sábado, 28 de junho de 2008

Considerações de uma mente desocupada

(...ou "Quatorze passos para o nada")

1- Por que não levanto e vou dar uma corridinha?

2- Por que eu deveria dar uma corridinha?

3- Porque fazer nada é bom mas incomoda e trabalhar é chato mas faz bem à consciência? Não dava pra ser o contrário?

4- A corridinha vai melhorar minha vida em quê?

5- Quem não dá corridinha é menos feliz do que eu?

6- Continuar aqui deitada vai me fazer algum mal?

7- Se eu nunca mais me exercitar, qual maldição terrível se abaterá sobre mim?

8- Eu ficaria muito deprimida se descobrisse que a minha versão sem-ginástica e sem-adoçante não seria ao final das contas nem um pouco melhor do que o que sou hoje? (Essa foi profunda...)

9- Ficar deitada pensando abobrinha e depois sentada escrevendo abobrinha diminui minha imagem perante meus semelhantes?

10 - Eu sou muito semelhante aos meus semelhantes?

11- Ficar deitada morgando é "curtir as férias"? Ou tô perdendo tempo?

12- Já fiz a minha boa ação do dia?

13 - Que raio! Escapei da corridinha e agora vem a cobrança da boa ação do dia? Só posso estar doente. Por que eu deveria fazer uma boa ação hoje? Vou confeccionar uma camiseta: "Aceito de bom grado as SUAS boas ações."

14 - Férias só do trabalho? Então não adianta... Bom mesmo é se disfarçar de outra pessoa e tirar férias de mim mesma.

Taí: finalmente uma boa idéia. Tá vendo o que é ócio criativo?

Cristina Faraon

sexta-feira, 27 de junho de 2008

Santo Sepulcro


Esses dias eu estava procurando uma foto da tal Igreja do Santo Sepulcro, em Jerusalém. É o lugar onde, mais provavelmente, Jesus foi sepultado. Felizemte ele foi inquilino do tal imóvel por muito pouco tempo, mas mesmo assim o local ficou famoso. Tão famoso que resolveram estragar tudo.

Pois é, procurando no Google deparei-me com essa foto deprimente.

Caramba, ressurreição na minha mente remete a alegria, vitória, fé, otimismo, o bem vencendo o mal, luz, anjos, eu no Céu de vestido branco e os cabelos para sempre sob controle, claridade, alegria enfim. E olhe só! Olhe para essa cena modorrenta. Cheira a mofo, cheira a vela e a pano velho.

Pra piorar olhem o jeito desse homem. Olhem a alegria, a animação desse infeliz. Parece que todas as contas dele vencem hoje. Ou que ele está com uma crise de gota. E sofre de azia. E a mulher dele dorme de jeans.

Que desânimo, que desalento, que vontade de morrer! Quando sair daí ele vai ser jogar debaixo do trem. Ou debaixo do camelo, já que estamos no Oriente. É um suicida em potencial.

Dá vontade de dizer pro cara: "Meu amigo, vá para casa. Vá, vá! Jesus não vai se chatear não, fique frio. aliás faz tempo que Ele não vem aqui porque esse ambiente é muito deprê. E pára de olhar essas velas, que saco! Vela não responde prece, rapaz. Vá embora que esse ambiente está te deixando pra baixo, tá te broxando. É mais fácil você dar de cara com o Nosso Senhor durante um passeio no parque do que aqui. Vá pro bar com os amigos. Vá pra casa, Padilha!"

Que fotinho filha da mãe.

Afinal de contas pra quê construir uma igreja-tumba e estragar todo o cenário original? Que mania mais chata essa de construir um monstrengo encima de cada ponto hitórico!

Acho que os americanos deveriam tomar providências urgentes (calma!) no sentido de fazer um parque "Jerusalaico" (em Orlando) onde todos os ambientes originais sagrados do cristianismo fossem reconstituídos da forma mais fiel possível ao original. Como? Sei lá, não interessa. O importante é livrar os fiéis de sucumbir ao desânimo na tumba de Cristo. E os computadores estão aí para isso mesmo: cruzar dados históricos com geográficos, somar , dividir, multiplicar por milênios, subtrair erosão, cruzadas, império romano, turismo ao quadrado, igrejas... e chegar finalmente à "verdade" dos "fatos". Sim, uma parque tipo a Nova Jerusalém em Pernambuco, só que mais completa e com o padrão americano de produçao de sonhos.

A religião pode não ganhar nada e os investidores podem ficar ricos. O que importa? Fundamental é afugentar o sorumbático e livrar os cristãos de verem, diante de suas caras, a devoção virar "devo-cão."

Cristina Faraon

quarta-feira, 18 de junho de 2008

Passô...


Acho que estou curada da "maldição da sexta feira".

Esses dias, quando dei por mim, notei que aquela nuvem preta que pairava sobre a minha cabeça todos os finais de tarde de sexta feira se foi. Parece que para sempre. Era tipo um encosto. Eu hein!

A última novidade agora saõ as nuvenzinhas cinzas. Foi- se a mãe (nuvem preta) mas ficaram os filhotinhos (nuvenzinhas cinzas de final de tarde).

Todos os finais de tarde minha aura vai amarelando, amarelando... Happy hour? Só se for na rede.

Sabe aqueeeeeele sono? Aquele sono consistente, gordo-arredondado, com massa, pesado e fofo?

Final de tarde me cai na cabeça um sono assim... como uma grande trouxa! Essa é a melhor definição. Pois é, ele cai e quase me achata. Aí meus movimentos vão ficando em câmera lenta.

Levantar? Andar até o carro? Achar as chaves na bolsa enorme? Ai como dá trabalho! E o trânsito? "Engarrafalento", flanelinhas, zilhões de semáforos que avermelhando mal eu me aproximo deles... Gente, nessa cidade tem mais semáforo do que carro. Mais do que buraco! E olha que isso aqui está mais para solo lunar!

Huaaaaa... Quero um motorista. Alto e forte. Brincadeira; pode ser baixo e fraco, desde que me leve para casa e me poupe de dirigir.

Estou com as pálpebras a meio-mastro... Prefiro pensar que seja verme. Velhice é sacanagem!

Fui.

Cristina Faraon

domingo, 15 de junho de 2008

The Day After

Datas especiais...

Claro, foram criadas por nós mesmos. Finalidade? Sair da rotina.
Acho um negócio bem bolado essa inveção. Dizer, sem mais nem menos, que tal dia é diferente dos outros. Ou que tal dia se repete todo ano. Claro que é mentira! Nada se repete! Se fosse possível repetir, juro que eu consertaria um monte de coisas.

15 de junho de 2008 só acontece hoje mesmo. Mas posso fazer de conta que nos anos seguintes acontece tudo de novo ... e brincar disso! Por que não?

Essa pode ser uma linda ilusão inofensiva e eu não tenho nada contras certas ilusões inofensivas. A vida é assim, "o nosso amor a gente inventa pra se distrair" - como já dizia o Cazuza. As nossas datas a gente também inventa pra se distrair. O problema é quando essa distraçãozinha, esse bichinho de estimação criado em laboratório, se volta contra nós. Ingrato!

Tenho uma proposta: jubjugá-lo.

Se esse bichinho se voltar contra nós, podemos nos insurgir contra ele com toda a força da nossa liberdade.

Datas adoram ser lembradas. Datas adoram ser obedecidas. Datas adoram dizer como as coisas tem que ser e como elas querem ser comemoradas. Querem homenagens, incenso. Tudo bem enquanto isso for divertido - mas SÓ enquanto for divertido.

E quando a gente tem que sair do trabalho, pegar um trânsito miserável, tomar um banho as pressas sem a liturgia que o momento merece... E temos que escolher uma roupa correndo e um lado do sapato fugiu de casa? E que tal retornar resignada ao volante novamente suada, morta de cansada e doida para a noite terminar mesmo sabendo que ela ainda nem começou?

E quando só aí lembramos que ainda não compramos o presente? Hein? Que tal esse pesadelo? Sabe o que é isso, amigo? É aquele bichinho de estimação chamado Data Especial rosnando contra você - contra nós, que só queríamos nos divertir com ele!

E quando tudo o que queríamos na vida era uma sopa quente e lençóis macios? E quando a maior festa do mundo está dentro de casa e a melhor cerveja reside na nossa própria geladeira? E quando o silêncio é a mais desejada de todas as companhias? O que fazer?

Desobedeça. Isso mesmo. A Data Especial foi criada para te divertir e não o contrário: você não foi criado para servi-la. Revoltemo-nos! Boicotemo-la! Ignoremo-la!

Implicações: quais as implicações desse boicote? Alguma maldição nos espera? Fique tranquilo. O pior que pode acontecer é você ser considerado esquisito, anti-social, excêntrico ou miserável. Cabe a você decidir se vale a pena. Eu estou achando que vale. Sério, cansei!

Em caso de froxura, tenho uma outra sugestão: ao invés de ignorarmos os miados da Data Especial e matá-la de fome, que tal darmos sua ração só no dia seguinte?

Não entendeu? Estou propondo o início do Movimento do Dia Seguinte. É uma medida menos drástica, portanto, mais suave. Eu explico:

Diga para o seu namorado que não suporta mais as filas em restaurante no dia 12 de junho nem o desespero nas lojas. Afirme que isso tira toda a sua tesão. Combine com ele fazer TUDO no dia seguinte, só que na, com capricho sem stress. Será que ele vai se revoltar? Duvido. E você se livra do salão lotado e poderá fazer sua chapinha feliz da vida no dia seguinte, juntamente com as unhas e a depilação.

Dia das mães é a mesma coisa, bem como Natal e tudo o mais. Acho que até descontos especiais poderemos conseguir nas lojas, nos restaurantes, nos hotéis se tão simplesmente empurrarmos com a barriga a tal Data Especial para o dia seguinte. Xô!

Cadê o espirito rebelde da sua adolescência? Pois é, acione-o!

Eu estou decidida a dar início a esse movimento. Chega de cabrestos! Acho que isso só não vale para enterros porque aí ia ser complicado. Convencer o moribundo a morrer só no dia seguinte... E adiar o enterro para ter mais calma para os preparativos seria complicado...

É, não daria certo em caso de óbito mas em tudo o mais esse movimento pode ser aplicado ou adaptado. Ou ampliado!

Eu mesma estou adiando essa postagem há dias. Só hoje resolvi que quero publicar. E daí? Vai me processar? E Papai Noel que se cuide. Ele vai ser a próxima vítima.

The Day After - nada mais libertador. Tô dentro.

Cristina Faraon

sábado, 7 de junho de 2008

Nada


Ele está na cozinha. Eu estou aqui.
Estamos calados. Não falta assunto - sobra.
E tanto sobra que aflige
E tanto aflige que cala. e Tanto cala que pesa.

Não voaram pratos nem sapatos
Nem pássaros ou corações transpassados
Tudo está inerte e em seu lugar
E tudo espera. Tudo.

Menos o tempo.

Cristina Faraon

Bulmerangue

Bulmerangue não é aquele treco que você joga mas ele volta, teimosamente, e ainda acerta a sua testa?

Você já viu um bulmerangue ao vivo e a cores? Sabe o tamanho que tem, o peso... E sabe se é verdade que ele volta sozinho pra casa?

Sempre quis ver um coiso desses mas não encontro vendendo em nenhum lugar. Ainda existe ou foi extinto?

Acho que bulmerangue é como enterro de anão: a gente sabe que existe mas nunca viu.


Mas por que estou dizendo isso? Bebi demais? Não, nem de menos. Estou com a garganta e a alma secas. Estou triste porque existem relacionamentos parecidos como bulmerangue. Não no sentido de a pessoa nunca ir embora de vez, mas no sentido de todo o "não" que a gente diz acaba voltando e acertando na nossa testa.

Há relacionamentos não rigorosamente a dois. E o "não" é considerado uma terceira pessoa.

A descoberta da escada - uma nova paixão


Bem que eu desconfiava mas ontem tive certeza: alguma mudança se não assustadora, certamente curiosa esteve operando em mim, na surdina. A que se deu? Sei lá. A última hipótese é velhice.

Ontem abri meu armário e tirei uma embolorada fantasia de "Mulher Animada". Plano: assistir o show do Roupa Nova. Sono, preguiça, vontade de não ver a cara de ninguém mas fui forte! Sou forte! Sou uma mulher ou um rato?
Não vou resumir minha vida a ganhar o pau - digo, o pão de cada dia. Nada disso. Diversão é preciso e se eu estava desanimada, lá eu seria energisada com certeza. Muita fé nessa hora
Fui. Na pista. Uma hora e meia em pé antes de qualquer acorde ser tocado. UMA HORA E MEIA DE PÉ!
Os caras de preto tiveram o dia inteiro para arrumar o palco mas resolveram faze-lo quando o público começou a chegar. Sei lá, devo andar desatualizada. Vai ver que faz parte do show, pra criar clima, expectativa. É, devia ser isso.

Hordas de gente feia (desculpaê!) entrando resoluta no salão, tomando cada recanto, cada palmo de chão e se apossando de cada pedacinho de ar, respirando-o gulosamente e devolvendo tudo já fungado para a atmosfera. Credo!
Ninguém os detinha. Todos sorriam mas dava medo assim mesmo. Uma minoria tinha mais de um metro e sessenta. Melhor pra mim.

E a hora passando. E o calor aumentando. E a banda que eu pensava que iria anteceder o Roupa Nova que não aparecia? Cadê a banda "pré-show?" perguntei inocentemente. A "banda" era a música eletrônica que já estava "tuntunzando". Ah tá.

"Tudo bem, estou animada, estou animada, estou animada, não estou com sede, não estou com sede, não vou fazer xixi, não quero ir ao banheiro, não quero, não quero, meus pés não vão doer, meus pés não vão doer..." Aproveitei o tempo vago e o espaço exíguo para repetir essa reza desesperada.

TUM-TUM-TUM!... Ah que legal. Maior clima... Não parava de entrar gente. Foi ficando abafado. Depois de alguns minutos já podíamos cheirar o suor dos nossos companheiros e sentir seu hálito quando falavam, tal era a proximidade entre nós. Calor humano e calor desumado se misturavam. E eu pagando por isso.

Enfim, depois de muita espera eles chegaram. Aplausos! Gritos! Pulos! Mas minha bateria já estava pela metade. Achei mais sábio ficar quietinha mesmo.
De onde vinha aquela alegria insana? Será que aquele povo estava animado mesmo ou era só onda? Se estavam, a esquisita era eu, certamente. Mas eu não quero ser esquisita!
A multidão entrou em extase quando surgiram os artistas: uns simpáticos senhores com pouco cabelo. Uns amores! Cantavam, tocavam, dançavam, davam palavras de ordem... Só faltou fritarem tapiocas do palco e tirarem a roupa.

Meu Deus, que baruho infernal! O som estava regulado na letra D de Desumano e ninguém achava estranho. A vida é assim?
E eles mandavam para o público gritar, pular, levantar as mãos... Por que? Que estranho ritual era aquele? Nao tava bom a gente apenas pagar e ouvir? Ainda tinha que participar naquele contexto apocaliptico?

Limitei-me a sorrir e a balançar um pouco meu corpo exausto para nao parecer uma estátua, mas em dado momento me perguntei: o que está acontecendo comigo? Não consigo encontrar o motivo para aquela animação. O que é que eu to fazendo aqui?!

O grau de exigência do povo paraense é absurdamente baixo. O ambiente estava tão lotado que era mais fácil você morrer de sede do que atravessar o salão para comprar uma bebida. Além disso só de pensar que em quinze minutos eu teria que lutar com a multidão para ir ao banheiro, passava a sede e a... parava com suas exigências.

Horas de pé, um calor insuportável, o volume insano do som, pessoas me apertando, esbarrando, roçando, abanando o cabelo na minha cara... É a isso que chamam "ir para a night" ? Isso que é curtir muuuuito o fim de semana?
Sou de Marte.

Eu olhava as pessoas, via os sorrisos e pensava: tá todo mundo fingindo, só pode ser! Claro, pagaram o ingresso e não querem ficar com cara de enterro para serem chamados de chatos pelos amigos. Não é possível que não sestejam sentindo o suor escorrer até o umbigo, as costas doerem, o esfrega-esfrega.

Velhice? Mas haviam velhinhas lá que me pareciam animadas. Mais estranho ainda.

Sei lá, acho que durante alguma noite de lua cheia e janela aberta um ser peludo e dentuço chupou minha alma - e não foi o Nelson. A especialidade dele é outra.

Eu queria tanto me divertir! Mas me senti um peixe fora dágua. Não digo isso me referindo as pessoas mas ao desconforto.

A melhor parte do espetáculo foi quando saí do salão e sentei na escada, do lado de fora. Que maravilha, que anatômica! Nunca pensei que uma escada pudesse ser tão confortãvel. Estou até pensando em espalhar escadas pela minha casa: na sala, no quarto, no banheiro, no escritório... Para dormir, descansar, estudar, fazer refeições... tudo na escada. Transar na escada! REceber amigos na escada! Ler na escada! Meditar na escada!
E que tal lançar um sapato cujo salto seja em formato de escada? Conforto absoluto, sucesso total!

Vou patentear a idéia. Picadilly que se cuide!

Cristina Faraon

sábado, 28 de junho de 2008

Considerações de uma mente desocupada

(...ou "Quatorze passos para o nada")

1- Por que não levanto e vou dar uma corridinha?

2- Por que eu deveria dar uma corridinha?

3- Porque fazer nada é bom mas incomoda e trabalhar é chato mas faz bem à consciência? Não dava pra ser o contrário?

4- A corridinha vai melhorar minha vida em quê?

5- Quem não dá corridinha é menos feliz do que eu?

6- Continuar aqui deitada vai me fazer algum mal?

7- Se eu nunca mais me exercitar, qual maldição terrível se abaterá sobre mim?

8- Eu ficaria muito deprimida se descobrisse que a minha versão sem-ginástica e sem-adoçante não seria ao final das contas nem um pouco melhor do que o que sou hoje? (Essa foi profunda...)

9- Ficar deitada pensando abobrinha e depois sentada escrevendo abobrinha diminui minha imagem perante meus semelhantes?

10 - Eu sou muito semelhante aos meus semelhantes?

11- Ficar deitada morgando é "curtir as férias"? Ou tô perdendo tempo?

12- Já fiz a minha boa ação do dia?

13 - Que raio! Escapei da corridinha e agora vem a cobrança da boa ação do dia? Só posso estar doente. Por que eu deveria fazer uma boa ação hoje? Vou confeccionar uma camiseta: "Aceito de bom grado as SUAS boas ações."

14 - Férias só do trabalho? Então não adianta... Bom mesmo é se disfarçar de outra pessoa e tirar férias de mim mesma.

Taí: finalmente uma boa idéia. Tá vendo o que é ócio criativo?

Cristina Faraon

sexta-feira, 27 de junho de 2008

Santo Sepulcro


Esses dias eu estava procurando uma foto da tal Igreja do Santo Sepulcro, em Jerusalém. É o lugar onde, mais provavelmente, Jesus foi sepultado. Felizemte ele foi inquilino do tal imóvel por muito pouco tempo, mas mesmo assim o local ficou famoso. Tão famoso que resolveram estragar tudo.

Pois é, procurando no Google deparei-me com essa foto deprimente.

Caramba, ressurreição na minha mente remete a alegria, vitória, fé, otimismo, o bem vencendo o mal, luz, anjos, eu no Céu de vestido branco e os cabelos para sempre sob controle, claridade, alegria enfim. E olhe só! Olhe para essa cena modorrenta. Cheira a mofo, cheira a vela e a pano velho.

Pra piorar olhem o jeito desse homem. Olhem a alegria, a animação desse infeliz. Parece que todas as contas dele vencem hoje. Ou que ele está com uma crise de gota. E sofre de azia. E a mulher dele dorme de jeans.

Que desânimo, que desalento, que vontade de morrer! Quando sair daí ele vai ser jogar debaixo do trem. Ou debaixo do camelo, já que estamos no Oriente. É um suicida em potencial.

Dá vontade de dizer pro cara: "Meu amigo, vá para casa. Vá, vá! Jesus não vai se chatear não, fique frio. aliás faz tempo que Ele não vem aqui porque esse ambiente é muito deprê. E pára de olhar essas velas, que saco! Vela não responde prece, rapaz. Vá embora que esse ambiente está te deixando pra baixo, tá te broxando. É mais fácil você dar de cara com o Nosso Senhor durante um passeio no parque do que aqui. Vá pro bar com os amigos. Vá pra casa, Padilha!"

Que fotinho filha da mãe.

Afinal de contas pra quê construir uma igreja-tumba e estragar todo o cenário original? Que mania mais chata essa de construir um monstrengo encima de cada ponto hitórico!

Acho que os americanos deveriam tomar providências urgentes (calma!) no sentido de fazer um parque "Jerusalaico" (em Orlando) onde todos os ambientes originais sagrados do cristianismo fossem reconstituídos da forma mais fiel possível ao original. Como? Sei lá, não interessa. O importante é livrar os fiéis de sucumbir ao desânimo na tumba de Cristo. E os computadores estão aí para isso mesmo: cruzar dados históricos com geográficos, somar , dividir, multiplicar por milênios, subtrair erosão, cruzadas, império romano, turismo ao quadrado, igrejas... e chegar finalmente à "verdade" dos "fatos". Sim, uma parque tipo a Nova Jerusalém em Pernambuco, só que mais completa e com o padrão americano de produçao de sonhos.

A religião pode não ganhar nada e os investidores podem ficar ricos. O que importa? Fundamental é afugentar o sorumbático e livrar os cristãos de verem, diante de suas caras, a devoção virar "devo-cão."

Cristina Faraon

quarta-feira, 18 de junho de 2008

Passô...


Acho que estou curada da "maldição da sexta feira".

Esses dias, quando dei por mim, notei que aquela nuvem preta que pairava sobre a minha cabeça todos os finais de tarde de sexta feira se foi. Parece que para sempre. Era tipo um encosto. Eu hein!

A última novidade agora saõ as nuvenzinhas cinzas. Foi- se a mãe (nuvem preta) mas ficaram os filhotinhos (nuvenzinhas cinzas de final de tarde).

Todos os finais de tarde minha aura vai amarelando, amarelando... Happy hour? Só se for na rede.

Sabe aqueeeeeele sono? Aquele sono consistente, gordo-arredondado, com massa, pesado e fofo?

Final de tarde me cai na cabeça um sono assim... como uma grande trouxa! Essa é a melhor definição. Pois é, ele cai e quase me achata. Aí meus movimentos vão ficando em câmera lenta.

Levantar? Andar até o carro? Achar as chaves na bolsa enorme? Ai como dá trabalho! E o trânsito? "Engarrafalento", flanelinhas, zilhões de semáforos que avermelhando mal eu me aproximo deles... Gente, nessa cidade tem mais semáforo do que carro. Mais do que buraco! E olha que isso aqui está mais para solo lunar!

Huaaaaa... Quero um motorista. Alto e forte. Brincadeira; pode ser baixo e fraco, desde que me leve para casa e me poupe de dirigir.

Estou com as pálpebras a meio-mastro... Prefiro pensar que seja verme. Velhice é sacanagem!

Fui.

Cristina Faraon

domingo, 15 de junho de 2008

The Day After

Datas especiais...

Claro, foram criadas por nós mesmos. Finalidade? Sair da rotina.
Acho um negócio bem bolado essa inveção. Dizer, sem mais nem menos, que tal dia é diferente dos outros. Ou que tal dia se repete todo ano. Claro que é mentira! Nada se repete! Se fosse possível repetir, juro que eu consertaria um monte de coisas.

15 de junho de 2008 só acontece hoje mesmo. Mas posso fazer de conta que nos anos seguintes acontece tudo de novo ... e brincar disso! Por que não?

Essa pode ser uma linda ilusão inofensiva e eu não tenho nada contras certas ilusões inofensivas. A vida é assim, "o nosso amor a gente inventa pra se distrair" - como já dizia o Cazuza. As nossas datas a gente também inventa pra se distrair. O problema é quando essa distraçãozinha, esse bichinho de estimação criado em laboratório, se volta contra nós. Ingrato!

Tenho uma proposta: jubjugá-lo.

Se esse bichinho se voltar contra nós, podemos nos insurgir contra ele com toda a força da nossa liberdade.

Datas adoram ser lembradas. Datas adoram ser obedecidas. Datas adoram dizer como as coisas tem que ser e como elas querem ser comemoradas. Querem homenagens, incenso. Tudo bem enquanto isso for divertido - mas SÓ enquanto for divertido.

E quando a gente tem que sair do trabalho, pegar um trânsito miserável, tomar um banho as pressas sem a liturgia que o momento merece... E temos que escolher uma roupa correndo e um lado do sapato fugiu de casa? E que tal retornar resignada ao volante novamente suada, morta de cansada e doida para a noite terminar mesmo sabendo que ela ainda nem começou?

E quando só aí lembramos que ainda não compramos o presente? Hein? Que tal esse pesadelo? Sabe o que é isso, amigo? É aquele bichinho de estimação chamado Data Especial rosnando contra você - contra nós, que só queríamos nos divertir com ele!

E quando tudo o que queríamos na vida era uma sopa quente e lençóis macios? E quando a maior festa do mundo está dentro de casa e a melhor cerveja reside na nossa própria geladeira? E quando o silêncio é a mais desejada de todas as companhias? O que fazer?

Desobedeça. Isso mesmo. A Data Especial foi criada para te divertir e não o contrário: você não foi criado para servi-la. Revoltemo-nos! Boicotemo-la! Ignoremo-la!

Implicações: quais as implicações desse boicote? Alguma maldição nos espera? Fique tranquilo. O pior que pode acontecer é você ser considerado esquisito, anti-social, excêntrico ou miserável. Cabe a você decidir se vale a pena. Eu estou achando que vale. Sério, cansei!

Em caso de froxura, tenho uma outra sugestão: ao invés de ignorarmos os miados da Data Especial e matá-la de fome, que tal darmos sua ração só no dia seguinte?

Não entendeu? Estou propondo o início do Movimento do Dia Seguinte. É uma medida menos drástica, portanto, mais suave. Eu explico:

Diga para o seu namorado que não suporta mais as filas em restaurante no dia 12 de junho nem o desespero nas lojas. Afirme que isso tira toda a sua tesão. Combine com ele fazer TUDO no dia seguinte, só que na, com capricho sem stress. Será que ele vai se revoltar? Duvido. E você se livra do salão lotado e poderá fazer sua chapinha feliz da vida no dia seguinte, juntamente com as unhas e a depilação.

Dia das mães é a mesma coisa, bem como Natal e tudo o mais. Acho que até descontos especiais poderemos conseguir nas lojas, nos restaurantes, nos hotéis se tão simplesmente empurrarmos com a barriga a tal Data Especial para o dia seguinte. Xô!

Cadê o espirito rebelde da sua adolescência? Pois é, acione-o!

Eu estou decidida a dar início a esse movimento. Chega de cabrestos! Acho que isso só não vale para enterros porque aí ia ser complicado. Convencer o moribundo a morrer só no dia seguinte... E adiar o enterro para ter mais calma para os preparativos seria complicado...

É, não daria certo em caso de óbito mas em tudo o mais esse movimento pode ser aplicado ou adaptado. Ou ampliado!

Eu mesma estou adiando essa postagem há dias. Só hoje resolvi que quero publicar. E daí? Vai me processar? E Papai Noel que se cuide. Ele vai ser a próxima vítima.

The Day After - nada mais libertador. Tô dentro.

Cristina Faraon

sábado, 7 de junho de 2008

Nada


Ele está na cozinha. Eu estou aqui.
Estamos calados. Não falta assunto - sobra.
E tanto sobra que aflige
E tanto aflige que cala. e Tanto cala que pesa.

Não voaram pratos nem sapatos
Nem pássaros ou corações transpassados
Tudo está inerte e em seu lugar
E tudo espera. Tudo.

Menos o tempo.

Cristina Faraon

Bulmerangue

Bulmerangue não é aquele treco que você joga mas ele volta, teimosamente, e ainda acerta a sua testa?

Você já viu um bulmerangue ao vivo e a cores? Sabe o tamanho que tem, o peso... E sabe se é verdade que ele volta sozinho pra casa?

Sempre quis ver um coiso desses mas não encontro vendendo em nenhum lugar. Ainda existe ou foi extinto?

Acho que bulmerangue é como enterro de anão: a gente sabe que existe mas nunca viu.


Mas por que estou dizendo isso? Bebi demais? Não, nem de menos. Estou com a garganta e a alma secas. Estou triste porque existem relacionamentos parecidos como bulmerangue. Não no sentido de a pessoa nunca ir embora de vez, mas no sentido de todo o "não" que a gente diz acaba voltando e acertando na nossa testa.

Há relacionamentos não rigorosamente a dois. E o "não" é considerado uma terceira pessoa.

A descoberta da escada - uma nova paixão


Bem que eu desconfiava mas ontem tive certeza: alguma mudança se não assustadora, certamente curiosa esteve operando em mim, na surdina. A que se deu? Sei lá. A última hipótese é velhice.

Ontem abri meu armário e tirei uma embolorada fantasia de "Mulher Animada". Plano: assistir o show do Roupa Nova. Sono, preguiça, vontade de não ver a cara de ninguém mas fui forte! Sou forte! Sou uma mulher ou um rato?
Não vou resumir minha vida a ganhar o pau - digo, o pão de cada dia. Nada disso. Diversão é preciso e se eu estava desanimada, lá eu seria energisada com certeza. Muita fé nessa hora
Fui. Na pista. Uma hora e meia em pé antes de qualquer acorde ser tocado. UMA HORA E MEIA DE PÉ!
Os caras de preto tiveram o dia inteiro para arrumar o palco mas resolveram faze-lo quando o público começou a chegar. Sei lá, devo andar desatualizada. Vai ver que faz parte do show, pra criar clima, expectativa. É, devia ser isso.

Hordas de gente feia (desculpaê!) entrando resoluta no salão, tomando cada recanto, cada palmo de chão e se apossando de cada pedacinho de ar, respirando-o gulosamente e devolvendo tudo já fungado para a atmosfera. Credo!
Ninguém os detinha. Todos sorriam mas dava medo assim mesmo. Uma minoria tinha mais de um metro e sessenta. Melhor pra mim.

E a hora passando. E o calor aumentando. E a banda que eu pensava que iria anteceder o Roupa Nova que não aparecia? Cadê a banda "pré-show?" perguntei inocentemente. A "banda" era a música eletrônica que já estava "tuntunzando". Ah tá.

"Tudo bem, estou animada, estou animada, estou animada, não estou com sede, não estou com sede, não vou fazer xixi, não quero ir ao banheiro, não quero, não quero, meus pés não vão doer, meus pés não vão doer..." Aproveitei o tempo vago e o espaço exíguo para repetir essa reza desesperada.

TUM-TUM-TUM!... Ah que legal. Maior clima... Não parava de entrar gente. Foi ficando abafado. Depois de alguns minutos já podíamos cheirar o suor dos nossos companheiros e sentir seu hálito quando falavam, tal era a proximidade entre nós. Calor humano e calor desumado se misturavam. E eu pagando por isso.

Enfim, depois de muita espera eles chegaram. Aplausos! Gritos! Pulos! Mas minha bateria já estava pela metade. Achei mais sábio ficar quietinha mesmo.
De onde vinha aquela alegria insana? Será que aquele povo estava animado mesmo ou era só onda? Se estavam, a esquisita era eu, certamente. Mas eu não quero ser esquisita!
A multidão entrou em extase quando surgiram os artistas: uns simpáticos senhores com pouco cabelo. Uns amores! Cantavam, tocavam, dançavam, davam palavras de ordem... Só faltou fritarem tapiocas do palco e tirarem a roupa.

Meu Deus, que baruho infernal! O som estava regulado na letra D de Desumano e ninguém achava estranho. A vida é assim?
E eles mandavam para o público gritar, pular, levantar as mãos... Por que? Que estranho ritual era aquele? Nao tava bom a gente apenas pagar e ouvir? Ainda tinha que participar naquele contexto apocaliptico?

Limitei-me a sorrir e a balançar um pouco meu corpo exausto para nao parecer uma estátua, mas em dado momento me perguntei: o que está acontecendo comigo? Não consigo encontrar o motivo para aquela animação. O que é que eu to fazendo aqui?!

O grau de exigência do povo paraense é absurdamente baixo. O ambiente estava tão lotado que era mais fácil você morrer de sede do que atravessar o salão para comprar uma bebida. Além disso só de pensar que em quinze minutos eu teria que lutar com a multidão para ir ao banheiro, passava a sede e a... parava com suas exigências.

Horas de pé, um calor insuportável, o volume insano do som, pessoas me apertando, esbarrando, roçando, abanando o cabelo na minha cara... É a isso que chamam "ir para a night" ? Isso que é curtir muuuuito o fim de semana?
Sou de Marte.

Eu olhava as pessoas, via os sorrisos e pensava: tá todo mundo fingindo, só pode ser! Claro, pagaram o ingresso e não querem ficar com cara de enterro para serem chamados de chatos pelos amigos. Não é possível que não sestejam sentindo o suor escorrer até o umbigo, as costas doerem, o esfrega-esfrega.

Velhice? Mas haviam velhinhas lá que me pareciam animadas. Mais estranho ainda.

Sei lá, acho que durante alguma noite de lua cheia e janela aberta um ser peludo e dentuço chupou minha alma - e não foi o Nelson. A especialidade dele é outra.

Eu queria tanto me divertir! Mas me senti um peixe fora dágua. Não digo isso me referindo as pessoas mas ao desconforto.

A melhor parte do espetáculo foi quando saí do salão e sentei na escada, do lado de fora. Que maravilha, que anatômica! Nunca pensei que uma escada pudesse ser tão confortãvel. Estou até pensando em espalhar escadas pela minha casa: na sala, no quarto, no banheiro, no escritório... Para dormir, descansar, estudar, fazer refeições... tudo na escada. Transar na escada! REceber amigos na escada! Ler na escada! Meditar na escada!
E que tal lançar um sapato cujo salto seja em formato de escada? Conforto absoluto, sucesso total!

Vou patentear a idéia. Picadilly que se cuide!

Cristina Faraon