sábado, 22 de janeiro de 2011
Quarenta e cinco reais!
Caramba, eu paguei isso pra assistir um filme? Paguei. Mereço 45 açoites.
Fiquei es-can-da-li-za-da quando vi o preço mas uma estranha força me levou a ir até o fim na empreitada. Paguei. KINOPLEX é o nome do bicho. Um cinema metido a cinema de luxo, com a assinatura de um tal Severiano Ribeiro.
Antes de entrar na sala de projeção temos um hall de espera com pufs, lustres modernos, toalete bonito. Você sabe que gosto dessas coisas, né. Sou uma fraca mesmo... Lá dentro as poltronas são enormes com todo conforto que você acha que merece. Bem, por 45 reais eu achei que merecia mesmo.
Entrei e sentei em minha poltrona numerada, revestida de couro, com lugar para esticar as pernas. Daqui a pouco senta ao lado uma moça. Passados uns minutinhos entra uma garçonete trazendo uma bandeja com as pipocas da moça, o refrigerante, guardanapo, - kit completo. É mole ou quer mais? Eu também quis ser servida porque (repito) como vocÊs sabem, sou uma fraca e gosto muito dessas coisas. Comprei água e o copinho era daqueles descartáveis transparentes, mais caros. A bandeja com o "combo" de pipocas era diferente daquelas que você conhece. As pipocas podem ser saborizadas e vem com recipientezinhos com manteiga líquida. Vi também que eles oferecem a opção de uns outros líquidos coloridos para jogar na pipoca mas eu não descobri o que eram, então não posso contar pra vocÊs.
Eu estava pagando pelo quê mesmo? Pelas poltronas? Não. Pela garçonete tazendo pipoca? Acho que também não. O filme? Não, se fosse só pelo filme eu poderia me dirigir ao cinema ao lado.
A gente paga por ilusão. Somos todos uns bebezões.
A gente paga pra fazer de conta que somos finos, elegantes, que pertencemos a uma estirpe distinta, acostumada ao luxo e habituada a ser servida. Ha ha ha! Tudo mentira mas a gente entra no jogo. Pagamos e os figurantes se comportam direitinho, como se eles também fossem habituados a tratar com a alta "soçaite". Ha ha ha de novo. A brincadeira é a de que estamos perfeitamente dispostos e aptos a pagar pelo luxo e que isso é coisa corriqueira, tão natural que seria impensável a vida sem essas e outras mordomias. Pagamos pela brincadeirinha de fazer de conta que só o que é de melhor pode nos tocar e nos satisfazer.
Todos sabemos: não somos nada disso. Todos já experimentamos tomar banho em um cubículos de 50 centímetros quadrados. Todos já convivemos com copos de geléia pra beber suco, com lençóis 90% poliéster, com os bandejões da vida, o pneu careca há meses, o crediário. E nenhum de nós gosta de jogar dinheiro fora - Deus nos livre. Então porque entramos nessa?
Pra fazer de conta. Vida real é um prato que enjoa. Tem que dar uma variada, colocar um molho diferente e esse molho se chama sonho, fingimento, faz-de-conta. Sonhar é de graça mas se queremos a ajuda de cenário e figurante, temos que pagar por isso. E pagamos. Eu paguei.
Se vale a pena? Não sei até agora, mas que foi bom, foi.
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sábado, 22 de janeiro de 2011
Quarenta e cinco reais!
Caramba, eu paguei isso pra assistir um filme? Paguei. Mereço 45 açoites.
Fiquei es-can-da-li-za-da quando vi o preço mas uma estranha força me levou a ir até o fim na empreitada. Paguei. KINOPLEX é o nome do bicho. Um cinema metido a cinema de luxo, com a assinatura de um tal Severiano Ribeiro.
Antes de entrar na sala de projeção temos um hall de espera com pufs, lustres modernos, toalete bonito. Você sabe que gosto dessas coisas, né. Sou uma fraca mesmo... Lá dentro as poltronas são enormes com todo conforto que você acha que merece. Bem, por 45 reais eu achei que merecia mesmo.
Entrei e sentei em minha poltrona numerada, revestida de couro, com lugar para esticar as pernas. Daqui a pouco senta ao lado uma moça. Passados uns minutinhos entra uma garçonete trazendo uma bandeja com as pipocas da moça, o refrigerante, guardanapo, - kit completo. É mole ou quer mais? Eu também quis ser servida porque (repito) como vocÊs sabem, sou uma fraca e gosto muito dessas coisas. Comprei água e o copinho era daqueles descartáveis transparentes, mais caros. A bandeja com o "combo" de pipocas era diferente daquelas que você conhece. As pipocas podem ser saborizadas e vem com recipientezinhos com manteiga líquida. Vi também que eles oferecem a opção de uns outros líquidos coloridos para jogar na pipoca mas eu não descobri o que eram, então não posso contar pra vocÊs.
Eu estava pagando pelo quê mesmo? Pelas poltronas? Não. Pela garçonete tazendo pipoca? Acho que também não. O filme? Não, se fosse só pelo filme eu poderia me dirigir ao cinema ao lado.
A gente paga por ilusão. Somos todos uns bebezões.
A gente paga pra fazer de conta que somos finos, elegantes, que pertencemos a uma estirpe distinta, acostumada ao luxo e habituada a ser servida. Ha ha ha! Tudo mentira mas a gente entra no jogo. Pagamos e os figurantes se comportam direitinho, como se eles também fossem habituados a tratar com a alta "soçaite". Ha ha ha de novo. A brincadeira é a de que estamos perfeitamente dispostos e aptos a pagar pelo luxo e que isso é coisa corriqueira, tão natural que seria impensável a vida sem essas e outras mordomias. Pagamos pela brincadeirinha de fazer de conta que só o que é de melhor pode nos tocar e nos satisfazer.
Todos sabemos: não somos nada disso. Todos já experimentamos tomar banho em um cubículos de 50 centímetros quadrados. Todos já convivemos com copos de geléia pra beber suco, com lençóis 90% poliéster, com os bandejões da vida, o pneu careca há meses, o crediário. E nenhum de nós gosta de jogar dinheiro fora - Deus nos livre. Então porque entramos nessa?
Pra fazer de conta. Vida real é um prato que enjoa. Tem que dar uma variada, colocar um molho diferente e esse molho se chama sonho, fingimento, faz-de-conta. Sonhar é de graça mas se queremos a ajuda de cenário e figurante, temos que pagar por isso. E pagamos. Eu paguei.
Se vale a pena? Não sei até agora, mas que foi bom, foi.
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