segunda-feira, 2 de março de 2009

Simbad Safari II - A dor de ser





Ainda dentro do impacto causado pela visita aos honrados moradores do Simbad Safari, tenho a destacar a profunda impressão em mim causada pela girafa.

Ao contrário dos macados que são descontraídos, irreverentes, feios e, por que não dizer? insolentes (não gosto de macacos) as girafas são tristes. Nem precisa dizer muito, é só olhar. Confira!

Nada a ver com o que tentam nos fazer acreditar nos desenhos animados, onde elas são retratadas com uma alegria e uma mobilidade que definitivamente não fazem parte de suas vidas.

A realidade é muito diferente... É visível que elas trazem um peso no coração, uma tristeza enorme, talvez pelo estado limitado que a natureza lhe impôs.

Ao contrário dos outros animais que se aproximavam de nós animados, quase sorridentes esperando algum agrado ou alimento, ela se chegou lenta, angustiada. Deu uns poucos passos em nossa direção e logo depois se afastou desistente. Sabia que não seria possível baixar o pescoço o suficiente para que a tocássemos, para que recebesse nada de nós. Aquele pescoço enorme, limitante.

Ninguém nunca lhe faria um cafuné, ninguém nunca lhe diria coisas engraçadas, apelidos, nada. A girafa é obrigada a viver entre nós e ao mesmo tempo distante, lá em cima. Ela se chega instintivamente porque sente necessidade de contato humano. Quem não deseja amigos? Quem não quer um agrado, um sorriso? Um amendoim? Até o mais ridículo jabuti consegue, mesmo cágado, alguma proximidade. Ela não: chega e logo vai porque não adianta; sua vida é triste e solitária.

Sua solidão é diferente da dos pássaros. Os pássaros não estão nem aí. Eles querem mais é ficar longe mesmo. A gente chega perto, eles vazam. Devem nos achar horrorosos. Não as girafas. Elas nos olham como se quisessem dizer alguma coisa, como se tivessem um grito na garganta. Fitam-nos por uns instantes mas logo ficam de costas e seguem lentamente seu caminho. Depois é só silêncio...

Até hoje não sei qual o barulho que as girafas fazem. Piam? Mugem? Berram? Grasnam? Quem sabe? E lá de cima, quem ouve?

E já pensaram em como deve ser duro sentir uma coceira na orelha e nada poder fazer? Gente, como a girafa coça a orelha?

Quando uma girafa se vai, não adianta chamar de volta. É melhor deixá-la ir. Quando fica de costas, sinto que está lagrimando. Tadinha. É a cara da melancolia...

Um comentário:

  1. Me dei autorização de um recreio, depois do almoço ... e quase chorei de pena das girafas. Cris, tu juras que te vem tudo isso à mente espontaneamente quando estás olhando para uma girafa? Fiquei impressionada! ...

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segunda-feira, 2 de março de 2009

Simbad Safari II - A dor de ser





Ainda dentro do impacto causado pela visita aos honrados moradores do Simbad Safari, tenho a destacar a profunda impressão em mim causada pela girafa.

Ao contrário dos macados que são descontraídos, irreverentes, feios e, por que não dizer? insolentes (não gosto de macacos) as girafas são tristes. Nem precisa dizer muito, é só olhar. Confira!

Nada a ver com o que tentam nos fazer acreditar nos desenhos animados, onde elas são retratadas com uma alegria e uma mobilidade que definitivamente não fazem parte de suas vidas.

A realidade é muito diferente... É visível que elas trazem um peso no coração, uma tristeza enorme, talvez pelo estado limitado que a natureza lhe impôs.

Ao contrário dos outros animais que se aproximavam de nós animados, quase sorridentes esperando algum agrado ou alimento, ela se chegou lenta, angustiada. Deu uns poucos passos em nossa direção e logo depois se afastou desistente. Sabia que não seria possível baixar o pescoço o suficiente para que a tocássemos, para que recebesse nada de nós. Aquele pescoço enorme, limitante.

Ninguém nunca lhe faria um cafuné, ninguém nunca lhe diria coisas engraçadas, apelidos, nada. A girafa é obrigada a viver entre nós e ao mesmo tempo distante, lá em cima. Ela se chega instintivamente porque sente necessidade de contato humano. Quem não deseja amigos? Quem não quer um agrado, um sorriso? Um amendoim? Até o mais ridículo jabuti consegue, mesmo cágado, alguma proximidade. Ela não: chega e logo vai porque não adianta; sua vida é triste e solitária.

Sua solidão é diferente da dos pássaros. Os pássaros não estão nem aí. Eles querem mais é ficar longe mesmo. A gente chega perto, eles vazam. Devem nos achar horrorosos. Não as girafas. Elas nos olham como se quisessem dizer alguma coisa, como se tivessem um grito na garganta. Fitam-nos por uns instantes mas logo ficam de costas e seguem lentamente seu caminho. Depois é só silêncio...

Até hoje não sei qual o barulho que as girafas fazem. Piam? Mugem? Berram? Grasnam? Quem sabe? E lá de cima, quem ouve?

E já pensaram em como deve ser duro sentir uma coceira na orelha e nada poder fazer? Gente, como a girafa coça a orelha?

Quando uma girafa se vai, não adianta chamar de volta. É melhor deixá-la ir. Quando fica de costas, sinto que está lagrimando. Tadinha. É a cara da melancolia...

Um comentário:

  1. Me dei autorização de um recreio, depois do almoço ... e quase chorei de pena das girafas. Cris, tu juras que te vem tudo isso à mente espontaneamente quando estás olhando para uma girafa? Fiquei impressionada! ...

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