segunda-feira, 16 de março de 2009
Amores sensuais - Confissões
" Vim para Cartago e logo fui cercado pelo ruidoso fervilhar dos amores sensuais... Desejando amar, procurava um objeto para esse amor, e detestava a segurança, as situações isentas de risco.
Tinha dentro de mim uma fome de alimento interior - fome de ti, ó Deus. Mas não sentia essa fome porque não me apeteciam os alimentos incorruptíveis, não por estar saciado, mas porque, quanto mais vazio, mais enfastiado me sentia...
Era para mim mais doce amar e ser amado se eu pudesse gozar do corpo da pessoa amada. Assim eu manchava as fontes da amizade com a sordidez da concupiscência e turbava a pureza delas com a espuma infernal das paixões. Não obstante eu ser feio e indigno, apresentava-me, num excesso de vaidade, como pessoa elegante e refinada. Mergulhei então no amor em que desejava ser envolvido.
Deus, misericórdia minha, como foste bom em derramar tanto fel sobre meus prazeres! Fui amado e cheguei ocultamente às cadeias do prazer, mas na alegria, eu me via amarrado por laços de sofrimento, castigado pelo ferro em brasa do ciúme, das suspeitas, dos temores, das cóleras e das contendas..."
(Trecho de "Confissões", de Santo Agostinho)
segunda-feira, 16 de março de 2009
Amores sensuais - Confissões
" Vim para Cartago e logo fui cercado pelo ruidoso fervilhar dos amores sensuais... Desejando amar, procurava um objeto para esse amor, e detestava a segurança, as situações isentas de risco.
Tinha dentro de mim uma fome de alimento interior - fome de ti, ó Deus. Mas não sentia essa fome porque não me apeteciam os alimentos incorruptíveis, não por estar saciado, mas porque, quanto mais vazio, mais enfastiado me sentia...
Era para mim mais doce amar e ser amado se eu pudesse gozar do corpo da pessoa amada. Assim eu manchava as fontes da amizade com a sordidez da concupiscência e turbava a pureza delas com a espuma infernal das paixões. Não obstante eu ser feio e indigno, apresentava-me, num excesso de vaidade, como pessoa elegante e refinada. Mergulhei então no amor em que desejava ser envolvido.
Deus, misericórdia minha, como foste bom em derramar tanto fel sobre meus prazeres! Fui amado e cheguei ocultamente às cadeias do prazer, mas na alegria, eu me via amarrado por laços de sofrimento, castigado pelo ferro em brasa do ciúme, das suspeitas, dos temores, das cóleras e das contendas..."
(Trecho de "Confissões", de Santo Agostinho)
5 comentários:
- Anonymous16 de março de 2009 às 07:46
Poxa, quanta realidade nesse texto.
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Gostei mesmo! Deu vontade de ler mais.
Hellen Patrícia - Anonymous17 de março de 2009 às 05:52
Começo a entender porque a sra. Gosta tando desse Santo Agostinho... perfeito!
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Victor De fato ele era demais, um homem muito especial, um iluminado.
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Quanto mais releio Confissões mais me emociono. Só a Bíblia me toca mais profundamente, sabia?
Agostinho viveu em uma época (em torno do ano 300) na qual o cristianismo ainda não havia sido vergonhosamente desvirtuado. Os líderes da época ainda eram cristãos sinceros, marcados por uma experiência com Deus.
É interessante ver um homem desnudar-se tanto, mostrar toda a sua imensa aflição em encontrar a verdade. Ele era um filósofo antes de se converter e continuou sendo depois - o maior filósofo cristão.
É lindo quando ele diz do quanto era culto e o quanto desprezava a Bíblia mas que ficou desconcertado por esse livro complexo e simples. Ele não estava acostumado com aquilo.
É interessantíssimo (pode ser cansativo para alguns) ele descrever em minúcias as suas dúvidas, as muitas idas e vindas de sua mente. Ele pergunta a si mesmo tudo em relação a Deus, à pregação cristã, a fé... Ele pergunta, responde, retruca, discorda, faz a réplica, tréplica... Dá até agonia de ver sua aflição mas aos poucos a gente sente que a idéia evolui. Se lemos com atenção é como uma novela: a gente vai junto e acompanha o raciocínio dele sendo iluminado por Deus.
Não há visões nem anjos nem curas ou outra sorte de milagres visíveis na conversão de Santo Agostinho. Toda a experiência dele é praticamente solitária. É algo muito íntimo entre um ser pensante e seu Deus. Não tem "Show da Fé".
Isso para mim é maravilhoso pois vivemos em uma época em que se valoriza demais o sobrenatural e se não acontece alguma coisa que valha a pena ser contada na televisão fica parecendo que nada aconteceu.
São sinuosos os caminhos de um coração até chegar a Deus. Disso trata o livro e de uma maneira precisa, detalhada e tocante.
Meu exemplar está todo sublinhado. Vou aos poucos postando outros trechos mas são tantos que receio acabar mandando o livro todo rsrsrs.
Muito Bom.
ResponderExcluirRafael.
Poxa, quanta realidade nesse texto.
ResponderExcluirGostei mesmo! Deu vontade de ler mais.
Hellen Patrícia
Lindo! Maravilhosas e sábias palavras!
ResponderExcluirÉ a realidade de muitos que somente passam pela vida ao invés de vivê-la!
Poste mais.
Começo a entender porque a sra. Gosta tando desse Santo Agostinho... perfeito!
ResponderExcluirVictor
De fato ele era demais, um homem muito especial, um iluminado.
ResponderExcluirQuanto mais releio Confissões mais me emociono. Só a Bíblia me toca mais profundamente, sabia?
Agostinho viveu em uma época (em torno do ano 300) na qual o cristianismo ainda não havia sido vergonhosamente desvirtuado. Os líderes da época ainda eram cristãos sinceros, marcados por uma experiência com Deus.
É interessante ver um homem desnudar-se tanto, mostrar toda a sua imensa aflição em encontrar a verdade. Ele era um filósofo antes de se converter e continuou sendo depois - o maior filósofo cristão.
É lindo quando ele diz do quanto era culto e o quanto desprezava a Bíblia mas que ficou desconcertado por esse livro complexo e simples. Ele não estava acostumado com aquilo.
É interessantíssimo (pode ser cansativo para alguns) ele descrever em minúcias as suas dúvidas, as muitas idas e vindas de sua mente. Ele pergunta a si mesmo tudo em relação a Deus, à pregação cristã, a fé... Ele pergunta, responde, retruca, discorda, faz a réplica, tréplica... Dá até agonia de ver sua aflição mas aos poucos a gente sente que a idéia evolui. Se lemos com atenção é como uma novela: a gente vai junto e acompanha o raciocínio dele sendo iluminado por Deus.
Não há visões nem anjos nem curas ou outra sorte de milagres visíveis na conversão de Santo Agostinho. Toda a experiência dele é praticamente solitária. É algo muito íntimo entre um ser pensante e seu Deus. Não tem "Show da Fé".
Isso para mim é maravilhoso pois vivemos em uma época em que se valoriza demais o sobrenatural e se não acontece alguma coisa que valha a pena ser contada na televisão fica parecendo que nada aconteceu.
São sinuosos os caminhos de um coração até chegar a Deus. Disso trata o livro e de uma maneira precisa, detalhada e tocante.
Meu exemplar está todo sublinhado. Vou aos poucos postando outros trechos mas são tantos que receio acabar mandando o livro todo rsrsrs.