terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Ah... Natal na França...


Hoje vi uma apresentação de Power Point liiiiinda. Natal na França. Fiquei encantada e sob este encantamento nâo resisti: juntei todas as minhas economias, "esqueci" de pagar as dívidas, pedi dinheiro emprestado aos amigos e voei para a França. Ah...

Todo mundo sabe o que é neve mas nem todos sabem o que é neve bem educada, comportada e posando para foto. É outra coisa!

Neve decorativa, colorida por lâmpadas, abraçando pinheiros, encostada amistosamente em portas e janelas lindamente enfeitadas... Tudo iluminado. Xô trevas! Um primor. Laços vermelhos. Cães com laços vermelhos. Gatos. Ratos, se os há, com lacinhos e meias vermelhas. E ainda por cima (ou por trás, sei lá) um coral de crianças saudáveis e cheirosas (ninguém canta tão bem se não for saudável e cheiroso) entoando (quem canta é pobre; rico "entoa") comoventes canções.

Cá com os meus botões me arrisco a perguntar, de mim para mim e muito discretamente: o que essas canções tem de comovente, se não compreendo uma vírgula do que esses pirralhos "entoam"? Ao que meu "eu mais elevado" prontamente responde: " -E quem precisa entender? A arte transcende a tudo e se você nao percebe isso com o espírito é porque ele não evoluiu; deve portando recolher-se ao porão, que é o seu lugar." Eu percebi sim! Se não sou convidada para jantar nas casas francesas pelo menos para passear de botas de couro nas ruas nevadas faço jus.

Voltando: ninguém precisa mesmo entender a letra das canções. Devem falar qualquer coisa sobre amor, paz no mundo, essas coisas que combinam com os enfeites de Natal. Tudo a ver. Em janeiro vai tudo para as gavetas.


A verdade é que podemos dar mil rodeios. Podemos até nos emocionar mas toda essa produção pode muito bem ser traduzida em cifrões.

Ruas tranquilas sem trombadinha? Dinheiro. Porque ninguém segura em casa um pivete faminto.

Ruas com a neve aplainada à máquina: dinheiro. Nenhum turista vai se atolar de boa vontade na neve, ainda que seja na França.

Luzes natalinas confeitando casas, árvores, janelas e o que mais aparecer: dinheiro. Ou você acha que aquele derrame de estrelas foi descuido de São Pedro? Ou será que os donos dos imóveis passaram o dia pendurados perigosamente em escadas para pendurar aquelas luzinhas lindas? Claro que não. Eles pagaram um profissional para isso porque eles têm dinheiro. Em minha casa eu faço tudo por conta própria. E fica tudo torto.

E o coral? Dinheiro. Quem vai ensaiar dia e noite um monte de pentelhos se não for para receber um bom incentivo? E quem vai levá-los a cantar se for de graça? Ninguém, a não ser para promover o lançamento do CD. De qualquer modo isso representa dinheiro.

Dinheiro, dinheiro, dinheiro. Ainda mais porque até onde eu sei os franceses não são lá muito devotos de coisa nenhuma a não ser da Igualdade, Liberdade e Fraternidade - e olha lá. Até essas três santas estão meio em baixa. O fato é que se eles se fantasiam de Natal só pode sem por um único e reluzente motivo: dinheiro.

Mundo cão.

Natal... criancinhas loiras de nariz e bochechas vermelhas fazendo biquinho na França, bem agasalhadas, andando seguras pelas ruas brancas, janelas claras (sem grades, meus amigos!!!) deixando-nos ver mesas "de revista" com aves certificadas fazendo pose na mesa, pães com algo além da casca, caldos com ervas finas, nozes frescas fazendo coro com troços fumegantes, queijos em inúmeras tonalidades e com todos os tamanhos de buraquinhos... Ah como o Natal é lindo!

Mas aqui no meio na neve e com um certo receio de ser mandada aos porões, fico novamente me perguntando: o Natal não fica capenga e sem sentido sem aquele garotinho da mangedoura? Sem aqueles anjos, aquela estrela, sem aqueles profetas falando da virgem que... Tá, tá, não vou falar mais nada. A passagem pra França me custou muito caro e já estou vendo uns olhos metralhando em minha direção.

Mas os magos do Oriente... a anunciação... Isso tudo é mais bonito que essa decoração toda. Pra mim é.

Cá pra nós, bem baixinho: Feliz Natal!


Cristina Faraon

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terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Ah... Natal na França...


Hoje vi uma apresentação de Power Point liiiiinda. Natal na França. Fiquei encantada e sob este encantamento nâo resisti: juntei todas as minhas economias, "esqueci" de pagar as dívidas, pedi dinheiro emprestado aos amigos e voei para a França. Ah...

Todo mundo sabe o que é neve mas nem todos sabem o que é neve bem educada, comportada e posando para foto. É outra coisa!

Neve decorativa, colorida por lâmpadas, abraçando pinheiros, encostada amistosamente em portas e janelas lindamente enfeitadas... Tudo iluminado. Xô trevas! Um primor. Laços vermelhos. Cães com laços vermelhos. Gatos. Ratos, se os há, com lacinhos e meias vermelhas. E ainda por cima (ou por trás, sei lá) um coral de crianças saudáveis e cheirosas (ninguém canta tão bem se não for saudável e cheiroso) entoando (quem canta é pobre; rico "entoa") comoventes canções.

Cá com os meus botões me arrisco a perguntar, de mim para mim e muito discretamente: o que essas canções tem de comovente, se não compreendo uma vírgula do que esses pirralhos "entoam"? Ao que meu "eu mais elevado" prontamente responde: " -E quem precisa entender? A arte transcende a tudo e se você nao percebe isso com o espírito é porque ele não evoluiu; deve portando recolher-se ao porão, que é o seu lugar." Eu percebi sim! Se não sou convidada para jantar nas casas francesas pelo menos para passear de botas de couro nas ruas nevadas faço jus.

Voltando: ninguém precisa mesmo entender a letra das canções. Devem falar qualquer coisa sobre amor, paz no mundo, essas coisas que combinam com os enfeites de Natal. Tudo a ver. Em janeiro vai tudo para as gavetas.


A verdade é que podemos dar mil rodeios. Podemos até nos emocionar mas toda essa produção pode muito bem ser traduzida em cifrões.

Ruas tranquilas sem trombadinha? Dinheiro. Porque ninguém segura em casa um pivete faminto.

Ruas com a neve aplainada à máquina: dinheiro. Nenhum turista vai se atolar de boa vontade na neve, ainda que seja na França.

Luzes natalinas confeitando casas, árvores, janelas e o que mais aparecer: dinheiro. Ou você acha que aquele derrame de estrelas foi descuido de São Pedro? Ou será que os donos dos imóveis passaram o dia pendurados perigosamente em escadas para pendurar aquelas luzinhas lindas? Claro que não. Eles pagaram um profissional para isso porque eles têm dinheiro. Em minha casa eu faço tudo por conta própria. E fica tudo torto.

E o coral? Dinheiro. Quem vai ensaiar dia e noite um monte de pentelhos se não for para receber um bom incentivo? E quem vai levá-los a cantar se for de graça? Ninguém, a não ser para promover o lançamento do CD. De qualquer modo isso representa dinheiro.

Dinheiro, dinheiro, dinheiro. Ainda mais porque até onde eu sei os franceses não são lá muito devotos de coisa nenhuma a não ser da Igualdade, Liberdade e Fraternidade - e olha lá. Até essas três santas estão meio em baixa. O fato é que se eles se fantasiam de Natal só pode sem por um único e reluzente motivo: dinheiro.

Mundo cão.

Natal... criancinhas loiras de nariz e bochechas vermelhas fazendo biquinho na França, bem agasalhadas, andando seguras pelas ruas brancas, janelas claras (sem grades, meus amigos!!!) deixando-nos ver mesas "de revista" com aves certificadas fazendo pose na mesa, pães com algo além da casca, caldos com ervas finas, nozes frescas fazendo coro com troços fumegantes, queijos em inúmeras tonalidades e com todos os tamanhos de buraquinhos... Ah como o Natal é lindo!

Mas aqui no meio na neve e com um certo receio de ser mandada aos porões, fico novamente me perguntando: o Natal não fica capenga e sem sentido sem aquele garotinho da mangedoura? Sem aqueles anjos, aquela estrela, sem aqueles profetas falando da virgem que... Tá, tá, não vou falar mais nada. A passagem pra França me custou muito caro e já estou vendo uns olhos metralhando em minha direção.

Mas os magos do Oriente... a anunciação... Isso tudo é mais bonito que essa decoração toda. Pra mim é.

Cá pra nós, bem baixinho: Feliz Natal!


Cristina Faraon

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