terça-feira, 25 de maio de 2010

Efeito África

Há meses atrás escrevi um texto dando uma sutil detonada no casal Sheila Carvalho e Toni Salles. Disse que eles formavam um casal "muderno".  Fui posteriormente corrigida por uma leitora: "MEU AMOR É "MODERNO" E NÃO "MUDERNO" TA?"

Tá.

Fiquei pensando... Escrevi errado de propósito, com um fim bem claro, e jurei que todos que lessem entenderiam. Fiquei chateada ao constatar que não sou tão clara quanto supunha.

Quando rotulei o distinto casal de "muderno" e não de "moderno" a intenção era de passar a idéia de que o modo de vida deles me chega atravessado e esquisito, tanto quanto nas ocasiões em que ouvimos alguém falar errado.

Concomitantemente eu quis dizer que para mim eles não são realmente modernos; se fossem modernos seriam invejáveis mas como são "mudernos", parecem ser apenas dissolutos e bregas.

Alguém já disse que se um leitor não entendeu o que o escritor quis dizer, um dos dois é burro; ou o leitor, anta, que não tem capacidade de entender o que lê, ou o escritor, que não tem competência para se fazer entender. Vá descobrir!

Mesmo estando em um país de analfabetos maquiados, vou carregar, resignada, esse botton: Sou burra. Não por ter escrito "muderno" mas por não ter conseguido deixar clara a idéia que queria transmitir.

Excesso de sutileza dá nisso.

Consolei-me com um texto que li aqui na Internet: "O Macapá não existe". O talentoso escritor zoou com Macapá escrevendo um monte de coisas engraçadas e leves. Uma simples brincadeira... e um monte de gente indignada apareceu chamando-o de desinformado, preconceituoso, ridículo, que Macapá é uma parte gloriosa no território nacional com uma população ordeira, gentil, lutadora, maravilhosa, altaneira, blá blá blá.  Só faltaram enforcar o pobre.  Eu quase podia ver a uma multidão ensandecida carregando com foices e tochas, tentando jogar o herege na fogueira.  

Fiquei impressionada com a dificuldade daquelas pessoas entenderem o que o cidadão escreveu. Pasma, e um tanto assustada, com a falta de senso de humor das pessoas, com a escuridão dos tempos modernos. Como não entenderam que era brincadeira? ! Pareceu-me tão claro! Adorei o texto. Pois a quase totalidade dos leitores responderam com ofensas exaltadas, como se ali estivesse um criminoso, um demônio, um ser nocivo. Vixe!

Os tempos em que vivemos são tão tristes e  tensos que parece haver uma certa dificuldade em acreditar e aceitar a leveza. A sutileza do falar, antes vista como virtude, agora é uma fonte de ódio e agressão gratuitos. Tudo é levado a ferro e fogo.

Pois é, voltando ao meu caso: "efeito África" foi meu consolo.  Você já deve ter notado que quando a gente reclama de uma coisa aparece sempre alguém para nos lembrar que temos mais é que calar a boca porque tem milhões passando fome na África. Não é verdade?  Não se pode mais nem desabafar...

Pois nesse momento cesso de vez com minha reclamação por não ter sido entendida pois acabei de lembrar que existem milhões de escritores em situação muito pior do que a minha. Melhor levantar as mãos para os céus e ficar quieta...

Um comentário:

  1. hahahaha. Concordo plenamente com tudo, em especial quanto ao texto de Macapá. Vc leu a resposta do autor às críticas? Igual vc explicando o "significado de muderna".

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terça-feira, 25 de maio de 2010

Efeito África

Há meses atrás escrevi um texto dando uma sutil detonada no casal Sheila Carvalho e Toni Salles. Disse que eles formavam um casal "muderno".  Fui posteriormente corrigida por uma leitora: "MEU AMOR É "MODERNO" E NÃO "MUDERNO" TA?"

Tá.

Fiquei pensando... Escrevi errado de propósito, com um fim bem claro, e jurei que todos que lessem entenderiam. Fiquei chateada ao constatar que não sou tão clara quanto supunha.

Quando rotulei o distinto casal de "muderno" e não de "moderno" a intenção era de passar a idéia de que o modo de vida deles me chega atravessado e esquisito, tanto quanto nas ocasiões em que ouvimos alguém falar errado.

Concomitantemente eu quis dizer que para mim eles não são realmente modernos; se fossem modernos seriam invejáveis mas como são "mudernos", parecem ser apenas dissolutos e bregas.

Alguém já disse que se um leitor não entendeu o que o escritor quis dizer, um dos dois é burro; ou o leitor, anta, que não tem capacidade de entender o que lê, ou o escritor, que não tem competência para se fazer entender. Vá descobrir!

Mesmo estando em um país de analfabetos maquiados, vou carregar, resignada, esse botton: Sou burra. Não por ter escrito "muderno" mas por não ter conseguido deixar clara a idéia que queria transmitir.

Excesso de sutileza dá nisso.

Consolei-me com um texto que li aqui na Internet: "O Macapá não existe". O talentoso escritor zoou com Macapá escrevendo um monte de coisas engraçadas e leves. Uma simples brincadeira... e um monte de gente indignada apareceu chamando-o de desinformado, preconceituoso, ridículo, que Macapá é uma parte gloriosa no território nacional com uma população ordeira, gentil, lutadora, maravilhosa, altaneira, blá blá blá.  Só faltaram enforcar o pobre.  Eu quase podia ver a uma multidão ensandecida carregando com foices e tochas, tentando jogar o herege na fogueira.  

Fiquei impressionada com a dificuldade daquelas pessoas entenderem o que o cidadão escreveu. Pasma, e um tanto assustada, com a falta de senso de humor das pessoas, com a escuridão dos tempos modernos. Como não entenderam que era brincadeira? ! Pareceu-me tão claro! Adorei o texto. Pois a quase totalidade dos leitores responderam com ofensas exaltadas, como se ali estivesse um criminoso, um demônio, um ser nocivo. Vixe!

Os tempos em que vivemos são tão tristes e  tensos que parece haver uma certa dificuldade em acreditar e aceitar a leveza. A sutileza do falar, antes vista como virtude, agora é uma fonte de ódio e agressão gratuitos. Tudo é levado a ferro e fogo.

Pois é, voltando ao meu caso: "efeito África" foi meu consolo.  Você já deve ter notado que quando a gente reclama de uma coisa aparece sempre alguém para nos lembrar que temos mais é que calar a boca porque tem milhões passando fome na África. Não é verdade?  Não se pode mais nem desabafar...

Pois nesse momento cesso de vez com minha reclamação por não ter sido entendida pois acabei de lembrar que existem milhões de escritores em situação muito pior do que a minha. Melhor levantar as mãos para os céus e ficar quieta...

Um comentário:

  1. hahahaha. Concordo plenamente com tudo, em especial quanto ao texto de Macapá. Vc leu a resposta do autor às críticas? Igual vc explicando o "significado de muderna".

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