quinta-feira, 28 de abril de 2011

Sensibilidade

Acho que sou sensível demais. Isso só é bom mesmo quando a pessoa é artista, compositora ou muito boa em alguma coisa que faça escoar esse acúmulo de sentir. Não é o meu caso.

Escrever ajuda muito, é bom demais, mas não me parece suficiente. Há uma música linda que ainda não compus. Há um poema perfeito, redondo, de grande impressão que nunca fiz.

Há um quadro que ainda não pintei. Ele tem cores cativantes: amarelo "gema de ovo", azul turquesa, branco, um pouco de verde e nada de vermelho. Há um Renoir em mim mas ele não se expande! Meu Machado de Assis também mora em mim, mudo como uma pedra. O que restam são sentimentos que só escapam por via das lágrimas. Eu não era assim, mas me tornei uma chorona. Há músicas que me fazem chorar. Há cenas simples que me fazem chorar. Vídeos, flashes do dia-a-dia que ninguém percebe me tocam. Sou como um copo cheio de água que transborda à primeira sacudidela.

Estive revendo o vídeo da postagem anterior. Meus olhos se encheram de lágrimas. Antes essa coisa me incomodava, mas agora não. Chorar por emoção de beleza é bom.

Enquanto eu assistia o vídeo fiquei imaginando: como a vida pode ser tão linda e o mundo pode ser tão mal?

O que é a vida? E o que é o mundo? Não são a mesma coisa? Não.  O amor, a beleza e o prazer são a vida. O "mundo" é o sistema de coisas onde a vida está inserida e se desenvolve.

É lindo demais o processo de uma pessoa vir ao mundo. É lindo como tudo começa, como tudo dá certo mesmo diante de dificuldades aparentemente intransponíveis. O processo da vida é tão complicado mas tão complicado que era para todo mundo nascer torto, esquisito, com o olho no umbigo e o braço nas costas. Isso se desse sorte de ter braços.  Mas não! A maioria nasce bonitinha com os braços no lugar, com as pernas articuláveis, com os complicadíssimos olhos encravados no crânio onde, escondido, aloja-se o misterioso cérebro. Tem tudo pra dar errado, mas dá certo. Não é lindo?

Por que nos apaixonamos? Talvez não pelas qualidades do outro mas mais pela necessidade que temos de abrigar dentro do peito alguma coisa divina e envolvente. Amar é experimentar a arte em estado bruto. O amor é a arte tão pura mas tão pura, que ninguém consegue descrever direito.

Como uma criança entende as coisas que eu digo tendo um ano de vida? Como? Como fazer links coerentes com os sons, sabendo-se que o dia inteiro toda sorte de sons acontecem ao mesmo tempo? Como uma criança já percebe o que é música e o que é a mamãe chamando? Quem disse para ela qual a diferença? Por que ela quer andar, se engatinhar pela casa já é tão divertido? Por que queremos sempre mais?  Certamente porque nascemos para muito mais.

Por quê o sol nascendo ou se pondo é tão bonito? É tão comum! Todo dia é a mesma coisa!

Por quê, com tanta beleza, o mundo consegue ser tão mal? Por quê as pessoas se matam? E por quê algumas pessoas levam as outras à loucura?

Em um desses dias fatídicos ouvi a notícia do caso de um cão que apareceu em um bairro de Belém trazendo à boca um bracinho de criança. Fiquei angustiada, amargurada mesmo. Horas depois vi o noticiário do maluco que matou várias crianças em um colégio do Rio de Janeiro. Chorei muito. Isso é demais para a minha cabeça. Não dá.  Matam crianças, não posso caminhar a noite pela cidade, vivo com medo. Naquela hora pensei: "Chega, não quero mais viver nesse mundo, não tenho mais prazer nisso aqui. Está tudo amargo demais. Tudo é um poço de lama e lágrimas. Esse mundo tem que acabar." Foi isso que pensei.

Às vezes até esqueço que a vida é bonita. É como uma flor nascida no meio do lixo...

2 comentários:

  1. o nosso mundo é um campo de batalha das forças das sombras e da luz, e frequentemente o lado escuro dá seu bote e os meios de comunicação ampliam o seu espaço, dando uma sensação como se esse mundo estivesse perdido não tendo mais nada de bom, naquele episodio da escola de realengo teve emissoras que passaram o dia inteiro divulgando aquelas imagens crueis ,como se fosse uma propaganda da desgraça, não passou nem 5 dias aconteceu coisa parecida na holanda com certeza reflexo da imagens e noticias divulgadas em jornais de todo o mundo.

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  2. Sensibilidade nesse mundo, nesses nossos dias é duro. Se sente "as dores do mundo". Dá vontade de ter "pele de elefante" às vezes. Porém, como tudo, tem seu lado bom. Se sente melhor as coisas boas também. Não achas?

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quinta-feira, 28 de abril de 2011

Sensibilidade

Acho que sou sensível demais. Isso só é bom mesmo quando a pessoa é artista, compositora ou muito boa em alguma coisa que faça escoar esse acúmulo de sentir. Não é o meu caso.

Escrever ajuda muito, é bom demais, mas não me parece suficiente. Há uma música linda que ainda não compus. Há um poema perfeito, redondo, de grande impressão que nunca fiz.

Há um quadro que ainda não pintei. Ele tem cores cativantes: amarelo "gema de ovo", azul turquesa, branco, um pouco de verde e nada de vermelho. Há um Renoir em mim mas ele não se expande! Meu Machado de Assis também mora em mim, mudo como uma pedra. O que restam são sentimentos que só escapam por via das lágrimas. Eu não era assim, mas me tornei uma chorona. Há músicas que me fazem chorar. Há cenas simples que me fazem chorar. Vídeos, flashes do dia-a-dia que ninguém percebe me tocam. Sou como um copo cheio de água que transborda à primeira sacudidela.

Estive revendo o vídeo da postagem anterior. Meus olhos se encheram de lágrimas. Antes essa coisa me incomodava, mas agora não. Chorar por emoção de beleza é bom.

Enquanto eu assistia o vídeo fiquei imaginando: como a vida pode ser tão linda e o mundo pode ser tão mal?

O que é a vida? E o que é o mundo? Não são a mesma coisa? Não.  O amor, a beleza e o prazer são a vida. O "mundo" é o sistema de coisas onde a vida está inserida e se desenvolve.

É lindo demais o processo de uma pessoa vir ao mundo. É lindo como tudo começa, como tudo dá certo mesmo diante de dificuldades aparentemente intransponíveis. O processo da vida é tão complicado mas tão complicado que era para todo mundo nascer torto, esquisito, com o olho no umbigo e o braço nas costas. Isso se desse sorte de ter braços.  Mas não! A maioria nasce bonitinha com os braços no lugar, com as pernas articuláveis, com os complicadíssimos olhos encravados no crânio onde, escondido, aloja-se o misterioso cérebro. Tem tudo pra dar errado, mas dá certo. Não é lindo?

Por que nos apaixonamos? Talvez não pelas qualidades do outro mas mais pela necessidade que temos de abrigar dentro do peito alguma coisa divina e envolvente. Amar é experimentar a arte em estado bruto. O amor é a arte tão pura mas tão pura, que ninguém consegue descrever direito.

Como uma criança entende as coisas que eu digo tendo um ano de vida? Como? Como fazer links coerentes com os sons, sabendo-se que o dia inteiro toda sorte de sons acontecem ao mesmo tempo? Como uma criança já percebe o que é música e o que é a mamãe chamando? Quem disse para ela qual a diferença? Por que ela quer andar, se engatinhar pela casa já é tão divertido? Por que queremos sempre mais?  Certamente porque nascemos para muito mais.

Por quê o sol nascendo ou se pondo é tão bonito? É tão comum! Todo dia é a mesma coisa!

Por quê, com tanta beleza, o mundo consegue ser tão mal? Por quê as pessoas se matam? E por quê algumas pessoas levam as outras à loucura?

Em um desses dias fatídicos ouvi a notícia do caso de um cão que apareceu em um bairro de Belém trazendo à boca um bracinho de criança. Fiquei angustiada, amargurada mesmo. Horas depois vi o noticiário do maluco que matou várias crianças em um colégio do Rio de Janeiro. Chorei muito. Isso é demais para a minha cabeça. Não dá.  Matam crianças, não posso caminhar a noite pela cidade, vivo com medo. Naquela hora pensei: "Chega, não quero mais viver nesse mundo, não tenho mais prazer nisso aqui. Está tudo amargo demais. Tudo é um poço de lama e lágrimas. Esse mundo tem que acabar." Foi isso que pensei.

Às vezes até esqueço que a vida é bonita. É como uma flor nascida no meio do lixo...

2 comentários:

  1. o nosso mundo é um campo de batalha das forças das sombras e da luz, e frequentemente o lado escuro dá seu bote e os meios de comunicação ampliam o seu espaço, dando uma sensação como se esse mundo estivesse perdido não tendo mais nada de bom, naquele episodio da escola de realengo teve emissoras que passaram o dia inteiro divulgando aquelas imagens crueis ,como se fosse uma propaganda da desgraça, não passou nem 5 dias aconteceu coisa parecida na holanda com certeza reflexo da imagens e noticias divulgadas em jornais de todo o mundo.

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  2. Sensibilidade nesse mundo, nesses nossos dias é duro. Se sente "as dores do mundo". Dá vontade de ter "pele de elefante" às vezes. Porém, como tudo, tem seu lado bom. Se sente melhor as coisas boas também. Não achas?

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