Dizem que poeta sofre. Não gosto disso que dizem. Só que existe um monte de coisas das quais também não gosto mas que existem a despeito do meu não-gostar. Pois toma-te mais uma.
A poesia não sai do coração assim, de graça. Ela sai por estar sendo amassada, espremida e espetada lá dentro. Sai porque não aguenta mais ficar. Sai de boca aberta contando pra todo mundo, berrando, denunciando um estado de coisas que não pode ser, que não se contém em si e chega de discrição!
Poemar é jogar no ventilador, é mostrar a bunda. Toda poesia é uma denúncia contra o próprio coração - ingrata moradia.
Difícil é escrever profundamente na paz, na maciota, no gozo de uma ventura. Até porque a ventura requer tempo para ser gozada e ninguém ousará interrompê-la para escrever um mau verso. Ainda mais sabendo quão melhor verso será esse quando a ventura se for. Espere que a alegria vire as costas; aí você pega a caneta.
É verdade que existem poesias luminosas. Só que as singelas alegrias das vidas felizes não se prestam à poesia. Pra render um bom verso a alegria tem que ser opressiva. A felicidade do poeta tem que ser uma pérola caída num rosário de tristezas e assim surpreender tanto mas tanto a ponto de causar perplexidade e comoção. A alegria de onde sai poesia tem que ser como o sol entrando na cela escura e solitária do preso; tem que ofuscar, doer o peito imitando a tristeza e fazer o poeta sair gritando do mesmo modo, denunciando que aquilo tudo não cabe, que a vida não é assim e ai meu Deus eu vou morrer, que coisa linda!
As poesias que não nascem da opressão da angústia ou da opressão da felicidade extrema, são chatas. Cha-tas; piegas, maquiadas, adocicadas. Enjoam. Dá até formiga.
Isso tudo é pra dizer que a pausa na qual me encontro vem de uma certa nulidade calma e não-pensante. Um momento da vida, por assim dizer. Ainda assim fica uma dorzinha: a dor da saudade da poesia com todos os seus tormentos. E há também agora a dor da expectativa a respeito do que virá perturbar a serenidade do meu não-pensar.
No parágrafo anterior já há estão expostas duas dores. Mas duas dores é pouco demais para um poeta.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
quinta-feira, 29 de abril de 2010
Poesia & Opressão
Dizem que poeta sofre. Não gosto disso que dizem. Só que existe um monte de coisas das quais também não gosto mas que existem a despeito do meu não-gostar. Pois toma-te mais uma.
A poesia não sai do coração assim, de graça. Ela sai por estar sendo amassada, espremida e espetada lá dentro. Sai porque não aguenta mais ficar. Sai de boca aberta contando pra todo mundo, berrando, denunciando um estado de coisas que não pode ser, que não se contém em si e chega de discrição!
Poemar é jogar no ventilador, é mostrar a bunda. Toda poesia é uma denúncia contra o próprio coração - ingrata moradia.
Difícil é escrever profundamente na paz, na maciota, no gozo de uma ventura. Até porque a ventura requer tempo para ser gozada e ninguém ousará interrompê-la para escrever um mau verso. Ainda mais sabendo quão melhor verso será esse quando a ventura se for. Espere que a alegria vire as costas; aí você pega a caneta.
É verdade que existem poesias luminosas. Só que as singelas alegrias das vidas felizes não se prestam à poesia. Pra render um bom verso a alegria tem que ser opressiva. A felicidade do poeta tem que ser uma pérola caída num rosário de tristezas e assim surpreender tanto mas tanto a ponto de causar perplexidade e comoção. A alegria de onde sai poesia tem que ser como o sol entrando na cela escura e solitária do preso; tem que ofuscar, doer o peito imitando a tristeza e fazer o poeta sair gritando do mesmo modo, denunciando que aquilo tudo não cabe, que a vida não é assim e ai meu Deus eu vou morrer, que coisa linda!
As poesias que não nascem da opressão da angústia ou da opressão da felicidade extrema, são chatas. Cha-tas; piegas, maquiadas, adocicadas. Enjoam. Dá até formiga.
Isso tudo é pra dizer que a pausa na qual me encontro vem de uma certa nulidade calma e não-pensante. Um momento da vida, por assim dizer. Ainda assim fica uma dorzinha: a dor da saudade da poesia com todos os seus tormentos. E há também agora a dor da expectativa a respeito do que virá perturbar a serenidade do meu não-pensar.
No parágrafo anterior já há estão expostas duas dores. Mas duas dores é pouco demais para um poeta.
A poesia não sai do coração assim, de graça. Ela sai por estar sendo amassada, espremida e espetada lá dentro. Sai porque não aguenta mais ficar. Sai de boca aberta contando pra todo mundo, berrando, denunciando um estado de coisas que não pode ser, que não se contém em si e chega de discrição!
Poemar é jogar no ventilador, é mostrar a bunda. Toda poesia é uma denúncia contra o próprio coração - ingrata moradia.
Difícil é escrever profundamente na paz, na maciota, no gozo de uma ventura. Até porque a ventura requer tempo para ser gozada e ninguém ousará interrompê-la para escrever um mau verso. Ainda mais sabendo quão melhor verso será esse quando a ventura se for. Espere que a alegria vire as costas; aí você pega a caneta.
É verdade que existem poesias luminosas. Só que as singelas alegrias das vidas felizes não se prestam à poesia. Pra render um bom verso a alegria tem que ser opressiva. A felicidade do poeta tem que ser uma pérola caída num rosário de tristezas e assim surpreender tanto mas tanto a ponto de causar perplexidade e comoção. A alegria de onde sai poesia tem que ser como o sol entrando na cela escura e solitária do preso; tem que ofuscar, doer o peito imitando a tristeza e fazer o poeta sair gritando do mesmo modo, denunciando que aquilo tudo não cabe, que a vida não é assim e ai meu Deus eu vou morrer, que coisa linda!
As poesias que não nascem da opressão da angústia ou da opressão da felicidade extrema, são chatas. Cha-tas; piegas, maquiadas, adocicadas. Enjoam. Dá até formiga.
Isso tudo é pra dizer que a pausa na qual me encontro vem de uma certa nulidade calma e não-pensante. Um momento da vida, por assim dizer. Ainda assim fica uma dorzinha: a dor da saudade da poesia com todos os seus tormentos. E há também agora a dor da expectativa a respeito do que virá perturbar a serenidade do meu não-pensar.
No parágrafo anterior já há estão expostas duas dores. Mas duas dores é pouco demais para um poeta.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário