quinta-feira, 10 de março de 2011

Solução final

Embora gerados durante o dia eles são seres noturnos, indiscutivelmente. É a hora que respiram, que saem, que finalmente olham para o céu. A noite é a hora da viagem, a hora de partir para outra.

Passo de carro, distante e perfumada. Sou o oposto deles. Observo-os tristes, cinzentos, desistentes. Todos "penteados para morrer" com um ridículo "pitó" no alto da cabeça. Uma idignidade.

Estão azedos, empanturrados. Foram postos para fora às pressas. Eles não pediram pra existir!  Chegaram a acreditar que guardavam relíquias, segredos talvez. Mas não. São o excremento, aquilo que ninguém mais quer. 

Não são baús de madeira talhada; são sacos de lixo.

Ali estão, à beira da calçada, como quem espera o trem para o campo de concentração. É a "solução final". 

Cansados e sem nada a dizer esperam, doloridos, olhando o nada. Talvez ainda guardem uma esperançazinha de reciclagem. Uma nova chance, quem sabe? 
http://static.photaki.com/caixotes-de-lixo-na-calcada_113122.jpg
Juntos, espremidos na calçada, não convesam entre si nem fazem perguntas. Nenhuma recordação interessa. Não há curiosidade porque, na verdade, todos aqueles passados são tão parecidos! Uma mesmice desconcertante.

De dentro de meu carro considero se eles sabem ou não para onde estão indo. Não será a redenção pra ninguém. Há uma silenciosa e triste expectativa. 

Ajuntamento de mães-sem-filho, de velhas doentes, de trabalhadores inutilizados durante o eito... Assim se parecem, assim eu os percebo. Amparam-se uns nos outros tão sujos, tão pobres e desvalidos, ignotos! Agora ou meia-noite ou quem sabe no meio da madrugada eles serão encontrados infalivelmente ali, com suas olheiras e papadas.

Um barulho! Uma breve comoção. Não, não veio nave espacial. Não veio nada a não ser um caminhão sujo com homens cansados. Embarcam úmidos da noite, um a um, em conformado silêncio. Sim, eles sabem do que se trata mas não importa. Preferem mesmo ir. Que cumpram seu triste destino. 

Morro de pena dos sacos de lixo.

quarta-feira, 9 de março de 2011

Que tal?


Qual  a sua opinião sobre essa minha variada de visual?

(  ) Melhorou.
(  ) Piorou.
(  ) Que diabo é isso?!!
(  ) Uau! Lindo!
(  ) Tanto faz; dos dois modos fica bom.
(  ) Tanto faz; dos dois modos fica uma porcaria.
(  ) É válido para variar, não para adotar.
(  ) Preto de cabelo liso é uma desgraça.

terça-feira, 8 de março de 2011

É muito puxassaquismo!

Nossa Presidente Dilma Roussef  ainda nem esquentou sua cadeira no Planalto e já está sendo comparada a Margareth Tatcher. Ouvi agorinha essa babaquice no JN.

Até agora o que mais me chamou atenção em seu reinado governo foi a continuidade da opção pelos desocupados. Ao invés de providenciar capacitação e oportunidades de trabalho - qualquer trabalho - para esse povo carente de atividade, continua-se optando por aquilo que dá mais "apoio político": distribuição de dinheiro.

O salário mínimo vem em conta-gotas, os concursos são suspensos, o orçamento público é aleijado, os impostos serão aumentados mas o bolsa-família conta com um percentual de reajuste que você nem se atreve a sonhar. Claro, você trabalha!

Tá bom, não vamos deixar ninguém morrer de fome. Mas ninguém tira da minha cabeça que o assalariado deveria ser visto com mais carinho do que o desocupado.



Obs: Substitua a barba por uma saia e essa charge deixará de ser ultrapassada.

Dia bobo



"O Dia Internacional da Mulher é celebrado a 8 de março. É um dia comemorativo para a celebração dos feitos econômicos, políticos e sociais alcançados pela mulher."   

Sei lá... mesmo depois de ler isso não consigo entender que grandes feitos foram esses, para merecer um dia especial. O mundo conheceu mulheres maravilhosas e homens maravilhosos. Pra mim, empatou.

Confesso que nunca entendi nem simpatizei com essa data. Tipo puxassaquismo gratuito.  Homem, mulher, idoso, índio, negro, homossexual... Tudo igual, tudo raça humana, farinha do mesmo saco!  Todo mundo acertou e todo mundo errou em determinado momento.

Claro que existem pessoas especialíssimas e admiráveis, mas o que as ilumina e destaca não tem nada a ver com sexo. O que torna umas pessoas melhores do que outras (sim, eu disse melhores!)  é a quantidade de amor que transborda de dentro delas, é o modo como gastam a vida e como tratam seus semelhantes. Não basta ter "piriquita", tem que ser gente.

Quem escolhe ser homem ou mulher ou negro ou branco ou índio? Por que eu seria louvada por alguma coisa que não escolhi nem conquistei?  

Ser mãe tudo bem, a pessoa escolhe. Ser pai... nem sempre.  Acho que cabe homenagem para pessoas que assumiram de corpo e alma o papel de mãe ou de pai. Há pessoas que incorporaram os dois personagens de uma só vez! Para elas estendo um caminho de flores. Mas ser homenageado por ter nascido? E ter nascido mulher? Homenageiem o acaso. Nem meus pais escolheram!

Ora bolas.

Não escolhi nem tenho opção de deixar de ser mulher. Não tenho sequer a opção de deixar de gostar de homem. Nasci com esse carma e que Deus me ajude.

No dia das mulheres recebo cumprimentos. Agradeço-os com um sorriso amarelo. Sinto-me como quem chegou em quinto lugar numa corrida mas está recebendo a medalha de ouro. É meio incômodo.

Não sei se vocês já repararam, mas nessa onda de endeusar as mulheres, o pessoal, de quebra, aproveita para desmerecer os homens. O curioso nessa história é o seguinte: os próprios homens concordam em fazer de conta que estão abaixo de nós. E por que concordam? Porque sabem que é tudo brincadeirinha e que suas vidinhas vão continuar do mesmo jeito. Todos sabemos que o resultado prático dessa frescura é ZERO.

O mais "engraçado" é quando comparam os dois sexos dizendo que os homens não sabem viver sozinhos mas as mulheres são independentes deles. Ô mentira! Falam isso porque mal se separam ou se tornam viúvos eles logo engatam num novo relacionamento. Já as mulheres não: assumem "heroicamente" as responsabilidades familiares e fazem pouco caso de ter outro homem. Dá vontade de rir.  

Sabe, não vou nem me animar em derrubar essas idéias porque não quero ser apedrejada. A maioria de nós sabe muito bem porque grande parte das mulheres fica sozinha e porque a maioria dos homens logo arranja outra parceira. Deixa pra lá.

Mas para não pensarem que sou do contra, aviso que se alguém quiser me homenagear com um presente na gloriosa data de oito de março, calço 36/37, visto 42 e aceito flores. Mas prefiro a minha parte em dinheiro.

domingo, 6 de março de 2011

Beije um ateu

Uma das coisas mais bobas do mundo é crente querendo enfiar Deus na cabeça de um ateu. Pra falar a verdade chego a ter pena de quem pensa que está prestando algum tipo de serviço a Deus quando discute com um ateu.

Por quê penso assim:

1) Em primeiro lugar, quem realmente crê em Deus não perde tempo tentando provar nada porque em sua cabeça isso é tão obvio que só de pensar em encarar aquelas discussões compriiiiiidas já dá uma tremenda canseira.

2) Porque tanto a crença quanto a descrença em Deus não habitam o âmbito do cientificamente comprovável. Pelo contrário: é algo profundamente emocional.

3) Desconfio de quem se esfalfa muito para provar a existência de Deus para os outros. Parece que no fundo no fundo a pessoa está tentando provar tudo para si mesmo.

4) Se Deus  é Deus, então por quê ele se beneficiaria com a discução de dois chatos?

5) Se Deus existe ele pode se defender. Se não pode se defender, então não pode me defender. Nesse caso, nem Deus ele é.

6) Em outras palavras: se Deus está incomodado com a incredulidade de uns, então ele é que tem que tomar as providências a respeito. A ofensa é contra ele, não contra mim.

7) Duvido muito que Deus esteja "perdendo noites de sono" só porque uns caras não acreditam nele. Se ele é Deus, basta-se a si mesmo.

8) Se alguém tem "vontade de Deus", essa vontade será saciada. Quem busca, encontra. Quem QUER Deus dá de cara com ele mais cedo ou mais tarde. Quem não quer... vai continuar no zero a zero e eu não tenho como mudar isso.

9) Nunca vi ninguém deixar de ser ateu só por conta de argumentos "brilhantes". Por isso prefiro guardar meu brilhantismo para algo mais útil. Para escrever um texto legal no blog, por exemplo.

10) Já vi ateus deixarem de sê-lo por conta de acontecimentos incrivelmente simples para mim, mas contundentes para eles.  Do tipo "eu nunca pensei que ele se convenceria com isso!"  Ora, se não sei fabricar esses lances inexplicáveis nem para a minha vida, quanto mais para a vida dos outros.

11) Você consegue fazer uma pessoa se apaixonar por outra na base dos argumentos?  Não. Pois é.

12) Para discutir com um ateu você primeiro precisa acreditar que ele existe. Eu, por exemplo, não tenho toda essa fé.  O que vejo é muita gente revoltada contra as injustiças do mundo cruel. Como eles acham que Deus, mesmo podendo, não está fazendo nada para melhorar as coisas e como não podem dar um soco na cara de Deus, então "se vingam" dizendo que ele não existe.  Quando você pergunta para essas pessoas por quê não acreditam em Deus as respostas não são nada filosóficas ou científicas, mas simplórias e emocionais: ela atacam com criancinhas doentes, a fome do mundo, as guerras, enchentes e blá blá blá. Só conseguem imaginar um Deus bom e justo. Se ele não for bom nem justo (segundo elas) então ele "não merece existir".

Isso não me parece razoável.  Tá vendo como tudo está no âmbito das emoções, da experiência pessoal e do imponderável? Por isso é que eu digo: não discuta com um ateu: dê um beijo nele! Deus vai curtir muito mais o lance, até porque ele não está precisando de advogado.

sexta-feira, 4 de março de 2011

Carnaval

quarta-feira, 2 de março de 2011

A Rede Social - Mark e VOCÊ

Já comentei esse filme em meu blog de cinema, mas acho que você não leu então repetir é preciso.

Além da história, que é interessante, uma coisa que me deixou pensativa foi o personagem principal. Não exatamente ele, mas NOSSA reação a ele.

A maneira como NÓS reagimos ao personagem parece ser um desconfortável indício de pequenez da NOSSA parte. Mark Zuckerberg - personagem principal - é esquisitão e inteligentíssimo. Normal. Todo inteligentíssimo é esquisitão e todo o esquisitão a gente torce para ele ser pelo menos inteligente. Bem, e Mark não é muito simpático. O estranho é que a gente acaba gostando dele. Como? Aí é que está.

Mark é brilhante, inventivo, jovem, fala o que dá na cabeça, é ambicioso, convencido e não resiste a uma oportunidade de crescer, mesmo que isso lhe custe as mais caras amizades. Ele simplesmente não consegue parar. Essa é a grande tentação da sua vida. É como se uma força superior o puxasse para cima e ele tivesse que cumprir seu "doloroso" carma. Deveríamos odiar Mark. Porque isso não acontece? Porque mesmo assim ele é tudo o que VOCÊ quer ser.

(Isso não é acusação, mas retórica. Combinado?)

Uma pessoa de bom coração morreria de raiva dele. Ei, pessoas de bom coração tem raiva de alguém? Ah, deixa pra lá. O fato é: como ter  raiva se ele é tão inteligente e ainda por cima está ficando milionário? Amigo, se foi desse jeito que você sentiu o personagem, bem-vindo ao clube: você não é uma pessoa tão boazinha assim e é igualzinho à sociedade que costuma criticar. Acho que o filme quis inquietar.

Em alguns momentos a história parece estar mais para drama psicológico. Para mim foi um drama psicológico. Dá pra entender um pouco da dor de todo mundo. Ser um gênio que enriquece pode levar a pessoa a um deplorável estado de solidão. Mark nos dá inveja, raiva e pena, tudo junto. É uma mistura improvável de sentimentos, mas isso existe. Experimente.

Sabe outra coisa dolorosa do filme? É eles jogarem na nossa cara, impiedosamente, que não há remédio para a mediocridade. Gênios já nascem prontos e se você não nasceu assim, paciência. Sorry, periferia!

Li uma critica que dizia, brilhantemente, que "No fim das contas, embora o Facebook trate de conectividade, David Fincher está fazendo um filme sobre a dissonância. É como o ruído que persiste na trilha de Reznor, literal e metaforicamente." É isso aí.

Mas não somos tão ruins assim. Fora a pena/inveja que sentimos do sócio de Mark, ainda conseguimos sentir um dó descomunal dos gêmeos belíssimos, educadíssimos, finos, sarados, bons e inteligentes que sofrem horrores ao serem humilhados o tempo todo pelo QI e pela fraqueza moral de Mark.

Essa dor acaba sendo a nossa redenção.

quinta-feira, 10 de março de 2011

Solução final

Embora gerados durante o dia eles são seres noturnos, indiscutivelmente. É a hora que respiram, que saem, que finalmente olham para o céu. A noite é a hora da viagem, a hora de partir para outra.

Passo de carro, distante e perfumada. Sou o oposto deles. Observo-os tristes, cinzentos, desistentes. Todos "penteados para morrer" com um ridículo "pitó" no alto da cabeça. Uma idignidade.

Estão azedos, empanturrados. Foram postos para fora às pressas. Eles não pediram pra existir!  Chegaram a acreditar que guardavam relíquias, segredos talvez. Mas não. São o excremento, aquilo que ninguém mais quer. 

Não são baús de madeira talhada; são sacos de lixo.

Ali estão, à beira da calçada, como quem espera o trem para o campo de concentração. É a "solução final". 

Cansados e sem nada a dizer esperam, doloridos, olhando o nada. Talvez ainda guardem uma esperançazinha de reciclagem. Uma nova chance, quem sabe? 
http://static.photaki.com/caixotes-de-lixo-na-calcada_113122.jpg
Juntos, espremidos na calçada, não convesam entre si nem fazem perguntas. Nenhuma recordação interessa. Não há curiosidade porque, na verdade, todos aqueles passados são tão parecidos! Uma mesmice desconcertante.

De dentro de meu carro considero se eles sabem ou não para onde estão indo. Não será a redenção pra ninguém. Há uma silenciosa e triste expectativa. 

Ajuntamento de mães-sem-filho, de velhas doentes, de trabalhadores inutilizados durante o eito... Assim se parecem, assim eu os percebo. Amparam-se uns nos outros tão sujos, tão pobres e desvalidos, ignotos! Agora ou meia-noite ou quem sabe no meio da madrugada eles serão encontrados infalivelmente ali, com suas olheiras e papadas.

Um barulho! Uma breve comoção. Não, não veio nave espacial. Não veio nada a não ser um caminhão sujo com homens cansados. Embarcam úmidos da noite, um a um, em conformado silêncio. Sim, eles sabem do que se trata mas não importa. Preferem mesmo ir. Que cumpram seu triste destino. 

Morro de pena dos sacos de lixo.

quarta-feira, 9 de março de 2011

Que tal?


Qual  a sua opinião sobre essa minha variada de visual?

(  ) Melhorou.
(  ) Piorou.
(  ) Que diabo é isso?!!
(  ) Uau! Lindo!
(  ) Tanto faz; dos dois modos fica bom.
(  ) Tanto faz; dos dois modos fica uma porcaria.
(  ) É válido para variar, não para adotar.
(  ) Preto de cabelo liso é uma desgraça.

terça-feira, 8 de março de 2011

É muito puxassaquismo!

Nossa Presidente Dilma Roussef  ainda nem esquentou sua cadeira no Planalto e já está sendo comparada a Margareth Tatcher. Ouvi agorinha essa babaquice no JN.

Até agora o que mais me chamou atenção em seu reinado governo foi a continuidade da opção pelos desocupados. Ao invés de providenciar capacitação e oportunidades de trabalho - qualquer trabalho - para esse povo carente de atividade, continua-se optando por aquilo que dá mais "apoio político": distribuição de dinheiro.

O salário mínimo vem em conta-gotas, os concursos são suspensos, o orçamento público é aleijado, os impostos serão aumentados mas o bolsa-família conta com um percentual de reajuste que você nem se atreve a sonhar. Claro, você trabalha!

Tá bom, não vamos deixar ninguém morrer de fome. Mas ninguém tira da minha cabeça que o assalariado deveria ser visto com mais carinho do que o desocupado.



Obs: Substitua a barba por uma saia e essa charge deixará de ser ultrapassada.

Dia bobo



"O Dia Internacional da Mulher é celebrado a 8 de março. É um dia comemorativo para a celebração dos feitos econômicos, políticos e sociais alcançados pela mulher."   

Sei lá... mesmo depois de ler isso não consigo entender que grandes feitos foram esses, para merecer um dia especial. O mundo conheceu mulheres maravilhosas e homens maravilhosos. Pra mim, empatou.

Confesso que nunca entendi nem simpatizei com essa data. Tipo puxassaquismo gratuito.  Homem, mulher, idoso, índio, negro, homossexual... Tudo igual, tudo raça humana, farinha do mesmo saco!  Todo mundo acertou e todo mundo errou em determinado momento.

Claro que existem pessoas especialíssimas e admiráveis, mas o que as ilumina e destaca não tem nada a ver com sexo. O que torna umas pessoas melhores do que outras (sim, eu disse melhores!)  é a quantidade de amor que transborda de dentro delas, é o modo como gastam a vida e como tratam seus semelhantes. Não basta ter "piriquita", tem que ser gente.

Quem escolhe ser homem ou mulher ou negro ou branco ou índio? Por que eu seria louvada por alguma coisa que não escolhi nem conquistei?  

Ser mãe tudo bem, a pessoa escolhe. Ser pai... nem sempre.  Acho que cabe homenagem para pessoas que assumiram de corpo e alma o papel de mãe ou de pai. Há pessoas que incorporaram os dois personagens de uma só vez! Para elas estendo um caminho de flores. Mas ser homenageado por ter nascido? E ter nascido mulher? Homenageiem o acaso. Nem meus pais escolheram!

Ora bolas.

Não escolhi nem tenho opção de deixar de ser mulher. Não tenho sequer a opção de deixar de gostar de homem. Nasci com esse carma e que Deus me ajude.

No dia das mulheres recebo cumprimentos. Agradeço-os com um sorriso amarelo. Sinto-me como quem chegou em quinto lugar numa corrida mas está recebendo a medalha de ouro. É meio incômodo.

Não sei se vocês já repararam, mas nessa onda de endeusar as mulheres, o pessoal, de quebra, aproveita para desmerecer os homens. O curioso nessa história é o seguinte: os próprios homens concordam em fazer de conta que estão abaixo de nós. E por que concordam? Porque sabem que é tudo brincadeirinha e que suas vidinhas vão continuar do mesmo jeito. Todos sabemos que o resultado prático dessa frescura é ZERO.

O mais "engraçado" é quando comparam os dois sexos dizendo que os homens não sabem viver sozinhos mas as mulheres são independentes deles. Ô mentira! Falam isso porque mal se separam ou se tornam viúvos eles logo engatam num novo relacionamento. Já as mulheres não: assumem "heroicamente" as responsabilidades familiares e fazem pouco caso de ter outro homem. Dá vontade de rir.  

Sabe, não vou nem me animar em derrubar essas idéias porque não quero ser apedrejada. A maioria de nós sabe muito bem porque grande parte das mulheres fica sozinha e porque a maioria dos homens logo arranja outra parceira. Deixa pra lá.

Mas para não pensarem que sou do contra, aviso que se alguém quiser me homenagear com um presente na gloriosa data de oito de março, calço 36/37, visto 42 e aceito flores. Mas prefiro a minha parte em dinheiro.

domingo, 6 de março de 2011

Beije um ateu

Uma das coisas mais bobas do mundo é crente querendo enfiar Deus na cabeça de um ateu. Pra falar a verdade chego a ter pena de quem pensa que está prestando algum tipo de serviço a Deus quando discute com um ateu.

Por quê penso assim:

1) Em primeiro lugar, quem realmente crê em Deus não perde tempo tentando provar nada porque em sua cabeça isso é tão obvio que só de pensar em encarar aquelas discussões compriiiiiidas já dá uma tremenda canseira.

2) Porque tanto a crença quanto a descrença em Deus não habitam o âmbito do cientificamente comprovável. Pelo contrário: é algo profundamente emocional.

3) Desconfio de quem se esfalfa muito para provar a existência de Deus para os outros. Parece que no fundo no fundo a pessoa está tentando provar tudo para si mesmo.

4) Se Deus  é Deus, então por quê ele se beneficiaria com a discução de dois chatos?

5) Se Deus existe ele pode se defender. Se não pode se defender, então não pode me defender. Nesse caso, nem Deus ele é.

6) Em outras palavras: se Deus está incomodado com a incredulidade de uns, então ele é que tem que tomar as providências a respeito. A ofensa é contra ele, não contra mim.

7) Duvido muito que Deus esteja "perdendo noites de sono" só porque uns caras não acreditam nele. Se ele é Deus, basta-se a si mesmo.

8) Se alguém tem "vontade de Deus", essa vontade será saciada. Quem busca, encontra. Quem QUER Deus dá de cara com ele mais cedo ou mais tarde. Quem não quer... vai continuar no zero a zero e eu não tenho como mudar isso.

9) Nunca vi ninguém deixar de ser ateu só por conta de argumentos "brilhantes". Por isso prefiro guardar meu brilhantismo para algo mais útil. Para escrever um texto legal no blog, por exemplo.

10) Já vi ateus deixarem de sê-lo por conta de acontecimentos incrivelmente simples para mim, mas contundentes para eles.  Do tipo "eu nunca pensei que ele se convenceria com isso!"  Ora, se não sei fabricar esses lances inexplicáveis nem para a minha vida, quanto mais para a vida dos outros.

11) Você consegue fazer uma pessoa se apaixonar por outra na base dos argumentos?  Não. Pois é.

12) Para discutir com um ateu você primeiro precisa acreditar que ele existe. Eu, por exemplo, não tenho toda essa fé.  O que vejo é muita gente revoltada contra as injustiças do mundo cruel. Como eles acham que Deus, mesmo podendo, não está fazendo nada para melhorar as coisas e como não podem dar um soco na cara de Deus, então "se vingam" dizendo que ele não existe.  Quando você pergunta para essas pessoas por quê não acreditam em Deus as respostas não são nada filosóficas ou científicas, mas simplórias e emocionais: ela atacam com criancinhas doentes, a fome do mundo, as guerras, enchentes e blá blá blá. Só conseguem imaginar um Deus bom e justo. Se ele não for bom nem justo (segundo elas) então ele "não merece existir".

Isso não me parece razoável.  Tá vendo como tudo está no âmbito das emoções, da experiência pessoal e do imponderável? Por isso é que eu digo: não discuta com um ateu: dê um beijo nele! Deus vai curtir muito mais o lance, até porque ele não está precisando de advogado.

sexta-feira, 4 de março de 2011

Carnaval

quarta-feira, 2 de março de 2011

A Rede Social - Mark e VOCÊ

Já comentei esse filme em meu blog de cinema, mas acho que você não leu então repetir é preciso.

Além da história, que é interessante, uma coisa que me deixou pensativa foi o personagem principal. Não exatamente ele, mas NOSSA reação a ele.

A maneira como NÓS reagimos ao personagem parece ser um desconfortável indício de pequenez da NOSSA parte. Mark Zuckerberg - personagem principal - é esquisitão e inteligentíssimo. Normal. Todo inteligentíssimo é esquisitão e todo o esquisitão a gente torce para ele ser pelo menos inteligente. Bem, e Mark não é muito simpático. O estranho é que a gente acaba gostando dele. Como? Aí é que está.

Mark é brilhante, inventivo, jovem, fala o que dá na cabeça, é ambicioso, convencido e não resiste a uma oportunidade de crescer, mesmo que isso lhe custe as mais caras amizades. Ele simplesmente não consegue parar. Essa é a grande tentação da sua vida. É como se uma força superior o puxasse para cima e ele tivesse que cumprir seu "doloroso" carma. Deveríamos odiar Mark. Porque isso não acontece? Porque mesmo assim ele é tudo o que VOCÊ quer ser.

(Isso não é acusação, mas retórica. Combinado?)

Uma pessoa de bom coração morreria de raiva dele. Ei, pessoas de bom coração tem raiva de alguém? Ah, deixa pra lá. O fato é: como ter  raiva se ele é tão inteligente e ainda por cima está ficando milionário? Amigo, se foi desse jeito que você sentiu o personagem, bem-vindo ao clube: você não é uma pessoa tão boazinha assim e é igualzinho à sociedade que costuma criticar. Acho que o filme quis inquietar.

Em alguns momentos a história parece estar mais para drama psicológico. Para mim foi um drama psicológico. Dá pra entender um pouco da dor de todo mundo. Ser um gênio que enriquece pode levar a pessoa a um deplorável estado de solidão. Mark nos dá inveja, raiva e pena, tudo junto. É uma mistura improvável de sentimentos, mas isso existe. Experimente.

Sabe outra coisa dolorosa do filme? É eles jogarem na nossa cara, impiedosamente, que não há remédio para a mediocridade. Gênios já nascem prontos e se você não nasceu assim, paciência. Sorry, periferia!

Li uma critica que dizia, brilhantemente, que "No fim das contas, embora o Facebook trate de conectividade, David Fincher está fazendo um filme sobre a dissonância. É como o ruído que persiste na trilha de Reznor, literal e metaforicamente." É isso aí.

Mas não somos tão ruins assim. Fora a pena/inveja que sentimos do sócio de Mark, ainda conseguimos sentir um dó descomunal dos gêmeos belíssimos, educadíssimos, finos, sarados, bons e inteligentes que sofrem horrores ao serem humilhados o tempo todo pelo QI e pela fraqueza moral de Mark.

Essa dor acaba sendo a nossa redenção.