sábado, 15 de agosto de 2009
Ouro de tolo - Raul Seixas
Eu devia estar contente
Por que eu tenho um emprego
Sou um dito cidadão respeitável
E ganho quatro mil cruzeiros por mes
Eu devia agradecer ao Senhor
Por ter tido sucesso na vida como artista
Eu devia estar feliz
Por que eu consegui
Comprar um corcel 73
Eu devia estar alegre e satisfeito
Por morar em Ipanema
Depois de ter passado fome por dois anos
Aqui na cidade maravilhosa
Ah ! Eu devia estar sozinho e orgulhoso
Por ter finalmente vencido na vida
Mas eu acho isto uma grande piada
E um tanto quanto perigosa
Eu devia estar contente
Por ter conseguido tudo o que eu quis
Mas confesso abestalhado que eu estou decepcionado
Por que foi tão fácil conseguir
E agora eu me pergunto: e dai?
Eu tenho uma porção de coisas grandes pra conquistar
E eu nao posso ficar aí parado.
Eu devia estar feliz
Pelo Senhor ter me concedido o domingo
Pra ir com a família no Jardim zoológico
Dar pipoca aos macacos
Ah ! Mas que sujeito chato sou eu
Que nao acha nada engraçado
Macaco, praia, carro, jornal, tobogã
Eu acho tudo isso um saco
É voce olhar no espelho
E se sentir um grandecíssimo idiota
Saber que é humano, ridículo, limitado
E que só usa dez por cento de sua cabeca animal
E você ainda acredita que é um doutor
Padre ou policial
Que está contribuindo com sua parte
Para o nosso belo quadro social
Eu é que não me sento no trono de um apartamento
Com a boca escancarada cheia de dentes
Esperando a morte chegar
Porque longe das cercas embandeiradas que separam quintais
No cume calmo do meu olho que vê
Assenta a sombra sonora de um disco voador...
sexta-feira, 14 de agosto de 2009
Achei! (Ou não?)

Olhe que chique! Ele levanta a moral de qualquer pessoa, mesmo tendo passado o dia inteiro em um engarrafamento ou em uma fila de supermercado. É só chegar em casa e deixar-se abandonar sobre ele e tudo se fará novo em folha. Um certo ar imperial vai tomando conta das idéias, uns inconfessáveis sentimentos de grandeza... e o circo está armado! Mas ninguém está vendo, então está valendo!
Claro que algumas adaptações precisam ser feitas em casa para combinar com a peça. Primeiramente é necessário que eu adquira um certo ar blasé. Porque elegancia não combina com deslumbramento, você sabe. Depois do ar - e do espírito irritantemente blasé, vou precisar urgentemente de:
1- Um peignoir de crepe, longo, claro e caro. De preferência a arrastar-se pelo chão.
2 - Não tem graça andar de pegnoir se eu não tiver a pantufinha correta. Ninguém há de discordar, obviamente.
3- Almofadas forradas de cetim para descansar meus pezinhos recém hidratados.
4- Uma educadíssima empregada doméstica que me sirva chazinho em xícara de porcelana acompanhada de biscoitinhos caseiros de castanhas do Pará ou rosquinhas de polvilho.
5- Um espelho enooorme, de cristal. De chão. Com moldura dourada.
6- Cortinas esvoaçantes.
7- Um violinista. Não precisa ser cego.
8 - Rosas frescas em jarras de cristal sobre a mesa.
9- Incenso. Não comprado em supremercado, mas feito sob encomenda para mim, exclusivamente - receita secreta. Entregue em casa todas as semanas em um relicário por um funcionário oriental vestido de branco.
10 - Alguém, em algum lugar, me perguntando se eu quero mais alguma coisa.
Hum... Depois disso tudo, pensando bem... acho que está na hora de trocar esse sofá. Vocês não acham que ele ficou humilde demais para o meu ambiente?
quarta-feira, 12 de agosto de 2009
Não sou curiosa

Ah as maravilhas da vida moderna! São tantas que umas nos dão até medo. Acabei de ler um anúncio que mexeu com minha imaginação. E todos vocês sabem que minha imaginação não precisa de muito incentivo para criar esquisitices. Era uma propaganda "almofada giratória digital" (vixi!) na caixa de mensagens do meu e-mail. Spam, claro.
"Almofada giratória digital"...
Por precaução não abri a mensagem. Poderia ser vírus. Claro! Uma excentricidade dessa simplesmente não existe. É para mexer com a nossa curiosidade. O navegador incauto pergunta-se como pode alguém viver da venda de algo tão inusidado. Depois põe-se a pensar que tipo de gracinhas ou mimos uma "almofada giratória digital" poderia lhe proporcionar. Seria realmente fofa? Inflável? Grande? Pequena? Quadrada ou... insinuantemente cilíndrica? Hmmm...
O ser humano é curioso por natureza. Se não fosse não teríamos chegado até onde chegamos como raça humana: ao caos.
Voltando à vibratória - quer dizer - à almofada: é nesse momento, em que a mente está a fervilhar de perguntas sem respostas e imagens interrogantes, sim, nesse momento em que o mouse vai quase sozinho em seu impulsus clicandis que as coisas acontecem. Se o mouse não for severamente contido, dará no que já sabemos: abre-se a mensagem e pularão em nossa tela janelas e mais janelas desautorizadas que não se fecharão jamais, infernizarão nossas existências até então (quase) pacatas, roubarão nossas senhas do banco e nos renderão noites de angustiosa insônia. Eu jamais cairia nessa!
Sim, poderia ser um malicioso vírus. Tenho quase certeza faltando um tantinho para ser absoluta. É vírus! ... ou não.
E se fosse sacanagem? Gente! Seria a palavra "almofada" um eufemismo mas na verdade a engenhoca é para (fala baixo) ... sentar em cima? O "giratória" não lhe sugere que você apenas não terá trabalho? E o "digital" parece insinuar que tudo é ao gosto do freguês e que nem precisarei - precisaremos - ou melhor: precisarás de manual de instruções. Ora ora...
Não nao nao! Se está escrito almofada é porque é almofada. (Mas que é giratória é!) E para quê girar se não fosse para eu - quer dizer: você sentar em cima?
Claro que não vou tirar a dúvida porque não sou curiosa e NÃO VOU arriscar a saúde do meu lindo notebook por causa de um anúncio suspeito vindo não-sei-de-onde.
Pensando beeeeem, também posso considerar a hipótese de que a coisa não seja tão dramática assim. Obviamente existe a possobilidade de que tudo se trate de brincadeira de alguma amiga espirituosa. Nesse caso o gracejo culminaria com alguma imagem engraçada, uma frase de gozação com a minha cara e só. Nada de vírus apocalíptico porque afinal de contas amigos não fazem essas coisas feias. Quer dizer: fazem, mas é sempre sem querer.
Por outro lado (ficou estranho...) essa almofada amiga pode ser uma simpática indicação de uma pessoa giratória. Quer dizer, essa almofada giratória pode ser indicação de alguma pessoa amiga, apenas isso. O que não deixa de ser estranho também. Por quê me mandariam isso? Por que cargas d'água alguém acharia que eu poderia estar a precisar de uma engenhoca dessas? Como descob - deixa pra lá.
Pra ver o remetente eu teria que abrir o e-mail, ver tudinho... e como vocês sabem já está tudo na minha lixeira. Não tô nem aí porque decididamente não sou uma pessoa curiosa.
Mesmo sem ser curiosa não me furto de pensar na aparência desse invento. Imaginem se eu usaria em minha sala uma coisa dessas! Deve ser brega até a morte, claro. Claro... Mas claaaaro que não foi feita para usar na sala, mas no quarto. Quem compraria uma almofada giratória digital para colocar na sala? Hmmm...
Quando eu for à sua casa posso usar seu computador para lhe mostrar a tal propaganda das almofadas giratórias digitais? Não que me interesse! Decididamente não sou curiosa mas pode ser que você seja.

domingo, 9 de agosto de 2009
Carta à uma amiga - O tiro certo

"Oi amiga!
Eu agora estou bem. Saí de uma gripe muito incômoda. Junto com a gripe vieram uns dias de instenso mal humor. Fazia tempo que eu não me sentia assim mas eu já devia esperar. Sou a autêntica Mulher de Fases.
Eu agora estou bem. Saí de uma gripe muito incômoda. Junto com a gripe vieram uns dias de instenso mal humor. Fazia tempo que eu não me sentia assim mas eu já devia esperar. Sou a autêntica Mulher de Fases.
Continuo dialogando intensamente com meu cérebro. É algo cansativo mas não consigo deixar de fazer.
Na verdade acho que sou uma terceira pessoa no meio de um bate-boca interno e intenso. Elas (as Cristinas) falam, falam, falam... e eu no meio, quase pirando. Alguém tem que botar ordem nesse barraco!
Penso, repenso... Sabe, acho incrível tudo ter chegado onde chegou. Outras vezes acho incrível isso ter acontecido só agora e não antes, muito antes. Acho isso, acho aquilo... Acho que deveria parar de achar e apenas seguir em frente. Na verdade estou seguindo. Escrevi isso há um mês atrás e só estou postando agora (he he he).
Sempre ouvi dizer - e sempre acreditei, exceto agora - que a gente deve pensar muito antes de tomar decisões. Não é bem assim. Hoje, de cabeça virada, noto que pensei tanto, mas tanto! e tudo o que fiz foi atrasar o inevitável. Adiantou? O tanto pensar não me levou a nenhuma revelação especial da vida. Apenas me esgotou emocionalmente e esgotamento não é conclusão.
Isso tudo se parece muito com a prática de tiro. As vezes a gente mira tanto, tanto e acaba errando. É extremamente cansativo mirar e se concentrar para atirar. Quem já fez, sabe. O corpo dói (braços, pernas, costas, mãos...) a mente cansa, a vista embaça. Quando a gente já tem a técnica e já estamos condicionados, o melhor tiro é o instintivo. Os instrutores dizem isso. No tiro rápido quanto mais você mirar, pior. Tem que ser sem pensar. O tiro sai como uma extensão de nós mesmos e o projetil como que sabe onde tem que ir. No fim dá tudo certo. Pensar demais só estraga.
Acho que a vida é mais ou menos assim. As pessoas mais rápidas e "piradas" no final das contas se estressam menos e acabam acertando sem se cansarem tanto nem perderem tanto tempo. As outras são obrigadas a fazer a mesma coisa, só que ficando mais doloridas.
Pra quê passar setecentos e cincoenta e nove anos fazendo equaçõezinhas? Isso é coisa de cérebro doente. Os loucos são mais saudáveis.
Sempre ouvi dizer - e sempre acreditei, exceto agora - que a gente deve pensar muito antes de tomar decisões. Não é bem assim. Hoje, de cabeça virada, noto que pensei tanto, mas tanto! e tudo o que fiz foi atrasar o inevitável. Adiantou? O tanto pensar não me levou a nenhuma revelação especial da vida. Apenas me esgotou emocionalmente e esgotamento não é conclusão.
Isso tudo se parece muito com a prática de tiro. As vezes a gente mira tanto, tanto e acaba errando. É extremamente cansativo mirar e se concentrar para atirar. Quem já fez, sabe. O corpo dói (braços, pernas, costas, mãos...) a mente cansa, a vista embaça. Quando a gente já tem a técnica e já estamos condicionados, o melhor tiro é o instintivo. Os instrutores dizem isso. No tiro rápido quanto mais você mirar, pior. Tem que ser sem pensar. O tiro sai como uma extensão de nós mesmos e o projetil como que sabe onde tem que ir. No fim dá tudo certo. Pensar demais só estraga.
Acho que a vida é mais ou menos assim. As pessoas mais rápidas e "piradas" no final das contas se estressam menos e acabam acertando sem se cansarem tanto nem perderem tanto tempo. As outras são obrigadas a fazer a mesma coisa, só que ficando mais doloridas.
Pra quê passar setecentos e cincoenta e nove anos fazendo equaçõezinhas? Isso é coisa de cérebro doente. Os loucos são mais saudáveis.
Não sei bem onde me encaixo.
Pt. Saudações."
sexta-feira, 7 de agosto de 2009
"Me adiciona!"

Não é essa intenção, mas essa frase passa assim uma imagem de carência como poucas outras.
"Me liga" fica melhor. Subentende que a pessoa pelo menos acha que o outro acha que vale a pena gastar dinheiro com telefone.
"Vai lá em casa" também é um pedido-convite com auto confiança, de quem sabe (ou pelo menos acha que sabe) que tem amigos e não está no fundo do poço porque falou isso para aluguém de viva voz, geralmete. Geralmente sorrindo, geralmente casualmente como quem tem mil outros lances para cuidar.
"Aparece" ou "vamos combinar algum coisa" também tem um quê de auto suficiência charmosa.
Claro, claro, não é sempre que "me adiciona" faz mal à sua imgem. Depende do programinha ou site de onde saiu o pedido ou a insistência com que é remetido às suas vítimas mas não consigo evitar a imagem de uso-panda-encarcerado-e-sem-visita que me vem à mente quando recebo esses pedidos, que me soam como súplicas.
Esclareço que só soam como súplicas suluçantes quando partem de pessoas com as quais não tenho intimidade. Penso sempre que elas devem estar precisando contabilizar "amigos" e para isso suas vidas naquele momento devem estar semelhantes a um apartamento cheio de vazamento e mobiliado com um único sofá mofado.
Pior mesmo só o "Me adiciona, vai!" Dá vontade de responder: "Faz terapia, vai!" mas não sei como eu seria interpretada. Ou melhor: sei, por isso não digo.
Não digo e também não adiciono. Não por que eu seja algum tipo de espírito de porco. Quem me conhece sabe que sou uma... uma... cidadã. Mas é pelo bem do mala -digo -do cara. Todos pecisamo crescer!
Estou sempre pensando no bem do próximo.
quarta-feira, 5 de agosto de 2009
Estágios

Por algum motivo gosto de fazer esses testezinhos de revista. Eles agora evoluíram para o computador. Na internet basta fazer clique e no final nem precisamos contar os pontos. Por exemplo, se eu quiser fazer o teste "você é preguiçoso?" posso responder a todas as perguntas e ao final receber já pronta a pontuação mastigadinha: "Você não é preguiçoso! Parabéns!"
Hoje rendi-me ao teste "Você é medíocre?" O site era sobre blogs e para saber se o futuro blogueiro iria construir algo reles, propunha-se a medir o seu nível de mediocridade a partir da criatividade, idéias próprias, apego a tolices, lugares-comuns, abobrinhas e coisa e tal. Como era só ir fazendo clique nos quadradinho resolvi fazer o teste apenas para confirmar o que TODOS NÓS já sabemos à exaustão.
Uma vez confirmado o que TODOS NÓS JÁ SABEMOS À EXAUSTÃO (que eu não sou medíocre) saí satisfeita da página, com o peito tufado e cabeça erguida perante o mundo. O vento soprava cândido sobre meus pensamentos arejando-os... Vento miserável!
Com os pensamentos indevidamente arejados não pude deixar de me deparar com a incômoda desconfiança de que somente uma pessoa de fato medíocre se prestaria para fazer um testezinho de merda em um sitezinho de merda e ainda se sentir contente com essa tal aprovação.
Que pegadinha!
Quequeisso?! Que coisa mais lamentável! Onde nós estamos? Quer dizer que se o teste dissesse que eu sou medíocre eu iria fazer o quê? entrar em parafuso? Beber até cair, pra esquecer? Bater meia noite na casa da minha terapeuta pedindo socorro? Pedir ajuda aos universitários? Alugar meus amigos e torná-los todos meus inimigos, por fim?
Agora que fiz o teste dizendo que não sou medíocre, estou me sentindo a mais medíocre das criaturas. Bonito pra minha cara.
Agora que sou medíocre porque passei no teste da não mediocridade estou pensando seriamente em entrar em parafuso, beber até cair, fazer terapia, e alugar os ouvidos dos amigos - tudo de uma vez.
O primeiro estágio foi o da felicidade. O segundo estágio foi o da depressão.
O terceiro estágio é precisamente esse: repensar tudo de novo, colocar no liquidificador e ver que nada é sério, ora ora!
Pense comigo: na verdade não foi uma armadilha, apenas uma brincadeira que me fez pensar. Pois é, pensei e aqui estou, dividindo com vocês essa experiência transcedental. Anotem. Isso deve ajudar vocês a crescer de alguma forma (nem que seja para os lados...)
Quem pensa, pensa, dá voltas e chega a conclusão que nada vale a pena, que no final tudo foi apenas uma academia para os neurônios que rendeu um pequeno texto, obviamente não tem que se preocupar com ser ou não ser medíocre. Porque não é. Claro! Esse é o quarto e último estágio. Pronto.
Por que terminar afirmando que não sou medíocre? Se não o fosse, estaria preocupada em provar isso a pessoas que nem sei se são ou não são? Se estou tão preocupada - não não estou! (Tá sim...) Não tô! (Tá!)
Ai meu Deus! Acho que esse é o quinto estágio...
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sábado, 15 de agosto de 2009
Ouro de tolo - Raul Seixas
Eu devia estar contente
Por que eu tenho um emprego
Sou um dito cidadão respeitável
E ganho quatro mil cruzeiros por mes
Eu devia agradecer ao Senhor
Por ter tido sucesso na vida como artista
Eu devia estar feliz
Por que eu consegui
Comprar um corcel 73
Eu devia estar alegre e satisfeito
Por morar em Ipanema
Depois de ter passado fome por dois anos
Aqui na cidade maravilhosa
Ah ! Eu devia estar sozinho e orgulhoso
Por ter finalmente vencido na vida
Mas eu acho isto uma grande piada
E um tanto quanto perigosa
Eu devia estar contente
Por ter conseguido tudo o que eu quis
Mas confesso abestalhado que eu estou decepcionado
Por que foi tão fácil conseguir
E agora eu me pergunto: e dai?
Eu tenho uma porção de coisas grandes pra conquistar
E eu nao posso ficar aí parado.
Eu devia estar feliz
Pelo Senhor ter me concedido o domingo
Pra ir com a família no Jardim zoológico
Dar pipoca aos macacos
Ah ! Mas que sujeito chato sou eu
Que nao acha nada engraçado
Macaco, praia, carro, jornal, tobogã
Eu acho tudo isso um saco
É voce olhar no espelho
E se sentir um grandecíssimo idiota
Saber que é humano, ridículo, limitado
E que só usa dez por cento de sua cabeca animal
E você ainda acredita que é um doutor
Padre ou policial
Que está contribuindo com sua parte
Para o nosso belo quadro social
Eu é que não me sento no trono de um apartamento
Com a boca escancarada cheia de dentes
Esperando a morte chegar
Porque longe das cercas embandeiradas que separam quintais
No cume calmo do meu olho que vê
Assenta a sombra sonora de um disco voador...
sexta-feira, 14 de agosto de 2009
Achei! (Ou não?)

Olhe que chique! Ele levanta a moral de qualquer pessoa, mesmo tendo passado o dia inteiro em um engarrafamento ou em uma fila de supermercado. É só chegar em casa e deixar-se abandonar sobre ele e tudo se fará novo em folha. Um certo ar imperial vai tomando conta das idéias, uns inconfessáveis sentimentos de grandeza... e o circo está armado! Mas ninguém está vendo, então está valendo!
Claro que algumas adaptações precisam ser feitas em casa para combinar com a peça. Primeiramente é necessário que eu adquira um certo ar blasé. Porque elegancia não combina com deslumbramento, você sabe. Depois do ar - e do espírito irritantemente blasé, vou precisar urgentemente de:
1- Um peignoir de crepe, longo, claro e caro. De preferência a arrastar-se pelo chão.
2 - Não tem graça andar de pegnoir se eu não tiver a pantufinha correta. Ninguém há de discordar, obviamente.
3- Almofadas forradas de cetim para descansar meus pezinhos recém hidratados.
4- Uma educadíssima empregada doméstica que me sirva chazinho em xícara de porcelana acompanhada de biscoitinhos caseiros de castanhas do Pará ou rosquinhas de polvilho.
5- Um espelho enooorme, de cristal. De chão. Com moldura dourada.
6- Cortinas esvoaçantes.
7- Um violinista. Não precisa ser cego.
8 - Rosas frescas em jarras de cristal sobre a mesa.
9- Incenso. Não comprado em supremercado, mas feito sob encomenda para mim, exclusivamente - receita secreta. Entregue em casa todas as semanas em um relicário por um funcionário oriental vestido de branco.
10 - Alguém, em algum lugar, me perguntando se eu quero mais alguma coisa.
Hum... Depois disso tudo, pensando bem... acho que está na hora de trocar esse sofá. Vocês não acham que ele ficou humilde demais para o meu ambiente?
quarta-feira, 12 de agosto de 2009
Não sou curiosa

Ah as maravilhas da vida moderna! São tantas que umas nos dão até medo. Acabei de ler um anúncio que mexeu com minha imaginação. E todos vocês sabem que minha imaginação não precisa de muito incentivo para criar esquisitices. Era uma propaganda "almofada giratória digital" (vixi!) na caixa de mensagens do meu e-mail. Spam, claro.
"Almofada giratória digital"...
Por precaução não abri a mensagem. Poderia ser vírus. Claro! Uma excentricidade dessa simplesmente não existe. É para mexer com a nossa curiosidade. O navegador incauto pergunta-se como pode alguém viver da venda de algo tão inusidado. Depois põe-se a pensar que tipo de gracinhas ou mimos uma "almofada giratória digital" poderia lhe proporcionar. Seria realmente fofa? Inflável? Grande? Pequena? Quadrada ou... insinuantemente cilíndrica? Hmmm...
O ser humano é curioso por natureza. Se não fosse não teríamos chegado até onde chegamos como raça humana: ao caos.
Voltando à vibratória - quer dizer - à almofada: é nesse momento, em que a mente está a fervilhar de perguntas sem respostas e imagens interrogantes, sim, nesse momento em que o mouse vai quase sozinho em seu impulsus clicandis que as coisas acontecem. Se o mouse não for severamente contido, dará no que já sabemos: abre-se a mensagem e pularão em nossa tela janelas e mais janelas desautorizadas que não se fecharão jamais, infernizarão nossas existências até então (quase) pacatas, roubarão nossas senhas do banco e nos renderão noites de angustiosa insônia. Eu jamais cairia nessa!
Sim, poderia ser um malicioso vírus. Tenho quase certeza faltando um tantinho para ser absoluta. É vírus! ... ou não.
E se fosse sacanagem? Gente! Seria a palavra "almofada" um eufemismo mas na verdade a engenhoca é para (fala baixo) ... sentar em cima? O "giratória" não lhe sugere que você apenas não terá trabalho? E o "digital" parece insinuar que tudo é ao gosto do freguês e que nem precisarei - precisaremos - ou melhor: precisarás de manual de instruções. Ora ora...
Não nao nao! Se está escrito almofada é porque é almofada. (Mas que é giratória é!) E para quê girar se não fosse para eu - quer dizer: você sentar em cima?
Claro que não vou tirar a dúvida porque não sou curiosa e NÃO VOU arriscar a saúde do meu lindo notebook por causa de um anúncio suspeito vindo não-sei-de-onde.
Pensando beeeeem, também posso considerar a hipótese de que a coisa não seja tão dramática assim. Obviamente existe a possobilidade de que tudo se trate de brincadeira de alguma amiga espirituosa. Nesse caso o gracejo culminaria com alguma imagem engraçada, uma frase de gozação com a minha cara e só. Nada de vírus apocalíptico porque afinal de contas amigos não fazem essas coisas feias. Quer dizer: fazem, mas é sempre sem querer.
Por outro lado (ficou estranho...) essa almofada amiga pode ser uma simpática indicação de uma pessoa giratória. Quer dizer, essa almofada giratória pode ser indicação de alguma pessoa amiga, apenas isso. O que não deixa de ser estranho também. Por quê me mandariam isso? Por que cargas d'água alguém acharia que eu poderia estar a precisar de uma engenhoca dessas? Como descob - deixa pra lá.
Pra ver o remetente eu teria que abrir o e-mail, ver tudinho... e como vocês sabem já está tudo na minha lixeira. Não tô nem aí porque decididamente não sou uma pessoa curiosa.
Mesmo sem ser curiosa não me furto de pensar na aparência desse invento. Imaginem se eu usaria em minha sala uma coisa dessas! Deve ser brega até a morte, claro. Claro... Mas claaaaro que não foi feita para usar na sala, mas no quarto. Quem compraria uma almofada giratória digital para colocar na sala? Hmmm...
Quando eu for à sua casa posso usar seu computador para lhe mostrar a tal propaganda das almofadas giratórias digitais? Não que me interesse! Decididamente não sou curiosa mas pode ser que você seja.

domingo, 9 de agosto de 2009
Carta à uma amiga - O tiro certo

"Oi amiga!
Eu agora estou bem. Saí de uma gripe muito incômoda. Junto com a gripe vieram uns dias de instenso mal humor. Fazia tempo que eu não me sentia assim mas eu já devia esperar. Sou a autêntica Mulher de Fases.
Eu agora estou bem. Saí de uma gripe muito incômoda. Junto com a gripe vieram uns dias de instenso mal humor. Fazia tempo que eu não me sentia assim mas eu já devia esperar. Sou a autêntica Mulher de Fases.
Continuo dialogando intensamente com meu cérebro. É algo cansativo mas não consigo deixar de fazer.
Na verdade acho que sou uma terceira pessoa no meio de um bate-boca interno e intenso. Elas (as Cristinas) falam, falam, falam... e eu no meio, quase pirando. Alguém tem que botar ordem nesse barraco!
Penso, repenso... Sabe, acho incrível tudo ter chegado onde chegou. Outras vezes acho incrível isso ter acontecido só agora e não antes, muito antes. Acho isso, acho aquilo... Acho que deveria parar de achar e apenas seguir em frente. Na verdade estou seguindo. Escrevi isso há um mês atrás e só estou postando agora (he he he).
Sempre ouvi dizer - e sempre acreditei, exceto agora - que a gente deve pensar muito antes de tomar decisões. Não é bem assim. Hoje, de cabeça virada, noto que pensei tanto, mas tanto! e tudo o que fiz foi atrasar o inevitável. Adiantou? O tanto pensar não me levou a nenhuma revelação especial da vida. Apenas me esgotou emocionalmente e esgotamento não é conclusão.
Isso tudo se parece muito com a prática de tiro. As vezes a gente mira tanto, tanto e acaba errando. É extremamente cansativo mirar e se concentrar para atirar. Quem já fez, sabe. O corpo dói (braços, pernas, costas, mãos...) a mente cansa, a vista embaça. Quando a gente já tem a técnica e já estamos condicionados, o melhor tiro é o instintivo. Os instrutores dizem isso. No tiro rápido quanto mais você mirar, pior. Tem que ser sem pensar. O tiro sai como uma extensão de nós mesmos e o projetil como que sabe onde tem que ir. No fim dá tudo certo. Pensar demais só estraga.
Acho que a vida é mais ou menos assim. As pessoas mais rápidas e "piradas" no final das contas se estressam menos e acabam acertando sem se cansarem tanto nem perderem tanto tempo. As outras são obrigadas a fazer a mesma coisa, só que ficando mais doloridas.
Pra quê passar setecentos e cincoenta e nove anos fazendo equaçõezinhas? Isso é coisa de cérebro doente. Os loucos são mais saudáveis.
Sempre ouvi dizer - e sempre acreditei, exceto agora - que a gente deve pensar muito antes de tomar decisões. Não é bem assim. Hoje, de cabeça virada, noto que pensei tanto, mas tanto! e tudo o que fiz foi atrasar o inevitável. Adiantou? O tanto pensar não me levou a nenhuma revelação especial da vida. Apenas me esgotou emocionalmente e esgotamento não é conclusão.
Isso tudo se parece muito com a prática de tiro. As vezes a gente mira tanto, tanto e acaba errando. É extremamente cansativo mirar e se concentrar para atirar. Quem já fez, sabe. O corpo dói (braços, pernas, costas, mãos...) a mente cansa, a vista embaça. Quando a gente já tem a técnica e já estamos condicionados, o melhor tiro é o instintivo. Os instrutores dizem isso. No tiro rápido quanto mais você mirar, pior. Tem que ser sem pensar. O tiro sai como uma extensão de nós mesmos e o projetil como que sabe onde tem que ir. No fim dá tudo certo. Pensar demais só estraga.
Acho que a vida é mais ou menos assim. As pessoas mais rápidas e "piradas" no final das contas se estressam menos e acabam acertando sem se cansarem tanto nem perderem tanto tempo. As outras são obrigadas a fazer a mesma coisa, só que ficando mais doloridas.
Pra quê passar setecentos e cincoenta e nove anos fazendo equaçõezinhas? Isso é coisa de cérebro doente. Os loucos são mais saudáveis.
Não sei bem onde me encaixo.
Pt. Saudações."
sexta-feira, 7 de agosto de 2009
"Me adiciona!"

Não é essa intenção, mas essa frase passa assim uma imagem de carência como poucas outras.
"Me liga" fica melhor. Subentende que a pessoa pelo menos acha que o outro acha que vale a pena gastar dinheiro com telefone.
"Vai lá em casa" também é um pedido-convite com auto confiança, de quem sabe (ou pelo menos acha que sabe) que tem amigos e não está no fundo do poço porque falou isso para aluguém de viva voz, geralmete. Geralmente sorrindo, geralmente casualmente como quem tem mil outros lances para cuidar.
"Aparece" ou "vamos combinar algum coisa" também tem um quê de auto suficiência charmosa.
Claro, claro, não é sempre que "me adiciona" faz mal à sua imgem. Depende do programinha ou site de onde saiu o pedido ou a insistência com que é remetido às suas vítimas mas não consigo evitar a imagem de uso-panda-encarcerado-e-sem-visita que me vem à mente quando recebo esses pedidos, que me soam como súplicas.
Esclareço que só soam como súplicas suluçantes quando partem de pessoas com as quais não tenho intimidade. Penso sempre que elas devem estar precisando contabilizar "amigos" e para isso suas vidas naquele momento devem estar semelhantes a um apartamento cheio de vazamento e mobiliado com um único sofá mofado.
Pior mesmo só o "Me adiciona, vai!" Dá vontade de responder: "Faz terapia, vai!" mas não sei como eu seria interpretada. Ou melhor: sei, por isso não digo.
Não digo e também não adiciono. Não por que eu seja algum tipo de espírito de porco. Quem me conhece sabe que sou uma... uma... cidadã. Mas é pelo bem do mala -digo -do cara. Todos pecisamo crescer!
Estou sempre pensando no bem do próximo.
quarta-feira, 5 de agosto de 2009
Estágios

Por algum motivo gosto de fazer esses testezinhos de revista. Eles agora evoluíram para o computador. Na internet basta fazer clique e no final nem precisamos contar os pontos. Por exemplo, se eu quiser fazer o teste "você é preguiçoso?" posso responder a todas as perguntas e ao final receber já pronta a pontuação mastigadinha: "Você não é preguiçoso! Parabéns!"
Hoje rendi-me ao teste "Você é medíocre?" O site era sobre blogs e para saber se o futuro blogueiro iria construir algo reles, propunha-se a medir o seu nível de mediocridade a partir da criatividade, idéias próprias, apego a tolices, lugares-comuns, abobrinhas e coisa e tal. Como era só ir fazendo clique nos quadradinho resolvi fazer o teste apenas para confirmar o que TODOS NÓS já sabemos à exaustão.
Uma vez confirmado o que TODOS NÓS JÁ SABEMOS À EXAUSTÃO (que eu não sou medíocre) saí satisfeita da página, com o peito tufado e cabeça erguida perante o mundo. O vento soprava cândido sobre meus pensamentos arejando-os... Vento miserável!
Com os pensamentos indevidamente arejados não pude deixar de me deparar com a incômoda desconfiança de que somente uma pessoa de fato medíocre se prestaria para fazer um testezinho de merda em um sitezinho de merda e ainda se sentir contente com essa tal aprovação.
Que pegadinha!
Quequeisso?! Que coisa mais lamentável! Onde nós estamos? Quer dizer que se o teste dissesse que eu sou medíocre eu iria fazer o quê? entrar em parafuso? Beber até cair, pra esquecer? Bater meia noite na casa da minha terapeuta pedindo socorro? Pedir ajuda aos universitários? Alugar meus amigos e torná-los todos meus inimigos, por fim?
Agora que fiz o teste dizendo que não sou medíocre, estou me sentindo a mais medíocre das criaturas. Bonito pra minha cara.
Agora que sou medíocre porque passei no teste da não mediocridade estou pensando seriamente em entrar em parafuso, beber até cair, fazer terapia, e alugar os ouvidos dos amigos - tudo de uma vez.
O primeiro estágio foi o da felicidade. O segundo estágio foi o da depressão.
O terceiro estágio é precisamente esse: repensar tudo de novo, colocar no liquidificador e ver que nada é sério, ora ora!
Pense comigo: na verdade não foi uma armadilha, apenas uma brincadeira que me fez pensar. Pois é, pensei e aqui estou, dividindo com vocês essa experiência transcedental. Anotem. Isso deve ajudar vocês a crescer de alguma forma (nem que seja para os lados...)
Quem pensa, pensa, dá voltas e chega a conclusão que nada vale a pena, que no final tudo foi apenas uma academia para os neurônios que rendeu um pequeno texto, obviamente não tem que se preocupar com ser ou não ser medíocre. Porque não é. Claro! Esse é o quarto e último estágio. Pronto.
Por que terminar afirmando que não sou medíocre? Se não o fosse, estaria preocupada em provar isso a pessoas que nem sei se são ou não são? Se estou tão preocupada - não não estou! (Tá sim...) Não tô! (Tá!)
Ai meu Deus! Acho que esse é o quinto estágio...
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