terça-feira, 1 de junho de 2010

Com certeeeeeza!


Se eu fosse uma entrevistadora nada me frustraria mais do que fazer uma pergunta e receber de troco o malfadado "  com certeeeeeeza!"

Ô coisa mais chata! Qualquer diálogo morre depois disso.

Estamos na era dos chavões. Pelo menos no Brasil, a coisa mais fácil é amestrar o povo para repetir tolices pseudo-espirituosas. Todos os programas humorísticos fazem isso:

- "  Eu só abro a boca quando tenho certeza!"
- " batata frita pooooode!"
- " Aí "  vareia!"
- "  Eu queria tanto!"
- "  Eu tô pagaaaando!"
- "  Já tenho o dinheiro; só me falta o glamour."

Acho um ato de desnecessária humildade trocarmos nossas próprias falas pelas de personagens abestados da TV. Sei que é cômodo, mas a maneira própria de cada um falar é também o que mostra nossas diferenças e nos torna, todos, especiais e únicos. Lembra do jeito da sua avó falar? E aquela empregada do interior?  Você nunca teve  um amigo despachado que usava umas expressões originais e engraçadas?  Lembra de alguém criativo em suas exposições?  Até pessoas que falam errado frequentemente são mais interessantes e priginais do que os adeptos do "com certeeeeza". 

Os chavões estão hoje para o linguajar assim como o jeans estão para o vestuário. Uniformizaram-nos.

Desconfio de que a nossa disposição para abrirmos mão das nossas peculiaridades e papagaiarmos o que os outros mandam - sim, desconfio de que essa mania seja proporcional à nossa acomodação e incapacidade de protestar. Collor tomou nosso dinheiro e o que fizemos? Refugiamo-nos nas piadinhas.

Quem realmente protesta nesse país? Até o que era para revoltar vira chavãozinho de piada: "- E o salário, ó!"  Então o que era para ser um movimento por melhoria salarial é abafado pela capa da repetição engraçadinha. A piada que nos cala é a nossa maldição.


-"Quero que pobre se exploda! Odeio pobre!"   ha ha ha ha ha - palmas pra eles!


Não sei o que está acontecendo conosco. Nosso empobrecimento intelectual é público, mas não é notório. Tá certo, tá certo, posso estar sendo alarmista e exagerada mas...

Ei, você acha que sou alarmista e exagerada?   Pelo amor de Deus não me responda "com certeeeeeeza!"

Um comentário:

  1. Oi Cristina Faraon,

    Olha eu não acho nada demais imitar certas mensagens que não tem em si algo maldoso. Afinal de contas chega a ser engraçado falarmos certos chavões em momentos de uma conversa.Muitas vezes algo bobo se torna engraçado por justamente "vir" de um adulto.

    Pura distração. Afinal, a vida é cheia de guerras diárias.

    Sei lá eu espero que eu tenha entendido seu post e vice-versa.

    Abraços e fique na Paz de Cristo.

    ResponderExcluir

terça-feira, 1 de junho de 2010

Com certeeeeeza!


Se eu fosse uma entrevistadora nada me frustraria mais do que fazer uma pergunta e receber de troco o malfadado "  com certeeeeeeza!"

Ô coisa mais chata! Qualquer diálogo morre depois disso.

Estamos na era dos chavões. Pelo menos no Brasil, a coisa mais fácil é amestrar o povo para repetir tolices pseudo-espirituosas. Todos os programas humorísticos fazem isso:

- "  Eu só abro a boca quando tenho certeza!"
- " batata frita pooooode!"
- " Aí "  vareia!"
- "  Eu queria tanto!"
- "  Eu tô pagaaaando!"
- "  Já tenho o dinheiro; só me falta o glamour."

Acho um ato de desnecessária humildade trocarmos nossas próprias falas pelas de personagens abestados da TV. Sei que é cômodo, mas a maneira própria de cada um falar é também o que mostra nossas diferenças e nos torna, todos, especiais e únicos. Lembra do jeito da sua avó falar? E aquela empregada do interior?  Você nunca teve  um amigo despachado que usava umas expressões originais e engraçadas?  Lembra de alguém criativo em suas exposições?  Até pessoas que falam errado frequentemente são mais interessantes e priginais do que os adeptos do "com certeeeeza". 

Os chavões estão hoje para o linguajar assim como o jeans estão para o vestuário. Uniformizaram-nos.

Desconfio de que a nossa disposição para abrirmos mão das nossas peculiaridades e papagaiarmos o que os outros mandam - sim, desconfio de que essa mania seja proporcional à nossa acomodação e incapacidade de protestar. Collor tomou nosso dinheiro e o que fizemos? Refugiamo-nos nas piadinhas.

Quem realmente protesta nesse país? Até o que era para revoltar vira chavãozinho de piada: "- E o salário, ó!"  Então o que era para ser um movimento por melhoria salarial é abafado pela capa da repetição engraçadinha. A piada que nos cala é a nossa maldição.


-"Quero que pobre se exploda! Odeio pobre!"   ha ha ha ha ha - palmas pra eles!


Não sei o que está acontecendo conosco. Nosso empobrecimento intelectual é público, mas não é notório. Tá certo, tá certo, posso estar sendo alarmista e exagerada mas...

Ei, você acha que sou alarmista e exagerada?   Pelo amor de Deus não me responda "com certeeeeeeza!"

Um comentário:

  1. Oi Cristina Faraon,

    Olha eu não acho nada demais imitar certas mensagens que não tem em si algo maldoso. Afinal de contas chega a ser engraçado falarmos certos chavões em momentos de uma conversa.Muitas vezes algo bobo se torna engraçado por justamente "vir" de um adulto.

    Pura distração. Afinal, a vida é cheia de guerras diárias.

    Sei lá eu espero que eu tenha entendido seu post e vice-versa.

    Abraços e fique na Paz de Cristo.

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