sábado, 30 de abril de 2011

Algo a ser gerenciado

Mulher, quem é você?

Isso é muito chato de dizer, mas lá vai: para os homens, a palavra "mulher" está indiscutivelmente classificada na categoria "diversão." Ao contrário da palavra "homem", que eles mesmos relacionam nas categoria  "relacionamento" (afeto, amizade, trabalho, companheirismo...).

Incrível, mas pode reparar: quando um homem fala em diversão, a primeira COISA da lista é a mulher. 

Sempre achei isso horrível, mas fazer o quê?  Para eles nós estamos no mesmo nível da moto, do vídeo-game e da lancha.  A mulher é considerada uma coisa leve, descartável, uma ótima maneira de fugir da rotina. Claro, depois deve ser deixada pra lá para que ele possa voltar a tratar dos assuntos sérios da vida. Ninguém sobre de vida ficando o dia todo em cima na frente do vídeo-game.

Mulher não faz parte da vida normal; mulher é diversão pra fugir da vida normal.  

(Claro que quando eles estão apaixonados tudo é diferente! Mas SÓ quando estão apaixonados).

Note que na visão da mulher a coisa difere muito. Para elas a palavra "homem" está na categoria "vida normal", ou "dia-a-dia".  Diversão, para a mulher, é dançar, comprar, sair com as amigas, bater papo, ir ao clube...  Mulher não costuma achar homem "divertido". Homem não é diversão: é necessidade. Homem não serve para esquecer as preocupações - homem É a preocupação. 

Claro que para algumas mulheres (Marias-Chuteiras, por exemplo) eles estão mais para a categoria "investimento". De qualquer forma investir não deixa de ser também uma maneira de se estar preocupada. 

Para a mulher, o homem, na pior das hipóteses, é algo a ser gerenciado. E na melhor da hipóteses? Na melhor das hipóteses ele é alguem com quem se divertir, nunca a diversão em si.  

Antes que você emende com alguma observação, tenho a dizer o seguinte: beber água não é divertido: é gostoso e super necessário. E não beber água é simplesmente aflitivo.

Mulher não é água; é sorvete, chocolate, pipoca, essas coisas.

Não sei o que é que nós, mulheres, fizemos de tão errado para sermos classificadas junto com as motos, o baralho e a cerveja.  Isso tudo é uma pena porque as mulheres gostam dos homens. Prova disso é que, ao invés de tentar descartá-los, passam a vida tentando gerenciá-los.  

Quem tiver um final feliz para essa postagem, favor me escrever.

sexta-feira, 29 de abril de 2011

Pablo Neruda

(Hoje estou com Neruda na veia)

"Oh maligna, já terás achado a carta, já terás chorado de fúria / e terás insultado a memória de minha mãe, / chamando-a de cadela suja e mãe de cachorros, / já terás tomado sozinha, solitária, o chá do entardecer / a espiar os meus velhos sapatos vazios para sempre (...)
Maligna, em verdade, que noite tão grande, que terra tão só! / Cheguei mais uma vez aos dormitórios solitários, / a almoçar comida fria nos restaurantes, e uma vez ainda / atiro no chão as calças e as camisas, / não há cabides no meu quarto, nem retrato de ninguém nas paredes. / Quanta sombra da que existe em minha alma não daria para recobrar-te, / e que ameaçadores me parecem os nomes dos meses, / e a palavra inverno tem um som de tambor lúgubre."


Eu hein!

E depois nós é que somos "um povo exótico"...

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Sensibilidade

Acho que sou sensível demais. Isso só é bom mesmo quando a pessoa é artista, compositora ou muito boa em alguma coisa que faça escoar esse acúmulo de sentir. Não é o meu caso.

Escrever ajuda muito, é bom demais, mas não me parece suficiente. Há uma música linda que ainda não compus. Há um poema perfeito, redondo, de grande impressão que nunca fiz.

Há um quadro que ainda não pintei. Ele tem cores cativantes: amarelo "gema de ovo", azul turquesa, branco, um pouco de verde e nada de vermelho. Há um Renoir em mim mas ele não se expande! Meu Machado de Assis também mora em mim, mudo como uma pedra. O que restam são sentimentos que só escapam por via das lágrimas. Eu não era assim, mas me tornei uma chorona. Há músicas que me fazem chorar. Há cenas simples que me fazem chorar. Vídeos, flashes do dia-a-dia que ninguém percebe me tocam. Sou como um copo cheio de água que transborda à primeira sacudidela.

Estive revendo o vídeo da postagem anterior. Meus olhos se encheram de lágrimas. Antes essa coisa me incomodava, mas agora não. Chorar por emoção de beleza é bom.

Enquanto eu assistia o vídeo fiquei imaginando: como a vida pode ser tão linda e o mundo pode ser tão mal?

O que é a vida? E o que é o mundo? Não são a mesma coisa? Não.  O amor, a beleza e o prazer são a vida. O "mundo" é o sistema de coisas onde a vida está inserida e se desenvolve.

É lindo demais o processo de uma pessoa vir ao mundo. É lindo como tudo começa, como tudo dá certo mesmo diante de dificuldades aparentemente intransponíveis. O processo da vida é tão complicado mas tão complicado que era para todo mundo nascer torto, esquisito, com o olho no umbigo e o braço nas costas. Isso se desse sorte de ter braços.  Mas não! A maioria nasce bonitinha com os braços no lugar, com as pernas articuláveis, com os complicadíssimos olhos encravados no crânio onde, escondido, aloja-se o misterioso cérebro. Tem tudo pra dar errado, mas dá certo. Não é lindo?

Por que nos apaixonamos? Talvez não pelas qualidades do outro mas mais pela necessidade que temos de abrigar dentro do peito alguma coisa divina e envolvente. Amar é experimentar a arte em estado bruto. O amor é a arte tão pura mas tão pura, que ninguém consegue descrever direito.

Como uma criança entende as coisas que eu digo tendo um ano de vida? Como? Como fazer links coerentes com os sons, sabendo-se que o dia inteiro toda sorte de sons acontecem ao mesmo tempo? Como uma criança já percebe o que é música e o que é a mamãe chamando? Quem disse para ela qual a diferença? Por que ela quer andar, se engatinhar pela casa já é tão divertido? Por que queremos sempre mais?  Certamente porque nascemos para muito mais.

Por quê o sol nascendo ou se pondo é tão bonito? É tão comum! Todo dia é a mesma coisa!

Por quê, com tanta beleza, o mundo consegue ser tão mal? Por quê as pessoas se matam? E por quê algumas pessoas levam as outras à loucura?

Em um desses dias fatídicos ouvi a notícia do caso de um cão que apareceu em um bairro de Belém trazendo à boca um bracinho de criança. Fiquei angustiada, amargurada mesmo. Horas depois vi o noticiário do maluco que matou várias crianças em um colégio do Rio de Janeiro. Chorei muito. Isso é demais para a minha cabeça. Não dá.  Matam crianças, não posso caminhar a noite pela cidade, vivo com medo. Naquela hora pensei: "Chega, não quero mais viver nesse mundo, não tenho mais prazer nisso aqui. Está tudo amargo demais. Tudo é um poço de lama e lágrimas. Esse mundo tem que acabar." Foi isso que pensei.

Às vezes até esqueço que a vida é bonita. É como uma flor nascida no meio do lixo...

terça-feira, 26 de abril de 2011

"Have You Ever Really Loved A Woman? "

Essa é uma das músicas mais lindas que conheço. Frequentemente meus olhos comprovam isso.

É uma pena que nem todos os homens gostem de mulher.

Não estou me referindo aos homossexuais. Estou me referindo aos homens que gostam de fazer sexo com as mulheres mas não gostam das mulheres. Sempre acho que seja algo como gostar de pizza; você gosta, mas não quer passar o dia carregando uma no carro ou na pasta.  O cheio enjôa, o volume atrapalha.

Frequentemente vejo homossexuais que gostam mais das mulheres do que os heterossexuais. É a impressão que tenho.

Às vezes penso que o grande sonho das mulheres era que os hetero gostassem tanto delas quanto os homo. Gostassem tanto quanto gostam de algumas partes do corpo delas. Aí entra a verdade embutida naquele ditado popular: "Toda mulher tem seu dia de galinha".  Tem. Porque homem, quando olha uma mulher, é como se estivesse querendo comprar galinha no supermercado; só gosta de algumas partes, jamais do todo. Eu, por exemplo, prefiro a sobrecoxa. Outros só querem as asinhas e o peito. Poucos querem a galinha inteira.

Admito que essa é uma comparação infeliz , mas faz sentido.

O filme Don Juan de Marco é lindíssimo e fala sobre essa coisa. Conta a história de um homem que simplesmente amava as mulheres. Ele não via a mulher como um pedaço de carne a ser consumido, mas como alguma coisa curiosa, encantadora e desejável, algo a se possuir e guardar pra ficar olhando depois. Para ele as mulheres eram como uma luz, um fogo, um calor do qual era penoso afastar-se. Ele queria todas e era movido não exatamente por uma postura sacana, mas por um torpor de encantamento, de colecionador. Uma espécie de necessidade da alma mais do que do corpo.Claro que isso não o impedia de come-las, mas uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa.

Isso tudo nada tem a ver com amor em si. Tem a ver com gostar, com ser amigo de. E antes que você comece a fazer deduções, saiba: estou falando com o ânimo isento.  Isso aqui não é desabafo de mulher frustrada. Não é "Seção de Cartas" de revista feminina.  Aqui escrevo assexuadamente (seja lá o que isso seja).  E meu relacionamento vai muito bem, obrigada.

Não falo por mim nem falo pelas mulheres porque a maioria delas ainda não se tocou do fato. Elas não se incomodam porque ainda não sacaram como são percebidas pelos homens.  Falo por quê? Como quem? Falo como ser isento no camarote da vida vertendo lágrimas pela humanidade. Pronto.

É claro que consigo fazer isso. Estou fazendo!

Sexo?  Todo mundo gosta de sexo. Qualquer brutamontes sem cérebro gosta, salvo incríveis exceções.
Só que gostar de sexo é muito diferente de gostar de mulher.

Os homens adoram peitos, bundas, coxas, "aquele-troço"... mas se incomodam com a companhia femilina. Exceto se elas estiverem fritando bolinho ou servindo cerveja.  Os homens fazem de tudo para se livrar delas "depois do embate".  Querem que elas fiquem guardadas no armário para poderem brincar de novo depois. Também não gostam de emprestar o brinquedo para os amigos.  Sim, gostam de tê-las guardadas na no armário mas não as querem inseridas em outros contextos.

Já deu pra confirmar que hoje eu não estou falando mesmo de amor ou desejo. Estou falando de GOSTAR. Saibam que muitos homens amam suas mulheres mas não gostam delas. Sentem afeição, dão presentes, ajudam de alguma forma... mas acham um saco ficar junto.

Tenho um conhecido que se gaba das suas aventuras sexuais. Ele adora dizer que saiu com fulana porque precisava ejacular. Adora dizer que arranjou alguém, transou mas nem lembra o nome. A felicidade dele é estar entre os amigos, a macharada, contando isso. Quando se refere às mulheres o tom sempre é pejorativo. Acho que ele nunca na vida soube o que é realmente uma mulher. De certa forma considero-o virgem. Ele não tem a menor consideração, o menor apreço, a mais ínfima vontade de conhecer a alma, de ouvi-las, de ... nada! Ele ri delas, mesmo das mais carinhosas. Faz piada. Ele é um exemplo típico de homem que não gosta de mulher.  Na verdade ele as despreza profundamente.

Há os casados, para os quais a mulher é um dos utilitários da vida. Em determinada idade eles precisam de uma parideira para gerar filhos e formar um ninho aconchegante chamado "lar".  . Precisam de uma mãe que os receba em casa e proporcione a sensação de eterna aceitação. Tratam-nas bem, dão presentes... tudo para manterem aquele ser necessário em casa, cuidando de todos.

Usar a mulher como depósito de esperma não é "amar as mulheres". Usar a mulher como parideira ou serviçal não é amar as mulheres.

Amar as mulheres é considerá-las  interessantes como seres humanos muito mais do que sexualmente atraentes. É gostar do cheiro do cabelo, das pequenas manias, do jeito de falar. Para a maioria dos homens uma mulher não precisaria nem ter cabelo nem manias nem falar nada. Deveriam apenas "comportar-se conforme o esperado durante aquelas pequenas frações do dia". E sumir, para que então eles possam estar na companhia agradável daqueles de quem realmente gostam: dos outros homens.

Agora delicie-se com a música (vídeo e tradução) do filme que mencionei:





Você Realmente Já Amou Uma Mulher?  -  Bryan Adams

Para realmente amar uma mulher, para compreendê-la
Você precisa conhecê-la profundamente por dentro
Ouvir cada pensamento, ver cada sonho
E dar-lhe asas quando ela quiser voar
Então, quando você se achar repousando
Desamparado nos braços dela
Você saberá que realmente ama uma mulher...

Refrão:
Quando você ama uma mulher
Você lhe diz que ela, realmente, é desejada
Quando você ama uma mulher
Você lhe diz que ela é a única
Pois ela precisa de alguém
Para dizer-lhe que vai durar para sempre.
Então diga-me: você realmente, realmente
Realmente já amou uma mulher?

Para realmente amar uma mulher, deixe-a segurar você
Até que você saiba como ela precisa ser tocada
Você precisa respirá-la, realmente saboreá-la
Até que você possa senti-la em seu sangue
E quando você puder ver, seus filhos que ainda não nasceram dentro dos olhos dela
Você saberá que realmente ama uma mulher

Refrão:
Quando você ama uma mulher
Você diz a ela o quanto ela é desejada
Quando você ama uma mulher
Você diz a ela, que ela é a única
Porque ela precisa de alguém
Para dizer a ela, que você irá estar sempre junto
Então me diga, você realmente
Realmente, realmente já amou uma mulher?

Você precisa dar-lhe um pouco de confiança
Segurá-la bem apertado, um pouco de ternura
Precisa tratá-la bem
Ela estará perto de você, cuidando bem de você
Você realmente precisa amar uma mulher. Yeah.

E quando você se achar repousando, desamparado nos braços dela
Você saberá que realmente ama uma mulher.

Refrão:
Quando você ama uma mulher,
Você diz a ela, o que ela realmente queria.
Quando você ama uma mulher,
Você diz a ela, que ela é a única.
Porque ela precisa de alguém
Para dizer a ela, que você irá estar sempre junto.
Então me diga, você realmente
Realmente, realmente já amou uma mulher? Yeah
Somente me diga, você realmente
Realmente, realmente já amou uma mulher?
Oh! Somente me diga, você realmente
Realmente, realmente, já amou uma mulher?

domingo, 24 de abril de 2011

Pense nisso

sábado, 23 de abril de 2011

Joanes - Marajó - Pará

Nunca dei muita bola quando me sugeriam conhecer Joanes. Quem vai ao Marajó geralmente só pensa em Soure ou Salvaterra. Grande erro. Joanes é melhor.

Existe a falta de progresso onde tudo é um lixo e a falta de progresso onde tudo é doce. Joanes é assim, uma cidade encantadora que se alguém tentar "melhorar" pode estragar tudo.  Joanes é um paraíso rústico. É o lugar mais "zen" que eu já conheci na vida. Ali vi colégio sem muros, crianças tranquilas nas praças, igrejinha azul e branca, poços e ruínas do tempo dos jesuítas, búfalos muito a vontade aqui e acolá mascando seu capinzinho... poucos carros, poucas grades, muito vento.

Passei quatro dias sem ver televisão. Pra quê?  Minha televisão foi aquela praia doce e morna (sim, eu disse morna!) foi o povo sorridente me cumprimentando onde eu ia (me senti comadre de todo mundo) foi a surpreendente educação e  o bom humor das pessoas, as crianças livres brincando na praia com se fossem peixinhos travessos, os adolescentes ensaiando quadrilha na rua, o exagero de estrelas no céu, o caminhar à noite pelas ruas gramadas, os búfalos, o peixe fresco, os pescadores, a disposição para conversar, a morenice típica... 


"Não permita Deus que eu morra
Sem que eu volte para lá..."
Ai meu Deus, amei Joanes!  

sábado, 30 de abril de 2011

Algo a ser gerenciado

Mulher, quem é você?

Isso é muito chato de dizer, mas lá vai: para os homens, a palavra "mulher" está indiscutivelmente classificada na categoria "diversão." Ao contrário da palavra "homem", que eles mesmos relacionam nas categoria  "relacionamento" (afeto, amizade, trabalho, companheirismo...).

Incrível, mas pode reparar: quando um homem fala em diversão, a primeira COISA da lista é a mulher. 

Sempre achei isso horrível, mas fazer o quê?  Para eles nós estamos no mesmo nível da moto, do vídeo-game e da lancha.  A mulher é considerada uma coisa leve, descartável, uma ótima maneira de fugir da rotina. Claro, depois deve ser deixada pra lá para que ele possa voltar a tratar dos assuntos sérios da vida. Ninguém sobre de vida ficando o dia todo em cima na frente do vídeo-game.

Mulher não faz parte da vida normal; mulher é diversão pra fugir da vida normal.  

(Claro que quando eles estão apaixonados tudo é diferente! Mas SÓ quando estão apaixonados).

Note que na visão da mulher a coisa difere muito. Para elas a palavra "homem" está na categoria "vida normal", ou "dia-a-dia".  Diversão, para a mulher, é dançar, comprar, sair com as amigas, bater papo, ir ao clube...  Mulher não costuma achar homem "divertido". Homem não é diversão: é necessidade. Homem não serve para esquecer as preocupações - homem É a preocupação. 

Claro que para algumas mulheres (Marias-Chuteiras, por exemplo) eles estão mais para a categoria "investimento". De qualquer forma investir não deixa de ser também uma maneira de se estar preocupada. 

Para a mulher, o homem, na pior das hipóteses, é algo a ser gerenciado. E na melhor da hipóteses? Na melhor das hipóteses ele é alguem com quem se divertir, nunca a diversão em si.  

Antes que você emende com alguma observação, tenho a dizer o seguinte: beber água não é divertido: é gostoso e super necessário. E não beber água é simplesmente aflitivo.

Mulher não é água; é sorvete, chocolate, pipoca, essas coisas.

Não sei o que é que nós, mulheres, fizemos de tão errado para sermos classificadas junto com as motos, o baralho e a cerveja.  Isso tudo é uma pena porque as mulheres gostam dos homens. Prova disso é que, ao invés de tentar descartá-los, passam a vida tentando gerenciá-los.  

Quem tiver um final feliz para essa postagem, favor me escrever.

sexta-feira, 29 de abril de 2011

Pablo Neruda

(Hoje estou com Neruda na veia)

"Oh maligna, já terás achado a carta, já terás chorado de fúria / e terás insultado a memória de minha mãe, / chamando-a de cadela suja e mãe de cachorros, / já terás tomado sozinha, solitária, o chá do entardecer / a espiar os meus velhos sapatos vazios para sempre (...)
Maligna, em verdade, que noite tão grande, que terra tão só! / Cheguei mais uma vez aos dormitórios solitários, / a almoçar comida fria nos restaurantes, e uma vez ainda / atiro no chão as calças e as camisas, / não há cabides no meu quarto, nem retrato de ninguém nas paredes. / Quanta sombra da que existe em minha alma não daria para recobrar-te, / e que ameaçadores me parecem os nomes dos meses, / e a palavra inverno tem um som de tambor lúgubre."


Eu hein!

E depois nós é que somos "um povo exótico"...

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Sensibilidade

Acho que sou sensível demais. Isso só é bom mesmo quando a pessoa é artista, compositora ou muito boa em alguma coisa que faça escoar esse acúmulo de sentir. Não é o meu caso.

Escrever ajuda muito, é bom demais, mas não me parece suficiente. Há uma música linda que ainda não compus. Há um poema perfeito, redondo, de grande impressão que nunca fiz.

Há um quadro que ainda não pintei. Ele tem cores cativantes: amarelo "gema de ovo", azul turquesa, branco, um pouco de verde e nada de vermelho. Há um Renoir em mim mas ele não se expande! Meu Machado de Assis também mora em mim, mudo como uma pedra. O que restam são sentimentos que só escapam por via das lágrimas. Eu não era assim, mas me tornei uma chorona. Há músicas que me fazem chorar. Há cenas simples que me fazem chorar. Vídeos, flashes do dia-a-dia que ninguém percebe me tocam. Sou como um copo cheio de água que transborda à primeira sacudidela.

Estive revendo o vídeo da postagem anterior. Meus olhos se encheram de lágrimas. Antes essa coisa me incomodava, mas agora não. Chorar por emoção de beleza é bom.

Enquanto eu assistia o vídeo fiquei imaginando: como a vida pode ser tão linda e o mundo pode ser tão mal?

O que é a vida? E o que é o mundo? Não são a mesma coisa? Não.  O amor, a beleza e o prazer são a vida. O "mundo" é o sistema de coisas onde a vida está inserida e se desenvolve.

É lindo demais o processo de uma pessoa vir ao mundo. É lindo como tudo começa, como tudo dá certo mesmo diante de dificuldades aparentemente intransponíveis. O processo da vida é tão complicado mas tão complicado que era para todo mundo nascer torto, esquisito, com o olho no umbigo e o braço nas costas. Isso se desse sorte de ter braços.  Mas não! A maioria nasce bonitinha com os braços no lugar, com as pernas articuláveis, com os complicadíssimos olhos encravados no crânio onde, escondido, aloja-se o misterioso cérebro. Tem tudo pra dar errado, mas dá certo. Não é lindo?

Por que nos apaixonamos? Talvez não pelas qualidades do outro mas mais pela necessidade que temos de abrigar dentro do peito alguma coisa divina e envolvente. Amar é experimentar a arte em estado bruto. O amor é a arte tão pura mas tão pura, que ninguém consegue descrever direito.

Como uma criança entende as coisas que eu digo tendo um ano de vida? Como? Como fazer links coerentes com os sons, sabendo-se que o dia inteiro toda sorte de sons acontecem ao mesmo tempo? Como uma criança já percebe o que é música e o que é a mamãe chamando? Quem disse para ela qual a diferença? Por que ela quer andar, se engatinhar pela casa já é tão divertido? Por que queremos sempre mais?  Certamente porque nascemos para muito mais.

Por quê o sol nascendo ou se pondo é tão bonito? É tão comum! Todo dia é a mesma coisa!

Por quê, com tanta beleza, o mundo consegue ser tão mal? Por quê as pessoas se matam? E por quê algumas pessoas levam as outras à loucura?

Em um desses dias fatídicos ouvi a notícia do caso de um cão que apareceu em um bairro de Belém trazendo à boca um bracinho de criança. Fiquei angustiada, amargurada mesmo. Horas depois vi o noticiário do maluco que matou várias crianças em um colégio do Rio de Janeiro. Chorei muito. Isso é demais para a minha cabeça. Não dá.  Matam crianças, não posso caminhar a noite pela cidade, vivo com medo. Naquela hora pensei: "Chega, não quero mais viver nesse mundo, não tenho mais prazer nisso aqui. Está tudo amargo demais. Tudo é um poço de lama e lágrimas. Esse mundo tem que acabar." Foi isso que pensei.

Às vezes até esqueço que a vida é bonita. É como uma flor nascida no meio do lixo...

terça-feira, 26 de abril de 2011

"Have You Ever Really Loved A Woman? "

Essa é uma das músicas mais lindas que conheço. Frequentemente meus olhos comprovam isso.

É uma pena que nem todos os homens gostem de mulher.

Não estou me referindo aos homossexuais. Estou me referindo aos homens que gostam de fazer sexo com as mulheres mas não gostam das mulheres. Sempre acho que seja algo como gostar de pizza; você gosta, mas não quer passar o dia carregando uma no carro ou na pasta.  O cheio enjôa, o volume atrapalha.

Frequentemente vejo homossexuais que gostam mais das mulheres do que os heterossexuais. É a impressão que tenho.

Às vezes penso que o grande sonho das mulheres era que os hetero gostassem tanto delas quanto os homo. Gostassem tanto quanto gostam de algumas partes do corpo delas. Aí entra a verdade embutida naquele ditado popular: "Toda mulher tem seu dia de galinha".  Tem. Porque homem, quando olha uma mulher, é como se estivesse querendo comprar galinha no supermercado; só gosta de algumas partes, jamais do todo. Eu, por exemplo, prefiro a sobrecoxa. Outros só querem as asinhas e o peito. Poucos querem a galinha inteira.

Admito que essa é uma comparação infeliz , mas faz sentido.

O filme Don Juan de Marco é lindíssimo e fala sobre essa coisa. Conta a história de um homem que simplesmente amava as mulheres. Ele não via a mulher como um pedaço de carne a ser consumido, mas como alguma coisa curiosa, encantadora e desejável, algo a se possuir e guardar pra ficar olhando depois. Para ele as mulheres eram como uma luz, um fogo, um calor do qual era penoso afastar-se. Ele queria todas e era movido não exatamente por uma postura sacana, mas por um torpor de encantamento, de colecionador. Uma espécie de necessidade da alma mais do que do corpo.Claro que isso não o impedia de come-las, mas uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa.

Isso tudo nada tem a ver com amor em si. Tem a ver com gostar, com ser amigo de. E antes que você comece a fazer deduções, saiba: estou falando com o ânimo isento.  Isso aqui não é desabafo de mulher frustrada. Não é "Seção de Cartas" de revista feminina.  Aqui escrevo assexuadamente (seja lá o que isso seja).  E meu relacionamento vai muito bem, obrigada.

Não falo por mim nem falo pelas mulheres porque a maioria delas ainda não se tocou do fato. Elas não se incomodam porque ainda não sacaram como são percebidas pelos homens.  Falo por quê? Como quem? Falo como ser isento no camarote da vida vertendo lágrimas pela humanidade. Pronto.

É claro que consigo fazer isso. Estou fazendo!

Sexo?  Todo mundo gosta de sexo. Qualquer brutamontes sem cérebro gosta, salvo incríveis exceções.
Só que gostar de sexo é muito diferente de gostar de mulher.

Os homens adoram peitos, bundas, coxas, "aquele-troço"... mas se incomodam com a companhia femilina. Exceto se elas estiverem fritando bolinho ou servindo cerveja.  Os homens fazem de tudo para se livrar delas "depois do embate".  Querem que elas fiquem guardadas no armário para poderem brincar de novo depois. Também não gostam de emprestar o brinquedo para os amigos.  Sim, gostam de tê-las guardadas na no armário mas não as querem inseridas em outros contextos.

Já deu pra confirmar que hoje eu não estou falando mesmo de amor ou desejo. Estou falando de GOSTAR. Saibam que muitos homens amam suas mulheres mas não gostam delas. Sentem afeição, dão presentes, ajudam de alguma forma... mas acham um saco ficar junto.

Tenho um conhecido que se gaba das suas aventuras sexuais. Ele adora dizer que saiu com fulana porque precisava ejacular. Adora dizer que arranjou alguém, transou mas nem lembra o nome. A felicidade dele é estar entre os amigos, a macharada, contando isso. Quando se refere às mulheres o tom sempre é pejorativo. Acho que ele nunca na vida soube o que é realmente uma mulher. De certa forma considero-o virgem. Ele não tem a menor consideração, o menor apreço, a mais ínfima vontade de conhecer a alma, de ouvi-las, de ... nada! Ele ri delas, mesmo das mais carinhosas. Faz piada. Ele é um exemplo típico de homem que não gosta de mulher.  Na verdade ele as despreza profundamente.

Há os casados, para os quais a mulher é um dos utilitários da vida. Em determinada idade eles precisam de uma parideira para gerar filhos e formar um ninho aconchegante chamado "lar".  . Precisam de uma mãe que os receba em casa e proporcione a sensação de eterna aceitação. Tratam-nas bem, dão presentes... tudo para manterem aquele ser necessário em casa, cuidando de todos.

Usar a mulher como depósito de esperma não é "amar as mulheres". Usar a mulher como parideira ou serviçal não é amar as mulheres.

Amar as mulheres é considerá-las  interessantes como seres humanos muito mais do que sexualmente atraentes. É gostar do cheiro do cabelo, das pequenas manias, do jeito de falar. Para a maioria dos homens uma mulher não precisaria nem ter cabelo nem manias nem falar nada. Deveriam apenas "comportar-se conforme o esperado durante aquelas pequenas frações do dia". E sumir, para que então eles possam estar na companhia agradável daqueles de quem realmente gostam: dos outros homens.

Agora delicie-se com a música (vídeo e tradução) do filme que mencionei:





Você Realmente Já Amou Uma Mulher?  -  Bryan Adams

Para realmente amar uma mulher, para compreendê-la
Você precisa conhecê-la profundamente por dentro
Ouvir cada pensamento, ver cada sonho
E dar-lhe asas quando ela quiser voar
Então, quando você se achar repousando
Desamparado nos braços dela
Você saberá que realmente ama uma mulher...

Refrão:
Quando você ama uma mulher
Você lhe diz que ela, realmente, é desejada
Quando você ama uma mulher
Você lhe diz que ela é a única
Pois ela precisa de alguém
Para dizer-lhe que vai durar para sempre.
Então diga-me: você realmente, realmente
Realmente já amou uma mulher?

Para realmente amar uma mulher, deixe-a segurar você
Até que você saiba como ela precisa ser tocada
Você precisa respirá-la, realmente saboreá-la
Até que você possa senti-la em seu sangue
E quando você puder ver, seus filhos que ainda não nasceram dentro dos olhos dela
Você saberá que realmente ama uma mulher

Refrão:
Quando você ama uma mulher
Você diz a ela o quanto ela é desejada
Quando você ama uma mulher
Você diz a ela, que ela é a única
Porque ela precisa de alguém
Para dizer a ela, que você irá estar sempre junto
Então me diga, você realmente
Realmente, realmente já amou uma mulher?

Você precisa dar-lhe um pouco de confiança
Segurá-la bem apertado, um pouco de ternura
Precisa tratá-la bem
Ela estará perto de você, cuidando bem de você
Você realmente precisa amar uma mulher. Yeah.

E quando você se achar repousando, desamparado nos braços dela
Você saberá que realmente ama uma mulher.

Refrão:
Quando você ama uma mulher,
Você diz a ela, o que ela realmente queria.
Quando você ama uma mulher,
Você diz a ela, que ela é a única.
Porque ela precisa de alguém
Para dizer a ela, que você irá estar sempre junto.
Então me diga, você realmente
Realmente, realmente já amou uma mulher? Yeah
Somente me diga, você realmente
Realmente, realmente já amou uma mulher?
Oh! Somente me diga, você realmente
Realmente, realmente, já amou uma mulher?

domingo, 24 de abril de 2011

Pense nisso

sábado, 23 de abril de 2011

Joanes - Marajó - Pará

Nunca dei muita bola quando me sugeriam conhecer Joanes. Quem vai ao Marajó geralmente só pensa em Soure ou Salvaterra. Grande erro. Joanes é melhor.

Existe a falta de progresso onde tudo é um lixo e a falta de progresso onde tudo é doce. Joanes é assim, uma cidade encantadora que se alguém tentar "melhorar" pode estragar tudo.  Joanes é um paraíso rústico. É o lugar mais "zen" que eu já conheci na vida. Ali vi colégio sem muros, crianças tranquilas nas praças, igrejinha azul e branca, poços e ruínas do tempo dos jesuítas, búfalos muito a vontade aqui e acolá mascando seu capinzinho... poucos carros, poucas grades, muito vento.

Passei quatro dias sem ver televisão. Pra quê?  Minha televisão foi aquela praia doce e morna (sim, eu disse morna!) foi o povo sorridente me cumprimentando onde eu ia (me senti comadre de todo mundo) foi a surpreendente educação e  o bom humor das pessoas, as crianças livres brincando na praia com se fossem peixinhos travessos, os adolescentes ensaiando quadrilha na rua, o exagero de estrelas no céu, o caminhar à noite pelas ruas gramadas, os búfalos, o peixe fresco, os pescadores, a disposição para conversar, a morenice típica... 


"Não permita Deus que eu morra
Sem que eu volte para lá..."
Ai meu Deus, amei Joanes!