seguinte: Por que é que a vida das pessoas de nossa família não deslancha, financeira, profissional e afetivamente, eu , você o e o outro irmão , o pai e agora os filhos. Vou te dar um exemplo melhor, esteve ontem aqui um a pessoa que trabalhou junto comigo há muitos anos atrás, ele começou como auxiliar ... É de família tradicional da cidade. Eu sai , tentei modificar minha situação, a situação piorou mais ainda e ele, foi indo pra frente, estudou , já era formado, fez doutorado, fez concurso, hoje esta bem profissionalmente financeiramente e parece que afetivamente também, deve ter lá seus problemas que não divulga, como todo mundo, porem nestas áreas, progrediu. Comparando comigo, o esforço que ele fez e eu fiz não foi diferente, porém eu não tive êxito.  Não vou dizer que estou mal de vida, mas tentei estudar mais , não consegui, tentei vários concursos não consegui, tentei manter a família , não consegui. Vejo vocês, parece que é da mesma forma , fico então pensando por que certas pessoas parece que dão certo e nós não."

MINHA RESPOSTA:
 
Querido amigo:
 
É grande a tentação de queremos explicação para as dores desta vida. Geralmente essa explicação não existe. É o que vemos no livro de Jó. É o que vemos também em Eclesiastes. Eu entendo que há coisas da vida que são coisas da vida, e acabarão quando acabarem essa vida. E precisamos aceitar a vida crendo que o Senhor da vida jamais nos abandonará, mesmo nos momentos mais inexplicáveis.

Por outro lado, algumas vezes há explicação mas nem sempre enxergamos ou queremos exergar. Não acredito em azar. Acredito em sucessão de fatos que levam, necessariamente, a um resultado.

Se duas pessoas derem a largada no caminho dessa vida e uma for mais carismática do que a outra, a mais carismática será mais bem sucedida - mesmo que ambas façam o mesmo esforço para melhorar. Isso é APENAS UM EXEMPLO. Se colocarmos duas mulheres no mundo, uma bonita e outra feia e ambas forem igualmente inteligentes e esforçadas, mesmo assim as portas se abrirão com mais facilidade para a bonita. É triste mas é verdade.

É como vemos no livro do Pr. Caio "O Enigma da Graça": a vida não é justa. Se fosse, estaríamos fritos, porque recebemos sempre muito mais do que merecemos.

Talento pra falar, pra negociar, pra ensinar... já nascem com a pessoa. Fazer o quê????? Podemos até nos esforçar para melhorar, assim como uma mulher pode fazer ginástica, se vestir bem e maquiar-se com perfeição mas não se transformará em modelo com isso tudo.

TODOS TEMOS ALGUNS TALENTOS ESPECÍFICOS MAS POUCOS CONSEGUIMOS DESCOBRI-LO PARA PODER EXPLORÁ-LO e investir nele. Se tivéssemos consciência de qual é nosso talento, acertaríamos sempre. As vezes insistimos em um caminho que não é para nós, então não somos bem sucedidos.

Algumas pessoas são mais convincentes. No caso de dois vendedores, ambos podem trabalhar à exaustão mas o que for mais convincente e envolvente será mais bem sucedido e não há nada que possamos fazer a respeito. É uma característica pessoal que nem sempre as pessoas envolvidas conseguem perceber. Numa família, algumas características são marcantes e se repetem em gerações.

ISSO NÃO É A EXPLICAÇÃO, MAS UMA DAS CENTENAS DE EXPLICAÇÕES POSSÍVEIS. Pode não explicar a vida de seu irmão, mas pode servir como reflexão.

Não sei se contribuí positivamente mas... é isso o que penso.

Beijos.

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E você o que acha?

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Imposto, imposto, imposto

Minha conta de luz esse mês foi R$ 119,29. Desse valor o Governo vai embolsar R$ 42,92. quer dizer: SÓ DE IMPOSTO eu pago quase a metade!!! Não é indecente?

terça-feira, 13 de abril de 2010

Mochila fosforescente

Se eu pudesse voltar ao passado...

De vez em quando a gente pensa isso, não é? Você já pensou.  Mas será que voltar é algo desejável mesmo?  Ou você só quer algumas cenas escolhidas?

Claro que você só quer algumas cenas escolhidas. Conheço você!  Todos temos ceninhas de cinema salpicadas em nossa vida chocha. É elas que queremos e não o todo. Deus sacou isso, bateu pé ("Ou leva todo o pacote ou não leva nada!")  e por fim tirou a marcha ré da carroça da nossa vida. Lascou-se.

Tudo bem, mas se você tivesse ré, voltaria ao passado?  Já sei o que vai me perguntar:  "- Passado? Mas de qual passado você está falando?"    Boa pergunta. Você é esperto.

Considere que não há um único "passadão" para nos referirmos.  Mesmo as piores novelas são divididas em capítulos. Sendo assim, há um monte de "passadinhos" em nossa tosca prateleira.  E esses "passadinhos" estão classificados e acondicionados em vidros separados: o do Passado Remoto, Passado Antigo e Passado Recente. Qual dessas velharias lhe seduz?

O passado antigo esmaece enquanto o recente é fresco e vivo. Desse ouço até vozes e cheiros. Parece estar ao alcance da minha mão. É convidativo, acolhedore e aparentemente acessível. Só aparentemente.

O presente, quando se torna em passado torna-se impenetrável como uma rocha.

Sabe, não há fantasia mais doce do que acreditar que podemos retornar a cenários antigos para retomar o fio da meada e viver feliz para sempre, dessa feita sem mancada.

Quando estou naqueles dias pratico a nociva atividade de consolar-me com essa idéia de voltar a fita. Felizmente passa rápido porque alguém lá no fundo canta a pedra: "O passado petrificou! Ninguém entra, ninguém sai de lá!"

Mas se pudesse eu voltaria? Hmmm...

Raciocinemos: voltar ao passado sem a cabeça e as informações do presente, não teria graça. Faltaria a consciência dessa volta, então não seria "voltar lá e curtir de novo",  mas seria apenas repetir a mesmíssima história. VOCÊ QUER?

Seria como ver novamente o mesmo filme, com os personagens não sabendo que aquilo tudo é repetido, sem saber o que aconteceu ou vai acontecer. Aí todo mundo faz novamente as mesmas coisas erradas. Não dá.

E a segunda opção? Voltar ao passado com a cabeça e as informações do presente?  Também não dá. Eu não sou mais a mesma. Seria como colocar o personagem de uma novela em outra novela. Olha a confusão!  Além do mais o presente está todo desconjuntado; falta pano de um lado e sobra de outro. Hoje há novas alegrias, novas mágoas, novos personagens, novas conclusões, novos sentimentos. E ainda por cima falta um monte de persnagem da história.  Como retomar a minissérie nessas condições?

Nada de hoje cabe no que passou. Voltar ao ontem com a cabeça do hoje? Impraticável.  Ao voltar, mentalmente me vejo carregada de novas histórias que não caberiam naquele enredo. Fica absurdo, uma coisa assim como... como uma mochila fosforescente colada em minhas costas em um cenário do século XIX. Não dá.

Uma reconstrução nada mais seria do que uma imitação deprimente do filme original. Não há passado para o qual voltar. É tolice pensar que ele está nos esperando. Não está. Cada dia o nosso passado fica mais diferente de nós mesmos. Se voltássemos ele não nos reconheceria, nem nós a ele.

Mesmo assim há dias em que, teimosamente, gosto de pensar que posso. Ah aquelas cenas!  Há cenas dignas de um filme também em meu passado e são essas cenas tendenciosas que nos puxam. Não deveríamos nos impressionar. Se chegássemos lá, constataríamos que a coisa não é bem assim.  Ah como a gente esquece da mediocridade do resto...

Seria bom voltar a ser simples e apaixonada, jovem e cheia de idéias, com mil vontades e disposição imbatível e sem celulites. Só que

Não posso
Não sei
Não consigo.

Tudo o que eu tenho é o hoje e o que hoje eu sou (e que deixarei de ser daqui a pouco). - "E isso não é bom?"  Sei lá.  Mais pra frente, se eu sentir vontade de voltar, é sinal de que foi.

sábado, 10 de abril de 2010

O POÇO DOS DESEJOS

De onde saiu essa curiosa crença de que seria possível  jogar moedas em um misterioso poço, o Poço dos Desejos, e então seu pedido seria realizado?


O que tem a ver dinheiro com a mágica da satisfação? Tudo, sabemos. Mas e a figura feminina tem alguma relação direta com isso? 

Não estou misturando as coisas. Acho que o poço representa a figura da mulher. Um poço é fundo, fresco, úmido e desejável, escuro e cheio de misterios. Não tem a ver?

Agora vem a parte desagradável: de onde tiraram a idéia de que jogar dinheiro no poço é um tipo de "mágica" que faz o nosso desejo se realizar? Quem teve essa idéia?

Seria a mulher o verdadeiro Poço dos Desejos?  E não apenas no sentido de realizar as fantasias secretas de quem lhe joga dinheiro, mas támbém por trazer em si mesma um eterno desejar? Pouca gente sabe a profundidade do poço, qual é o seu limite. Não sabendo, fantasiamos que não acaba nunca - mas acaba!

Se você tivesse o espírito de um desbravador, poderia descobrir que o poço tem fim, tem limite e não é tão misterioso assim.

Hummm... Essa história de dinheiro não tem nada a ver, certo? Esqueça.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Agradeço muito a sua escolta

Querido amigo Medo:

Valeu!

Reconheço o tremendo segurança que você é. Sem você o que teria sido de mim? Como me sairia bem nesse mundo inóspito? Se hoje sou o que sou, se sobrevivi, devo muito disso a você.

Esse seu jeitão emburrado...  essa sua cara feia...  Inicialmente eu não te queria por perto.  Na verdade eu te odiava. Não reconhecia o valor do seu trabalho nem o quanto você era bem intencionado.

Depois, sabe como é. A gente cresce, vê o tamanho da selva onde está metido e sente a necessidade de uma proteção. Uma armadilha em cada esquina. Era assim que eu via o mundo. Aí você chegou mais perto e... Como eu me escorava em você! Deixei que carregasse todas as malas, tomasse todas as decisões. Era exploração! Mas você nunca reclamou, pelo contrário: tanto me preservou que quando dei por mim nem prestava mais atenção ao seu tamanho. Você ocupa muito espaço, rapaz! 

Eu olhava o mundo da guarita segura que você construiu para mim. E as nossas conversas? Ah Medo, como você é convincente!  À sua menor agumentação eu cedia, convencida e acalmada como um ratinho na toca.  Deixei de ir, deixei de ser, de falar, de esmurrar a mesa; não fui a inúmeras festas, não fiz vários amigos, livrei-me de todas as aventuras, não comi, não fumei, não bebi, não comprei, não li, não participei.

Sim, você preserva mais que formol, Mais que embalagem à vácuo!  Bom moço, bom moço.

Medo: obrigada. Você foi fundamental em minha formação. Valeu mesmo, mas olhe: aqui terminamos como dupla.

Está vendo aquele ponto cinza lá longe? É a plataforma da próxima estação. A cidade se chama Passado.  Desça ali e dedique-se a outra pessoa. Muitos precisam de você.  Quanto a mim, descerei mais à frente, na estação Imperatriz Confiante. Pegue suas  coisas.

Quem sabe? Nas voltas que essa vida vá pode ser que nossos caminhos se cruzes cruzem. 


Estou levezinha...  Vou seguir adiante sem a armadura que tanto me protegia do sol quanto desviava de mim o vento.

Não há mais contas  a acertar com o passado. Agora só quero pisar nas poças e vê-las prateadas, não mais como abismos dissimulados a quererem me engolir.

Adeus, Medo! Vou só.

domingo, 4 de abril de 2010

A noite, na estrada

Não gosto da estrada à noite. Ela é estranha e triste.
Difícil eu me sentir feliz na estrada, à noite. Enquanto o carro balança, do fundo do meu rio são evocados fantasmas incômodos e amargurados.

Acho que todos os fantasmas são amargurados, se não não seriam fantasmas; seriam apenas pessoas que partiram.

As árvores na beira da pista são misteriosamente tristes. É como se soubessem de alguma coisa grave que eu ainda não sei. E como se desejassem contar, mas não ousassem.  Da mesma forma que eu, elas olham e sentem a presença dos atropelados que não conseguem sair dali. Ficam parados, olhando os carros passarem. Eles tem o mesmo olhar distante das árvores e como elas, não fazem nenhuma menção de sair dali, nem mesmo de acenar. Apenas olham atentamente os viajantes como se quisessem reconhecer alguém. Como se um dos rostos pudesse, de repente,  devolver-lhes a memória.

Esses seres da noite me deixam melancólia. Então, fatalmente, acabo lembrando de dores recentes e dores antigas. Na estrada, à noite, elas se equivalem: as velhas e as novas têm o mesmo peso e gravidade, por isso meus olhos ficam úmidos. É quando me cai no colo uma pesada solidão. Sabe aquela solidão sem jeito e sem remédio, que você sabe que não vai passar nunca? Pois é. Não é solidão de falta de companhia; é solidão de coração com excesso de lugares vagos.

Solidão de coração com excesso de lugares vagos...

Olho os ciclistas silenciosos pedalando por entre os fantasmas. Não se olham, não se assustam uns com os outros. O que faz uma pessoa vaguear assim sozinha em um lugar tão lúgubre? Tenho tanta pena dos ciclistas da noite! Desejo oferecer-lhes ao menos um chocolate quente.

A pior solidão é a da beira da estrada, quando sabemos que aconteça o que acontecer, ninguém vai parar para nos dar um abraço; todos seguirão em direção aos seus lugares mornos, a um aconchego seguro e muito distante dali. Também sigo, mas cheia de lembranças e lágrimas querendo motivo.

Não gosto de ver aquelas pessoas paradas com o olhar perdido enquanto passo. Sinto por elas algo parecido com o sentimento pelos ciclistas da noite. Aí me vem minha mãe à lembrança... só que quando estou na estrada ela também tem o olhar parado. É estranho e incômodo.

O carro, decidido, me leva dali.  Minha cabeça está cheia de lembranças reverentes e um tanto cinzas. Passam meus irmãos ainda pequenos... passa a mesa de jantar com sopa quente... passam os balões coloridos, de aniversário... passam os cadernos e lápis... passo eu! Ali, pequenina e amada!  ...  Passam as primeiras flexadas de felicidade, o amor e, depois, a paixão esmaecendo...  E pelas costas um frio fatal...  uma coisa incômoda... uma necessidade de pedir abrigo.

Vai demorar muito para o sol nascer?

Essa eu não sabia!


Você sabia que 04 de abril é o dia mundial da guerra de travesseiros? Como se já tivesse poucas guerras no mundo... Ainda bem que essa é muito fofa.

Olha que barato: como a maioria das pessoas não sabe disso, você terá a chance de sair na vantagem dando travesseiradas nos desavisados e levando apenas xingamentos de volta. Não é incrível? Será certamente uma sensação inebriante.
Pegue seus familiares, vizinhos e até mesmo o guarda de trânsito desprevenidos. De preferência peça a um amigo para filmar.

Qualquer dúvida é só mostrar a reportagem - clique aqui!. Ninguém se insurgirá contra um dia consagrado e sacramentado. Divirta-se.

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Momento de amargura

Não se pode, em lugar algum do planeta, revogar a lei do mais forte. Os mais aptos e arrojados tornam-se poderosos (ou por força física e intimidação ou por poder econômico ou por serem detentores do poder político-governamental). Sim, os poderosos, por serem poderosos, fazem o que quiserem: ou ignoram as leis, ou compram os das leis ou manipulam a criação de leis.

Ou você faz poeira ou você come poeira...

O poder é conquistado, como tudo na vida. E é como se diz: toda vitória traz em si algum tipo de violência. É assim com os atletas, que esmurram o próprio corpo e escravizam-se em treinamento para conquistar uma medalha. É um processo violento sim mas o resultado, para eles, vale a pena.

Em todos os níveis é semelhante. Toda a disputa envolve sofrer e fazer sofrer. Nem todos tem estômago para isso.  Os mais ambiociosos, competitivos e furiosos conseguem.

Os pacíficos e sentimentais serão explorados para sempre. Quanto aos lutadores idealistas que serviram de escada, não passam disso mesmo: escada, massa de manobra. São os iludidos e quanto mais preclaros se sentem, mais tolamente servirão de bom grado aos famintos vencedores.  Sim, eles são utilíssimos! Por terem lutado juntos eles juram que simbolicamente também estão "lá" mas vão comer poeira do mesmo jeito.

Não tem filé pra todo mundo. Desculpe aí, plebe ignara!

A sacada é transformar animais domésticos em cães raivosos. O processo é eficiente e inclui atiçar o que o que há de pior e mais comum na matilha. Diariamente, injeção de ódio e muita inveja. Porque o ódio é o contrário da depressão. O ódio traz consigo uma enorme carga de energia. Essa energia, sendo bem manipulada, pode conquistar reinos.  Por isso os bichinhos são irritados até ficarem com sede de vingança. Quem odeia não raciocina.O ódio é uma paixão e nenhum apaixonado pensa direito. Enquanto a matilha se mantiver irritada e odienta, gerará a energia de uma hidrelétrica.  O ódio e a inveja são insanos e subtraem do indivíduo a capacidade de querer crescer; ele não quer mais crescer, só quer se vingar dos que cresceram. Quando isso acontece, eles estão no ponto.

Uma vez estando aptos para a linha de frente, serão alimentados enquanto sua ferocidade for útil. Ficarão então felizes e se sentirão protegidos e cuidados. Custarão a perceber que estão se alimentando de migalhas e carne podre e que o canil é uma pocilga.

Tanto na disputa pelo poder quanto na sua manutenção usa-se mentira, manipulação, injustiça, cinismo e todo tipo de crueldade. Difícil acreditar que alguém se lance a isso com tanta gana para simplesmente "fazer o bem". Não é impossível amar assim o próximo! Só que me parece pouco provável que isso aconteça com esses lutadores de luta livre, até porque os pisoteados no trajeto também são "próximos". Por que não amá-los então?

Mas bem ou mal, o povo é o troféu dos vencedores e suas costas poderão ser aradas e dali os vencedores poderão arrancar tudo o que puderem. Basta regar uma vezinha ou outra você sabe como.

Está tão sacramentada e tão reconhecida como justa essa espécie de disputa que em momentos pós revolta já passou pela minha cabeça o mesmo que talvez tenha passado pela cabeça de algum escravo do passado:

"- Compraram-me. É mesmo justo que o novo dono disponha de mim. Ele lutou muito para ter o poder de também me cobrir de chibatadas se quiser."


Será que se digradiaram assim por amor à pátria, ao "povo sofrido e honesto"?

Observando agora o rebanho prostituído que defende o cafetão, penso: será tanto um quanto outro não merecem a posição que ocupam?  Nem sei mais. Confesso que estou confusa.

Bem, o rebanho agora é deles até que apareça outra turma igualmente sedenta e violenta que lhes arranquem do poder.

Nossos feitores estão aí. Ninguém pode dizer que eles não lutaram violentamente pela nossa posse. Lutaram sim: sequestraram, torturaram, mataram, intimidaram... e conseguiram. Conseguiram até cegar o povo para seus métodos. Em uma briga, tanto se bate quanto se apanham.  Ao povo, hoje, só é dado o direito de saber das porradas que eles levaram, não das que eles deram.

Quanto ao rebanho, não sairá ganhando nunca. Serão apenas locados e sublocados para fins de exploração; como escravos serão passados de mão em mão até o final dos tempos.

É a vida. Um dia se está por cima, noutro se está por baixo. Para vencê-los só fazendo o que eles fizeram mas eu não tenho estômago...  Você tem?

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Poesia & Opressão

Dizem que poeta sofre. Não gosto disso que dizem. Só que existe um monte de coisas das quais também não gosto mas que existem a despeito do meu não-gostar. Pois toma-te mais uma.

A poesia não sai do coração assim, de graça. Ela sai por estar sendo amassada, espremida e espetada lá dentro. Sai porque não aguenta mais ficar. Sai de boca aberta contando pra todo mundo, berrando, denunciando um estado de coisas que não pode ser, que não se contém em si e chega de discrição!

Poemar é jogar no ventilador, é mostrar a bunda. Toda poesia é uma denúncia contra o próprio coração - ingrata moradia.

Difícil é escrever profundamente na paz, na maciota, no gozo de uma ventura. Até porque a ventura requer tempo para ser gozada e ninguém ousará interrompê-la para escrever um mau verso. Ainda mais sabendo quão melhor verso será esse quando a ventura se for. Espere que a alegria vire as costas; aí você pega a caneta.

É verdade que existem poesias luminosas. Só que as singelas alegrias das vidas felizes não se prestam à poesia. Pra render um bom verso a alegria tem que ser opressiva. A felicidade do poeta tem que ser uma pérola caída num rosário de tristezas e assim surpreender tanto mas tanto a ponto de causar perplexidade e comoção. A alegria de onde sai poesia tem que ser como o sol entrando na cela escura e solitária do preso; tem que ofuscar, doer o peito imitando a tristeza e fazer o poeta sair gritando do mesmo modo, denunciando que aquilo tudo não cabe, que a vida não é assim e ai meu Deus eu vou morrer, que coisa linda!

As poesias que não nascem da opressão da angústia ou da opressão da felicidade extrema, são chatas. Cha-tas; piegas, maquiadas, adocicadas. Enjoam. Dá até formiga.

Isso tudo é pra dizer que a pausa na qual me encontro vem de uma certa nulidade calma e não-pensante. Um momento da vida, por assim dizer. Ainda assim fica uma dorzinha: a dor da saudade da poesia com todos os seus tormentos. E há também agora a dor da expectativa a respeito do que virá perturbar a serenidade do meu não-pensar. 

No parágrafo anterior já há estão expostas duas dores. Mas duas dores é pouco demais para um poeta.

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Pensamento do dia

"A vingança nunca é plena, mata a alma e a envenena".

Saudade das cebolas...

(O texto é de Caio Fábio D'Araújo filho. Gostei)
As cebolas do Egito se tornaram famosas muito mais pelas lamurias de Israel enquanto peregrinava pelo deserto do que porque qualquer outra razão ou virtude.  O fato é que Israel fantasiou sobre as cebolas do Egito como nem os egípcios jamais o fizeram.  No Egito eles reclamavam de tudo, e nem viam as cebolas...

Agora, no deserto, comendo o maná que caía do céu todas as manhãs, e algumas codornizes que se “suicidavam” sobre eles de vez em quando, eles desenvolveram um fetiche acerca das cebolas do Egito.

Saudades do Egito.
Saudades da escravidão.
Saudades da servidão.
Saudades da opressão.
Saudades dos exatores.
Saudades das grandes pedras levadas às Pirâmides e monumentos.
Saudades do Nilo.
Saudades de Faraó.
Saudades da angustia.
Saudades de tudo...

Mas eram as cebolas as simbolizações de tal desejo: comer cebolas.

Eu gosto muito de cebola. Cebola de todo jeito, mas, especialmente, crua.  Já tive uma compulsão por cebola...  Sim! Em 1998, no mês de dezembro, todo estressado, oprimido de todos os lados, temendo que meu corpo não agüentasse as pressões, os cercos, as ameaças, as sentenças, e tudo o mais — comecei a sentir necessidade de comer cebola. 
Descascava a cebola e a comia crua.  Depois descobri que era meu corpo que estava pedindo a cebola. Posteriormente um médico veio a me receitar cebola e alho por 21 dias.
Que jejum! Somente cebola, alho, alface nas duas primeiras semanas, e, depois, somente cebola e alho; a salvação era poder beber muita água.  E não foi o médico do Conde Drácula quem me receitou tal dieta. Mas funcionou. E, como resultado, limpou meu sangue, que estava uma lama de plasma dês-sistematizado. Entretanto, nunca mais senti tal desejo!
Como cebola de modo normal; e não sinto nenhum impulso especial, muito menos saudade de cebola.

Todavia, esse súbito desejo por cebolas do Egito é um fenômeno psicológico comum entre os homens.

Sentir saudades das cebolas do passado é a doença de muitos!  Ora, pergunta você:  O que é sentir saudades das cebolas do Egito?

O Egito é o passado. As cebolas são as transferências que se faz quando o que era ainda futuro se faz presente contra as nossas expectativas, ou ilusões, ou rabugices.

Assim, alguém pede a Deus libertação de algo ou de alguém, ou de uma situação terrível. Algo tão ruim quanto existir para construir Pirâmides para faraós.  Sim! Era uma relação adoecida e perversa, ou um casamento mal e odiento, ou ainda era um patrão tarado por controle.  A pessoa fica livre!...   Mas, então, depois de um tempo, sente saudades da doença como um porco deseja a lama!

Desse modo, a saudade da cebola do Egito é qualquer coisa que no passado tenha sido uma desgraça, e que, agora, pela falta de senso de realidade, se torne para nós o que nunca antes foi ou será.

É assim que toda hora vejo pessoas que me angustiavam a alma com suas dores, de súbito, terem a cara de pau de vir até mim dizendo maravilhas sobre aquilo mesmo que no passado as matava de tristeza.

Saudades das cebolas do Egito é a doença que se abateu sobre Israel para sempre!

Jesus mesmo disse que nos dias Dele as cebolas do Egito se manifestavam pelo humor dos religiosos, os quais, à semelhança de meninos em uma praça, se convidados a cantar, diziam “não”, e se conclamados a brincar de chorar, também diziam “não”.  As saudades das cebolas do Egito se expressam como o limbo de descontentamento e de irrealidade que acomete a muita gente.

Ora, quando a pessoa não anda em contentamento, jamais aprenderá a viver sem fazer transferências de ilusórias felicidades para as cebolas do Egito.   Somente o contentamento em Deus é que pode nos fazer viver sem esquecimento auto-imposto, sem auto-engano, sem transformações arbitrarias de angustias passadas em memórias de alegria, sem maquiagens de mentira na realidade, e, sobretudo, sem o surto de abraçar a sucuri que nos matava, só que agora a chamando de “meu amor”.  É o olhar do contentamento o poder que nos mantém na realidade.

Sim! Pois sem o contentamento que excede ao entendimento [e as sensorialidades], e que decorre da fé, ninguém pode viver cada dia o seu próprio mal; e isto sem a fantasia de que o que um dia se pensou ter, e que se descobriu que era mal, não retorne a nós com poderes de sedução semelhantes aos das cebolas do Egito.

Contentamento, no entanto, é filho da confiança no cuidado do Pai por nós.   É por isto que se diz que o justo viverá pela fé, pois, de fato, tudo volta sempre para o mesmo lugar: confiar ou não confiar.  Quem não anda pela fé, quando o deserto se alonga, e a jornada demora, muitas vezes acaba chamando “urubu de meu louro”.

Ora, quando é assim tem gente que fica com saudade até da morte da qual um dia fugiu. Você é um desses?


Caio

23 de setembro de 2008
Lago Norte
Brasília
DF

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Tudo e Todos











Todo lugar é lindo quando se é livre
Todo lugar é perigoso quando se tem medo
Toda lembrança dói quando a alma adoeceu
Tudo parece possível quando a gente é jovem

Todo amor é o último quando é o primeiro
Todo amor é o primeiro quando é sincero
Todo ser vivo é bonito quando olhado de perto
Toda pessoa é feia quando vista sem amor

Nada é verdadeDizem os mestres
Mas tudo subsiste teimosamenet
E exige decifração
Porque não pode existir
Sem luz.

Cristina Faraon



quinta-feira, 22 de abril de 2010

Pensamento do dia

"Para os amargos, os heróis e os loucos sempre foram fascinantes: eles não têm medo de viver ou morrer. Tanto os heróis como os loucos são indiferentes diante do perigo, e seguem adiante.
O louco se suicida, o herói se oferece ao martírio em nome de uma causa – mas ambos morrem, e os amargos passam muitas noites e dias comentando o absurdo e a glória dos dois tipos."

Paulo Coelho (acredita?!!)

segunda-feira, 19 de abril de 2010

INTERVALOS

Já não cabem mais declarações
Na verdade não cabe mais nada
Toda explicação é despropositada
Todo comentário é inconveniente
Não há mais que se falar
Em conserto ou em “será”
É estranho o ponto em que chegamos
No qual todos os comentários 
Caem como pedras no vidro

Dobramos  esquinas, cada um a sua
Rasgamos o tapete vermelho
Que nos levava a um destino comum
Mudamos a rota
Numa guinada mortal
Os anjos se escandalizaram
Com pureza desinformada
“- Absurdo dos absurdos!”
Que, no entanto, aconteceu...

... e continua acontecendo
A cada dia, a cada hora
Como goteira funesta
Que chora no fim da festa

Nosso afastamento
É progressivo e presente
Já que “passado”
É o que parou de acontecer.

Preferia que tivesses me deixado
Assim eu poderia, com propriedade
Perguntar “por quê?”

Perguntaria ao  céu, às aves,
Às feras e às crianças
Ninguém me responderia
Mas  entenderiam minha perplexidade
E eu ganharia abraços


Preferia que tivesses me deixado
Assim eu poderia imaginar motivos à noite
E ir dormindo  aos poucos, suavemente,
Enquanto tentasse desvendar
Nossa intrincada equação

Eu teria pena de mim mesma, ou ódio
Só para ter o prazer 
De perdoar-me  depois
E então levantar a cabeça
Totalmente consolada.

Será sempre uma anomalia
Uma dor, um suspiro,
A povoar os intervalos da minha felicidade
Quando a lembrança me assaltar
Levarei as mãos ao rosto
Em um ato involuntário
E perdoável

Então
Na pausa da felicidade
Farei reverente silêncio
Pra poder me recompor
E descobrir novamente
Que não há nada de novo
Debaixo do meu sol
Tudo são espumas...
Espumas de ondas passadas

“Durma em paz, alma minha!”

O passado
Não é uma árvore que ficou para trás
Na beira da estrada
Penso que seja uma ave  
Que nos acompanha grasnando
Desajeitadamente
As músicas que cantávamos.

Questão existencial

Esses dias recebi um e-mail de um amigo. Ele estava incomodado com uma dúvida:

"... recebi este e mail do meu irmão mais velho. PERGUNTA:


"Interessante que ontem eu estava pensando e analisando, a trajetória de minha vida, desde a adolescência, até hoje e a pergunta que sempre fica sem resposta quando faço isso, é a seguinte: Por que é que a vida das pessoas de nossa família não deslancha, financeira, profissional e afetivamente, eu , você o e o outro irmão , o pai e agora os filhos. Vou te dar um exemplo melhor, esteve ontem aqui um a pessoa que trabalhou junto comigo há muitos anos atrás, ele começou como auxiliar ... É de família tradicional da cidade. Eu sai , tentei modificar minha situação, a situação piorou mais ainda e ele, foi indo pra frente, estudou , já era formado, fez doutorado, fez concurso, hoje esta bem profissionalmente financeiramente e parece que afetivamente também, deve ter lá seus problemas que não divulga, como todo mundo, porem nestas áreas, progrediu. Comparando comigo, o esforço que ele fez e eu fiz não foi diferente, porém eu não tive êxito.  Não vou dizer que estou mal de vida, mas tentei estudar mais , não consegui, tentei vários concursos não consegui, tentei manter a família , não consegui. Vejo vocês, parece que é da mesma forma , fico então pensando por que certas pessoas parece que dão certo e nós não."

MINHA RESPOSTA:
 
Querido amigo:
 
É grande a tentação de queremos explicação para as dores desta vida. Geralmente essa explicação não existe. É o que vemos no livro de Jó. É o que vemos também em Eclesiastes. Eu entendo que há coisas da vida que são coisas da vida, e acabarão quando acabarem essa vida. E precisamos aceitar a vida crendo que o Senhor da vida jamais nos abandonará, mesmo nos momentos mais inexplicáveis.

Por outro lado, algumas vezes há explicação mas nem sempre enxergamos ou queremos exergar. Não acredito em azar. Acredito em sucessão de fatos que levam, necessariamente, a um resultado.

Se duas pessoas derem a largada no caminho dessa vida e uma for mais carismática do que a outra, a mais carismática será mais bem sucedida - mesmo que ambas façam o mesmo esforço para melhorar. Isso é APENAS UM EXEMPLO. Se colocarmos duas mulheres no mundo, uma bonita e outra feia e ambas forem igualmente inteligentes e esforçadas, mesmo assim as portas se abrirão com mais facilidade para a bonita. É triste mas é verdade.

É como vemos no livro do Pr. Caio "O Enigma da Graça": a vida não é justa. Se fosse, estaríamos fritos, porque recebemos sempre muito mais do que merecemos.

Talento pra falar, pra negociar, pra ensinar... já nascem com a pessoa. Fazer o quê????? Podemos até nos esforçar para melhorar, assim como uma mulher pode fazer ginástica, se vestir bem e maquiar-se com perfeição mas não se transformará em modelo com isso tudo.

TODOS TEMOS ALGUNS TALENTOS ESPECÍFICOS MAS POUCOS CONSEGUIMOS DESCOBRI-LO PARA PODER EXPLORÁ-LO e investir nele. Se tivéssemos consciência de qual é nosso talento, acertaríamos sempre. As vezes insistimos em um caminho que não é para nós, então não somos bem sucedidos.

Algumas pessoas são mais convincentes. No caso de dois vendedores, ambos podem trabalhar à exaustão mas o que for mais convincente e envolvente será mais bem sucedido e não há nada que possamos fazer a respeito. É uma característica pessoal que nem sempre as pessoas envolvidas conseguem perceber. Numa família, algumas características são marcantes e se repetem em gerações.

ISSO NÃO É A EXPLICAÇÃO, MAS UMA DAS CENTENAS DE EXPLICAÇÕES POSSÍVEIS. Pode não explicar a vida de seu irmão, mas pode servir como reflexão.

Não sei se contribuí positivamente mas... é isso o que penso.

Beijos.

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E você o que acha?

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Imposto, imposto, imposto

Minha conta de luz esse mês foi R$ 119,29. Desse valor o Governo vai embolsar R$ 42,92. quer dizer: SÓ DE IMPOSTO eu pago quase a metade!!! Não é indecente?

terça-feira, 13 de abril de 2010

Mochila fosforescente

Se eu pudesse voltar ao passado...

De vez em quando a gente pensa isso, não é? Você já pensou.  Mas será que voltar é algo desejável mesmo?  Ou você só quer algumas cenas escolhidas?

Claro que você só quer algumas cenas escolhidas. Conheço você!  Todos temos ceninhas de cinema salpicadas em nossa vida chocha. É elas que queremos e não o todo. Deus sacou isso, bateu pé ("Ou leva todo o pacote ou não leva nada!")  e por fim tirou a marcha ré da carroça da nossa vida. Lascou-se.

Tudo bem, mas se você tivesse ré, voltaria ao passado?  Já sei o que vai me perguntar:  "- Passado? Mas de qual passado você está falando?"    Boa pergunta. Você é esperto.

Considere que não há um único "passadão" para nos referirmos.  Mesmo as piores novelas são divididas em capítulos. Sendo assim, há um monte de "passadinhos" em nossa tosca prateleira.  E esses "passadinhos" estão classificados e acondicionados em vidros separados: o do Passado Remoto, Passado Antigo e Passado Recente. Qual dessas velharias lhe seduz?

O passado antigo esmaece enquanto o recente é fresco e vivo. Desse ouço até vozes e cheiros. Parece estar ao alcance da minha mão. É convidativo, acolhedore e aparentemente acessível. Só aparentemente.

O presente, quando se torna em passado torna-se impenetrável como uma rocha.

Sabe, não há fantasia mais doce do que acreditar que podemos retornar a cenários antigos para retomar o fio da meada e viver feliz para sempre, dessa feita sem mancada.

Quando estou naqueles dias pratico a nociva atividade de consolar-me com essa idéia de voltar a fita. Felizmente passa rápido porque alguém lá no fundo canta a pedra: "O passado petrificou! Ninguém entra, ninguém sai de lá!"

Mas se pudesse eu voltaria? Hmmm...

Raciocinemos: voltar ao passado sem a cabeça e as informações do presente, não teria graça. Faltaria a consciência dessa volta, então não seria "voltar lá e curtir de novo",  mas seria apenas repetir a mesmíssima história. VOCÊ QUER?

Seria como ver novamente o mesmo filme, com os personagens não sabendo que aquilo tudo é repetido, sem saber o que aconteceu ou vai acontecer. Aí todo mundo faz novamente as mesmas coisas erradas. Não dá.

E a segunda opção? Voltar ao passado com a cabeça e as informações do presente?  Também não dá. Eu não sou mais a mesma. Seria como colocar o personagem de uma novela em outra novela. Olha a confusão!  Além do mais o presente está todo desconjuntado; falta pano de um lado e sobra de outro. Hoje há novas alegrias, novas mágoas, novos personagens, novas conclusões, novos sentimentos. E ainda por cima falta um monte de persnagem da história.  Como retomar a minissérie nessas condições?

Nada de hoje cabe no que passou. Voltar ao ontem com a cabeça do hoje? Impraticável.  Ao voltar, mentalmente me vejo carregada de novas histórias que não caberiam naquele enredo. Fica absurdo, uma coisa assim como... como uma mochila fosforescente colada em minhas costas em um cenário do século XIX. Não dá.

Uma reconstrução nada mais seria do que uma imitação deprimente do filme original. Não há passado para o qual voltar. É tolice pensar que ele está nos esperando. Não está. Cada dia o nosso passado fica mais diferente de nós mesmos. Se voltássemos ele não nos reconheceria, nem nós a ele.

Mesmo assim há dias em que, teimosamente, gosto de pensar que posso. Ah aquelas cenas!  Há cenas dignas de um filme também em meu passado e são essas cenas tendenciosas que nos puxam. Não deveríamos nos impressionar. Se chegássemos lá, constataríamos que a coisa não é bem assim.  Ah como a gente esquece da mediocridade do resto...

Seria bom voltar a ser simples e apaixonada, jovem e cheia de idéias, com mil vontades e disposição imbatível e sem celulites. Só que

Não posso
Não sei
Não consigo.

Tudo o que eu tenho é o hoje e o que hoje eu sou (e que deixarei de ser daqui a pouco). - "E isso não é bom?"  Sei lá.  Mais pra frente, se eu sentir vontade de voltar, é sinal de que foi.

sábado, 10 de abril de 2010

O POÇO DOS DESEJOS

De onde saiu essa curiosa crença de que seria possível  jogar moedas em um misterioso poço, o Poço dos Desejos, e então seu pedido seria realizado?


O que tem a ver dinheiro com a mágica da satisfação? Tudo, sabemos. Mas e a figura feminina tem alguma relação direta com isso? 

Não estou misturando as coisas. Acho que o poço representa a figura da mulher. Um poço é fundo, fresco, úmido e desejável, escuro e cheio de misterios. Não tem a ver?

Agora vem a parte desagradável: de onde tiraram a idéia de que jogar dinheiro no poço é um tipo de "mágica" que faz o nosso desejo se realizar? Quem teve essa idéia?

Seria a mulher o verdadeiro Poço dos Desejos?  E não apenas no sentido de realizar as fantasias secretas de quem lhe joga dinheiro, mas támbém por trazer em si mesma um eterno desejar? Pouca gente sabe a profundidade do poço, qual é o seu limite. Não sabendo, fantasiamos que não acaba nunca - mas acaba!

Se você tivesse o espírito de um desbravador, poderia descobrir que o poço tem fim, tem limite e não é tão misterioso assim.

Hummm... Essa história de dinheiro não tem nada a ver, certo? Esqueça.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Agradeço muito a sua escolta

Querido amigo Medo:

Valeu!

Reconheço o tremendo segurança que você é. Sem você o que teria sido de mim? Como me sairia bem nesse mundo inóspito? Se hoje sou o que sou, se sobrevivi, devo muito disso a você.

Esse seu jeitão emburrado...  essa sua cara feia...  Inicialmente eu não te queria por perto.  Na verdade eu te odiava. Não reconhecia o valor do seu trabalho nem o quanto você era bem intencionado.

Depois, sabe como é. A gente cresce, vê o tamanho da selva onde está metido e sente a necessidade de uma proteção. Uma armadilha em cada esquina. Era assim que eu via o mundo. Aí você chegou mais perto e... Como eu me escorava em você! Deixei que carregasse todas as malas, tomasse todas as decisões. Era exploração! Mas você nunca reclamou, pelo contrário: tanto me preservou que quando dei por mim nem prestava mais atenção ao seu tamanho. Você ocupa muito espaço, rapaz! 

Eu olhava o mundo da guarita segura que você construiu para mim. E as nossas conversas? Ah Medo, como você é convincente!  À sua menor agumentação eu cedia, convencida e acalmada como um ratinho na toca.  Deixei de ir, deixei de ser, de falar, de esmurrar a mesa; não fui a inúmeras festas, não fiz vários amigos, livrei-me de todas as aventuras, não comi, não fumei, não bebi, não comprei, não li, não participei.

Sim, você preserva mais que formol, Mais que embalagem à vácuo!  Bom moço, bom moço.

Medo: obrigada. Você foi fundamental em minha formação. Valeu mesmo, mas olhe: aqui terminamos como dupla.

Está vendo aquele ponto cinza lá longe? É a plataforma da próxima estação. A cidade se chama Passado.  Desça ali e dedique-se a outra pessoa. Muitos precisam de você.  Quanto a mim, descerei mais à frente, na estação Imperatriz Confiante. Pegue suas  coisas.

Quem sabe? Nas voltas que essa vida vá pode ser que nossos caminhos se cruzes cruzem. 


Estou levezinha...  Vou seguir adiante sem a armadura que tanto me protegia do sol quanto desviava de mim o vento.

Não há mais contas  a acertar com o passado. Agora só quero pisar nas poças e vê-las prateadas, não mais como abismos dissimulados a quererem me engolir.

Adeus, Medo! Vou só.

domingo, 4 de abril de 2010

A noite, na estrada

Não gosto da estrada à noite. Ela é estranha e triste.
Difícil eu me sentir feliz na estrada, à noite. Enquanto o carro balança, do fundo do meu rio são evocados fantasmas incômodos e amargurados.

Acho que todos os fantasmas são amargurados, se não não seriam fantasmas; seriam apenas pessoas que partiram.

As árvores na beira da pista são misteriosamente tristes. É como se soubessem de alguma coisa grave que eu ainda não sei. E como se desejassem contar, mas não ousassem.  Da mesma forma que eu, elas olham e sentem a presença dos atropelados que não conseguem sair dali. Ficam parados, olhando os carros passarem. Eles tem o mesmo olhar distante das árvores e como elas, não fazem nenhuma menção de sair dali, nem mesmo de acenar. Apenas olham atentamente os viajantes como se quisessem reconhecer alguém. Como se um dos rostos pudesse, de repente,  devolver-lhes a memória.

Esses seres da noite me deixam melancólia. Então, fatalmente, acabo lembrando de dores recentes e dores antigas. Na estrada, à noite, elas se equivalem: as velhas e as novas têm o mesmo peso e gravidade, por isso meus olhos ficam úmidos. É quando me cai no colo uma pesada solidão. Sabe aquela solidão sem jeito e sem remédio, que você sabe que não vai passar nunca? Pois é. Não é solidão de falta de companhia; é solidão de coração com excesso de lugares vagos.

Solidão de coração com excesso de lugares vagos...

Olho os ciclistas silenciosos pedalando por entre os fantasmas. Não se olham, não se assustam uns com os outros. O que faz uma pessoa vaguear assim sozinha em um lugar tão lúgubre? Tenho tanta pena dos ciclistas da noite! Desejo oferecer-lhes ao menos um chocolate quente.

A pior solidão é a da beira da estrada, quando sabemos que aconteça o que acontecer, ninguém vai parar para nos dar um abraço; todos seguirão em direção aos seus lugares mornos, a um aconchego seguro e muito distante dali. Também sigo, mas cheia de lembranças e lágrimas querendo motivo.

Não gosto de ver aquelas pessoas paradas com o olhar perdido enquanto passo. Sinto por elas algo parecido com o sentimento pelos ciclistas da noite. Aí me vem minha mãe à lembrança... só que quando estou na estrada ela também tem o olhar parado. É estranho e incômodo.

O carro, decidido, me leva dali.  Minha cabeça está cheia de lembranças reverentes e um tanto cinzas. Passam meus irmãos ainda pequenos... passa a mesa de jantar com sopa quente... passam os balões coloridos, de aniversário... passam os cadernos e lápis... passo eu! Ali, pequenina e amada!  ...  Passam as primeiras flexadas de felicidade, o amor e, depois, a paixão esmaecendo...  E pelas costas um frio fatal...  uma coisa incômoda... uma necessidade de pedir abrigo.

Vai demorar muito para o sol nascer?

Essa eu não sabia!


Você sabia que 04 de abril é o dia mundial da guerra de travesseiros? Como se já tivesse poucas guerras no mundo... Ainda bem que essa é muito fofa.

Olha que barato: como a maioria das pessoas não sabe disso, você terá a chance de sair na vantagem dando travesseiradas nos desavisados e levando apenas xingamentos de volta. Não é incrível? Será certamente uma sensação inebriante.
Pegue seus familiares, vizinhos e até mesmo o guarda de trânsito desprevenidos. De preferência peça a um amigo para filmar.

Qualquer dúvida é só mostrar a reportagem - clique aqui!. Ninguém se insurgirá contra um dia consagrado e sacramentado. Divirta-se.

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Momento de amargura

Não se pode, em lugar algum do planeta, revogar a lei do mais forte. Os mais aptos e arrojados tornam-se poderosos (ou por força física e intimidação ou por poder econômico ou por serem detentores do poder político-governamental). Sim, os poderosos, por serem poderosos, fazem o que quiserem: ou ignoram as leis, ou compram os das leis ou manipulam a criação de leis.

Ou você faz poeira ou você come poeira...

O poder é conquistado, como tudo na vida. E é como se diz: toda vitória traz em si algum tipo de violência. É assim com os atletas, que esmurram o próprio corpo e escravizam-se em treinamento para conquistar uma medalha. É um processo violento sim mas o resultado, para eles, vale a pena.

Em todos os níveis é semelhante. Toda a disputa envolve sofrer e fazer sofrer. Nem todos tem estômago para isso.  Os mais ambiociosos, competitivos e furiosos conseguem.

Os pacíficos e sentimentais serão explorados para sempre. Quanto aos lutadores idealistas que serviram de escada, não passam disso mesmo: escada, massa de manobra. São os iludidos e quanto mais preclaros se sentem, mais tolamente servirão de bom grado aos famintos vencedores.  Sim, eles são utilíssimos! Por terem lutado juntos eles juram que simbolicamente também estão "lá" mas vão comer poeira do mesmo jeito.

Não tem filé pra todo mundo. Desculpe aí, plebe ignara!

A sacada é transformar animais domésticos em cães raivosos. O processo é eficiente e inclui atiçar o que o que há de pior e mais comum na matilha. Diariamente, injeção de ódio e muita inveja. Porque o ódio é o contrário da depressão. O ódio traz consigo uma enorme carga de energia. Essa energia, sendo bem manipulada, pode conquistar reinos.  Por isso os bichinhos são irritados até ficarem com sede de vingança. Quem odeia não raciocina.O ódio é uma paixão e nenhum apaixonado pensa direito. Enquanto a matilha se mantiver irritada e odienta, gerará a energia de uma hidrelétrica.  O ódio e a inveja são insanos e subtraem do indivíduo a capacidade de querer crescer; ele não quer mais crescer, só quer se vingar dos que cresceram. Quando isso acontece, eles estão no ponto.

Uma vez estando aptos para a linha de frente, serão alimentados enquanto sua ferocidade for útil. Ficarão então felizes e se sentirão protegidos e cuidados. Custarão a perceber que estão se alimentando de migalhas e carne podre e que o canil é uma pocilga.

Tanto na disputa pelo poder quanto na sua manutenção usa-se mentira, manipulação, injustiça, cinismo e todo tipo de crueldade. Difícil acreditar que alguém se lance a isso com tanta gana para simplesmente "fazer o bem". Não é impossível amar assim o próximo! Só que me parece pouco provável que isso aconteça com esses lutadores de luta livre, até porque os pisoteados no trajeto também são "próximos". Por que não amá-los então?

Mas bem ou mal, o povo é o troféu dos vencedores e suas costas poderão ser aradas e dali os vencedores poderão arrancar tudo o que puderem. Basta regar uma vezinha ou outra você sabe como.

Está tão sacramentada e tão reconhecida como justa essa espécie de disputa que em momentos pós revolta já passou pela minha cabeça o mesmo que talvez tenha passado pela cabeça de algum escravo do passado:

"- Compraram-me. É mesmo justo que o novo dono disponha de mim. Ele lutou muito para ter o poder de também me cobrir de chibatadas se quiser."


Será que se digradiaram assim por amor à pátria, ao "povo sofrido e honesto"?

Observando agora o rebanho prostituído que defende o cafetão, penso: será tanto um quanto outro não merecem a posição que ocupam?  Nem sei mais. Confesso que estou confusa.

Bem, o rebanho agora é deles até que apareça outra turma igualmente sedenta e violenta que lhes arranquem do poder.

Nossos feitores estão aí. Ninguém pode dizer que eles não lutaram violentamente pela nossa posse. Lutaram sim: sequestraram, torturaram, mataram, intimidaram... e conseguiram. Conseguiram até cegar o povo para seus métodos. Em uma briga, tanto se bate quanto se apanham.  Ao povo, hoje, só é dado o direito de saber das porradas que eles levaram, não das que eles deram.

Quanto ao rebanho, não sairá ganhando nunca. Serão apenas locados e sublocados para fins de exploração; como escravos serão passados de mão em mão até o final dos tempos.

É a vida. Um dia se está por cima, noutro se está por baixo. Para vencê-los só fazendo o que eles fizeram mas eu não tenho estômago...  Você tem?