sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Mais trinta anos? Não, obrigada.



Não desejo para mim mesma uma vida longa demais.


É sério: não estou preparada para me imaginar tendo que, mais alguns milhares de vezes, pintar o cabelo, desembaraçá-los, ficar sentada na cadeira desconfortável do salão fazendo as unhas, desviando de bandido, de gente chata, de programa de índio,  tendo que segurar os excessos de riso, de choro, de comida, de comentário, de gastos, de otimismo, de pessimismo, de preguiça, de coragem despropositada. Não, tudo isso é cansativo demais se repetido por mais três décadas, pense bem.


Só de pensar em ir a mais uns 20 funerais, 20 casamentos, 20 chás de panela, 20 chás de bebê... bate um desconsolo. O fato é que ninguém que viva tanto escapa disso nem de ser torturado friamente por um dentista por horas e horas. Sob a ameaça de uma broca eu confesso até que matei Joana D'Arc. Se você viver mais, já imaginou quantas horas passará no dentista? E quantos discursos ouvirá?  E horas de aborrecimento no trabalho, dspera em banco, doenças, despedidas e pagamento de dívidas?   Ah não!

Deve ser meio estranho olhar para o espelho e saber que não adianta mais usar maquiagem. Sim, maquiagem, a última esperança das feias.  Hoje animo-me com minhas pinturas. Brinco com as cores, as texturas. Sou minha própria Barbie. Quando não tenho o que fazer, experimento novas formas de me maquiar. É divertido. Chato não ter mais nem esse entretenimento nem saltos altos, decotes, nem correr para atravessar a rua e chegar rindo e ofegante do outro lado. Nada. É pé ante pé. Gosto de correr e não quero andar pé ante pé, droga!

Gosto de fazer novos amigos mas não me agrada a idéia de ser cercada APENAS por pessoas que só me conheceram depois de velha; que nunca me viram jovem e cheia de vida. Já ouviu dizerem de alguém "A, o seu fulano? Seguramente ele nasceu velho. Eu era criança e ele já tinha aquela cara!"    Que coisa dolorosa!

Não quero que me vejam como alguém sem passado, que já nasceu com um caixão debaixo da cama. Quero conviver com pessoas que se lembram de como eu era. Novos amigos não tem a nossa juventude na lembrança e isso é triste. Quero os velhos amigos sempre comigo. Mas que droga, eles vão morrer! Pois vou pregar-lhes uma peça: vou primeiro, ha ha ha! Lixem-se, que fiquem para trás.

Viver mais trinta anos? Não, obrigada. Ninguém vive tanto se não for a peso de remédios e de sapatilhas (meus lindos sapatos altos, quem os adotará?) e indo dormir cedo depois de passar o dia sem entender o mundo e suas novas (e desnecessárias) tecnologias cheias de pegadinhas.

Daqui a mais trinta minha turma não poderá se reunir mais. Uns morreram e os que sobraram moram com filhos ou em asilos e terão dificuldade de locomoção. Como juntar esse povo?

Também não deve ser divertido saber que minha família preferia que eu me contentasse em ficar em casa dentro de um sarcófago tricotando e esperando a morte chegar porque sair é um risco para uma velhinha.  


Amigos, tranquilizem-se: não estou infeliz. Esta não é uma postagem amargurada. Só estou avisando que quando eu for, vou na boa! Não tentem me segurar com orações. Sai pra lá!

3 comentários:

  1. Por falar em trinta vou fazer os meus primeiros trinta semana que vem...

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  2. ar em trinta vou fazer os meus primeiros trinta semana que vem...

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  3. O pior é imaginar que você se tonar totalmente dependente dos outros, é. Realmente. Ninguém merece viver tanto

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sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Mais trinta anos? Não, obrigada.



Não desejo para mim mesma uma vida longa demais.


É sério: não estou preparada para me imaginar tendo que, mais alguns milhares de vezes, pintar o cabelo, desembaraçá-los, ficar sentada na cadeira desconfortável do salão fazendo as unhas, desviando de bandido, de gente chata, de programa de índio,  tendo que segurar os excessos de riso, de choro, de comida, de comentário, de gastos, de otimismo, de pessimismo, de preguiça, de coragem despropositada. Não, tudo isso é cansativo demais se repetido por mais três décadas, pense bem.


Só de pensar em ir a mais uns 20 funerais, 20 casamentos, 20 chás de panela, 20 chás de bebê... bate um desconsolo. O fato é que ninguém que viva tanto escapa disso nem de ser torturado friamente por um dentista por horas e horas. Sob a ameaça de uma broca eu confesso até que matei Joana D'Arc. Se você viver mais, já imaginou quantas horas passará no dentista? E quantos discursos ouvirá?  E horas de aborrecimento no trabalho, dspera em banco, doenças, despedidas e pagamento de dívidas?   Ah não!

Deve ser meio estranho olhar para o espelho e saber que não adianta mais usar maquiagem. Sim, maquiagem, a última esperança das feias.  Hoje animo-me com minhas pinturas. Brinco com as cores, as texturas. Sou minha própria Barbie. Quando não tenho o que fazer, experimento novas formas de me maquiar. É divertido. Chato não ter mais nem esse entretenimento nem saltos altos, decotes, nem correr para atravessar a rua e chegar rindo e ofegante do outro lado. Nada. É pé ante pé. Gosto de correr e não quero andar pé ante pé, droga!

Gosto de fazer novos amigos mas não me agrada a idéia de ser cercada APENAS por pessoas que só me conheceram depois de velha; que nunca me viram jovem e cheia de vida. Já ouviu dizerem de alguém "A, o seu fulano? Seguramente ele nasceu velho. Eu era criança e ele já tinha aquela cara!"    Que coisa dolorosa!

Não quero que me vejam como alguém sem passado, que já nasceu com um caixão debaixo da cama. Quero conviver com pessoas que se lembram de como eu era. Novos amigos não tem a nossa juventude na lembrança e isso é triste. Quero os velhos amigos sempre comigo. Mas que droga, eles vão morrer! Pois vou pregar-lhes uma peça: vou primeiro, ha ha ha! Lixem-se, que fiquem para trás.

Viver mais trinta anos? Não, obrigada. Ninguém vive tanto se não for a peso de remédios e de sapatilhas (meus lindos sapatos altos, quem os adotará?) e indo dormir cedo depois de passar o dia sem entender o mundo e suas novas (e desnecessárias) tecnologias cheias de pegadinhas.

Daqui a mais trinta minha turma não poderá se reunir mais. Uns morreram e os que sobraram moram com filhos ou em asilos e terão dificuldade de locomoção. Como juntar esse povo?

Também não deve ser divertido saber que minha família preferia que eu me contentasse em ficar em casa dentro de um sarcófago tricotando e esperando a morte chegar porque sair é um risco para uma velhinha.  


Amigos, tranquilizem-se: não estou infeliz. Esta não é uma postagem amargurada. Só estou avisando que quando eu for, vou na boa! Não tentem me segurar com orações. Sai pra lá!

3 comentários:

  1. Por falar em trinta vou fazer os meus primeiros trinta semana que vem...

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  2. ar em trinta vou fazer os meus primeiros trinta semana que vem...

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  3. O pior é imaginar que você se tonar totalmente dependente dos outros, é. Realmente. Ninguém merece viver tanto

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