segunda-feira, 30 de março de 2009

Medo de dormir


É tarde, chove, estou cansada mas... por algum motivo estranho, estranhíssimo, reluto em dormir.

Não estou com insônia. Estou com sono e quero ir para o quarto, mas tenho receio! Não é medo noturno. É outro tipo de medo. É medo de terminar um dia que não terminou direito.

Estou com a estranha sensação de que deixei de fazer algo importante e não posso dormir, não posso. Não posso fechar esse dia, essa porta, essa tranca. Há algo pendente mas não sei o que é, só percebo com meu instinto porque meu instinto não está conseguindo sossegar .
Preciso falar com alguém? Talvez assinar um papel? Ou tomar uma decisão? Um remédio? Ou talvez esperar um telefonema ou... Ou o quê uma hora dessa?

Por quê o meu dia emocional não fecha? Por que hoje não me vem aquela sensação de que realmente terminou o expediente? O que está faltando? Por que não vou dormir se meu corpo pede?
O quê em mim não veste o pijama de flanela, não se acomoda e fica em paz?

01:30 e estou com medo de dormir. Medo de fechar a porta com alguma coisa do lado de fora, na chuva me esperando...

Kadafi

O esqueleto e a solidão

Hoje resolvi falar sobre SOLIDÃO. Aliás essas bolas inexpressivas, imóveis e desoladas, cada qual em seu canto, sem braços que se abracem, mirando-se e ao mesmo tempo de costas umas para as outras são o retrato da solidão no que ela tem de mais desconcertante... e dolorido. Acho que a solidão, principalmente a acompanhada, são bem representadas por estas bolas imóveis.


O fato é que todos acabaremos sozinhos, principalmente se não morrermos antes. Não tem jeito de eu estar acompanhada até o fim da minha vida.

Olhe para os lados. Olhe para a pessoa que teoricamente está com você. Você tem mesmo certeza de que já não está só?

O que pode haver de mais patético do que prolongarmos um relacionamento solitário por medo da solidão que já está ali, instalada e empedernida? Se pararmos de dar uma de "João Sem Braço" não admitiríamos que estamos sozinhos há anos? Medo de quê, então? Da própria sombra?

Isso me faz recordar uns versinhos do meu tempo de criança. Era engraçado, estava em meu livro de Português. Não lembro das rimas mas contava a história de um garotinho que tinha muito medo dos esqueletos das aulas de ciências. Certa vez entrou sozinho em uma sala onde deu de cara com um deles em um pedestal. Assustado deu um grito e saiu correndo, apavorado.


Os versos terminavam com a sábia conclusão do menino que, de repente, caiu em si. Atentou para o ridículo da situação quando refletiu: "como posso fugir de um esqueleto tendo outro esqueleto em mim?" Era essa a última frase do verso, que rimava obviamente com a antepenúltima.


Quanto à solidão, a associação praticamente já está feita. O medo tem sido o grande aliado da raça humana, principal responsável pela sua sobrevivência e é inteligtente de nossa parte temer o que pode ser evitado e signifique preservação da nossa vida. Tolice, mas tolice mesmo é temer o inevitável. Pior: temer o que já está instalado em mim há anos, desde sempre. Assim, como o esqueleto... e a solidão.

domingo, 29 de março de 2009

Que volte a censura!



Sério: deveriam tomar mais cuidado com o que andam publicando por aí. Algumas fotos por exemplo tem o poder de causar prejuízo devastador em nossa auto estima.

Que a atleta Yelena Isinbayeva dê seus saltos, ganhe suas medalhas tudo bem, parabéns. Mas humilhar a gente com seu super corpo gordura zero, peraí! Exibir equilíbrio perfeito entre os atributos feminilidade/beleza/músculos/vigor, aí já é demais!

Acho o máximo esse ar de "não estou aqui pra posar de objeto pra você, seu babão. Não me confunda com essas vagabundinhas que você vê em revistas de quinta categoria. Sou atleta e você não tem o meu pique nem drogado. Fique na sua."

Depois não querem que a gente fique anorexica, bulímica e deprimida. Tem dó! Você pode pegar a Yelena e torcê-la como quiser, dobrá-la como se fosse guardar em uma caixinha de fósforos e nem assim pulará uma gordurinha sequer. Ela pode usar jeans apertado, top e ficar meia hora agachada tentando juntar uma gilete no chão e nada. Muito desaforo.

Quem tem inveja de modelos adolescentes pele-e-osso? Eu não. Mas corpo de atleta como esse aí é pra derrubar qualquer uma do sapato alto.

E dá licença que eu vou ali na esquina encher a cara.

sexta-feira, 27 de março de 2009

Janela vermelha

É isso mesmo o que eu quero: uma janela vermelha, bonita e vivaz, que quando eu acorde me acolha assim, de batom, apontando para mil possibilidades lá fora: flores, caminhos, caminhozinhos, trilhas, cantinhos.

Uma janela vermelha é um bom começo de dia e é, em si, um bom sinal. Ninguém tem uma janela vermelha a toa. Há de possuir também colcha de retalhos e pote de biscoitos caseiros. Ninguém as tem se não sai para passear de repente, de cabelos soltos, e come bolo no final da tarde olhando o sol poente enquanto as mães passeiam com seus bebês.

Quem tem janela vermelha tem incenso e fotos de muitas férias. Tem caixas com bugigangas, livros sublinhados, um quadro de algum amigo. Tem também chapéu para ir à feira e ingressos para o teatro.

Ninguém se sente só com uma janela vermelha pela qual olhar o mundo imenso e convidativo.

Hei de ter a minha, sorridente como ela só, com uma linda cadeira de madeira por perto. Hei de ter brincos indianos e vestido de cigana só para comprar revistas quando der vontade. E quando, lá embaixo, eu estiver molhando as flores, hei de olhar pra cima e ver de relance na janela vermelha a minha imagem feliz e sozinha sorrindo de volta.

quinta-feira, 26 de março de 2009

Das mentiras contadas para as crianças

Considerando que eu copiei descaradamente este texto do site http://www.insoonia.com/, se der alguma coisa errada vocês processam o dono daquele site e não a mim, combinado?


Particularmente tenho minhas dúvidas quanto ao conteúdo do que segue. Coloquei aqui para provocar uma acalorada discução e centenas de comentários acirrados, participação de cientistas renomados e toda essa coisa de mídia, entrevista etc. Vamos lá, clique aqui para continuar lendo o texto.


quarta-feira, 25 de março de 2009

Ainda sobre aquele papo de estupro, aborto e excomunhão


Gente, pensando bem esse assunto só serve mesmo pra vender jornal.

Não acredito na indignação sincera de nenhum dos que protestaram contra a atitude de dom José Cardoso Sobrinho. Só bate-boca de quem não tem o que fazer.

Acompanhem meu raciocínio: qualquer católico, até o mais esculhambado do mundo, sabe qual o entendimento e as linhas de conduta da igreja católica. Surpreso com o quê, me diga?

Se continua católico é porque quer. Ninguém o obriga. Tem alguém com uma faca em sua garganta? Se não concorda com a igreja, saia dela cara! Tem igreja pra todo gosto por aí! Escolha outra, invente uma sob medida pra você ou seja mais cabeça: largue todas e fique só com Jesus.

Se você é católico e tá lá dentro é porque concorda. Se está lá dentro e fica só falando mal, é espírito de porco. Nesse caso o arcebispo está sendo mais coerente que você porque ele é católico e pelo menos agiu como se espera de um católico de carteirinha: obedeceu as regras.

O arcebispo não tem autoridade pra criar jurisprudência, até onde eu saiba, nem pra pensar demais. Tá previsto a excomunhão? Então toma-te. E não me venha complicar o assunto falando em Jesus Cristo que aqui a gente está falando de religião. Jesus é ooooutra história.

Excomunhão... E qual o problema? Alguém morreu com isso? É o ato mais inócuo que se possa imaginar. É como declarar que daqui por diante o céu não será mais azul, mas verde. Você acha mesmo que Deus está agora "de mau à morte" com o pessoal que foi excomungado? Tá chateado, não quer nem olhar pra eles? Magoou. Quem acredita nisso?

Quem acredita nisso é o católico, mas católico mesmo. Nesse caso esses fiéis não estão se insurgindo contra o arcebispo, mas rezando para que os excomungados sejam logo readmitidos à comunhão da igreja. A eles, meu respeito.

Agora aos não católicos e ateus em geral, vão catar coquinho! Que diferença faz o que o arcebispo falou ou deixou de falar?

Culpa do desemprego. Muita gente sem ter o que fazer...

terça-feira, 24 de março de 2009

Ensaio sobre a cegueira

Você está louquinho para saber a minha opinião sobre esse filme? Não consegue nem dormir enquanto eu não disser o que achei? Então clique aqui.

segunda-feira, 23 de março de 2009

BIG BROTHER

Clique nas imagens para ampliá-las.





Visite o dono das imagens. O site é legal: http://opanca.blogspot.com/

Quem diria!


Apenas dez anos depois de tirar esta foto eu já estava casada, em outra cidade e com um bebê no colo! Eu hein!

Cara, muito doido. É tudo completamente imprevisível. Nessa imprevisibilidade repousam tanto os nossos receios quanto as mais caras esperanças de cada um de nós.

"E quem um dia irá dizer que existe razão nas coisas feitas pelo coração? E quem irá dizer que não existe razão?"

domingo, 22 de março de 2009

E como essa, outras


Esta é Beth Ditto, vocalista da banda The Gossip. Ela saiu nua na capa da revista Love.
Interessante observar que as mulheres gordas não são necessariamente feias sem roupas. Podem ser ou não, assim como as magras, as brancas, as baixas, as altas, as negras... Gente feia e gente bonita tem de todo o jeito.
Não estamos acostumados a ver gordos se exibindo. Talvez pelo mistério e pela propaganda pró-osso, formou-se no imaginário popular a idéia de que uma mulher gorda, sem roupa, não haveria de ser bonita. Engano. Essa tem sua dose de encanto e por dedução deve haver muitas outras.
Quem procura, encontra.

sábado, 21 de março de 2009

Bateu meio atravessado...


Esses dias eu assistia um noticiário na tv. Um desses muitos, tanto faz.

O tema era edificante: "INCLUSÃO SOCIAL" em uma área carente de uma cidade brasileira. Ao fundo víamos não jovens de macacão em oficinas mecânicas, como aprendizes. Não crianças em aulas de português, computação, corte e costura, jardinagem, pintura, jovens em cursos gratuitos para prestar vestibular, jovens em cursos gratuitos para concorrerem em concursos públicos, curso de recepcionista, maquiagem, babá, segurança... Nada disso. Vi jovens, inclusive crianças, todos muito alegres cantando, batucando, dançando e muito especialmente rebolando.

Digo muito especialmente porque despertou minha atenção a desenvoltura de uma garotinha de uns sete anos de idade em seu rebolado erótico. Parecia uma minhoca na areia quente. E não me faça cara feia porque vou repetir: garotinha de uns sete anos sendo iniciada em rebolados eróticos.

Mexia os quadris de forma ágil diante das câmeras mostrando tudo o que já aprendera e sugerindo com que facilidade aprenderia o resto. Em sua inocência desconhecia que aquela maneira de movimentar os quadris era uma alusão ao ato sexual, um gesto que remetia ao acasalamento, reconhecido instintivamente por qualquer macho humano, quer admita isso quer não. Dificilmente algum admite, tanto isso é verdade que sou eu, uma mulher, que estou escrevendo este texto. Pode pegar mal um homem dizer o que estou dizendo.

Programa de "inclusão social"...

Inclusão: "ato de inserir, meter dentro." Tá bom. Tudo a ver.

Sabe, por um instante, em um lampejo, me coloquei na situação dos homens que porventura lutam desgraçadamente contra sua inclinações pedófilas e tem que conviver com meninas sendo exibidas eroticamente assim, de bandeja, como se ninguém sacasse o efeito daquilo sobre suas mentes insanas. Também pensei: o efeito é mesmo só sobre as mentes insanas???

Não sei como é a cabeça de um pedófilo mas imaginei que se eu fosse homem e me flagrasse com esse tipo de inclinação, procuraria ajuda terapêutica, psiquiátrica e em não encontrando meios de fugir de mim mesmo, desesperar-me-ia, pensaria na morte.

Já ouvi falar de homossexuais que não se aceitam, que choram, lutam, esperneiam mas que não conseguem deixar de ser o que são. Quase toda a sociedade incentiva essas pessoas a saírem do armário e pronto, fazerem as pazes consigo mesmas, aceitarem sua condição e serem felizes. Com os pedófilos a situação é radicalmente diferente: eles não podem mesmo se aceitar porque o que desejam é inaceitável, é crime, é nojento.

Por que provocar?

Sei que existem os monstros que ainda tentam justificar o assédio a uma criança. Não estou tratando dessas pessoas aqui. Estou falando daqueles que recém descobriram suas inclinações, sabem que é horrível, têm medo de si mesmos e do que podem ser capazes de fazer. Estou pensando nesses, que ainda tem que conviver com esse tipo de maluquice social: por um lado a sociedade os condena e por outro a mesma sociedade pega suas filhas e as exibem na cara dura para serem desejadas como objeto sexual.

Pelo amor de Deus, as crianças são inocentes mas os adultos não. Acho que está mesmo é todo mundo doido. Colocar garotinhas maquiadas como mulheres rebolando de pernas abertas e achar que isso não tem apelo sexual? Não me façam rir! Todo mundo sabe muito bem o que isso significa.

É, me preocupo e me entristeço com a situação dessas crianças em exposição que não sabem em que tipo de jogo estão metidas nem que tipo de reação provocam. E se não consigo entender a cabeça de um pedófilo, afirmo com todas as letras que também me é incompreensível a mentalidade de um pai e uma mãe que aceitam expor uma criança de forma "comestível" e ainda acham tudo muito bonitinho.

sexta-feira, 20 de março de 2009

Injustiça

Acho super injustas as piadinhas tipo essa, representada pela imagem acima. Isso sempre me incomodou. Não são os homens que tomam a iniciativa de pediu a mulher em casamento? Não são eles que "pedem a mão" ? Então por quê essa imagem de que ele teria sido fisgado como um pobre peixe?

Raro são os casos em que a proposta (eu não falei sugestão) de casamento partiu da mulher. Claro que frequente ela dá uma pressionada, mas costuma ser uma coisa suave e não vai muito além do "o que você acha, amorzinho?"

Até famozézimo "golpe da barriga" deve ser classificado como pressão psicológica porque filho é filho, é sagrado, mas ninguém é obrigado a assumir a mãe da criança no mesmo pacote. Em resumo: acho sem graça essas piadinhas. Homem no altar amarrado? Só se for pelo coração.

quinta-feira, 19 de março de 2009

quarta-feira, 18 de março de 2009

Foi-se Clodovil



Uma das qualidades que mais admiro em uma pessoa é a coragem de mostrar a cara, ser o que é, dizer o que pensa e aguentar o tranco.

Apesar de ser homossexual assumido, Clodovil era "muito macho" pra isso. Parabéns para ele, que viveu em meio a uma sociedade repleta de heterossexuais frouxos.

Essa teimosia em impor a própria liberdade é uma das formas de viver a vida que mais me fascina e pela qual mais luto. Digo que luto porque isso não cai do céu: a gente conquista. Tem um preço sim senhor e não é barato não. Às vezes custa-nos oportunidades e até mesmo "amigos".


Digam o que disserem dele mas admitam: tinha uma personalidade marcante. Não afirmo que era simpático. Não era, pelo menos da distância que o via. E imagino que pessoalmente, para os desconhecidos, fosse insuportável. Mas tinha amigos, então na intimidade deveria mostrar-se a pessoa maravilhosa que todos somos quando podemos, quando queremos, quando temos chance de ser. Penso o mesmo do Jabor sem lhe diminuir as virtudes - mas despois falo dele: hoje é o dia do Clodovil.


Espirituoso, elegante, sarcástico como só as pessoas livres e inteligentes conseguem ser, Clodovil deixa mais triste nosso cenário público, repleto de figuras opacas, as vezes irritantes e noutras, odiosas.

By.

terça-feira, 17 de março de 2009

Meu dia de fúria - Um conto


Amanheci numa dessas amanhecidas azedas, atravessadas. Tomei banho, me perfumei e me vesti da melhor maneira que pude pra ver se a coisa melhorava. O velho truque da gente se produzir para levantar o astral. Quem é mulher entende.

Entrei no carro, saí. Tudo normal - tão normal que ainda não fora possível perceber se de fato a produção operara algum efeito benéfico sobre meu estado de espírito.

Eu tava na minha, linha reta, não mexi com ninguém. Não sabia se me sentia bem ou mal mas isso não é crime. Dirigia rigorosamente dentro das leis do trânsito o meu carrinho popular não muito limpo - o que também não é crime, não me olhe atravessado! Tocava no rádio uma música razoável que não vem ao caso. O que aconteceu não é culpa da música.

Trânsito chato: pára, vai, pára, vai. Numa dessas paradas mais longas se aproxima um mal encarado. Encarei o mal encarado meio entediada, como quem vê um bezouro voando do outro lado do vidro.

Ultimamente ando meio cansada de desgraças. Quando a gente não ouve falar, liga a televisão e vê. Quando vai ao cinema, pode ser o filme que for: tem sempre cenas de miseráveis aos borbotões. Hoje, como acordei com o ovo (?!) atravessado, resolvi ser indiferente a tudo, desse no que desse. A indiferença é o melhor escudo. Se não era, naquele dia seria e dane-se.

Danar-me-ia.

O farrapento com cara de poucos amigos aproximou-se do meu carro, bateu no vidro para que eu o baixasse. Olhos arregalados, magro como ele só. A essas alturas eu já estava tão mal encarada quanto ele, apesar da Natura, Avon e Boticário.

A verdade é a seguinte: faz tempo que eu andava querendo mesmo que algo drástico me sobreviesse. Ééééé isso meeeeesmo, pode me chamar de doida. Tava cansada de tudo, de todos, de mim mesma principalmente. Só queria um pretexto pra chutar o pau da barraca. Tava naquela de torcer para o garçon derramar sopa no meu vestido, pro porteiro fechar o portão com o meu carro no meio, para a atendente do consultório ter esquecido de anotar meu nome na agenda - qualquer coisa pra botar fogo no circo. Queria mais é que pisassem no meu calo!

Não sei explicar e você não sabe entender, então chega de teorias porque afinal de contas estamos no meio da história e explicar muito acaba quebrando o clima.

Só sei que naquela hora eu podia escolher entre gritar, desmaiar - acelerar não dava - ou submeter-me às ordens daquele ladrãozinho de merda mas achei todas essas opções meio comuns, muito previsíveis. O fato é que o "comum" e o "previsível" eram justamente os elementos que haviam me colocado naquele estado anti-zen. Sendo assim, já sem pensar em nada e adorando isso, resolvi provocar Deus e o destino. Se o Altíssimo fazia muita questão de manter-me viva, que desse um jeito naquela situação porque ninguém me segurava: eu resovi despirocar de vez!

Não baixei o vidro. Saí da p**** do carro repentinamente, o que assustou o cara, que era mais baixo do que eu. Perguntei, espumando ódio, o que ele queria. Foi o tempo de ele se recompor e recuperar a valentia. Exigiu minha bolsa. Não vi revólver, então disse que não ia dar p*** nenhuma e fiz menção de voltar pro carro. Ele me segurou pela blusa e sei lá de onde apareceu uma faca. E sei lá de onde apareceu mais ódio e uma valentia de gladiador. Não sei em quem eu me fiava mas achei inebriante esse novo comportamento destemido. Era boooomm!

Empurrei o cara, ele caiu. Adorei. Mas o lazarento parecia que era de borracha porque saltou de volta e se pôs de pé antes que eu voltasse para o carro pra me trancar em segurança. Rapidinho ele me furou várias vezes. A primeira facada foi no pescoço, com certeza. A segunda no ombro e o resto não sei. Não fiquei contando. Sei que ainda consegui lhe arranhar a cara. Acho que acertei um soco em algum lugar mas foi meio sem força.

Daí pra frente é tudo misturado. No limiar da vida, tempo não conta. Lembro de algumas frases, alguns momentos específicos e pausas entre uma coisa e outra.

Eu desconfiei que estava morrendo quando abri os olhos e vi em volta de mim um monte de gente com o olhar consternado. Eu deveria estar horrível. Vi depois alguns rostos conhecidos. Não sei mais se eu ainda estava no local do crime mas olhei para cima (que não sei se era teto ou se era céu) procurando algum sinal, uma luz, uma aparição, sei lá. Não riam! Eu tava morrendo, gente! Tinha todo o direito de esperar um lance sobrenatural. Nunca se sabe.

Bem, não vi nada. Minha pieguice me pareceu sumamente engraçada naquele momento e ri de mim mesma. Alguns se comoveram com o meu olhar elevado às alturas e o sorriso piedoso. "Ela está indo... Deve estar vendo anjos... Oh Senhor!"

Comecei a sentir dor - não muita, mas o suficiente para deixar de achar qualquer coisa engraçada. Mexiam em mim. Não sei se me examinavam, se me transportavam... Por que cavei aquela situação? Queria morrer deveras? Deveria? Doeria? No que daria?

Ouvi a voz da minha irmã, aflita. Ela não sabia se eu ainda estava viva. Nessas horas nem a gente mesma tem lá muita certeza porque desmaia várias vezes, fica tonta, é uma esculhambação. Mas o humor ainda habitava meu corpo. Percebi isso pela idéia que tive quando ela me perguntou como eu estava, se eu podia ouvi-la ou ve-la.

Nesse momento, num "esforço de reportagem" abri os olhos. Vocês não sabem como isso dá trabalho quando se tem pouco sangue no corpo mas ela merecia o sacrifício. Abri os olhos e não resisti à tentação: achei que teria forças para uma piadinha e que riríamos juntas. Enfim, abri os olhos e balbuciei, entre dores e ânsias de riso: "Eis... eis que vejo ... os céus ... abertos...e...o... Filho do Homem... assentado ... no tron... "

Foi demais para mim. Ri. E mori. Porque rir requer um esforço monumental, principalmente para os esfaqueados. Ela não riu comigo. Brincadeirinha mais sem graça!

Mal gosto... Mas ao final das contas observei que foi de imensa valia a piadinha infame. Foi o tema do enterro, dos cânticos, a inspiração do pastor e a placa em minha lápide. Parti como uma bem-aventurada que viu os céus abertos e isso foi um consolo para a minha família.

Mas tem mais! Eu não estava de todo fora do contexto quando disse o que disse. É certo que naquela hora não vi coisa nenhuma, nem anjo nem luz, nadica de nada, mas depois...

Hum! Nem te conto! Você não iria acreditar. Até porque depois de toda essa palhaçada acho que fiquei meio sem credibilidade.

segunda-feira, 16 de março de 2009

Amores sensuais - Confissões


" Vim para Cartago e logo fui cercado pelo ruidoso fervilhar dos amores sensuais... Desejando amar, procurava um objeto para esse amor, e detestava a segurança, as situações isentas de risco.

Tinha dentro de mim uma fome de alimento interior - fome de ti, ó Deus. Mas não sentia essa fome porque não me apeteciam os alimentos incorruptíveis, não por estar saciado, mas porque, quanto mais vazio, mais enfastiado me sentia...

Era para mim mais doce amar e ser amado se eu pudesse gozar do corpo da pessoa amada. Assim eu manchava as fontes da amizade com a sordidez da concupiscência e turbava a pureza delas com a espuma infernal das paixões. Não obstante eu ser feio e indigno, apresentava-me, num excesso de vaidade, como pessoa elegante e refinada. Mergulhei então no amor em que desejava ser envolvido.

Deus, misericórdia minha, como foste bom em derramar tanto fel sobre meus prazeres! Fui amado e cheguei ocultamente às cadeias do prazer, mas na alegria, eu me via amarrado por laços de sofrimento, castigado pelo ferro em brasa do ciúme, das suspeitas, dos temores, das cóleras e das contendas..."

(Trecho de "Confissões", de Santo Agostinho)

sábado, 14 de março de 2009

Sentindo o drama



O mundo seria melhor se todos aprendessem a so colocar um pouquinho no lugar dos outros. Haveria menos máguas, menos agressões, crimes... Um passo para o paraíso.

Posso dizer que compaixão e capacidade de se imaginar no lugar do outro são qualidades que andam juntas, de mãos dadas e aos beijinhos.

E o que tem isso a ver com salsicha? Veremos. Paciência também é uma virtude.

Bem, a sabedoria a ser repassada hoje é: tudo, até a virtude, tem que ser bem dosada. Verdade, queridos discípulos. A gente começa a sentir a dor dos outros - esse é o primeiro passo. Até aí tudo bem - só que depois, se a gente não se cuidar, isso vai "evoluindo" perigosamente.

Segundo passo: há o risco de passamos a atribuir sentimentos humanos aos animais. Ah, você não acha isso grave? Hmmm... entendo... ( A esses já chamo de "borderline" ou "fronteiriços").

As pessoas que se encontram em cima desse muro são numerosas. Certamente tenho vários amigos nessa categoria e não quero perder a afeição deles (o que fazer, céus?!)

Abro agora um parêntesis para a amenizar a "saia justa" na qual me meti. Subo agora em um púlpito imaginário e afirmo solenemente que também me enquadro em outras situações que cheiram, igualmente, a patologia. Formamos uma irmandade, queridos! Não me coloco acima de inguém, só encima, e assim mesmo com a devida permissão do parceiro.

Voltemos: o maior problema mesmo é o terceiro nível porque ele pode ser paralisante, trazendo-nos problemas bem mais acentuados do que os do segundo nível. Esse estágio se configura quando começamos a projetar sentimentos, alegrias e dores em seres inanimados. É aí que entra a salsicha. E onde entra uma salsinha entra tudo o mais.

Faça o teste. Se você marcar um X em mais de 2 casos, procure um psicólogo o mais rápido possível. Repare que esses sentimentos são bem comuns. (Vivemos num hospício).

1) A questão do ursinhos de pelúcia e afins. Já vi gente sinceramente angustiada quando flagra alguém fazendo "maldades" com seus ursinhos.

2) Você não aguenta que dêem socos em seu travesseiro. Tem a nítida impressão de que ele está sofrendo. Também não quer substituí-lo porque parece-lhe que ele se sentirá rejeitado.

3) Acha que uma roupa fica magoada quando você passa muito tempo sem usá-la;

4) Sente que está "assassinando" uma fruta sempre que a corta;

5) Não ingere nada com molho vermelho porque parece sangue.

6) Toda vez que come um ovo lhe vem à mente que está mandando um pintinho para o céu.

7) É vegetariano nem tanto por questão de saúde (a sua saúde) mas por questão da violência contra o animal. Não importa que aquele pedaço de carne já tenha deixado de ser um boi há semanas e que agora seja uma coisa inanimada. Em sua mente insana você vê um boi inteiro mugindo e chorando com os olhos tristes em seu prato.

8) Você atribui personalidade a tudo o que tenha um rostinho: borracha na ponta do lápis, carinha alegre em camiseta... E tem pena de comer o que for comestível (biscoito com carinha)

9) Você não só tem pena de comer: você não come. (obs: essa questão vale 5 pontos)

10) Você tem pena de jogar fora um eletrodoméstico velho que lhe prestou tantos serviços durante a juventude. É como se você desse um pé na bunda de uma empregada doméstica e a deixasse ao relento e sem assistência só porque ela ficou velha. Então você prefere guardar no armário o "bom e velho amigo" que morou a vida toda com você. Visita-o regularmente no armário e quase pede desculpas por usar o novo liquidificador (por exemplo).

11) A imagem que ilustra esta postagem lhe impressionou deveras. Você encontrará dificuldades, de hoje em diante, em comer salsichas. Na verdade já tinha essa dificuldade, só que por "outro tipo" de associação mental.

12) Acha que seu órgão sexual tem sentimento e vida própria, inclusive se governa. Frequentemente você se flagra conversando com ele tentando explicar certas situações e o por quê de algumas impossibilidades. Em alguns contextos você tem certeza de que ele está revoltado e lhe odeia. (Essa questão vale 4 pontos).

Uma Copacabana indescritível




Estes dias estive revendo umas filmagens do final de ano que passamos no Rio de Janeiro, o último conosco, os quatro irmãos, ainda juntos. Era a despedida e não sabíamos. Estávamos em Copacabana vendo os fogos de artifício. Meia noite. Rever aquele momento foi e continuará sendo muito comovente. Seis meses depois meu irmão, que fez as filmagens, partia para sempre.

Pensei comigo: não é justo morrer e deixar todo mundo na curiosidade. Quando eu morrer vou voltar e contar dar com a língua nos dentes. Vou arranjar uma maneira de escapar ou pedir permissão - sei lá - mas acabo com o mistério e jogo tudo no ventilador. Podem esperar. Podem cobrar. Chega de suspense. O que custa cantar a pedra para os amigos?

As pessoas sempre se emocionam com o espetáculo dos fogos... Tenho uma teoria para isso e este parágrafo não está desconectado do anterior.

Enquanto eu pensava essas coisas e olhava no vídeo os fogos, as pessoas emocionadas e ouvia a música tocante ao fundo, pensei que quem morre talvez fosse mesmo assim, como os fogos. O paralelo me pareceu perfeito.

Talvez quando a pessoa se vai, parte em um tal impulso, velocidade e empolgação que esqueçe completamente de quem está aqui em baixo. Assim como os fogos. E brilham por um tempo que na verdade nem existe, posto que eles saíram do tempo.

Impossível dizer por quanto "tempo" os mortos pairam no ar sorridentes, deslumbrados com o fato de agora serem eles o objeto do deslumbramento alheio. Agora são eles a luz, o show, o rastro, as explosões e estrelas. Deve haver platéia nesse não-sei-onde, certamente. Há "os outros" que riem muito e se divertem com os novatos num não sei quê de festa na qual eles, bobos, muito bobos pelo seu novo estado, demoram-se brincando consigo mesmos. Sabe, assim como os bebês levam horas admirando seus incríveis pezinhos e mãos.

Sim, os novos "mortos" devem ser muito engraçados para os que já estão por lá. São fogos em explosão numa Copacabana indescritível!

Segundos de fogos... Que para nós, pobres ficantes, representam meses ou quem sabe anos. Milênios talvez. Quando enfim eles se acostumam com sua própria leveza e velocidade, com o risco de luz e os desenhos imensos que formam, com a infindável possibilidade de arte, sons e alegria que isso representa... ah! Tentam voltar. E não conseguem.

Meu Deus, não conseguem mais. Talvem nem saibam mais para onde voltar ou ... esvaem-se, assim como os fogos de Copacabana.

Tenho a dizer a vocês que eles tentam. Todos tentam. Sei disso porque vi com meus próprios olhos. Sou testemunha!

Todas aquelas pequenas chamas viventes, depois do congraçamento e daquela alegria inenarrável, em um lampejo de memória lançam para nós um último olhar, um "oh, vocês ainda estão por aí!?" e fazem menção de retornar mas não conseguem.

Talvez apenas quisessem dizer "adeus" ou "até breve". Talvez só falar-nos que tudo é muito agradável e não temos nada a temer. Quem sabe quisessem realmente retornar? Jamais saberemos porque apagam-se e fica tudo escuro e não as encontramos mais. Nossos olhos percorrem o céu até onde ele se deixa percorrer mas nos perdemos em um olhar confuso, silencioso. Então é como se nunca tivessem passado por ali. Temos que confiar cegamente em nossa memória.

Estranho que seja assim depois de tanta festa.


Talvez por isso os fogos de artifício nos façam chorar. Instintivamente nós sabemos o que eles significam.

quinta-feira, 12 de março de 2009

Frase do dia

"Querer o bem com demais força, de incerto jeito, pode já estar sendo se querendo o mal por principiar." Guimarães Rosa

Sêquência de piadinhas para desopilar o fígado



Marido chega preocupado em casa e diz à esposa:
- Tenho um problema no serviço.
Esposa:
- Não diga tenho um problema, diga temos um problema, porque os teus problemas são meus também.
Marido: - Tá bem, temos um problema no serviço, a nossa secretária vai ter um filho nosso.

A mulher entra num restaurante e encontra o marido com outra:
- Pode me explicar o que é isto?? E ele responde:
- Só pode ser azar!!!

- Carmen, você está doente? Te pergunto porque eu vi sair um médico da sua casa, esta manhã.
- Olha, minha querida, ontem eu vi sair um militar da sua e nem por isso você está em guerra, não é verdade?

- Diga-me, por que motivo você quer divorciar-se de seu esposo?
- Meu marido me trata como se eu fosse um cão!
- A maltrata? Bate?
- Não, quer que eu seja fiel!

Um ladrão grita ao outro, em meio a um roubo:
- A polícia está aí!
- E agora, que fazemos?
- Vamos pular pela janela!
- Mas, nós estamos no 13º andar!
- Agora não é hora pra superstições!!!

O velhinho no leito de morte pergunta à esposa:
- Querida, por favor, seja sincera. Eu sempre achei nosso 6º filho um pouco estranho. Ele tem um pai diferente dos outros, não tem?
Em lágrimas, a mulher pede perdão e diz que sim. O marido pergunta curioso:
- Então, quem é o pai ? E a mulher, muito sincera responde:
- É você...

Em Londres, marido e mulher se acomodam na mesa de um restaurante. O garçom pergunta:
- O que os senhores desejam?
- Eu quero um filé mal passado! - responde o homem.
- Senhor... tem certeza? E a vaca louca?
- Sei lá, pergunta aí pra ela....

Num dia de muito calor, o marido sai do banho pelado, chega pra esposa e fala: - Meu bem, está muito quente... o que você acha que os vizinhos vão dizer se eu for cortar a grama assim, completamente nu? A mulher olha pra ele e responde: - Provavelmente, que eu casei com você só por dinheiro...

quarta-feira, 11 de março de 2009

A EXCOMUNHÃO DA VÍTIMA - Miguezim de Princesa


I
Peço à musa do improviso
Que me dê inspiração,
Ciência e sabedoria,
Inteligência e razão,
Peço que Deus que me proteja
Para falar de uma igreja
Que comete aberração.

II
Pelas fogueiras que arderam
No tempo da Inquisição,
Pelas mulheres queimadas
Sem apelo ou compaixão,
Pensava que o Vaticano
Tinha mudado de plano,
Abolido a excomunhão.

III
Mas o bispo Dom José,
Um homem conservador,
Tratou com impiedade
A vítima de um estuprador,
Massacrada e abusada,
Sofrida e violentada,
Sem futuro e sem amor.

IV
Depois que houve o estupro,
A menina engravidou.
Ela só tem nove anos,
A Justiça autorizou
Que a criança abortasse
Antes que a vida brotasse
Um fruto do desamor.

V
O aborto, já previsto
Na nossa legislação,
Teve o apoio declarado
Do ministro Temporão,
Que é médico bom e zeloso,
E mostrou ser corajoso
Ao enfrentar a questão.

VI
Além de excomungar
O ministro Temporão,
Dom José excomungou
Da menina, sem razão,
A mãe, a vó e a tia
E se brincar puniria
Até a quarta geração.

VII
É esquisito que a igreja,
Que tanto prega o perdão,
Resolva excomungar médicos
Que cumpriram sua missão
E num beco sem saída
Livraram uma pobre vida
Do fel da desilusão.

VIII
Mas o mundo está virado
E cheio de desatinos:
Missa virou presepada,
Tem dança até do pepino,
Padre que usa bermuda,
Deixando mulher buchuda
E bolindo com os meninos.

IX
Milhões morrendo de Aids:
É grande a devastação,
Mas a igreja acha bom
Furunfar sem proteção
E o padre prega na missa
Que camisinha na lingüiça
É uma coisa do Cão.

X
E esta quem me contou
Foi Lima do Camarão:
Dom José excomungou
A equipe de plantão,
A família da menina
E o ministro Temporão,
Mas para o estuprador,
Que por certo perdoou,
O arcebispo reservou
A vaga de sacristão.

segunda-feira, 9 de março de 2009

Adesivo para o seu carro

Pedofilia


Hoje pela manhã assisti no jornal a uma cena...

Um menino de uns oito anos de idade. Parecia uma fera. Em um acesso de fúria ele saiu gritando pela casa com um cabo de vassoura na mão e tentava agredir seus familiares ou qualquer pessoa que estivesse por perto. Estava fora de si, descontrolado.

Não se tratava de um deliquente. Ele não deveria ser castigado, sequer repreendido. Ele deveria ser alvo do nosso mais profundo respeito. Ele precisava de alguma coisa que vai além da pena, além da misericórdia. Algo que está em um terreno sagrado entre o amor e o respeito mais reverente.

Se eu estivesse ali ficaria desconcertada. Fiquei desconcertada em casa, com uma dor horrível no peito.

Não pensei que pudesse ser assim. Nenhum discurso, nenhuma teoria, nenhuma reportagem falada, nada teve o poder de me tocar mais fundo do que esta cena.

Aquele menino saiu de si "apenas" porque lhe mostraram a foto do homem que abusou sexualmente dele. Chorei. Juro que não pensei que pudesse ser assim.

Como pude ser tão alienada? Como pude, durante tanto tempo, não entender a extensão do estrago que um ato desse causa na alma de uma criança?

Meu Deus, aquele menino gritando pela casa com uma vassoura na mão tentando atacar pai, mãe, irmãos, com a mente em frangalhos me impactou terrivelmente. Estou aqui com um nó na garganta. Estou angustiada. O que eu faço? alguém aí me diga pelo amor de Deus o que eu faço po aquele garoto! Minha garganta está de fato doendo com esse nó. Ele parecia um louco. Jesus Cristo, o que ele deve estar passando? O que pensa quando dorme? Será que consegue verbalizar o horror?

Ele se deixaria abraçar por mim? E se deixasse, isso lhe traria algum conforto? Minha compreensão parcial de sua dor amenizaria seu desespero? Mas eu não significo nada! Meu Deus coloque um anjo, um anjo em seu caminho.

Nada, nenhum discurso, nenhuma aula de psicologia teria o poder que aquela cena teve sobre mim. Não vou esquecer nunca mais do menino descontrolado, aos berros, com a vassoura na mão.

Ah, pára!


Mentira.

Se você me manda sorrir é porque vê que estou triste.
Se você me amasse não me mandaria sorrir sabendo que não estou bem.

Se me amasse a minha tristeza não te incomodaria; não nasci para te divertir.
Você me veria como sou: uma pessoa real, cheia de complexidades. Não se sentiria frustrado ou incomodado quando eu não cumprisse minha "função" de "seu entretenimento".

Se você me ama você respeita o meu momento. Coloca-se ao meu lado, tenta fazer alguma coisa pra me deixar pra cima. Se for possível, ótimo. Se não, apenas ficará ao meu lado em silêncio. Se eu precisar ficar sozinha você entenderá e ausentar-se-á por uns dias sem mágoas porque sabe que se hoje estou assim, amanhã poderá ser a sua vez e eu vou entender.

Se você me ama e me vê triste, por favor não me agrida querendo que eu sorria.
Quem ri na tristeza é histérico, tá muito mal mesmo. Não sou histérica.

"Sorria, sempre sorria, mesmo que o seu sorriso seja triste porque mais triste do que um sorriso triste é a tristeza de não saber sorrir".

Essa é a frase mais idiota que eu já ouvi em minha vida.

quinta-feira, 5 de março de 2009

Piada do dia: Temporão sugere que Obama adote SUS nos EUA

Só pode ser piada uma notícia dessas!

Você acredita que o ministro da Saúde, José Temporão, sugeriu ao presidente norte-americano, Barack Obama que adote, nos Estados Unidos, a política de saúde pública utilizada aqui no Brasil? Ele teve a coragem de dizer que "No momento, o Brasil comemora (?!) 20 anos de estruturação (!!!) de uma política pública da importância do SUS, tão importante, tão importante, que o Barack Obama está procurando uma coisa parecida com o SUS para resolver o problema da saúde pública dos Estados Unidos", afirmou José Temporão, em discurso, no Palácio do Planalto.

Será que a mãezinha dele é atendida pelo SUS? E os filhos?

Ele disse que se contasse com o orçamento dos EUA ele conseguiria fazer o melhor sistema de saúde do mundo. Será? O maior orçamento do mundo não garante um bom sistema de saúde pública se for guardado na gaveta da Mãe Joana.

Se o dinheiro da saúde pública ficasse na saúde pública, teríamos uma excelente saúde pública.


Se o dinheiro arrecadado pela Previdência Social ficasse de fato na Previdência Social teríamos uma excelente Previdência social.


O problema do Brasil é o saco furado.

O Ministro Temporão continua: "Lá (nos EUA) são US$ 670 bilhões e nós estamos, modestamente, com R$ 50 bilhões" comentou, insistindo que lá 45 milhões de norte-americanos não têm qualquer direito a atendimento médico e aqui o atendimento é para todos. TODOS? QUE TODOS? Esse cara tá doido?

quarta-feira, 4 de março de 2009

Simbad Safari IV - Um nada


Não quero deixar passar em branco um animal curioso como o camelo, geralmente tão admirado pelas crianças. Só que não tenho praticamente nada a dizer sobre ele. É um zero à esquerda.

Tem um ar arrogante não sei devido a quê, com aquela cara de pobre. Passa pra lá e para cá todo cheio de ginga, com molejo de quem vai se encontrar com a galera. Só te olha de soslaio como quem faz pouco caso. Nada simpático e absurdamente fedorento.

Não me acrescentou nada. Um espírito ralo, isso sim, com cara de vagabundo. Não por isso, mas por um sei-lá de sexto sentido que quando me convém eu juro que tenho, afirmo a vocês que o camelo é maconheiro contumaz. Se derem um bacolejo nessa corcova dele, é capaz de acharem muito bagulho. Tô só avisando.

terça-feira, 3 de março de 2009

Simbad Safari III - Lição de vida II


NÃO SALVEM OS HIPOPÓTAMOS!
Foi a primeira coisa que pensei quando vi esse animal melequento, ensebado, feio, obeso com cara de sujo, incapaz da menor gracinha e indiferente à minha pessoa. Quem quer um hipopótamo? Totalmente desajeitado! O elefante é pesadão, ocupa espaço mas é simpático, tem aquela tromba com mil e uma utilidades, está sempre sorrindo e tal, tem emprego, trabalha no circo, a gente sente que é um cara responsábel. Mas o hipopótamo...

Eles me lembram aquelas donas de casa relaxadas que andam sempre arrepiadas, cujas cozinhas são imundas, as panelas sujas e grudentas, os filhos remelentos, o vestido pingado de gordura, o sutiã encardido, a calcinha deus-me-livre, o canto da boca ainda com o resto da farofa do almoço... Não! Não salvem os hipopótamos!!!!

O que é que estou dizendo? "Cristina, reflita!"

Aí caí em mim e deparei com a miséria do meu ser. Por quê a aparência é assim tão importante, hã? Quer dizer que o lhama, que não passa de uma ovelha pescoçuda, merece viver só porque é fofinho? Os peixes de aquário, que não fazer nada de útil a não ser rebolar na água o dia inteiro, podem viver só por causa das lantejoulas? Agora o hipopótamo, que não teve boa formação, não contou com uma mãe que lhe ensinasse um mínimo de boas maneiras, cresceu na favela tem mais é que morrer?

Por quê só os bichinhos fofos merecem a nossa proteção?

Aí meu raciocínio (rocambolesco, confesso) pulou para outra questão: temos tanta pena das criancinhas pobres. Porque temos pena só das criancinhas pobres? Por que nos esquecemos que dentro dos apartamentos luxuosos existem crianças abandonadas sim, abusadas, asustadas? Algumas mansões por dentro não passam de castelos-fantasmas com crianças solitárias, sem um mínimo de orientação para a vida, com pais drogados e mães peruas prostituídas. Só que as crianças pobres visivelmente não tem nada e aí é mais fácil despertar a nossa pena. Já as outras... Ah, elas tem muito dinheiro. Nós as invejamos. Que se danem.

As vezes acho que, por dentro, somos mais feios do que os hipopótamos...

segunda-feira, 2 de março de 2009

Simbad Safari II - A dor de ser





Ainda dentro do impacto causado pela visita aos honrados moradores do Simbad Safari, tenho a destacar a profunda impressão em mim causada pela girafa.

Ao contrário dos macados que são descontraídos, irreverentes, feios e, por que não dizer? insolentes (não gosto de macacos) as girafas são tristes. Nem precisa dizer muito, é só olhar. Confira!

Nada a ver com o que tentam nos fazer acreditar nos desenhos animados, onde elas são retratadas com uma alegria e uma mobilidade que definitivamente não fazem parte de suas vidas.

A realidade é muito diferente... É visível que elas trazem um peso no coração, uma tristeza enorme, talvez pelo estado limitado que a natureza lhe impôs.

Ao contrário dos outros animais que se aproximavam de nós animados, quase sorridentes esperando algum agrado ou alimento, ela se chegou lenta, angustiada. Deu uns poucos passos em nossa direção e logo depois se afastou desistente. Sabia que não seria possível baixar o pescoço o suficiente para que a tocássemos, para que recebesse nada de nós. Aquele pescoço enorme, limitante.

Ninguém nunca lhe faria um cafuné, ninguém nunca lhe diria coisas engraçadas, apelidos, nada. A girafa é obrigada a viver entre nós e ao mesmo tempo distante, lá em cima. Ela se chega instintivamente porque sente necessidade de contato humano. Quem não deseja amigos? Quem não quer um agrado, um sorriso? Um amendoim? Até o mais ridículo jabuti consegue, mesmo cágado, alguma proximidade. Ela não: chega e logo vai porque não adianta; sua vida é triste e solitária.

Sua solidão é diferente da dos pássaros. Os pássaros não estão nem aí. Eles querem mais é ficar longe mesmo. A gente chega perto, eles vazam. Devem nos achar horrorosos. Não as girafas. Elas nos olham como se quisessem dizer alguma coisa, como se tivessem um grito na garganta. Fitam-nos por uns instantes mas logo ficam de costas e seguem lentamente seu caminho. Depois é só silêncio...

Até hoje não sei qual o barulho que as girafas fazem. Piam? Mugem? Berram? Grasnam? Quem sabe? E lá de cima, quem ouve?

E já pensaram em como deve ser duro sentir uma coceira na orelha e nada poder fazer? Gente, como a girafa coça a orelha?

Quando uma girafa se vai, não adianta chamar de volta. É melhor deixá-la ir. Quando fica de costas, sinto que está lagrimando. Tadinha. É a cara da melancolia...

domingo, 1 de março de 2009

Simbad Safari I - Uma lição de vida


Pra você ver... As vezes a gente tem que olhar um pouco a nosso redor, ver os problemas dos outros pra poder entender que nossa cruz nem é tão pesada assim.

Semanas atrás fiz uma pequena cirurgia que me impedia temporariamente de dormir de lado ou de bruços. Pequeno incômodo mas que em meu mundinho fútil pareceu enorme. Isso me irritou, me colocou meio pra baixo emocionalmente. Fisicamente, claro, eu só podia ficar pra cima.

Fiquei com vergonha de mim mesma quando, revendo umas fotos tiradas no Simbad Safari, em São Paulo, deparei-me com a imagem deste amigo (acho que ele é veado) e pensei "Pôxa Cristina, você é uma fraca, uma ingrata contra os céus! Reclamando de umas noitezinhas desconfortáveis e olha aí "pessoas" em situação muito pior que a sua! Quando este ser pôde dormir confortavelmente uma noite sequer em sua vida?"

Depois desse episódio tornei-me uma pessoa muito mais humana. Vivo intensamente cada minuto de minha existência e dou valor às coisas mais simples que me acontecem.

Lição de vida.

segunda-feira, 30 de março de 2009

Medo de dormir


É tarde, chove, estou cansada mas... por algum motivo estranho, estranhíssimo, reluto em dormir.

Não estou com insônia. Estou com sono e quero ir para o quarto, mas tenho receio! Não é medo noturno. É outro tipo de medo. É medo de terminar um dia que não terminou direito.

Estou com a estranha sensação de que deixei de fazer algo importante e não posso dormir, não posso. Não posso fechar esse dia, essa porta, essa tranca. Há algo pendente mas não sei o que é, só percebo com meu instinto porque meu instinto não está conseguindo sossegar .
Preciso falar com alguém? Talvez assinar um papel? Ou tomar uma decisão? Um remédio? Ou talvez esperar um telefonema ou... Ou o quê uma hora dessa?

Por quê o meu dia emocional não fecha? Por que hoje não me vem aquela sensação de que realmente terminou o expediente? O que está faltando? Por que não vou dormir se meu corpo pede?
O quê em mim não veste o pijama de flanela, não se acomoda e fica em paz?

01:30 e estou com medo de dormir. Medo de fechar a porta com alguma coisa do lado de fora, na chuva me esperando...

Kadafi

O esqueleto e a solidão

Hoje resolvi falar sobre SOLIDÃO. Aliás essas bolas inexpressivas, imóveis e desoladas, cada qual em seu canto, sem braços que se abracem, mirando-se e ao mesmo tempo de costas umas para as outras são o retrato da solidão no que ela tem de mais desconcertante... e dolorido. Acho que a solidão, principalmente a acompanhada, são bem representadas por estas bolas imóveis.


O fato é que todos acabaremos sozinhos, principalmente se não morrermos antes. Não tem jeito de eu estar acompanhada até o fim da minha vida.

Olhe para os lados. Olhe para a pessoa que teoricamente está com você. Você tem mesmo certeza de que já não está só?

O que pode haver de mais patético do que prolongarmos um relacionamento solitário por medo da solidão que já está ali, instalada e empedernida? Se pararmos de dar uma de "João Sem Braço" não admitiríamos que estamos sozinhos há anos? Medo de quê, então? Da própria sombra?

Isso me faz recordar uns versinhos do meu tempo de criança. Era engraçado, estava em meu livro de Português. Não lembro das rimas mas contava a história de um garotinho que tinha muito medo dos esqueletos das aulas de ciências. Certa vez entrou sozinho em uma sala onde deu de cara com um deles em um pedestal. Assustado deu um grito e saiu correndo, apavorado.


Os versos terminavam com a sábia conclusão do menino que, de repente, caiu em si. Atentou para o ridículo da situação quando refletiu: "como posso fugir de um esqueleto tendo outro esqueleto em mim?" Era essa a última frase do verso, que rimava obviamente com a antepenúltima.


Quanto à solidão, a associação praticamente já está feita. O medo tem sido o grande aliado da raça humana, principal responsável pela sua sobrevivência e é inteligtente de nossa parte temer o que pode ser evitado e signifique preservação da nossa vida. Tolice, mas tolice mesmo é temer o inevitável. Pior: temer o que já está instalado em mim há anos, desde sempre. Assim, como o esqueleto... e a solidão.

domingo, 29 de março de 2009

Que volte a censura!



Sério: deveriam tomar mais cuidado com o que andam publicando por aí. Algumas fotos por exemplo tem o poder de causar prejuízo devastador em nossa auto estima.

Que a atleta Yelena Isinbayeva dê seus saltos, ganhe suas medalhas tudo bem, parabéns. Mas humilhar a gente com seu super corpo gordura zero, peraí! Exibir equilíbrio perfeito entre os atributos feminilidade/beleza/músculos/vigor, aí já é demais!

Acho o máximo esse ar de "não estou aqui pra posar de objeto pra você, seu babão. Não me confunda com essas vagabundinhas que você vê em revistas de quinta categoria. Sou atleta e você não tem o meu pique nem drogado. Fique na sua."

Depois não querem que a gente fique anorexica, bulímica e deprimida. Tem dó! Você pode pegar a Yelena e torcê-la como quiser, dobrá-la como se fosse guardar em uma caixinha de fósforos e nem assim pulará uma gordurinha sequer. Ela pode usar jeans apertado, top e ficar meia hora agachada tentando juntar uma gilete no chão e nada. Muito desaforo.

Quem tem inveja de modelos adolescentes pele-e-osso? Eu não. Mas corpo de atleta como esse aí é pra derrubar qualquer uma do sapato alto.

E dá licença que eu vou ali na esquina encher a cara.

sexta-feira, 27 de março de 2009

Janela vermelha

É isso mesmo o que eu quero: uma janela vermelha, bonita e vivaz, que quando eu acorde me acolha assim, de batom, apontando para mil possibilidades lá fora: flores, caminhos, caminhozinhos, trilhas, cantinhos.

Uma janela vermelha é um bom começo de dia e é, em si, um bom sinal. Ninguém tem uma janela vermelha a toa. Há de possuir também colcha de retalhos e pote de biscoitos caseiros. Ninguém as tem se não sai para passear de repente, de cabelos soltos, e come bolo no final da tarde olhando o sol poente enquanto as mães passeiam com seus bebês.

Quem tem janela vermelha tem incenso e fotos de muitas férias. Tem caixas com bugigangas, livros sublinhados, um quadro de algum amigo. Tem também chapéu para ir à feira e ingressos para o teatro.

Ninguém se sente só com uma janela vermelha pela qual olhar o mundo imenso e convidativo.

Hei de ter a minha, sorridente como ela só, com uma linda cadeira de madeira por perto. Hei de ter brincos indianos e vestido de cigana só para comprar revistas quando der vontade. E quando, lá embaixo, eu estiver molhando as flores, hei de olhar pra cima e ver de relance na janela vermelha a minha imagem feliz e sozinha sorrindo de volta.

quinta-feira, 26 de março de 2009

Das mentiras contadas para as crianças

Considerando que eu copiei descaradamente este texto do site http://www.insoonia.com/, se der alguma coisa errada vocês processam o dono daquele site e não a mim, combinado?


Particularmente tenho minhas dúvidas quanto ao conteúdo do que segue. Coloquei aqui para provocar uma acalorada discução e centenas de comentários acirrados, participação de cientistas renomados e toda essa coisa de mídia, entrevista etc. Vamos lá, clique aqui para continuar lendo o texto.


quarta-feira, 25 de março de 2009

Ainda sobre aquele papo de estupro, aborto e excomunhão


Gente, pensando bem esse assunto só serve mesmo pra vender jornal.

Não acredito na indignação sincera de nenhum dos que protestaram contra a atitude de dom José Cardoso Sobrinho. Só bate-boca de quem não tem o que fazer.

Acompanhem meu raciocínio: qualquer católico, até o mais esculhambado do mundo, sabe qual o entendimento e as linhas de conduta da igreja católica. Surpreso com o quê, me diga?

Se continua católico é porque quer. Ninguém o obriga. Tem alguém com uma faca em sua garganta? Se não concorda com a igreja, saia dela cara! Tem igreja pra todo gosto por aí! Escolha outra, invente uma sob medida pra você ou seja mais cabeça: largue todas e fique só com Jesus.

Se você é católico e tá lá dentro é porque concorda. Se está lá dentro e fica só falando mal, é espírito de porco. Nesse caso o arcebispo está sendo mais coerente que você porque ele é católico e pelo menos agiu como se espera de um católico de carteirinha: obedeceu as regras.

O arcebispo não tem autoridade pra criar jurisprudência, até onde eu saiba, nem pra pensar demais. Tá previsto a excomunhão? Então toma-te. E não me venha complicar o assunto falando em Jesus Cristo que aqui a gente está falando de religião. Jesus é ooooutra história.

Excomunhão... E qual o problema? Alguém morreu com isso? É o ato mais inócuo que se possa imaginar. É como declarar que daqui por diante o céu não será mais azul, mas verde. Você acha mesmo que Deus está agora "de mau à morte" com o pessoal que foi excomungado? Tá chateado, não quer nem olhar pra eles? Magoou. Quem acredita nisso?

Quem acredita nisso é o católico, mas católico mesmo. Nesse caso esses fiéis não estão se insurgindo contra o arcebispo, mas rezando para que os excomungados sejam logo readmitidos à comunhão da igreja. A eles, meu respeito.

Agora aos não católicos e ateus em geral, vão catar coquinho! Que diferença faz o que o arcebispo falou ou deixou de falar?

Culpa do desemprego. Muita gente sem ter o que fazer...

terça-feira, 24 de março de 2009

Ensaio sobre a cegueira

Você está louquinho para saber a minha opinião sobre esse filme? Não consegue nem dormir enquanto eu não disser o que achei? Então clique aqui.

segunda-feira, 23 de março de 2009

BIG BROTHER

Clique nas imagens para ampliá-las.





Visite o dono das imagens. O site é legal: http://opanca.blogspot.com/

Quem diria!


Apenas dez anos depois de tirar esta foto eu já estava casada, em outra cidade e com um bebê no colo! Eu hein!

Cara, muito doido. É tudo completamente imprevisível. Nessa imprevisibilidade repousam tanto os nossos receios quanto as mais caras esperanças de cada um de nós.

"E quem um dia irá dizer que existe razão nas coisas feitas pelo coração? E quem irá dizer que não existe razão?"

domingo, 22 de março de 2009

E como essa, outras


Esta é Beth Ditto, vocalista da banda The Gossip. Ela saiu nua na capa da revista Love.
Interessante observar que as mulheres gordas não são necessariamente feias sem roupas. Podem ser ou não, assim como as magras, as brancas, as baixas, as altas, as negras... Gente feia e gente bonita tem de todo o jeito.
Não estamos acostumados a ver gordos se exibindo. Talvez pelo mistério e pela propaganda pró-osso, formou-se no imaginário popular a idéia de que uma mulher gorda, sem roupa, não haveria de ser bonita. Engano. Essa tem sua dose de encanto e por dedução deve haver muitas outras.
Quem procura, encontra.

sábado, 21 de março de 2009

Bateu meio atravessado...


Esses dias eu assistia um noticiário na tv. Um desses muitos, tanto faz.

O tema era edificante: "INCLUSÃO SOCIAL" em uma área carente de uma cidade brasileira. Ao fundo víamos não jovens de macacão em oficinas mecânicas, como aprendizes. Não crianças em aulas de português, computação, corte e costura, jardinagem, pintura, jovens em cursos gratuitos para prestar vestibular, jovens em cursos gratuitos para concorrerem em concursos públicos, curso de recepcionista, maquiagem, babá, segurança... Nada disso. Vi jovens, inclusive crianças, todos muito alegres cantando, batucando, dançando e muito especialmente rebolando.

Digo muito especialmente porque despertou minha atenção a desenvoltura de uma garotinha de uns sete anos de idade em seu rebolado erótico. Parecia uma minhoca na areia quente. E não me faça cara feia porque vou repetir: garotinha de uns sete anos sendo iniciada em rebolados eróticos.

Mexia os quadris de forma ágil diante das câmeras mostrando tudo o que já aprendera e sugerindo com que facilidade aprenderia o resto. Em sua inocência desconhecia que aquela maneira de movimentar os quadris era uma alusão ao ato sexual, um gesto que remetia ao acasalamento, reconhecido instintivamente por qualquer macho humano, quer admita isso quer não. Dificilmente algum admite, tanto isso é verdade que sou eu, uma mulher, que estou escrevendo este texto. Pode pegar mal um homem dizer o que estou dizendo.

Programa de "inclusão social"...

Inclusão: "ato de inserir, meter dentro." Tá bom. Tudo a ver.

Sabe, por um instante, em um lampejo, me coloquei na situação dos homens que porventura lutam desgraçadamente contra sua inclinações pedófilas e tem que conviver com meninas sendo exibidas eroticamente assim, de bandeja, como se ninguém sacasse o efeito daquilo sobre suas mentes insanas. Também pensei: o efeito é mesmo só sobre as mentes insanas???

Não sei como é a cabeça de um pedófilo mas imaginei que se eu fosse homem e me flagrasse com esse tipo de inclinação, procuraria ajuda terapêutica, psiquiátrica e em não encontrando meios de fugir de mim mesmo, desesperar-me-ia, pensaria na morte.

Já ouvi falar de homossexuais que não se aceitam, que choram, lutam, esperneiam mas que não conseguem deixar de ser o que são. Quase toda a sociedade incentiva essas pessoas a saírem do armário e pronto, fazerem as pazes consigo mesmas, aceitarem sua condição e serem felizes. Com os pedófilos a situação é radicalmente diferente: eles não podem mesmo se aceitar porque o que desejam é inaceitável, é crime, é nojento.

Por que provocar?

Sei que existem os monstros que ainda tentam justificar o assédio a uma criança. Não estou tratando dessas pessoas aqui. Estou falando daqueles que recém descobriram suas inclinações, sabem que é horrível, têm medo de si mesmos e do que podem ser capazes de fazer. Estou pensando nesses, que ainda tem que conviver com esse tipo de maluquice social: por um lado a sociedade os condena e por outro a mesma sociedade pega suas filhas e as exibem na cara dura para serem desejadas como objeto sexual.

Pelo amor de Deus, as crianças são inocentes mas os adultos não. Acho que está mesmo é todo mundo doido. Colocar garotinhas maquiadas como mulheres rebolando de pernas abertas e achar que isso não tem apelo sexual? Não me façam rir! Todo mundo sabe muito bem o que isso significa.

É, me preocupo e me entristeço com a situação dessas crianças em exposição que não sabem em que tipo de jogo estão metidas nem que tipo de reação provocam. E se não consigo entender a cabeça de um pedófilo, afirmo com todas as letras que também me é incompreensível a mentalidade de um pai e uma mãe que aceitam expor uma criança de forma "comestível" e ainda acham tudo muito bonitinho.

sexta-feira, 20 de março de 2009

Injustiça

Acho super injustas as piadinhas tipo essa, representada pela imagem acima. Isso sempre me incomodou. Não são os homens que tomam a iniciativa de pediu a mulher em casamento? Não são eles que "pedem a mão" ? Então por quê essa imagem de que ele teria sido fisgado como um pobre peixe?

Raro são os casos em que a proposta (eu não falei sugestão) de casamento partiu da mulher. Claro que frequente ela dá uma pressionada, mas costuma ser uma coisa suave e não vai muito além do "o que você acha, amorzinho?"

Até famozézimo "golpe da barriga" deve ser classificado como pressão psicológica porque filho é filho, é sagrado, mas ninguém é obrigado a assumir a mãe da criança no mesmo pacote. Em resumo: acho sem graça essas piadinhas. Homem no altar amarrado? Só se for pelo coração.

quinta-feira, 19 de março de 2009

quarta-feira, 18 de março de 2009

Foi-se Clodovil



Uma das qualidades que mais admiro em uma pessoa é a coragem de mostrar a cara, ser o que é, dizer o que pensa e aguentar o tranco.

Apesar de ser homossexual assumido, Clodovil era "muito macho" pra isso. Parabéns para ele, que viveu em meio a uma sociedade repleta de heterossexuais frouxos.

Essa teimosia em impor a própria liberdade é uma das formas de viver a vida que mais me fascina e pela qual mais luto. Digo que luto porque isso não cai do céu: a gente conquista. Tem um preço sim senhor e não é barato não. Às vezes custa-nos oportunidades e até mesmo "amigos".


Digam o que disserem dele mas admitam: tinha uma personalidade marcante. Não afirmo que era simpático. Não era, pelo menos da distância que o via. E imagino que pessoalmente, para os desconhecidos, fosse insuportável. Mas tinha amigos, então na intimidade deveria mostrar-se a pessoa maravilhosa que todos somos quando podemos, quando queremos, quando temos chance de ser. Penso o mesmo do Jabor sem lhe diminuir as virtudes - mas despois falo dele: hoje é o dia do Clodovil.


Espirituoso, elegante, sarcástico como só as pessoas livres e inteligentes conseguem ser, Clodovil deixa mais triste nosso cenário público, repleto de figuras opacas, as vezes irritantes e noutras, odiosas.

By.

terça-feira, 17 de março de 2009

Meu dia de fúria - Um conto


Amanheci numa dessas amanhecidas azedas, atravessadas. Tomei banho, me perfumei e me vesti da melhor maneira que pude pra ver se a coisa melhorava. O velho truque da gente se produzir para levantar o astral. Quem é mulher entende.

Entrei no carro, saí. Tudo normal - tão normal que ainda não fora possível perceber se de fato a produção operara algum efeito benéfico sobre meu estado de espírito.

Eu tava na minha, linha reta, não mexi com ninguém. Não sabia se me sentia bem ou mal mas isso não é crime. Dirigia rigorosamente dentro das leis do trânsito o meu carrinho popular não muito limpo - o que também não é crime, não me olhe atravessado! Tocava no rádio uma música razoável que não vem ao caso. O que aconteceu não é culpa da música.

Trânsito chato: pára, vai, pára, vai. Numa dessas paradas mais longas se aproxima um mal encarado. Encarei o mal encarado meio entediada, como quem vê um bezouro voando do outro lado do vidro.

Ultimamente ando meio cansada de desgraças. Quando a gente não ouve falar, liga a televisão e vê. Quando vai ao cinema, pode ser o filme que for: tem sempre cenas de miseráveis aos borbotões. Hoje, como acordei com o ovo (?!) atravessado, resolvi ser indiferente a tudo, desse no que desse. A indiferença é o melhor escudo. Se não era, naquele dia seria e dane-se.

Danar-me-ia.

O farrapento com cara de poucos amigos aproximou-se do meu carro, bateu no vidro para que eu o baixasse. Olhos arregalados, magro como ele só. A essas alturas eu já estava tão mal encarada quanto ele, apesar da Natura, Avon e Boticário.

A verdade é a seguinte: faz tempo que eu andava querendo mesmo que algo drástico me sobreviesse. Ééééé isso meeeeesmo, pode me chamar de doida. Tava cansada de tudo, de todos, de mim mesma principalmente. Só queria um pretexto pra chutar o pau da barraca. Tava naquela de torcer para o garçon derramar sopa no meu vestido, pro porteiro fechar o portão com o meu carro no meio, para a atendente do consultório ter esquecido de anotar meu nome na agenda - qualquer coisa pra botar fogo no circo. Queria mais é que pisassem no meu calo!

Não sei explicar e você não sabe entender, então chega de teorias porque afinal de contas estamos no meio da história e explicar muito acaba quebrando o clima.

Só sei que naquela hora eu podia escolher entre gritar, desmaiar - acelerar não dava - ou submeter-me às ordens daquele ladrãozinho de merda mas achei todas essas opções meio comuns, muito previsíveis. O fato é que o "comum" e o "previsível" eram justamente os elementos que haviam me colocado naquele estado anti-zen. Sendo assim, já sem pensar em nada e adorando isso, resolvi provocar Deus e o destino. Se o Altíssimo fazia muita questão de manter-me viva, que desse um jeito naquela situação porque ninguém me segurava: eu resovi despirocar de vez!

Não baixei o vidro. Saí da p**** do carro repentinamente, o que assustou o cara, que era mais baixo do que eu. Perguntei, espumando ódio, o que ele queria. Foi o tempo de ele se recompor e recuperar a valentia. Exigiu minha bolsa. Não vi revólver, então disse que não ia dar p*** nenhuma e fiz menção de voltar pro carro. Ele me segurou pela blusa e sei lá de onde apareceu uma faca. E sei lá de onde apareceu mais ódio e uma valentia de gladiador. Não sei em quem eu me fiava mas achei inebriante esse novo comportamento destemido. Era boooomm!

Empurrei o cara, ele caiu. Adorei. Mas o lazarento parecia que era de borracha porque saltou de volta e se pôs de pé antes que eu voltasse para o carro pra me trancar em segurança. Rapidinho ele me furou várias vezes. A primeira facada foi no pescoço, com certeza. A segunda no ombro e o resto não sei. Não fiquei contando. Sei que ainda consegui lhe arranhar a cara. Acho que acertei um soco em algum lugar mas foi meio sem força.

Daí pra frente é tudo misturado. No limiar da vida, tempo não conta. Lembro de algumas frases, alguns momentos específicos e pausas entre uma coisa e outra.

Eu desconfiei que estava morrendo quando abri os olhos e vi em volta de mim um monte de gente com o olhar consternado. Eu deveria estar horrível. Vi depois alguns rostos conhecidos. Não sei mais se eu ainda estava no local do crime mas olhei para cima (que não sei se era teto ou se era céu) procurando algum sinal, uma luz, uma aparição, sei lá. Não riam! Eu tava morrendo, gente! Tinha todo o direito de esperar um lance sobrenatural. Nunca se sabe.

Bem, não vi nada. Minha pieguice me pareceu sumamente engraçada naquele momento e ri de mim mesma. Alguns se comoveram com o meu olhar elevado às alturas e o sorriso piedoso. "Ela está indo... Deve estar vendo anjos... Oh Senhor!"

Comecei a sentir dor - não muita, mas o suficiente para deixar de achar qualquer coisa engraçada. Mexiam em mim. Não sei se me examinavam, se me transportavam... Por que cavei aquela situação? Queria morrer deveras? Deveria? Doeria? No que daria?

Ouvi a voz da minha irmã, aflita. Ela não sabia se eu ainda estava viva. Nessas horas nem a gente mesma tem lá muita certeza porque desmaia várias vezes, fica tonta, é uma esculhambação. Mas o humor ainda habitava meu corpo. Percebi isso pela idéia que tive quando ela me perguntou como eu estava, se eu podia ouvi-la ou ve-la.

Nesse momento, num "esforço de reportagem" abri os olhos. Vocês não sabem como isso dá trabalho quando se tem pouco sangue no corpo mas ela merecia o sacrifício. Abri os olhos e não resisti à tentação: achei que teria forças para uma piadinha e que riríamos juntas. Enfim, abri os olhos e balbuciei, entre dores e ânsias de riso: "Eis... eis que vejo ... os céus ... abertos...e...o... Filho do Homem... assentado ... no tron... "

Foi demais para mim. Ri. E mori. Porque rir requer um esforço monumental, principalmente para os esfaqueados. Ela não riu comigo. Brincadeirinha mais sem graça!

Mal gosto... Mas ao final das contas observei que foi de imensa valia a piadinha infame. Foi o tema do enterro, dos cânticos, a inspiração do pastor e a placa em minha lápide. Parti como uma bem-aventurada que viu os céus abertos e isso foi um consolo para a minha família.

Mas tem mais! Eu não estava de todo fora do contexto quando disse o que disse. É certo que naquela hora não vi coisa nenhuma, nem anjo nem luz, nadica de nada, mas depois...

Hum! Nem te conto! Você não iria acreditar. Até porque depois de toda essa palhaçada acho que fiquei meio sem credibilidade.

segunda-feira, 16 de março de 2009

Amores sensuais - Confissões


" Vim para Cartago e logo fui cercado pelo ruidoso fervilhar dos amores sensuais... Desejando amar, procurava um objeto para esse amor, e detestava a segurança, as situações isentas de risco.

Tinha dentro de mim uma fome de alimento interior - fome de ti, ó Deus. Mas não sentia essa fome porque não me apeteciam os alimentos incorruptíveis, não por estar saciado, mas porque, quanto mais vazio, mais enfastiado me sentia...

Era para mim mais doce amar e ser amado se eu pudesse gozar do corpo da pessoa amada. Assim eu manchava as fontes da amizade com a sordidez da concupiscência e turbava a pureza delas com a espuma infernal das paixões. Não obstante eu ser feio e indigno, apresentava-me, num excesso de vaidade, como pessoa elegante e refinada. Mergulhei então no amor em que desejava ser envolvido.

Deus, misericórdia minha, como foste bom em derramar tanto fel sobre meus prazeres! Fui amado e cheguei ocultamente às cadeias do prazer, mas na alegria, eu me via amarrado por laços de sofrimento, castigado pelo ferro em brasa do ciúme, das suspeitas, dos temores, das cóleras e das contendas..."

(Trecho de "Confissões", de Santo Agostinho)

sábado, 14 de março de 2009

Sentindo o drama



O mundo seria melhor se todos aprendessem a so colocar um pouquinho no lugar dos outros. Haveria menos máguas, menos agressões, crimes... Um passo para o paraíso.

Posso dizer que compaixão e capacidade de se imaginar no lugar do outro são qualidades que andam juntas, de mãos dadas e aos beijinhos.

E o que tem isso a ver com salsicha? Veremos. Paciência também é uma virtude.

Bem, a sabedoria a ser repassada hoje é: tudo, até a virtude, tem que ser bem dosada. Verdade, queridos discípulos. A gente começa a sentir a dor dos outros - esse é o primeiro passo. Até aí tudo bem - só que depois, se a gente não se cuidar, isso vai "evoluindo" perigosamente.

Segundo passo: há o risco de passamos a atribuir sentimentos humanos aos animais. Ah, você não acha isso grave? Hmmm... entendo... ( A esses já chamo de "borderline" ou "fronteiriços").

As pessoas que se encontram em cima desse muro são numerosas. Certamente tenho vários amigos nessa categoria e não quero perder a afeição deles (o que fazer, céus?!)

Abro agora um parêntesis para a amenizar a "saia justa" na qual me meti. Subo agora em um púlpito imaginário e afirmo solenemente que também me enquadro em outras situações que cheiram, igualmente, a patologia. Formamos uma irmandade, queridos! Não me coloco acima de inguém, só encima, e assim mesmo com a devida permissão do parceiro.

Voltemos: o maior problema mesmo é o terceiro nível porque ele pode ser paralisante, trazendo-nos problemas bem mais acentuados do que os do segundo nível. Esse estágio se configura quando começamos a projetar sentimentos, alegrias e dores em seres inanimados. É aí que entra a salsicha. E onde entra uma salsinha entra tudo o mais.

Faça o teste. Se você marcar um X em mais de 2 casos, procure um psicólogo o mais rápido possível. Repare que esses sentimentos são bem comuns. (Vivemos num hospício).

1) A questão do ursinhos de pelúcia e afins. Já vi gente sinceramente angustiada quando flagra alguém fazendo "maldades" com seus ursinhos.

2) Você não aguenta que dêem socos em seu travesseiro. Tem a nítida impressão de que ele está sofrendo. Também não quer substituí-lo porque parece-lhe que ele se sentirá rejeitado.

3) Acha que uma roupa fica magoada quando você passa muito tempo sem usá-la;

4) Sente que está "assassinando" uma fruta sempre que a corta;

5) Não ingere nada com molho vermelho porque parece sangue.

6) Toda vez que come um ovo lhe vem à mente que está mandando um pintinho para o céu.

7) É vegetariano nem tanto por questão de saúde (a sua saúde) mas por questão da violência contra o animal. Não importa que aquele pedaço de carne já tenha deixado de ser um boi há semanas e que agora seja uma coisa inanimada. Em sua mente insana você vê um boi inteiro mugindo e chorando com os olhos tristes em seu prato.

8) Você atribui personalidade a tudo o que tenha um rostinho: borracha na ponta do lápis, carinha alegre em camiseta... E tem pena de comer o que for comestível (biscoito com carinha)

9) Você não só tem pena de comer: você não come. (obs: essa questão vale 5 pontos)

10) Você tem pena de jogar fora um eletrodoméstico velho que lhe prestou tantos serviços durante a juventude. É como se você desse um pé na bunda de uma empregada doméstica e a deixasse ao relento e sem assistência só porque ela ficou velha. Então você prefere guardar no armário o "bom e velho amigo" que morou a vida toda com você. Visita-o regularmente no armário e quase pede desculpas por usar o novo liquidificador (por exemplo).

11) A imagem que ilustra esta postagem lhe impressionou deveras. Você encontrará dificuldades, de hoje em diante, em comer salsichas. Na verdade já tinha essa dificuldade, só que por "outro tipo" de associação mental.

12) Acha que seu órgão sexual tem sentimento e vida própria, inclusive se governa. Frequentemente você se flagra conversando com ele tentando explicar certas situações e o por quê de algumas impossibilidades. Em alguns contextos você tem certeza de que ele está revoltado e lhe odeia. (Essa questão vale 4 pontos).

Uma Copacabana indescritível




Estes dias estive revendo umas filmagens do final de ano que passamos no Rio de Janeiro, o último conosco, os quatro irmãos, ainda juntos. Era a despedida e não sabíamos. Estávamos em Copacabana vendo os fogos de artifício. Meia noite. Rever aquele momento foi e continuará sendo muito comovente. Seis meses depois meu irmão, que fez as filmagens, partia para sempre.

Pensei comigo: não é justo morrer e deixar todo mundo na curiosidade. Quando eu morrer vou voltar e contar dar com a língua nos dentes. Vou arranjar uma maneira de escapar ou pedir permissão - sei lá - mas acabo com o mistério e jogo tudo no ventilador. Podem esperar. Podem cobrar. Chega de suspense. O que custa cantar a pedra para os amigos?

As pessoas sempre se emocionam com o espetáculo dos fogos... Tenho uma teoria para isso e este parágrafo não está desconectado do anterior.

Enquanto eu pensava essas coisas e olhava no vídeo os fogos, as pessoas emocionadas e ouvia a música tocante ao fundo, pensei que quem morre talvez fosse mesmo assim, como os fogos. O paralelo me pareceu perfeito.

Talvez quando a pessoa se vai, parte em um tal impulso, velocidade e empolgação que esqueçe completamente de quem está aqui em baixo. Assim como os fogos. E brilham por um tempo que na verdade nem existe, posto que eles saíram do tempo.

Impossível dizer por quanto "tempo" os mortos pairam no ar sorridentes, deslumbrados com o fato de agora serem eles o objeto do deslumbramento alheio. Agora são eles a luz, o show, o rastro, as explosões e estrelas. Deve haver platéia nesse não-sei-onde, certamente. Há "os outros" que riem muito e se divertem com os novatos num não sei quê de festa na qual eles, bobos, muito bobos pelo seu novo estado, demoram-se brincando consigo mesmos. Sabe, assim como os bebês levam horas admirando seus incríveis pezinhos e mãos.

Sim, os novos "mortos" devem ser muito engraçados para os que já estão por lá. São fogos em explosão numa Copacabana indescritível!

Segundos de fogos... Que para nós, pobres ficantes, representam meses ou quem sabe anos. Milênios talvez. Quando enfim eles se acostumam com sua própria leveza e velocidade, com o risco de luz e os desenhos imensos que formam, com a infindável possibilidade de arte, sons e alegria que isso representa... ah! Tentam voltar. E não conseguem.

Meu Deus, não conseguem mais. Talvem nem saibam mais para onde voltar ou ... esvaem-se, assim como os fogos de Copacabana.

Tenho a dizer a vocês que eles tentam. Todos tentam. Sei disso porque vi com meus próprios olhos. Sou testemunha!

Todas aquelas pequenas chamas viventes, depois do congraçamento e daquela alegria inenarrável, em um lampejo de memória lançam para nós um último olhar, um "oh, vocês ainda estão por aí!?" e fazem menção de retornar mas não conseguem.

Talvez apenas quisessem dizer "adeus" ou "até breve". Talvez só falar-nos que tudo é muito agradável e não temos nada a temer. Quem sabe quisessem realmente retornar? Jamais saberemos porque apagam-se e fica tudo escuro e não as encontramos mais. Nossos olhos percorrem o céu até onde ele se deixa percorrer mas nos perdemos em um olhar confuso, silencioso. Então é como se nunca tivessem passado por ali. Temos que confiar cegamente em nossa memória.

Estranho que seja assim depois de tanta festa.


Talvez por isso os fogos de artifício nos façam chorar. Instintivamente nós sabemos o que eles significam.

quinta-feira, 12 de março de 2009

Frase do dia

"Querer o bem com demais força, de incerto jeito, pode já estar sendo se querendo o mal por principiar." Guimarães Rosa

Sêquência de piadinhas para desopilar o fígado



Marido chega preocupado em casa e diz à esposa:
- Tenho um problema no serviço.
Esposa:
- Não diga tenho um problema, diga temos um problema, porque os teus problemas são meus também.
Marido: - Tá bem, temos um problema no serviço, a nossa secretária vai ter um filho nosso.

A mulher entra num restaurante e encontra o marido com outra:
- Pode me explicar o que é isto?? E ele responde:
- Só pode ser azar!!!

- Carmen, você está doente? Te pergunto porque eu vi sair um médico da sua casa, esta manhã.
- Olha, minha querida, ontem eu vi sair um militar da sua e nem por isso você está em guerra, não é verdade?

- Diga-me, por que motivo você quer divorciar-se de seu esposo?
- Meu marido me trata como se eu fosse um cão!
- A maltrata? Bate?
- Não, quer que eu seja fiel!

Um ladrão grita ao outro, em meio a um roubo:
- A polícia está aí!
- E agora, que fazemos?
- Vamos pular pela janela!
- Mas, nós estamos no 13º andar!
- Agora não é hora pra superstições!!!

O velhinho no leito de morte pergunta à esposa:
- Querida, por favor, seja sincera. Eu sempre achei nosso 6º filho um pouco estranho. Ele tem um pai diferente dos outros, não tem?
Em lágrimas, a mulher pede perdão e diz que sim. O marido pergunta curioso:
- Então, quem é o pai ? E a mulher, muito sincera responde:
- É você...

Em Londres, marido e mulher se acomodam na mesa de um restaurante. O garçom pergunta:
- O que os senhores desejam?
- Eu quero um filé mal passado! - responde o homem.
- Senhor... tem certeza? E a vaca louca?
- Sei lá, pergunta aí pra ela....

Num dia de muito calor, o marido sai do banho pelado, chega pra esposa e fala: - Meu bem, está muito quente... o que você acha que os vizinhos vão dizer se eu for cortar a grama assim, completamente nu? A mulher olha pra ele e responde: - Provavelmente, que eu casei com você só por dinheiro...

quarta-feira, 11 de março de 2009

A EXCOMUNHÃO DA VÍTIMA - Miguezim de Princesa


I
Peço à musa do improviso
Que me dê inspiração,
Ciência e sabedoria,
Inteligência e razão,
Peço que Deus que me proteja
Para falar de uma igreja
Que comete aberração.

II
Pelas fogueiras que arderam
No tempo da Inquisição,
Pelas mulheres queimadas
Sem apelo ou compaixão,
Pensava que o Vaticano
Tinha mudado de plano,
Abolido a excomunhão.

III
Mas o bispo Dom José,
Um homem conservador,
Tratou com impiedade
A vítima de um estuprador,
Massacrada e abusada,
Sofrida e violentada,
Sem futuro e sem amor.

IV
Depois que houve o estupro,
A menina engravidou.
Ela só tem nove anos,
A Justiça autorizou
Que a criança abortasse
Antes que a vida brotasse
Um fruto do desamor.

V
O aborto, já previsto
Na nossa legislação,
Teve o apoio declarado
Do ministro Temporão,
Que é médico bom e zeloso,
E mostrou ser corajoso
Ao enfrentar a questão.

VI
Além de excomungar
O ministro Temporão,
Dom José excomungou
Da menina, sem razão,
A mãe, a vó e a tia
E se brincar puniria
Até a quarta geração.

VII
É esquisito que a igreja,
Que tanto prega o perdão,
Resolva excomungar médicos
Que cumpriram sua missão
E num beco sem saída
Livraram uma pobre vida
Do fel da desilusão.

VIII
Mas o mundo está virado
E cheio de desatinos:
Missa virou presepada,
Tem dança até do pepino,
Padre que usa bermuda,
Deixando mulher buchuda
E bolindo com os meninos.

IX
Milhões morrendo de Aids:
É grande a devastação,
Mas a igreja acha bom
Furunfar sem proteção
E o padre prega na missa
Que camisinha na lingüiça
É uma coisa do Cão.

X
E esta quem me contou
Foi Lima do Camarão:
Dom José excomungou
A equipe de plantão,
A família da menina
E o ministro Temporão,
Mas para o estuprador,
Que por certo perdoou,
O arcebispo reservou
A vaga de sacristão.

segunda-feira, 9 de março de 2009

Adesivo para o seu carro

Pedofilia


Hoje pela manhã assisti no jornal a uma cena...

Um menino de uns oito anos de idade. Parecia uma fera. Em um acesso de fúria ele saiu gritando pela casa com um cabo de vassoura na mão e tentava agredir seus familiares ou qualquer pessoa que estivesse por perto. Estava fora de si, descontrolado.

Não se tratava de um deliquente. Ele não deveria ser castigado, sequer repreendido. Ele deveria ser alvo do nosso mais profundo respeito. Ele precisava de alguma coisa que vai além da pena, além da misericórdia. Algo que está em um terreno sagrado entre o amor e o respeito mais reverente.

Se eu estivesse ali ficaria desconcertada. Fiquei desconcertada em casa, com uma dor horrível no peito.

Não pensei que pudesse ser assim. Nenhum discurso, nenhuma teoria, nenhuma reportagem falada, nada teve o poder de me tocar mais fundo do que esta cena.

Aquele menino saiu de si "apenas" porque lhe mostraram a foto do homem que abusou sexualmente dele. Chorei. Juro que não pensei que pudesse ser assim.

Como pude ser tão alienada? Como pude, durante tanto tempo, não entender a extensão do estrago que um ato desse causa na alma de uma criança?

Meu Deus, aquele menino gritando pela casa com uma vassoura na mão tentando atacar pai, mãe, irmãos, com a mente em frangalhos me impactou terrivelmente. Estou aqui com um nó na garganta. Estou angustiada. O que eu faço? alguém aí me diga pelo amor de Deus o que eu faço po aquele garoto! Minha garganta está de fato doendo com esse nó. Ele parecia um louco. Jesus Cristo, o que ele deve estar passando? O que pensa quando dorme? Será que consegue verbalizar o horror?

Ele se deixaria abraçar por mim? E se deixasse, isso lhe traria algum conforto? Minha compreensão parcial de sua dor amenizaria seu desespero? Mas eu não significo nada! Meu Deus coloque um anjo, um anjo em seu caminho.

Nada, nenhum discurso, nenhuma aula de psicologia teria o poder que aquela cena teve sobre mim. Não vou esquecer nunca mais do menino descontrolado, aos berros, com a vassoura na mão.

Ah, pára!


Mentira.

Se você me manda sorrir é porque vê que estou triste.
Se você me amasse não me mandaria sorrir sabendo que não estou bem.

Se me amasse a minha tristeza não te incomodaria; não nasci para te divertir.
Você me veria como sou: uma pessoa real, cheia de complexidades. Não se sentiria frustrado ou incomodado quando eu não cumprisse minha "função" de "seu entretenimento".

Se você me ama você respeita o meu momento. Coloca-se ao meu lado, tenta fazer alguma coisa pra me deixar pra cima. Se for possível, ótimo. Se não, apenas ficará ao meu lado em silêncio. Se eu precisar ficar sozinha você entenderá e ausentar-se-á por uns dias sem mágoas porque sabe que se hoje estou assim, amanhã poderá ser a sua vez e eu vou entender.

Se você me ama e me vê triste, por favor não me agrida querendo que eu sorria.
Quem ri na tristeza é histérico, tá muito mal mesmo. Não sou histérica.

"Sorria, sempre sorria, mesmo que o seu sorriso seja triste porque mais triste do que um sorriso triste é a tristeza de não saber sorrir".

Essa é a frase mais idiota que eu já ouvi em minha vida.

quinta-feira, 5 de março de 2009

Piada do dia: Temporão sugere que Obama adote SUS nos EUA

Só pode ser piada uma notícia dessas!

Você acredita que o ministro da Saúde, José Temporão, sugeriu ao presidente norte-americano, Barack Obama que adote, nos Estados Unidos, a política de saúde pública utilizada aqui no Brasil? Ele teve a coragem de dizer que "No momento, o Brasil comemora (?!) 20 anos de estruturação (!!!) de uma política pública da importância do SUS, tão importante, tão importante, que o Barack Obama está procurando uma coisa parecida com o SUS para resolver o problema da saúde pública dos Estados Unidos", afirmou José Temporão, em discurso, no Palácio do Planalto.

Será que a mãezinha dele é atendida pelo SUS? E os filhos?

Ele disse que se contasse com o orçamento dos EUA ele conseguiria fazer o melhor sistema de saúde do mundo. Será? O maior orçamento do mundo não garante um bom sistema de saúde pública se for guardado na gaveta da Mãe Joana.

Se o dinheiro da saúde pública ficasse na saúde pública, teríamos uma excelente saúde pública.


Se o dinheiro arrecadado pela Previdência Social ficasse de fato na Previdência Social teríamos uma excelente Previdência social.


O problema do Brasil é o saco furado.

O Ministro Temporão continua: "Lá (nos EUA) são US$ 670 bilhões e nós estamos, modestamente, com R$ 50 bilhões" comentou, insistindo que lá 45 milhões de norte-americanos não têm qualquer direito a atendimento médico e aqui o atendimento é para todos. TODOS? QUE TODOS? Esse cara tá doido?

quarta-feira, 4 de março de 2009

Simbad Safari IV - Um nada


Não quero deixar passar em branco um animal curioso como o camelo, geralmente tão admirado pelas crianças. Só que não tenho praticamente nada a dizer sobre ele. É um zero à esquerda.

Tem um ar arrogante não sei devido a quê, com aquela cara de pobre. Passa pra lá e para cá todo cheio de ginga, com molejo de quem vai se encontrar com a galera. Só te olha de soslaio como quem faz pouco caso. Nada simpático e absurdamente fedorento.

Não me acrescentou nada. Um espírito ralo, isso sim, com cara de vagabundo. Não por isso, mas por um sei-lá de sexto sentido que quando me convém eu juro que tenho, afirmo a vocês que o camelo é maconheiro contumaz. Se derem um bacolejo nessa corcova dele, é capaz de acharem muito bagulho. Tô só avisando.

terça-feira, 3 de março de 2009

Simbad Safari III - Lição de vida II


NÃO SALVEM OS HIPOPÓTAMOS!
Foi a primeira coisa que pensei quando vi esse animal melequento, ensebado, feio, obeso com cara de sujo, incapaz da menor gracinha e indiferente à minha pessoa. Quem quer um hipopótamo? Totalmente desajeitado! O elefante é pesadão, ocupa espaço mas é simpático, tem aquela tromba com mil e uma utilidades, está sempre sorrindo e tal, tem emprego, trabalha no circo, a gente sente que é um cara responsábel. Mas o hipopótamo...

Eles me lembram aquelas donas de casa relaxadas que andam sempre arrepiadas, cujas cozinhas são imundas, as panelas sujas e grudentas, os filhos remelentos, o vestido pingado de gordura, o sutiã encardido, a calcinha deus-me-livre, o canto da boca ainda com o resto da farofa do almoço... Não! Não salvem os hipopótamos!!!!

O que é que estou dizendo? "Cristina, reflita!"

Aí caí em mim e deparei com a miséria do meu ser. Por quê a aparência é assim tão importante, hã? Quer dizer que o lhama, que não passa de uma ovelha pescoçuda, merece viver só porque é fofinho? Os peixes de aquário, que não fazer nada de útil a não ser rebolar na água o dia inteiro, podem viver só por causa das lantejoulas? Agora o hipopótamo, que não teve boa formação, não contou com uma mãe que lhe ensinasse um mínimo de boas maneiras, cresceu na favela tem mais é que morrer?

Por quê só os bichinhos fofos merecem a nossa proteção?

Aí meu raciocínio (rocambolesco, confesso) pulou para outra questão: temos tanta pena das criancinhas pobres. Porque temos pena só das criancinhas pobres? Por que nos esquecemos que dentro dos apartamentos luxuosos existem crianças abandonadas sim, abusadas, asustadas? Algumas mansões por dentro não passam de castelos-fantasmas com crianças solitárias, sem um mínimo de orientação para a vida, com pais drogados e mães peruas prostituídas. Só que as crianças pobres visivelmente não tem nada e aí é mais fácil despertar a nossa pena. Já as outras... Ah, elas tem muito dinheiro. Nós as invejamos. Que se danem.

As vezes acho que, por dentro, somos mais feios do que os hipopótamos...

segunda-feira, 2 de março de 2009

Simbad Safari II - A dor de ser





Ainda dentro do impacto causado pela visita aos honrados moradores do Simbad Safari, tenho a destacar a profunda impressão em mim causada pela girafa.

Ao contrário dos macados que são descontraídos, irreverentes, feios e, por que não dizer? insolentes (não gosto de macacos) as girafas são tristes. Nem precisa dizer muito, é só olhar. Confira!

Nada a ver com o que tentam nos fazer acreditar nos desenhos animados, onde elas são retratadas com uma alegria e uma mobilidade que definitivamente não fazem parte de suas vidas.

A realidade é muito diferente... É visível que elas trazem um peso no coração, uma tristeza enorme, talvez pelo estado limitado que a natureza lhe impôs.

Ao contrário dos outros animais que se aproximavam de nós animados, quase sorridentes esperando algum agrado ou alimento, ela se chegou lenta, angustiada. Deu uns poucos passos em nossa direção e logo depois se afastou desistente. Sabia que não seria possível baixar o pescoço o suficiente para que a tocássemos, para que recebesse nada de nós. Aquele pescoço enorme, limitante.

Ninguém nunca lhe faria um cafuné, ninguém nunca lhe diria coisas engraçadas, apelidos, nada. A girafa é obrigada a viver entre nós e ao mesmo tempo distante, lá em cima. Ela se chega instintivamente porque sente necessidade de contato humano. Quem não deseja amigos? Quem não quer um agrado, um sorriso? Um amendoim? Até o mais ridículo jabuti consegue, mesmo cágado, alguma proximidade. Ela não: chega e logo vai porque não adianta; sua vida é triste e solitária.

Sua solidão é diferente da dos pássaros. Os pássaros não estão nem aí. Eles querem mais é ficar longe mesmo. A gente chega perto, eles vazam. Devem nos achar horrorosos. Não as girafas. Elas nos olham como se quisessem dizer alguma coisa, como se tivessem um grito na garganta. Fitam-nos por uns instantes mas logo ficam de costas e seguem lentamente seu caminho. Depois é só silêncio...

Até hoje não sei qual o barulho que as girafas fazem. Piam? Mugem? Berram? Grasnam? Quem sabe? E lá de cima, quem ouve?

E já pensaram em como deve ser duro sentir uma coceira na orelha e nada poder fazer? Gente, como a girafa coça a orelha?

Quando uma girafa se vai, não adianta chamar de volta. É melhor deixá-la ir. Quando fica de costas, sinto que está lagrimando. Tadinha. É a cara da melancolia...

domingo, 1 de março de 2009

Simbad Safari I - Uma lição de vida


Pra você ver... As vezes a gente tem que olhar um pouco a nosso redor, ver os problemas dos outros pra poder entender que nossa cruz nem é tão pesada assim.

Semanas atrás fiz uma pequena cirurgia que me impedia temporariamente de dormir de lado ou de bruços. Pequeno incômodo mas que em meu mundinho fútil pareceu enorme. Isso me irritou, me colocou meio pra baixo emocionalmente. Fisicamente, claro, eu só podia ficar pra cima.

Fiquei com vergonha de mim mesma quando, revendo umas fotos tiradas no Simbad Safari, em São Paulo, deparei-me com a imagem deste amigo (acho que ele é veado) e pensei "Pôxa Cristina, você é uma fraca, uma ingrata contra os céus! Reclamando de umas noitezinhas desconfortáveis e olha aí "pessoas" em situação muito pior que a sua! Quando este ser pôde dormir confortavelmente uma noite sequer em sua vida?"

Depois desse episódio tornei-me uma pessoa muito mais humana. Vivo intensamente cada minuto de minha existência e dou valor às coisas mais simples que me acontecem.

Lição de vida.