domingo, 9 de janeiro de 2011

Reflexões sobre o samba

Depois de longa observação, pesquisa e meditação cheguei ao veredicto:  samba é coisa de Deus.  Foi ele quem bolou todo o lance.   Bolou pra nos dar uma colher de chá nessa nossa vidinha você-sabe-como. Sacando nossas saudades, tristezas, sonhos interrompidos, dívidas e carências ele jogou lá do alto batuque, acordes, cadência e molejo para nos dar momentos de esquecimento e ingênua alegria.

Pois é, pra chorar ou para rir, para comemorar ou enquanto esperamos que a vida se resolva, o samba é uma lindeza ritmada, um bálsamo, um subir de degrau que a gente vai indo e de repente deixa tudo pra lá.  Ele nos eleva. Como? Não sei, só sei que é assim.  Quem já se arrepiou entende do que estou falando. Você pode começar desmotivado e chocho, mas daqui a pouco aquela coisa boa te toma, você se irmana com todo mundo e entra numa bolha de beleza compartilhada.  Tudo isso ele faz.  Talvez por esse motivo que Vinícius de Moraes tenha dito que  "o bom samba é uma forma de oração". É verdade.

Ele disse também que "o samba é a tristeza que balança". Não tenho melhor definição.   Sambar é falar de amor e de dor com graça e sorriso.  É tornar-se humano no sentido mais elevado do termo.  É tecer numa canção todos os fatos da vida, fazer uma passarela e sapatear em cima.  Viver o samba é falar de desencontro como se fosse encontro, despedida como se fosse abraço, lágrima como se fosse gargalhada.  É sonhar como se tivéssemos alcançado, rebolar como se tivéssemos graça, cantar junto como se fôssemos irmãos. O samba é o consolo de quem sofre, a união dos que não se conhecem, o beabá da paixão e sensibilidade.  É ainda a prova incontestável de que somos feitos para algo maior, seja lá o que isso signifique pra você.

Em resumo: é mesmo uma forma de oração.  É como uma mão que levanta nosso queixo e nos faz ver beleza onde não havia.

Eu amo o bom samba. O BOM samba, não essas porcarias que chamam de "pagode", onde se juntam meia dúzia de carinhas de mal gosto cantando música furreca com letras pobres. Quem só ouve esse tipo de "pagode" não sabe o que é ficar todo arrepiado ouvindo PELA PORTA ABERTA ,  FOI UM RIO QUE PASSOU EM MINHA VIDA ,  VAI PASSAR ou O QUE? É O QUE É?  Samba que não arrepia não é samba, é brincadeira de mal gosto.

Pode estar tudo ruim, mas no meio do batuque a cabeça dá uma iluminada e a gente acaba proclamando, todo orgulhoso:  

DIGA ESPELHO MEU SE HÁ NA AVENIDA ALGUÉM MAIS FELIZ QUE EU!


(E aquela postagem sobre o Marx? ah, esquece!)

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domingo, 9 de janeiro de 2011

Reflexões sobre o samba

Depois de longa observação, pesquisa e meditação cheguei ao veredicto:  samba é coisa de Deus.  Foi ele quem bolou todo o lance.   Bolou pra nos dar uma colher de chá nessa nossa vidinha você-sabe-como. Sacando nossas saudades, tristezas, sonhos interrompidos, dívidas e carências ele jogou lá do alto batuque, acordes, cadência e molejo para nos dar momentos de esquecimento e ingênua alegria.

Pois é, pra chorar ou para rir, para comemorar ou enquanto esperamos que a vida se resolva, o samba é uma lindeza ritmada, um bálsamo, um subir de degrau que a gente vai indo e de repente deixa tudo pra lá.  Ele nos eleva. Como? Não sei, só sei que é assim.  Quem já se arrepiou entende do que estou falando. Você pode começar desmotivado e chocho, mas daqui a pouco aquela coisa boa te toma, você se irmana com todo mundo e entra numa bolha de beleza compartilhada.  Tudo isso ele faz.  Talvez por esse motivo que Vinícius de Moraes tenha dito que  "o bom samba é uma forma de oração". É verdade.

Ele disse também que "o samba é a tristeza que balança". Não tenho melhor definição.   Sambar é falar de amor e de dor com graça e sorriso.  É tornar-se humano no sentido mais elevado do termo.  É tecer numa canção todos os fatos da vida, fazer uma passarela e sapatear em cima.  Viver o samba é falar de desencontro como se fosse encontro, despedida como se fosse abraço, lágrima como se fosse gargalhada.  É sonhar como se tivéssemos alcançado, rebolar como se tivéssemos graça, cantar junto como se fôssemos irmãos. O samba é o consolo de quem sofre, a união dos que não se conhecem, o beabá da paixão e sensibilidade.  É ainda a prova incontestável de que somos feitos para algo maior, seja lá o que isso signifique pra você.

Em resumo: é mesmo uma forma de oração.  É como uma mão que levanta nosso queixo e nos faz ver beleza onde não havia.

Eu amo o bom samba. O BOM samba, não essas porcarias que chamam de "pagode", onde se juntam meia dúzia de carinhas de mal gosto cantando música furreca com letras pobres. Quem só ouve esse tipo de "pagode" não sabe o que é ficar todo arrepiado ouvindo PELA PORTA ABERTA ,  FOI UM RIO QUE PASSOU EM MINHA VIDA ,  VAI PASSAR ou O QUE? É O QUE É?  Samba que não arrepia não é samba, é brincadeira de mal gosto.

Pode estar tudo ruim, mas no meio do batuque a cabeça dá uma iluminada e a gente acaba proclamando, todo orgulhoso:  

DIGA ESPELHO MEU SE HÁ NA AVENIDA ALGUÉM MAIS FELIZ QUE EU!


(E aquela postagem sobre o Marx? ah, esquece!)

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