quinta-feira, 5 de maio de 2011

O mais lindo poema sobre a maternidade

Deliciem-se com Augusto dos Anjos:


Mater


Como a crisálida emergindo do ovo
Para que o campo flórido a concentre,
Assim, oh mãe, sujo de sangue, um novo
Ser, entre dores, te emergiu do ventre!

E puseste-lhe, haurindo amplo deleite,
No lábio róseo a grande teta farta
— Fecunda fonte desse mesmo leite —
Que amamentou os éfebos de Sparta. —

Com que avidez ele essa fonte suga!
Ninguém mais com a Beleza está de acordo,
Do que essa pequenina sanguessuga,
Bebendo a vida no teu seio gordo!

Pois, quanto a mim, sem pretensões, comparo,
Essas humanas cousas pequeninas
A um biscuít de quilate muito raro
Exposto aí, à amostra, nas vitrinas.

Mas o ramo fragílimo e venusto
Que hoje nas débeis gêmulas se esboça,
Há de crescer, há de tornar-se arbusto
E álamo altivo de ramagem grossa.

Clara, a atmosfera se encherá de aromas,
O Sol virá das épocas sadias...
E o antigo leão, que te esgotou as pomas,
Há de beijar-te as mãos todos os dias!

Quando chegar depois tua velhice
Batida pelos bárbaros invernos!
Relembrarás chorando o que eu te disse,
A sombra dos sicômoros eternos!






VOCABULÁRIO:

Sparta – Esparta (cidade da Grécia antiga).
Biscuít – Porcelana fina.
Venusto – Muito formoso.
Gêmulas – Pequenas gemas (aquilo que, brotando, pode originar novo indivíduo).
Pomas – Aqui, seios, mamas.
Sicômoros – Falsos-plátanos (árvore de folhas grandes que pode alcançar até 30 metros de altura). 


Nenhum comentário:

Postar um comentário

quinta-feira, 5 de maio de 2011

O mais lindo poema sobre a maternidade

Deliciem-se com Augusto dos Anjos:


Mater


Como a crisálida emergindo do ovo
Para que o campo flórido a concentre,
Assim, oh mãe, sujo de sangue, um novo
Ser, entre dores, te emergiu do ventre!

E puseste-lhe, haurindo amplo deleite,
No lábio róseo a grande teta farta
— Fecunda fonte desse mesmo leite —
Que amamentou os éfebos de Sparta. —

Com que avidez ele essa fonte suga!
Ninguém mais com a Beleza está de acordo,
Do que essa pequenina sanguessuga,
Bebendo a vida no teu seio gordo!

Pois, quanto a mim, sem pretensões, comparo,
Essas humanas cousas pequeninas
A um biscuít de quilate muito raro
Exposto aí, à amostra, nas vitrinas.

Mas o ramo fragílimo e venusto
Que hoje nas débeis gêmulas se esboça,
Há de crescer, há de tornar-se arbusto
E álamo altivo de ramagem grossa.

Clara, a atmosfera se encherá de aromas,
O Sol virá das épocas sadias...
E o antigo leão, que te esgotou as pomas,
Há de beijar-te as mãos todos os dias!

Quando chegar depois tua velhice
Batida pelos bárbaros invernos!
Relembrarás chorando o que eu te disse,
A sombra dos sicômoros eternos!






VOCABULÁRIO:

Sparta – Esparta (cidade da Grécia antiga).
Biscuít – Porcelana fina.
Venusto – Muito formoso.
Gêmulas – Pequenas gemas (aquilo que, brotando, pode originar novo indivíduo).
Pomas – Aqui, seios, mamas.
Sicômoros – Falsos-plátanos (árvore de folhas grandes que pode alcançar até 30 metros de altura). 


Nenhum comentário:

Postar um comentário