Valeu!
Reconheço o tremendo segurança que você é. Sem você o que teria sido de mim? Como me sairia bem nesse mundo inóspito? Se hoje sou o que sou, se sobrevivi, devo muito disso a você.
Esse seu jeitão emburrado... essa sua cara feia... Inicialmente eu não te queria por perto. Na verdade eu te odiava. Não reconhecia o valor do seu trabalho nem o quanto você era bem intencionado.
Depois, sabe como é. A gente cresce, vê o tamanho da selva onde está metido e sente a necessidade de uma proteção. Uma armadilha em cada esquina. Era assim que eu via o mundo. Aí você chegou mais perto e... Como eu me escorava em você! Deixei que carregasse todas as malas, tomasse todas as decisões. Era exploração! Mas você nunca reclamou, pelo contrário: tanto me preservou que quando dei por mim nem prestava mais atenção ao seu tamanho. Você ocupa muito espaço, rapaz!
Eu olhava o mundo da guarita segura que você construiu para mim. E as nossas conversas? Ah Medo, como você é convincente! À sua menor agumentação eu cedia, convencida e acalmada como um ratinho na toca. Deixei de ir, deixei de ser, de falar, de esmurrar a mesa; não fui a inúmeras festas, não fiz vários amigos, livrei-me de todas as aventuras, não comi, não fumei, não bebi, não comprei, não li, não participei.

Sim, você preserva mais que formol, Mais que embalagem à vácuo! Bom moço, bom moço.
Medo: obrigada. Você foi fundamental em minha formação. Valeu mesmo, mas olhe: aqui terminamos como dupla.
Está vendo aquele ponto cinza lá longe? É a plataforma da próxima estação. A cidade se chama Passado. Desça ali e dedique-se a outra pessoa. Muitos precisam de você. Quanto a mim, descerei mais à frente, na estação Imperatriz Confiante. Pegue suas coisas.
Quem sabe? Nas voltas que essa vida vá pode ser que nossos caminhos se
Estou levezinha... Vou seguir adiante sem a armadura que tanto me protegia do sol quanto desviava de mim o vento.
Não há mais contas a acertar com o passado. Agora só quero pisar nas poças e vê-las prateadas, não mais como abismos dissimulados a quererem me engolir.
Adeus, Medo! Vou só.
Muitíssimo poético, sensível e criativo. Ainda dizem que a lucidez diminui a poesia... Gostei muito.
ResponderExcluir:-)
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