domingo, 30 de janeiro de 2011

Queria fazer um teste

Queria novamente vestir meu uniforme de Escola Pública com um EP bordado em azul no peito. Era motivo de orgulho.

Queria sim vestir aquela camisa branca com minha saia azul marinho, pregueada. Minha meia subiria até quase alcançar os joelhos e eu entraria em formação com os colegas. Colocaria minha pasta no chão ao lado da merendeira, pertinho do tornozelo. Então a diretora da escola iria lá para a frente e puxaria um dos hinos que aprendemos: Hino à Bandeira, Hino Nacional, Canção do Expedicionário, Hino da Independência... Qualquer um era belíssimo para mim, eu não tinha preferências.

Quando cantávamos a gente se sentia maior do que era, capaz até algum grande ato de heroísmo.

Se eu voltasse... Ah... Eu respiraria fundo debaixo daquele sol ainda morno. Respiraria já esperando a emoção infalível que me sobreviria. Eu amava os hinos. Eles me faziam acreditar que éramos um povo heróico, forte e idealista.

Não me envergonho de dizer que ainda sinto grande emoção quando ouço nossos hinos. Só que não é  a mesma emoção de antigamente, romântica e cheia de imagens ideais. É uma emoção mista de saudade (imensa!) , sentimento de perda e lamento. Uma emoção de quem vê a beleza de nossos sentimentos juvenis dobrar o rio na chalana.


"Lá vai a chalana! Bem longe se vai
Cruzando o remanso do rio Paraguai
Oh chalana, sem querer tu aumentas minha dor
Nessas águas tão serenas vais levando o meu (nosso!)  amor!"

É possível que alguns jovens ainda se emocionem com nossos hinos. Uns poucos ainda ficariam arrepiados mas mesmo esses poucos não teriam coragem de confessar essa "falha" para os colegas.  Nós, do passado, tínhamos. Amar a pátria era bonito, não um atestado de babaquice.

Antigamente era um orgulho estudar em escola pública. No tempo dos militares. Só quem ia para escola particular eram os alunos vadios (ou burros) que pudessem pagar. Lá, qualquer bestalhão passava. Quem era bom mesmo, estudava em escola pública.


"- Não quer estudar? Vive repetindo? Então cai fora e dá a vaga para outro."  

Os bons tinham vaga certa na escola pública e estufavam o peito. Lembro de um episódio no qual minha mãe teve que ir atrás de conseguir um ATESTADO DE POBREZA para poder manter minha matrícula. Sério!

Mãe, por favor, traga aquele meu uniforme branco e azul marinho! E minhas meias três quartos. Pegue minha mão e me leve tranquilamente pelas ruas do Estácio. Cumprimente o Kid Moringueira, nosso vizinho ilustre.   Despeça-me com um beijo e me deixe entrar no pátio pois os colegas já estão em posição de sentido. Quero sentir tudo de novo, mãe! Quero ouvir o hino! Deixe eu ser criança novamente, só mais uma vez. Quero sentir de novo aquela vontade de chorar, aquele orgulho e aquele amor pelos soldados.

"Se alguém quer matar-me de amor, que me mate no Estácio..."

Queria fazer o teste. Queria repetir todo o cenário e descobrir se ainda tenho coração para aquilo tudo. é lindo o que uma criança é capaz de sentir e o que um adulto é capaz de manter se não for  seriamente atrapalhado.


Por mais terras que eu percorra, não permita Deus que eu morra sem que eu volte para lá, para aquele passado arborizado, para só mais uma vez me sentir brasileira-com-muito-orgulho.

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domingo, 30 de janeiro de 2011

Queria fazer um teste

Queria novamente vestir meu uniforme de Escola Pública com um EP bordado em azul no peito. Era motivo de orgulho.

Queria sim vestir aquela camisa branca com minha saia azul marinho, pregueada. Minha meia subiria até quase alcançar os joelhos e eu entraria em formação com os colegas. Colocaria minha pasta no chão ao lado da merendeira, pertinho do tornozelo. Então a diretora da escola iria lá para a frente e puxaria um dos hinos que aprendemos: Hino à Bandeira, Hino Nacional, Canção do Expedicionário, Hino da Independência... Qualquer um era belíssimo para mim, eu não tinha preferências.

Quando cantávamos a gente se sentia maior do que era, capaz até algum grande ato de heroísmo.

Se eu voltasse... Ah... Eu respiraria fundo debaixo daquele sol ainda morno. Respiraria já esperando a emoção infalível que me sobreviria. Eu amava os hinos. Eles me faziam acreditar que éramos um povo heróico, forte e idealista.

Não me envergonho de dizer que ainda sinto grande emoção quando ouço nossos hinos. Só que não é  a mesma emoção de antigamente, romântica e cheia de imagens ideais. É uma emoção mista de saudade (imensa!) , sentimento de perda e lamento. Uma emoção de quem vê a beleza de nossos sentimentos juvenis dobrar o rio na chalana.


"Lá vai a chalana! Bem longe se vai
Cruzando o remanso do rio Paraguai
Oh chalana, sem querer tu aumentas minha dor
Nessas águas tão serenas vais levando o meu (nosso!)  amor!"

É possível que alguns jovens ainda se emocionem com nossos hinos. Uns poucos ainda ficariam arrepiados mas mesmo esses poucos não teriam coragem de confessar essa "falha" para os colegas.  Nós, do passado, tínhamos. Amar a pátria era bonito, não um atestado de babaquice.

Antigamente era um orgulho estudar em escola pública. No tempo dos militares. Só quem ia para escola particular eram os alunos vadios (ou burros) que pudessem pagar. Lá, qualquer bestalhão passava. Quem era bom mesmo, estudava em escola pública.


"- Não quer estudar? Vive repetindo? Então cai fora e dá a vaga para outro."  

Os bons tinham vaga certa na escola pública e estufavam o peito. Lembro de um episódio no qual minha mãe teve que ir atrás de conseguir um ATESTADO DE POBREZA para poder manter minha matrícula. Sério!

Mãe, por favor, traga aquele meu uniforme branco e azul marinho! E minhas meias três quartos. Pegue minha mão e me leve tranquilamente pelas ruas do Estácio. Cumprimente o Kid Moringueira, nosso vizinho ilustre.   Despeça-me com um beijo e me deixe entrar no pátio pois os colegas já estão em posição de sentido. Quero sentir tudo de novo, mãe! Quero ouvir o hino! Deixe eu ser criança novamente, só mais uma vez. Quero sentir de novo aquela vontade de chorar, aquele orgulho e aquele amor pelos soldados.

"Se alguém quer matar-me de amor, que me mate no Estácio..."

Queria fazer o teste. Queria repetir todo o cenário e descobrir se ainda tenho coração para aquilo tudo. é lindo o que uma criança é capaz de sentir e o que um adulto é capaz de manter se não for  seriamente atrapalhado.


Por mais terras que eu percorra, não permita Deus que eu morra sem que eu volte para lá, para aquele passado arborizado, para só mais uma vez me sentir brasileira-com-muito-orgulho.

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