quarta-feira, 14 de abril de 2010
Imposto, imposto, imposto
Minha conta de luz esse mês foi R$ 119,29. Desse valor o Governo vai embolsar R$ 42,92. quer dizer: SÓ DE IMPOSTO eu pago quase a metade!!! Não é indecente?
terça-feira, 13 de abril de 2010
Mochila fosforescente
Se eu pudesse voltar ao passado...
De vez em quando a gente pensa isso, não é? Você já pensou. Mas será que voltar é algo desejável mesmo? Ou você só quer algumas cenas escolhidas?
Claro que você só quer algumas cenas escolhidas. Conheço você! Todos temos ceninhas de cinema salpicadas em nossa vida chocha. É elas que queremos e não o todo. Deus sacou isso, bateu pé ("Ou leva todo o pacote ou não leva nada!") e por fim tirou a marcha ré da carroça da nossa vida. Lascou-se.
Tudo bem, mas se você tivesse ré, voltaria ao passado? Já sei o que vai me perguntar: "- Passado? Mas de qual passado você está falando?" Boa pergunta. Você é esperto.
Considere que não há um único "passadão" para nos referirmos. Mesmo as piores novelas são divididas em capítulos. Sendo assim, há um monte de "passadinhos" em nossa tosca prateleira. E esses "passadinhos" estão classificados e acondicionados em vidros separados: o do Passado Remoto, Passado Antigo e Passado Recente. Qual dessas velharias lhe seduz?
O passado antigo esmaece enquanto o recente é fresco e vivo. Desse ouço até vozes e cheiros. Parece estar ao alcance da minha mão. É convidativo, acolhedore e aparentemente acessível. Só aparentemente.
O presente, quando se torna em passado torna-se impenetrável como uma rocha.
Sabe, não há fantasia mais doce do que acreditar que podemos retornar a cenários antigos para retomar o fio da meada e viver feliz para sempre, dessa feita sem mancada.
Quando estou naqueles dias pratico a nociva atividade de consolar-me com essa idéia de voltar a fita. Felizmente passa rápido porque alguém lá no fundo canta a pedra: "O passado petrificou! Ninguém entra, ninguém sai de lá!"
Mas se pudesse eu voltaria? Hmmm...
Raciocinemos: voltar ao passado sem a cabeça e as informações do presente, não teria graça. Faltaria a consciência dessa volta, então não seria "voltar lá e curtir de novo", mas seria apenas repetir a mesmíssima história. VOCÊ QUER?
Seria como ver novamente o mesmo filme, com os personagens não sabendo que aquilo tudo é repetido, sem saber o que aconteceu ou vai acontecer. Aí todo mundo faz novamente as mesmas coisas erradas. Não dá.
E a segunda opção? Voltar ao passado com a cabeça e as informações do presente? Também não dá. Eu não sou mais a mesma. Seria como colocar o personagem de uma novela em outra novela. Olha a confusão! Além do mais o presente está todo desconjuntado; falta pano de um lado e sobra de outro. Hoje há novas alegrias, novas mágoas, novos personagens, novas conclusões, novos sentimentos. E ainda por cima falta um monte de persnagem da história. Como retomar a minissérie nessas condições?
Nada de hoje cabe no que passou. Voltar ao ontem com a cabeça do hoje? Impraticável. Ao voltar, mentalmente me vejo carregada de novas histórias que não caberiam naquele enredo. Fica absurdo, uma coisa assim como... como uma mochila fosforescente colada em minhas costas em um cenário do século XIX. Não dá.
Uma reconstrução nada mais seria do que uma imitação deprimente do filme original. Não há passado para o qual voltar. É tolice pensar que ele está nos esperando. Não está. Cada dia o nosso passado fica mais diferente de nós mesmos. Se voltássemos ele não nos reconheceria, nem nós a ele.
Mesmo assim há dias em que, teimosamente, gosto de pensar que posso. Ah aquelas cenas! Há cenas dignas de um filme também em meu passado e são essas cenas tendenciosas que nos puxam. Não deveríamos nos impressionar. Se chegássemos lá, constataríamos que a coisa não é bem assim. Ah como a gente esquece da mediocridade do resto...
Seria bom voltar a ser simples e apaixonada, jovem e cheia de idéias, com mil vontades e disposição imbatível e sem celulites. Só que
Não posso
Não sei
Não consigo.
Tudo o que eu tenho é o hoje e o que hoje eu sou (e que deixarei de ser daqui a pouco). - "E isso não é bom?" Sei lá. Mais pra frente, se eu sentir vontade de voltar, é sinal de que foi.
De vez em quando a gente pensa isso, não é? Você já pensou. Mas será que voltar é algo desejável mesmo? Ou você só quer algumas cenas escolhidas?
Claro que você só quer algumas cenas escolhidas. Conheço você! Todos temos ceninhas de cinema salpicadas em nossa vida chocha. É elas que queremos e não o todo. Deus sacou isso, bateu pé ("Ou leva todo o pacote ou não leva nada!") e por fim tirou a marcha ré da carroça da nossa vida. Lascou-se.
Tudo bem, mas se você tivesse ré, voltaria ao passado? Já sei o que vai me perguntar: "- Passado? Mas de qual passado você está falando?" Boa pergunta. Você é esperto.
Considere que não há um único "passadão" para nos referirmos. Mesmo as piores novelas são divididas em capítulos. Sendo assim, há um monte de "passadinhos" em nossa tosca prateleira. E esses "passadinhos" estão classificados e acondicionados em vidros separados: o do Passado Remoto, Passado Antigo e Passado Recente. Qual dessas velharias lhe seduz?
O passado antigo esmaece enquanto o recente é fresco e vivo. Desse ouço até vozes e cheiros. Parece estar ao alcance da minha mão. É convidativo, acolhedore e aparentemente acessível. Só aparentemente.
O presente, quando se torna em passado torna-se impenetrável como uma rocha.
Sabe, não há fantasia mais doce do que acreditar que podemos retornar a cenários antigos para retomar o fio da meada e viver feliz para sempre, dessa feita sem mancada.
Quando estou naqueles dias pratico a nociva atividade de consolar-me com essa idéia de voltar a fita. Felizmente passa rápido porque alguém lá no fundo canta a pedra: "O passado petrificou! Ninguém entra, ninguém sai de lá!"
Mas se pudesse eu voltaria? Hmmm...
Raciocinemos: voltar ao passado sem a cabeça e as informações do presente, não teria graça. Faltaria a consciência dessa volta, então não seria "voltar lá e curtir de novo", mas seria apenas repetir a mesmíssima história. VOCÊ QUER?
Seria como ver novamente o mesmo filme, com os personagens não sabendo que aquilo tudo é repetido, sem saber o que aconteceu ou vai acontecer. Aí todo mundo faz novamente as mesmas coisas erradas. Não dá.
E a segunda opção? Voltar ao passado com a cabeça e as informações do presente? Também não dá. Eu não sou mais a mesma. Seria como colocar o personagem de uma novela em outra novela. Olha a confusão! Além do mais o presente está todo desconjuntado; falta pano de um lado e sobra de outro. Hoje há novas alegrias, novas mágoas, novos personagens, novas conclusões, novos sentimentos. E ainda por cima falta um monte de persnagem da história. Como retomar a minissérie nessas condições?
Nada de hoje cabe no que passou. Voltar ao ontem com a cabeça do hoje? Impraticável. Ao voltar, mentalmente me vejo carregada de novas histórias que não caberiam naquele enredo. Fica absurdo, uma coisa assim como... como uma mochila fosforescente colada em minhas costas em um cenário do século XIX. Não dá.
Uma reconstrução nada mais seria do que uma imitação deprimente do filme original. Não há passado para o qual voltar. É tolice pensar que ele está nos esperando. Não está. Cada dia o nosso passado fica mais diferente de nós mesmos. Se voltássemos ele não nos reconheceria, nem nós a ele.
Mesmo assim há dias em que, teimosamente, gosto de pensar que posso. Ah aquelas cenas! Há cenas dignas de um filme também em meu passado e são essas cenas tendenciosas que nos puxam. Não deveríamos nos impressionar. Se chegássemos lá, constataríamos que a coisa não é bem assim. Ah como a gente esquece da mediocridade do resto...
Seria bom voltar a ser simples e apaixonada, jovem e cheia de idéias, com mil vontades e disposição imbatível e sem celulites. Só que
Não posso
Não sei
Não consigo.
Tudo o que eu tenho é o hoje e o que hoje eu sou (e que deixarei de ser daqui a pouco). - "E isso não é bom?" Sei lá. Mais pra frente, se eu sentir vontade de voltar, é sinal de que foi.
sábado, 10 de abril de 2010
O POÇO DOS DESEJOS
De onde saiu essa curiosa crença de que seria possível jogar moedas em um misterioso poço, o Poço dos Desejos, e então seu pedido seria realizado?
O que tem a ver dinheiro com a mágica da satisfação? Tudo, sabemos. Mas e a figura feminina tem alguma relação direta com isso?
Não estou misturando as coisas. Acho que o poço representa a figura da mulher. Um poço é fundo, fresco, úmido e desejável, escuro e cheio de misterios. Não tem a ver?
Agora vem a parte desagradável: de onde tiraram a idéia de que jogar dinheiro no poço é um tipo de "mágica" que faz o nosso desejo se realizar? Quem teve essa idéia?
Seria a mulher o verdadeiro Poço dos Desejos? E não apenas no sentido de realizar as fantasias secretas de quem lhe joga dinheiro, mas támbém por trazer em si mesma um eterno desejar? Pouca gente sabe a profundidade do poço, qual é o seu limite. Não sabendo, fantasiamos que não acaba nunca - mas acaba!
Se você tivesse o espírito de um desbravador, poderia descobrir que o poço tem fim, tem limite e não é tão misterioso assim.
Hummm... Essa história de dinheiro não tem nada a ver, certo? Esqueça.
O que tem a ver dinheiro com a mágica da satisfação? Tudo, sabemos. Mas e a figura feminina tem alguma relação direta com isso?
Não estou misturando as coisas. Acho que o poço representa a figura da mulher. Um poço é fundo, fresco, úmido e desejável, escuro e cheio de misterios. Não tem a ver?
Agora vem a parte desagradável: de onde tiraram a idéia de que jogar dinheiro no poço é um tipo de "mágica" que faz o nosso desejo se realizar? Quem teve essa idéia?
Seria a mulher o verdadeiro Poço dos Desejos? E não apenas no sentido de realizar as fantasias secretas de quem lhe joga dinheiro, mas támbém por trazer em si mesma um eterno desejar? Pouca gente sabe a profundidade do poço, qual é o seu limite. Não sabendo, fantasiamos que não acaba nunca - mas acaba!
Se você tivesse o espírito de um desbravador, poderia descobrir que o poço tem fim, tem limite e não é tão misterioso assim.
Hummm... Essa história de dinheiro não tem nada a ver, certo? Esqueça.
quarta-feira, 7 de abril de 2010
Agradeço muito a sua escolta
Querido amigo Medo:
Valeu!
Reconheço o tremendo segurança que você é. Sem você o que teria sido de mim? Como me sairia bem nesse mundo inóspito? Se hoje sou o que sou, se sobrevivi, devo muito disso a você.
Esse seu jeitão emburrado... essa sua cara feia... Inicialmente eu não te queria por perto. Na verdade eu te odiava. Não reconhecia o valor do seu trabalho nem o quanto você era bem intencionado.
Depois, sabe como é. A gente cresce, vê o tamanho da selva onde está metido e sente a necessidade de uma proteção. Uma armadilha em cada esquina. Era assim que eu via o mundo. Aí você chegou mais perto e... Como eu me escorava em você! Deixei que carregasse todas as malas, tomasse todas as decisões. Era exploração! Mas você nunca reclamou, pelo contrário: tanto me preservou que quando dei por mim nem prestava mais atenção ao seu tamanho. Você ocupa muito espaço, rapaz!
Eu olhava o mundo da guarita segura que você construiu para mim. E as nossas conversas? Ah Medo, como você é convincente! À sua menor agumentação eu cedia, convencida e acalmada como um ratinho na toca. Deixei de ir, deixei de ser, de falar, de esmurrar a mesa; não fui a inúmeras festas, não fiz vários amigos, livrei-me de todas as aventuras, não comi, não fumei, não bebi, não comprei, não li, não participei.

Sim, você preserva mais que formol, Mais que embalagem à vácuo! Bom moço, bom moço.
Medo: obrigada. Você foi fundamental em minha formação. Valeu mesmo, mas olhe: aqui terminamos como dupla.
Está vendo aquele ponto cinza lá longe? É a plataforma da próxima estação. A cidade se chama Passado. Desça ali e dedique-se a outra pessoa. Muitos precisam de você. Quanto a mim, descerei mais à frente, na estação Imperatriz Confiante. Pegue suas coisas.
Quem sabe? Nas voltas que essa vida vá pode ser que nossos caminhos secruzes cruzem.
Estou levezinha... Vou seguir adiante sem a armadura que tanto me protegia do sol quanto desviava de mim o vento.
Não há mais contas a acertar com o passado. Agora só quero pisar nas poças e vê-las prateadas, não mais como abismos dissimulados a quererem me engolir.
Adeus, Medo! Vou só.
Valeu!
Reconheço o tremendo segurança que você é. Sem você o que teria sido de mim? Como me sairia bem nesse mundo inóspito? Se hoje sou o que sou, se sobrevivi, devo muito disso a você.
Esse seu jeitão emburrado... essa sua cara feia... Inicialmente eu não te queria por perto. Na verdade eu te odiava. Não reconhecia o valor do seu trabalho nem o quanto você era bem intencionado.
Depois, sabe como é. A gente cresce, vê o tamanho da selva onde está metido e sente a necessidade de uma proteção. Uma armadilha em cada esquina. Era assim que eu via o mundo. Aí você chegou mais perto e... Como eu me escorava em você! Deixei que carregasse todas as malas, tomasse todas as decisões. Era exploração! Mas você nunca reclamou, pelo contrário: tanto me preservou que quando dei por mim nem prestava mais atenção ao seu tamanho. Você ocupa muito espaço, rapaz!
Eu olhava o mundo da guarita segura que você construiu para mim. E as nossas conversas? Ah Medo, como você é convincente! À sua menor agumentação eu cedia, convencida e acalmada como um ratinho na toca. Deixei de ir, deixei de ser, de falar, de esmurrar a mesa; não fui a inúmeras festas, não fiz vários amigos, livrei-me de todas as aventuras, não comi, não fumei, não bebi, não comprei, não li, não participei.

Sim, você preserva mais que formol, Mais que embalagem à vácuo! Bom moço, bom moço.
Medo: obrigada. Você foi fundamental em minha formação. Valeu mesmo, mas olhe: aqui terminamos como dupla.
Está vendo aquele ponto cinza lá longe? É a plataforma da próxima estação. A cidade se chama Passado. Desça ali e dedique-se a outra pessoa. Muitos precisam de você. Quanto a mim, descerei mais à frente, na estação Imperatriz Confiante. Pegue suas coisas.
Quem sabe? Nas voltas que essa vida vá pode ser que nossos caminhos se
Estou levezinha... Vou seguir adiante sem a armadura que tanto me protegia do sol quanto desviava de mim o vento.
Não há mais contas a acertar com o passado. Agora só quero pisar nas poças e vê-las prateadas, não mais como abismos dissimulados a quererem me engolir.
Adeus, Medo! Vou só.
domingo, 4 de abril de 2010
A noite, na estrada
Não gosto da estrada à noite. Ela é estranha e triste.
Difícil eu me sentir feliz na estrada, à noite. Enquanto o carro balança, do fundo do meu rio são evocados fantasmas incômodos e amargurados.
Acho que todos os fantasmas são amargurados, se não não seriam fantasmas; seriam apenas pessoas que partiram.
As árvores na beira da pista são misteriosamente tristes. É como se soubessem de alguma coisa grave que eu ainda não sei. E como se desejassem contar, mas não ousassem. Da mesma forma que eu, elas olham e sentem a presença dos atropelados que não conseguem sair dali. Ficam parados, olhando os carros passarem. Eles tem o mesmo olhar distante das árvores e como elas, não fazem nenhuma menção de sair dali, nem mesmo de acenar. Apenas olham atentamente os viajantes como se quisessem reconhecer alguém. Como se um dos rostos pudesse, de repente, devolver-lhes a memória.
Esses seres da noite me deixam melancólia. Então, fatalmente, acabo lembrando de dores recentes e dores antigas. Na estrada, à noite, elas se equivalem: as velhas e as novas têm o mesmo peso e gravidade, por isso meus olhos ficam úmidos. É quando me cai no colo uma pesada solidão. Sabe aquela solidão sem jeito e sem remédio, que você sabe que não vai passar nunca? Pois é. Não é solidão de falta de companhia; é solidão de coração com excesso de lugares vagos.
Solidão de coração com excesso de lugares vagos...
Olho os ciclistas silenciosos pedalando por entre os fantasmas. Não se olham, não se assustam uns com os outros. O que faz uma pessoa vaguear assim sozinha em um lugar tão lúgubre? Tenho tanta pena dos ciclistas da noite! Desejo oferecer-lhes ao menos um chocolate quente.
A pior solidão é a da beira da estrada, quando sabemos que aconteça o que acontecer, ninguém vai parar para nos dar um abraço; todos seguirão em direção aos seus lugares mornos, a um aconchego seguro e muito distante dali. Também sigo, mas cheia de lembranças e lágrimas querendo motivo.
Não gosto de ver aquelas pessoas paradas com o olhar perdido enquanto passo. Sinto por elas algo parecido com o sentimento pelos ciclistas da noite. Aí me vem minha mãe à lembrança... só que quando estou na estrada ela também tem o olhar parado. É estranho e incômodo.
O carro, decidido, me leva dali. Minha cabeça está cheia de lembranças reverentes e um tanto cinzas. Passam meus irmãos ainda pequenos... passa a mesa de jantar com sopa quente... passam os balões coloridos, de aniversário... passam os cadernos e lápis... passo eu! Ali, pequenina e amada! ... Passam as primeiras flexadas de felicidade, o amor e, depois, a paixão esmaecendo... E pelas costas um frio fatal... uma coisa incômoda... uma necessidade de pedir abrigo.
Vai demorar muito para o sol nascer?
Difícil eu me sentir feliz na estrada, à noite. Enquanto o carro balança, do fundo do meu rio são evocados fantasmas incômodos e amargurados.
Acho que todos os fantasmas são amargurados, se não não seriam fantasmas; seriam apenas pessoas que partiram.
As árvores na beira da pista são misteriosamente tristes. É como se soubessem de alguma coisa grave que eu ainda não sei. E como se desejassem contar, mas não ousassem. Da mesma forma que eu, elas olham e sentem a presença dos atropelados que não conseguem sair dali. Ficam parados, olhando os carros passarem. Eles tem o mesmo olhar distante das árvores e como elas, não fazem nenhuma menção de sair dali, nem mesmo de acenar. Apenas olham atentamente os viajantes como se quisessem reconhecer alguém. Como se um dos rostos pudesse, de repente, devolver-lhes a memória.
Esses seres da noite me deixam melancólia. Então, fatalmente, acabo lembrando de dores recentes e dores antigas. Na estrada, à noite, elas se equivalem: as velhas e as novas têm o mesmo peso e gravidade, por isso meus olhos ficam úmidos. É quando me cai no colo uma pesada solidão. Sabe aquela solidão sem jeito e sem remédio, que você sabe que não vai passar nunca? Pois é. Não é solidão de falta de companhia; é solidão de coração com excesso de lugares vagos.
Solidão de coração com excesso de lugares vagos...
Olho os ciclistas silenciosos pedalando por entre os fantasmas. Não se olham, não se assustam uns com os outros. O que faz uma pessoa vaguear assim sozinha em um lugar tão lúgubre? Tenho tanta pena dos ciclistas da noite! Desejo oferecer-lhes ao menos um chocolate quente.
A pior solidão é a da beira da estrada, quando sabemos que aconteça o que acontecer, ninguém vai parar para nos dar um abraço; todos seguirão em direção aos seus lugares mornos, a um aconchego seguro e muito distante dali. Também sigo, mas cheia de lembranças e lágrimas querendo motivo.
Não gosto de ver aquelas pessoas paradas com o olhar perdido enquanto passo. Sinto por elas algo parecido com o sentimento pelos ciclistas da noite. Aí me vem minha mãe à lembrança... só que quando estou na estrada ela também tem o olhar parado. É estranho e incômodo.
O carro, decidido, me leva dali. Minha cabeça está cheia de lembranças reverentes e um tanto cinzas. Passam meus irmãos ainda pequenos... passa a mesa de jantar com sopa quente... passam os balões coloridos, de aniversário... passam os cadernos e lápis... passo eu! Ali, pequenina e amada! ... Passam as primeiras flexadas de felicidade, o amor e, depois, a paixão esmaecendo... E pelas costas um frio fatal... uma coisa incômoda... uma necessidade de pedir abrigo.
Vai demorar muito para o sol nascer?
Essa eu não sabia!

Você sabia que 04 de abril é o dia mundial da guerra de travesseiros? Como se já tivesse poucas guerras no mundo... Ainda bem que essa é muito fofa.
Olha que barato: como a maioria das pessoas não sabe disso, você terá a chance de sair na vantagem dando travesseiradas nos desavisados e levando apenas xingamentos de volta. Não é incrível? Será certamente uma sensação inebriante.
Pegue seus familiares, vizinhos e até mesmo o guarda de trânsito desprevenidos. De preferência peça a um amigo para filmar.
Qualquer dúvida é só mostrar a reportagem - clique aqui!. Ninguém se insurgirá contra um dia consagrado e sacramentado. Divirta-se.
quinta-feira, 1 de abril de 2010
Momento de amargura
Não se pode, em lugar algum do planeta, revogar a lei do mais forte. Os mais aptos e arrojados tornam-se poderosos (ou por força física e intimidação ou por poder econômico ou por serem detentores do poder político-governamental). Sim, os poderosos, por serem poderosos, fazem o que quiserem: ou ignoram as leis, ou compram os das leis ou manipulam a criação de leis.
Ou você faz poeira ou você come poeira...
O poder é conquistado, como tudo na vida. E é como se diz: toda vitória traz em si algum tipo de violência. É assim com os atletas, que esmurram o próprio corpo e escravizam-se em treinamento para conquistar uma medalha. É um processo violento sim mas o resultado, para eles, vale a pena.
Em todos os níveis é semelhante. Toda a disputa envolve sofrer e fazer sofrer. Nem todos tem estômago para isso. Os mais ambiociosos, competitivos e furiosos conseguem.
Os pacíficos e sentimentais serão explorados para sempre. Quanto aos lutadores idealistas que serviram de escada, não passam disso mesmo: escada, massa de manobra. São os iludidos e quanto mais preclaros se sentem, mais tolamente servirão de bom grado aos famintos vencedores. Sim, eles são utilíssimos! Por terem lutado juntos eles juram que simbolicamente também estão "lá" mas vão comer poeira do mesmo jeito.
Não tem filé pra todo mundo. Desculpe aí, plebe ignara!
A sacada é transformar animais domésticos em cães raivosos. O processo é eficiente e inclui atiçar o que o que há de pior e mais comum na matilha. Diariamente, injeção de ódio e muita inveja. Porque o ódio é o contrário da depressão. O ódio traz consigo uma enorme carga de energia. Essa energia, sendo bem manipulada, pode conquistar reinos. Por isso os bichinhos são irritados até ficarem com sede de vingança. Quem odeia não raciocina.O ódio é uma paixão e nenhum apaixonado pensa direito. Enquanto a matilha se mantiver irritada e odienta, gerará a energia de uma hidrelétrica. O ódio e a inveja são insanos e subtraem do indivíduo a capacidade de querer crescer; ele não quer mais crescer, só quer se vingar dos que cresceram. Quando isso acontece, eles estão no ponto.
Uma vez estando aptos para a linha de frente, serão alimentados enquanto sua ferocidade for útil. Ficarão então felizes e se sentirão protegidos e cuidados. Custarão a perceber que estão se alimentando de migalhas e carne podre e que o canil é uma pocilga.
Tanto na disputa pelo poder quanto na sua manutenção usa-se mentira, manipulação, injustiça, cinismo e todo tipo de crueldade. Difícil acreditar que alguém se lance a isso com tanta gana para simplesmente "fazer o bem". Não é impossível amar assim o próximo! Só que me parece pouco provável que isso aconteça com esses lutadores de luta livre, até porque os pisoteados no trajeto também são "próximos". Por que não amá-los então?
Mas bem ou mal, o povo é o troféu dos vencedores e suas costas poderão ser aradas e dali os vencedores poderão arrancar tudo o que puderem. Basta regar uma vezinha ou outra você sabe como.
Está tão sacramentada e tão reconhecida como justa essa espécie de disputa que em momentos pós revolta já passou pela minha cabeça o mesmo que talvez tenha passado pela cabeça de algum escravo do passado:
"- Compraram-me. É mesmo justo que o novo dono disponha de mim. Ele lutou muito para ter o poder de também me cobrir de chibatadas se quiser."
Será que se digradiaram assim por amor à pátria, ao "povo sofrido e honesto"?
Observando agora o rebanho prostituído que defende o cafetão, penso: será tanto um quanto outro não merecem a posição que ocupam? Nem sei mais. Confesso que estou confusa.
Bem, o rebanho agora é deles até que apareça outra turma igualmente sedenta e violenta que lhes arranquem do poder.
Nossos feitores estão aí. Ninguém pode dizer que eles não lutaram violentamente pela nossa posse. Lutaram sim: sequestraram, torturaram, mataram, intimidaram... e conseguiram. Conseguiram até cegar o povo para seus métodos. Em uma briga, tanto se bate quanto se apanham. Ao povo, hoje, só é dado o direito de saber das porradas que eles levaram, não das que eles deram.
Quanto ao rebanho, não sairá ganhando nunca. Serão apenas locados e sublocados para fins de exploração; como escravos serão passados de mão em mão até o final dos tempos.
É a vida. Um dia se está por cima, noutro se está por baixo. Para vencê-los só fazendo o que eles fizeram mas eu não tenho estômago... Você tem?
Ou você faz poeira ou você come poeira...
O poder é conquistado, como tudo na vida. E é como se diz: toda vitória traz em si algum tipo de violência. É assim com os atletas, que esmurram o próprio corpo e escravizam-se em treinamento para conquistar uma medalha. É um processo violento sim mas o resultado, para eles, vale a pena.
Em todos os níveis é semelhante. Toda a disputa envolve sofrer e fazer sofrer. Nem todos tem estômago para isso. Os mais ambiociosos, competitivos e furiosos conseguem.
Os pacíficos e sentimentais serão explorados para sempre. Quanto aos lutadores idealistas que serviram de escada, não passam disso mesmo: escada, massa de manobra. São os iludidos e quanto mais preclaros se sentem, mais tolamente servirão de bom grado aos famintos vencedores. Sim, eles são utilíssimos! Por terem lutado juntos eles juram que simbolicamente também estão "lá" mas vão comer poeira do mesmo jeito.
Não tem filé pra todo mundo. Desculpe aí, plebe ignara!
A sacada é transformar animais domésticos em cães raivosos. O processo é eficiente e inclui atiçar o que o que há de pior e mais comum na matilha. Diariamente, injeção de ódio e muita inveja. Porque o ódio é o contrário da depressão. O ódio traz consigo uma enorme carga de energia. Essa energia, sendo bem manipulada, pode conquistar reinos. Por isso os bichinhos são irritados até ficarem com sede de vingança. Quem odeia não raciocina.O ódio é uma paixão e nenhum apaixonado pensa direito. Enquanto a matilha se mantiver irritada e odienta, gerará a energia de uma hidrelétrica. O ódio e a inveja são insanos e subtraem do indivíduo a capacidade de querer crescer; ele não quer mais crescer, só quer se vingar dos que cresceram. Quando isso acontece, eles estão no ponto.
Uma vez estando aptos para a linha de frente, serão alimentados enquanto sua ferocidade for útil. Ficarão então felizes e se sentirão protegidos e cuidados. Custarão a perceber que estão se alimentando de migalhas e carne podre e que o canil é uma pocilga.
Tanto na disputa pelo poder quanto na sua manutenção usa-se mentira, manipulação, injustiça, cinismo e todo tipo de crueldade. Difícil acreditar que alguém se lance a isso com tanta gana para simplesmente "fazer o bem". Não é impossível amar assim o próximo! Só que me parece pouco provável que isso aconteça com esses lutadores de luta livre, até porque os pisoteados no trajeto também são "próximos". Por que não amá-los então?
Mas bem ou mal, o povo é o troféu dos vencedores e suas costas poderão ser aradas e dali os vencedores poderão arrancar tudo o que puderem. Basta regar uma vezinha ou outra você sabe como.
Está tão sacramentada e tão reconhecida como justa essa espécie de disputa que em momentos pós revolta já passou pela minha cabeça o mesmo que talvez tenha passado pela cabeça de algum escravo do passado:
"- Compraram-me. É mesmo justo que o novo dono disponha de mim. Ele lutou muito para ter o poder de também me cobrir de chibatadas se quiser."
Será que se digradiaram assim por amor à pátria, ao "povo sofrido e honesto"?
Observando agora o rebanho prostituído que defende o cafetão, penso: será tanto um quanto outro não merecem a posição que ocupam? Nem sei mais. Confesso que estou confusa.
Bem, o rebanho agora é deles até que apareça outra turma igualmente sedenta e violenta que lhes arranquem do poder.
Nossos feitores estão aí. Ninguém pode dizer que eles não lutaram violentamente pela nossa posse. Lutaram sim: sequestraram, torturaram, mataram, intimidaram... e conseguiram. Conseguiram até cegar o povo para seus métodos. Em uma briga, tanto se bate quanto se apanham. Ao povo, hoje, só é dado o direito de saber das porradas que eles levaram, não das que eles deram.
Quanto ao rebanho, não sairá ganhando nunca. Serão apenas locados e sublocados para fins de exploração; como escravos serão passados de mão em mão até o final dos tempos.
É a vida. Um dia se está por cima, noutro se está por baixo. Para vencê-los só fazendo o que eles fizeram mas eu não tenho estômago... Você tem?
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quarta-feira, 14 de abril de 2010
Imposto, imposto, imposto
Minha conta de luz esse mês foi R$ 119,29. Desse valor o Governo vai embolsar R$ 42,92. quer dizer: SÓ DE IMPOSTO eu pago quase a metade!!! Não é indecente?
terça-feira, 13 de abril de 2010
Mochila fosforescente
Se eu pudesse voltar ao passado...
De vez em quando a gente pensa isso, não é? Você já pensou. Mas será que voltar é algo desejável mesmo? Ou você só quer algumas cenas escolhidas?
Claro que você só quer algumas cenas escolhidas. Conheço você! Todos temos ceninhas de cinema salpicadas em nossa vida chocha. É elas que queremos e não o todo. Deus sacou isso, bateu pé ("Ou leva todo o pacote ou não leva nada!") e por fim tirou a marcha ré da carroça da nossa vida. Lascou-se.
Tudo bem, mas se você tivesse ré, voltaria ao passado? Já sei o que vai me perguntar: "- Passado? Mas de qual passado você está falando?" Boa pergunta. Você é esperto.
Considere que não há um único "passadão" para nos referirmos. Mesmo as piores novelas são divididas em capítulos. Sendo assim, há um monte de "passadinhos" em nossa tosca prateleira. E esses "passadinhos" estão classificados e acondicionados em vidros separados: o do Passado Remoto, Passado Antigo e Passado Recente. Qual dessas velharias lhe seduz?
O passado antigo esmaece enquanto o recente é fresco e vivo. Desse ouço até vozes e cheiros. Parece estar ao alcance da minha mão. É convidativo, acolhedore e aparentemente acessível. Só aparentemente.
O presente, quando se torna em passado torna-se impenetrável como uma rocha.
Sabe, não há fantasia mais doce do que acreditar que podemos retornar a cenários antigos para retomar o fio da meada e viver feliz para sempre, dessa feita sem mancada.
Quando estou naqueles dias pratico a nociva atividade de consolar-me com essa idéia de voltar a fita. Felizmente passa rápido porque alguém lá no fundo canta a pedra: "O passado petrificou! Ninguém entra, ninguém sai de lá!"
Mas se pudesse eu voltaria? Hmmm...
Raciocinemos: voltar ao passado sem a cabeça e as informações do presente, não teria graça. Faltaria a consciência dessa volta, então não seria "voltar lá e curtir de novo", mas seria apenas repetir a mesmíssima história. VOCÊ QUER?
Seria como ver novamente o mesmo filme, com os personagens não sabendo que aquilo tudo é repetido, sem saber o que aconteceu ou vai acontecer. Aí todo mundo faz novamente as mesmas coisas erradas. Não dá.
E a segunda opção? Voltar ao passado com a cabeça e as informações do presente? Também não dá. Eu não sou mais a mesma. Seria como colocar o personagem de uma novela em outra novela. Olha a confusão! Além do mais o presente está todo desconjuntado; falta pano de um lado e sobra de outro. Hoje há novas alegrias, novas mágoas, novos personagens, novas conclusões, novos sentimentos. E ainda por cima falta um monte de persnagem da história. Como retomar a minissérie nessas condições?
Nada de hoje cabe no que passou. Voltar ao ontem com a cabeça do hoje? Impraticável. Ao voltar, mentalmente me vejo carregada de novas histórias que não caberiam naquele enredo. Fica absurdo, uma coisa assim como... como uma mochila fosforescente colada em minhas costas em um cenário do século XIX. Não dá.
Uma reconstrução nada mais seria do que uma imitação deprimente do filme original. Não há passado para o qual voltar. É tolice pensar que ele está nos esperando. Não está. Cada dia o nosso passado fica mais diferente de nós mesmos. Se voltássemos ele não nos reconheceria, nem nós a ele.
Mesmo assim há dias em que, teimosamente, gosto de pensar que posso. Ah aquelas cenas! Há cenas dignas de um filme também em meu passado e são essas cenas tendenciosas que nos puxam. Não deveríamos nos impressionar. Se chegássemos lá, constataríamos que a coisa não é bem assim. Ah como a gente esquece da mediocridade do resto...
Seria bom voltar a ser simples e apaixonada, jovem e cheia de idéias, com mil vontades e disposição imbatível e sem celulites. Só que
Não posso
Não sei
Não consigo.
Tudo o que eu tenho é o hoje e o que hoje eu sou (e que deixarei de ser daqui a pouco). - "E isso não é bom?" Sei lá. Mais pra frente, se eu sentir vontade de voltar, é sinal de que foi.
De vez em quando a gente pensa isso, não é? Você já pensou. Mas será que voltar é algo desejável mesmo? Ou você só quer algumas cenas escolhidas?
Claro que você só quer algumas cenas escolhidas. Conheço você! Todos temos ceninhas de cinema salpicadas em nossa vida chocha. É elas que queremos e não o todo. Deus sacou isso, bateu pé ("Ou leva todo o pacote ou não leva nada!") e por fim tirou a marcha ré da carroça da nossa vida. Lascou-se.
Tudo bem, mas se você tivesse ré, voltaria ao passado? Já sei o que vai me perguntar: "- Passado? Mas de qual passado você está falando?" Boa pergunta. Você é esperto.
Considere que não há um único "passadão" para nos referirmos. Mesmo as piores novelas são divididas em capítulos. Sendo assim, há um monte de "passadinhos" em nossa tosca prateleira. E esses "passadinhos" estão classificados e acondicionados em vidros separados: o do Passado Remoto, Passado Antigo e Passado Recente. Qual dessas velharias lhe seduz?
O passado antigo esmaece enquanto o recente é fresco e vivo. Desse ouço até vozes e cheiros. Parece estar ao alcance da minha mão. É convidativo, acolhedore e aparentemente acessível. Só aparentemente.
O presente, quando se torna em passado torna-se impenetrável como uma rocha.
Sabe, não há fantasia mais doce do que acreditar que podemos retornar a cenários antigos para retomar o fio da meada e viver feliz para sempre, dessa feita sem mancada.
Quando estou naqueles dias pratico a nociva atividade de consolar-me com essa idéia de voltar a fita. Felizmente passa rápido porque alguém lá no fundo canta a pedra: "O passado petrificou! Ninguém entra, ninguém sai de lá!"
Mas se pudesse eu voltaria? Hmmm...
Raciocinemos: voltar ao passado sem a cabeça e as informações do presente, não teria graça. Faltaria a consciência dessa volta, então não seria "voltar lá e curtir de novo", mas seria apenas repetir a mesmíssima história. VOCÊ QUER?
Seria como ver novamente o mesmo filme, com os personagens não sabendo que aquilo tudo é repetido, sem saber o que aconteceu ou vai acontecer. Aí todo mundo faz novamente as mesmas coisas erradas. Não dá.
E a segunda opção? Voltar ao passado com a cabeça e as informações do presente? Também não dá. Eu não sou mais a mesma. Seria como colocar o personagem de uma novela em outra novela. Olha a confusão! Além do mais o presente está todo desconjuntado; falta pano de um lado e sobra de outro. Hoje há novas alegrias, novas mágoas, novos personagens, novas conclusões, novos sentimentos. E ainda por cima falta um monte de persnagem da história. Como retomar a minissérie nessas condições?
Nada de hoje cabe no que passou. Voltar ao ontem com a cabeça do hoje? Impraticável. Ao voltar, mentalmente me vejo carregada de novas histórias que não caberiam naquele enredo. Fica absurdo, uma coisa assim como... como uma mochila fosforescente colada em minhas costas em um cenário do século XIX. Não dá.
Uma reconstrução nada mais seria do que uma imitação deprimente do filme original. Não há passado para o qual voltar. É tolice pensar que ele está nos esperando. Não está. Cada dia o nosso passado fica mais diferente de nós mesmos. Se voltássemos ele não nos reconheceria, nem nós a ele.
Mesmo assim há dias em que, teimosamente, gosto de pensar que posso. Ah aquelas cenas! Há cenas dignas de um filme também em meu passado e são essas cenas tendenciosas que nos puxam. Não deveríamos nos impressionar. Se chegássemos lá, constataríamos que a coisa não é bem assim. Ah como a gente esquece da mediocridade do resto...
Seria bom voltar a ser simples e apaixonada, jovem e cheia de idéias, com mil vontades e disposição imbatível e sem celulites. Só que
Não posso
Não sei
Não consigo.
Tudo o que eu tenho é o hoje e o que hoje eu sou (e que deixarei de ser daqui a pouco). - "E isso não é bom?" Sei lá. Mais pra frente, se eu sentir vontade de voltar, é sinal de que foi.
sábado, 10 de abril de 2010
O POÇO DOS DESEJOS
De onde saiu essa curiosa crença de que seria possível jogar moedas em um misterioso poço, o Poço dos Desejos, e então seu pedido seria realizado?
O que tem a ver dinheiro com a mágica da satisfação? Tudo, sabemos. Mas e a figura feminina tem alguma relação direta com isso?
Não estou misturando as coisas. Acho que o poço representa a figura da mulher. Um poço é fundo, fresco, úmido e desejável, escuro e cheio de misterios. Não tem a ver?
Agora vem a parte desagradável: de onde tiraram a idéia de que jogar dinheiro no poço é um tipo de "mágica" que faz o nosso desejo se realizar? Quem teve essa idéia?
Seria a mulher o verdadeiro Poço dos Desejos? E não apenas no sentido de realizar as fantasias secretas de quem lhe joga dinheiro, mas támbém por trazer em si mesma um eterno desejar? Pouca gente sabe a profundidade do poço, qual é o seu limite. Não sabendo, fantasiamos que não acaba nunca - mas acaba!
Se você tivesse o espírito de um desbravador, poderia descobrir que o poço tem fim, tem limite e não é tão misterioso assim.
Hummm... Essa história de dinheiro não tem nada a ver, certo? Esqueça.
O que tem a ver dinheiro com a mágica da satisfação? Tudo, sabemos. Mas e a figura feminina tem alguma relação direta com isso?
Não estou misturando as coisas. Acho que o poço representa a figura da mulher. Um poço é fundo, fresco, úmido e desejável, escuro e cheio de misterios. Não tem a ver?
Agora vem a parte desagradável: de onde tiraram a idéia de que jogar dinheiro no poço é um tipo de "mágica" que faz o nosso desejo se realizar? Quem teve essa idéia?
Seria a mulher o verdadeiro Poço dos Desejos? E não apenas no sentido de realizar as fantasias secretas de quem lhe joga dinheiro, mas támbém por trazer em si mesma um eterno desejar? Pouca gente sabe a profundidade do poço, qual é o seu limite. Não sabendo, fantasiamos que não acaba nunca - mas acaba!
Se você tivesse o espírito de um desbravador, poderia descobrir que o poço tem fim, tem limite e não é tão misterioso assim.
Hummm... Essa história de dinheiro não tem nada a ver, certo? Esqueça.
quarta-feira, 7 de abril de 2010
Agradeço muito a sua escolta
Querido amigo Medo:
Valeu!
Reconheço o tremendo segurança que você é. Sem você o que teria sido de mim? Como me sairia bem nesse mundo inóspito? Se hoje sou o que sou, se sobrevivi, devo muito disso a você.
Esse seu jeitão emburrado... essa sua cara feia... Inicialmente eu não te queria por perto. Na verdade eu te odiava. Não reconhecia o valor do seu trabalho nem o quanto você era bem intencionado.
Depois, sabe como é. A gente cresce, vê o tamanho da selva onde está metido e sente a necessidade de uma proteção. Uma armadilha em cada esquina. Era assim que eu via o mundo. Aí você chegou mais perto e... Como eu me escorava em você! Deixei que carregasse todas as malas, tomasse todas as decisões. Era exploração! Mas você nunca reclamou, pelo contrário: tanto me preservou que quando dei por mim nem prestava mais atenção ao seu tamanho. Você ocupa muito espaço, rapaz!
Eu olhava o mundo da guarita segura que você construiu para mim. E as nossas conversas? Ah Medo, como você é convincente! À sua menor agumentação eu cedia, convencida e acalmada como um ratinho na toca. Deixei de ir, deixei de ser, de falar, de esmurrar a mesa; não fui a inúmeras festas, não fiz vários amigos, livrei-me de todas as aventuras, não comi, não fumei, não bebi, não comprei, não li, não participei.

Sim, você preserva mais que formol, Mais que embalagem à vácuo! Bom moço, bom moço.
Medo: obrigada. Você foi fundamental em minha formação. Valeu mesmo, mas olhe: aqui terminamos como dupla.
Está vendo aquele ponto cinza lá longe? É a plataforma da próxima estação. A cidade se chama Passado. Desça ali e dedique-se a outra pessoa. Muitos precisam de você. Quanto a mim, descerei mais à frente, na estação Imperatriz Confiante. Pegue suas coisas.
Quem sabe? Nas voltas que essa vida vá pode ser que nossos caminhos secruzes cruzem.
Estou levezinha... Vou seguir adiante sem a armadura que tanto me protegia do sol quanto desviava de mim o vento.
Não há mais contas a acertar com o passado. Agora só quero pisar nas poças e vê-las prateadas, não mais como abismos dissimulados a quererem me engolir.
Adeus, Medo! Vou só.
Valeu!
Reconheço o tremendo segurança que você é. Sem você o que teria sido de mim? Como me sairia bem nesse mundo inóspito? Se hoje sou o que sou, se sobrevivi, devo muito disso a você.
Esse seu jeitão emburrado... essa sua cara feia... Inicialmente eu não te queria por perto. Na verdade eu te odiava. Não reconhecia o valor do seu trabalho nem o quanto você era bem intencionado.
Depois, sabe como é. A gente cresce, vê o tamanho da selva onde está metido e sente a necessidade de uma proteção. Uma armadilha em cada esquina. Era assim que eu via o mundo. Aí você chegou mais perto e... Como eu me escorava em você! Deixei que carregasse todas as malas, tomasse todas as decisões. Era exploração! Mas você nunca reclamou, pelo contrário: tanto me preservou que quando dei por mim nem prestava mais atenção ao seu tamanho. Você ocupa muito espaço, rapaz!
Eu olhava o mundo da guarita segura que você construiu para mim. E as nossas conversas? Ah Medo, como você é convincente! À sua menor agumentação eu cedia, convencida e acalmada como um ratinho na toca. Deixei de ir, deixei de ser, de falar, de esmurrar a mesa; não fui a inúmeras festas, não fiz vários amigos, livrei-me de todas as aventuras, não comi, não fumei, não bebi, não comprei, não li, não participei.

Sim, você preserva mais que formol, Mais que embalagem à vácuo! Bom moço, bom moço.
Medo: obrigada. Você foi fundamental em minha formação. Valeu mesmo, mas olhe: aqui terminamos como dupla.
Está vendo aquele ponto cinza lá longe? É a plataforma da próxima estação. A cidade se chama Passado. Desça ali e dedique-se a outra pessoa. Muitos precisam de você. Quanto a mim, descerei mais à frente, na estação Imperatriz Confiante. Pegue suas coisas.
Quem sabe? Nas voltas que essa vida vá pode ser que nossos caminhos se
Estou levezinha... Vou seguir adiante sem a armadura que tanto me protegia do sol quanto desviava de mim o vento.
Não há mais contas a acertar com o passado. Agora só quero pisar nas poças e vê-las prateadas, não mais como abismos dissimulados a quererem me engolir.
Adeus, Medo! Vou só.
domingo, 4 de abril de 2010
A noite, na estrada
Não gosto da estrada à noite. Ela é estranha e triste.
Difícil eu me sentir feliz na estrada, à noite. Enquanto o carro balança, do fundo do meu rio são evocados fantasmas incômodos e amargurados.
Acho que todos os fantasmas são amargurados, se não não seriam fantasmas; seriam apenas pessoas que partiram.
As árvores na beira da pista são misteriosamente tristes. É como se soubessem de alguma coisa grave que eu ainda não sei. E como se desejassem contar, mas não ousassem. Da mesma forma que eu, elas olham e sentem a presença dos atropelados que não conseguem sair dali. Ficam parados, olhando os carros passarem. Eles tem o mesmo olhar distante das árvores e como elas, não fazem nenhuma menção de sair dali, nem mesmo de acenar. Apenas olham atentamente os viajantes como se quisessem reconhecer alguém. Como se um dos rostos pudesse, de repente, devolver-lhes a memória.
Esses seres da noite me deixam melancólia. Então, fatalmente, acabo lembrando de dores recentes e dores antigas. Na estrada, à noite, elas se equivalem: as velhas e as novas têm o mesmo peso e gravidade, por isso meus olhos ficam úmidos. É quando me cai no colo uma pesada solidão. Sabe aquela solidão sem jeito e sem remédio, que você sabe que não vai passar nunca? Pois é. Não é solidão de falta de companhia; é solidão de coração com excesso de lugares vagos.
Solidão de coração com excesso de lugares vagos...
Olho os ciclistas silenciosos pedalando por entre os fantasmas. Não se olham, não se assustam uns com os outros. O que faz uma pessoa vaguear assim sozinha em um lugar tão lúgubre? Tenho tanta pena dos ciclistas da noite! Desejo oferecer-lhes ao menos um chocolate quente.
A pior solidão é a da beira da estrada, quando sabemos que aconteça o que acontecer, ninguém vai parar para nos dar um abraço; todos seguirão em direção aos seus lugares mornos, a um aconchego seguro e muito distante dali. Também sigo, mas cheia de lembranças e lágrimas querendo motivo.
Não gosto de ver aquelas pessoas paradas com o olhar perdido enquanto passo. Sinto por elas algo parecido com o sentimento pelos ciclistas da noite. Aí me vem minha mãe à lembrança... só que quando estou na estrada ela também tem o olhar parado. É estranho e incômodo.
O carro, decidido, me leva dali. Minha cabeça está cheia de lembranças reverentes e um tanto cinzas. Passam meus irmãos ainda pequenos... passa a mesa de jantar com sopa quente... passam os balões coloridos, de aniversário... passam os cadernos e lápis... passo eu! Ali, pequenina e amada! ... Passam as primeiras flexadas de felicidade, o amor e, depois, a paixão esmaecendo... E pelas costas um frio fatal... uma coisa incômoda... uma necessidade de pedir abrigo.
Vai demorar muito para o sol nascer?
Difícil eu me sentir feliz na estrada, à noite. Enquanto o carro balança, do fundo do meu rio são evocados fantasmas incômodos e amargurados.
Acho que todos os fantasmas são amargurados, se não não seriam fantasmas; seriam apenas pessoas que partiram.
As árvores na beira da pista são misteriosamente tristes. É como se soubessem de alguma coisa grave que eu ainda não sei. E como se desejassem contar, mas não ousassem. Da mesma forma que eu, elas olham e sentem a presença dos atropelados que não conseguem sair dali. Ficam parados, olhando os carros passarem. Eles tem o mesmo olhar distante das árvores e como elas, não fazem nenhuma menção de sair dali, nem mesmo de acenar. Apenas olham atentamente os viajantes como se quisessem reconhecer alguém. Como se um dos rostos pudesse, de repente, devolver-lhes a memória.
Esses seres da noite me deixam melancólia. Então, fatalmente, acabo lembrando de dores recentes e dores antigas. Na estrada, à noite, elas se equivalem: as velhas e as novas têm o mesmo peso e gravidade, por isso meus olhos ficam úmidos. É quando me cai no colo uma pesada solidão. Sabe aquela solidão sem jeito e sem remédio, que você sabe que não vai passar nunca? Pois é. Não é solidão de falta de companhia; é solidão de coração com excesso de lugares vagos.
Solidão de coração com excesso de lugares vagos...
Olho os ciclistas silenciosos pedalando por entre os fantasmas. Não se olham, não se assustam uns com os outros. O que faz uma pessoa vaguear assim sozinha em um lugar tão lúgubre? Tenho tanta pena dos ciclistas da noite! Desejo oferecer-lhes ao menos um chocolate quente.
A pior solidão é a da beira da estrada, quando sabemos que aconteça o que acontecer, ninguém vai parar para nos dar um abraço; todos seguirão em direção aos seus lugares mornos, a um aconchego seguro e muito distante dali. Também sigo, mas cheia de lembranças e lágrimas querendo motivo.
Não gosto de ver aquelas pessoas paradas com o olhar perdido enquanto passo. Sinto por elas algo parecido com o sentimento pelos ciclistas da noite. Aí me vem minha mãe à lembrança... só que quando estou na estrada ela também tem o olhar parado. É estranho e incômodo.
O carro, decidido, me leva dali. Minha cabeça está cheia de lembranças reverentes e um tanto cinzas. Passam meus irmãos ainda pequenos... passa a mesa de jantar com sopa quente... passam os balões coloridos, de aniversário... passam os cadernos e lápis... passo eu! Ali, pequenina e amada! ... Passam as primeiras flexadas de felicidade, o amor e, depois, a paixão esmaecendo... E pelas costas um frio fatal... uma coisa incômoda... uma necessidade de pedir abrigo.
Vai demorar muito para o sol nascer?
Essa eu não sabia!

Você sabia que 04 de abril é o dia mundial da guerra de travesseiros? Como se já tivesse poucas guerras no mundo... Ainda bem que essa é muito fofa.
Olha que barato: como a maioria das pessoas não sabe disso, você terá a chance de sair na vantagem dando travesseiradas nos desavisados e levando apenas xingamentos de volta. Não é incrível? Será certamente uma sensação inebriante.
Pegue seus familiares, vizinhos e até mesmo o guarda de trânsito desprevenidos. De preferência peça a um amigo para filmar.
Qualquer dúvida é só mostrar a reportagem - clique aqui!. Ninguém se insurgirá contra um dia consagrado e sacramentado. Divirta-se.
quinta-feira, 1 de abril de 2010
Momento de amargura
Não se pode, em lugar algum do planeta, revogar a lei do mais forte. Os mais aptos e arrojados tornam-se poderosos (ou por força física e intimidação ou por poder econômico ou por serem detentores do poder político-governamental). Sim, os poderosos, por serem poderosos, fazem o que quiserem: ou ignoram as leis, ou compram os das leis ou manipulam a criação de leis.
Ou você faz poeira ou você come poeira...
O poder é conquistado, como tudo na vida. E é como se diz: toda vitória traz em si algum tipo de violência. É assim com os atletas, que esmurram o próprio corpo e escravizam-se em treinamento para conquistar uma medalha. É um processo violento sim mas o resultado, para eles, vale a pena.
Em todos os níveis é semelhante. Toda a disputa envolve sofrer e fazer sofrer. Nem todos tem estômago para isso. Os mais ambiociosos, competitivos e furiosos conseguem.
Os pacíficos e sentimentais serão explorados para sempre. Quanto aos lutadores idealistas que serviram de escada, não passam disso mesmo: escada, massa de manobra. São os iludidos e quanto mais preclaros se sentem, mais tolamente servirão de bom grado aos famintos vencedores. Sim, eles são utilíssimos! Por terem lutado juntos eles juram que simbolicamente também estão "lá" mas vão comer poeira do mesmo jeito.
Não tem filé pra todo mundo. Desculpe aí, plebe ignara!
A sacada é transformar animais domésticos em cães raivosos. O processo é eficiente e inclui atiçar o que o que há de pior e mais comum na matilha. Diariamente, injeção de ódio e muita inveja. Porque o ódio é o contrário da depressão. O ódio traz consigo uma enorme carga de energia. Essa energia, sendo bem manipulada, pode conquistar reinos. Por isso os bichinhos são irritados até ficarem com sede de vingança. Quem odeia não raciocina.O ódio é uma paixão e nenhum apaixonado pensa direito. Enquanto a matilha se mantiver irritada e odienta, gerará a energia de uma hidrelétrica. O ódio e a inveja são insanos e subtraem do indivíduo a capacidade de querer crescer; ele não quer mais crescer, só quer se vingar dos que cresceram. Quando isso acontece, eles estão no ponto.
Uma vez estando aptos para a linha de frente, serão alimentados enquanto sua ferocidade for útil. Ficarão então felizes e se sentirão protegidos e cuidados. Custarão a perceber que estão se alimentando de migalhas e carne podre e que o canil é uma pocilga.
Tanto na disputa pelo poder quanto na sua manutenção usa-se mentira, manipulação, injustiça, cinismo e todo tipo de crueldade. Difícil acreditar que alguém se lance a isso com tanta gana para simplesmente "fazer o bem". Não é impossível amar assim o próximo! Só que me parece pouco provável que isso aconteça com esses lutadores de luta livre, até porque os pisoteados no trajeto também são "próximos". Por que não amá-los então?
Mas bem ou mal, o povo é o troféu dos vencedores e suas costas poderão ser aradas e dali os vencedores poderão arrancar tudo o que puderem. Basta regar uma vezinha ou outra você sabe como.
Está tão sacramentada e tão reconhecida como justa essa espécie de disputa que em momentos pós revolta já passou pela minha cabeça o mesmo que talvez tenha passado pela cabeça de algum escravo do passado:
"- Compraram-me. É mesmo justo que o novo dono disponha de mim. Ele lutou muito para ter o poder de também me cobrir de chibatadas se quiser."
Será que se digradiaram assim por amor à pátria, ao "povo sofrido e honesto"?
Observando agora o rebanho prostituído que defende o cafetão, penso: será tanto um quanto outro não merecem a posição que ocupam? Nem sei mais. Confesso que estou confusa.
Bem, o rebanho agora é deles até que apareça outra turma igualmente sedenta e violenta que lhes arranquem do poder.
Nossos feitores estão aí. Ninguém pode dizer que eles não lutaram violentamente pela nossa posse. Lutaram sim: sequestraram, torturaram, mataram, intimidaram... e conseguiram. Conseguiram até cegar o povo para seus métodos. Em uma briga, tanto se bate quanto se apanham. Ao povo, hoje, só é dado o direito de saber das porradas que eles levaram, não das que eles deram.
Quanto ao rebanho, não sairá ganhando nunca. Serão apenas locados e sublocados para fins de exploração; como escravos serão passados de mão em mão até o final dos tempos.
É a vida. Um dia se está por cima, noutro se está por baixo. Para vencê-los só fazendo o que eles fizeram mas eu não tenho estômago... Você tem?
Ou você faz poeira ou você come poeira...
O poder é conquistado, como tudo na vida. E é como se diz: toda vitória traz em si algum tipo de violência. É assim com os atletas, que esmurram o próprio corpo e escravizam-se em treinamento para conquistar uma medalha. É um processo violento sim mas o resultado, para eles, vale a pena.
Em todos os níveis é semelhante. Toda a disputa envolve sofrer e fazer sofrer. Nem todos tem estômago para isso. Os mais ambiociosos, competitivos e furiosos conseguem.
Os pacíficos e sentimentais serão explorados para sempre. Quanto aos lutadores idealistas que serviram de escada, não passam disso mesmo: escada, massa de manobra. São os iludidos e quanto mais preclaros se sentem, mais tolamente servirão de bom grado aos famintos vencedores. Sim, eles são utilíssimos! Por terem lutado juntos eles juram que simbolicamente também estão "lá" mas vão comer poeira do mesmo jeito.
Não tem filé pra todo mundo. Desculpe aí, plebe ignara!
A sacada é transformar animais domésticos em cães raivosos. O processo é eficiente e inclui atiçar o que o que há de pior e mais comum na matilha. Diariamente, injeção de ódio e muita inveja. Porque o ódio é o contrário da depressão. O ódio traz consigo uma enorme carga de energia. Essa energia, sendo bem manipulada, pode conquistar reinos. Por isso os bichinhos são irritados até ficarem com sede de vingança. Quem odeia não raciocina.O ódio é uma paixão e nenhum apaixonado pensa direito. Enquanto a matilha se mantiver irritada e odienta, gerará a energia de uma hidrelétrica. O ódio e a inveja são insanos e subtraem do indivíduo a capacidade de querer crescer; ele não quer mais crescer, só quer se vingar dos que cresceram. Quando isso acontece, eles estão no ponto.
Uma vez estando aptos para a linha de frente, serão alimentados enquanto sua ferocidade for útil. Ficarão então felizes e se sentirão protegidos e cuidados. Custarão a perceber que estão se alimentando de migalhas e carne podre e que o canil é uma pocilga.
Tanto na disputa pelo poder quanto na sua manutenção usa-se mentira, manipulação, injustiça, cinismo e todo tipo de crueldade. Difícil acreditar que alguém se lance a isso com tanta gana para simplesmente "fazer o bem". Não é impossível amar assim o próximo! Só que me parece pouco provável que isso aconteça com esses lutadores de luta livre, até porque os pisoteados no trajeto também são "próximos". Por que não amá-los então?
Mas bem ou mal, o povo é o troféu dos vencedores e suas costas poderão ser aradas e dali os vencedores poderão arrancar tudo o que puderem. Basta regar uma vezinha ou outra você sabe como.
Está tão sacramentada e tão reconhecida como justa essa espécie de disputa que em momentos pós revolta já passou pela minha cabeça o mesmo que talvez tenha passado pela cabeça de algum escravo do passado:
"- Compraram-me. É mesmo justo que o novo dono disponha de mim. Ele lutou muito para ter o poder de também me cobrir de chibatadas se quiser."
Será que se digradiaram assim por amor à pátria, ao "povo sofrido e honesto"?
Observando agora o rebanho prostituído que defende o cafetão, penso: será tanto um quanto outro não merecem a posição que ocupam? Nem sei mais. Confesso que estou confusa.
Bem, o rebanho agora é deles até que apareça outra turma igualmente sedenta e violenta que lhes arranquem do poder.
Nossos feitores estão aí. Ninguém pode dizer que eles não lutaram violentamente pela nossa posse. Lutaram sim: sequestraram, torturaram, mataram, intimidaram... e conseguiram. Conseguiram até cegar o povo para seus métodos. Em uma briga, tanto se bate quanto se apanham. Ao povo, hoje, só é dado o direito de saber das porradas que eles levaram, não das que eles deram.
Quanto ao rebanho, não sairá ganhando nunca. Serão apenas locados e sublocados para fins de exploração; como escravos serão passados de mão em mão até o final dos tempos.
É a vida. Um dia se está por cima, noutro se está por baixo. Para vencê-los só fazendo o que eles fizeram mas eu não tenho estômago... Você tem?
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