quarta-feira, 7 de abril de 2010

Agradeço muito a sua escolta

Querido amigo Medo:

Valeu!

Reconheço o tremendo segurança que você é. Sem você o que teria sido de mim? Como me sairia bem nesse mundo inóspito? Se hoje sou o que sou, se sobrevivi, devo muito disso a você.

Esse seu jeitão emburrado...  essa sua cara feia...  Inicialmente eu não te queria por perto.  Na verdade eu te odiava. Não reconhecia o valor do seu trabalho nem o quanto você era bem intencionado.

Depois, sabe como é. A gente cresce, vê o tamanho da selva onde está metido e sente a necessidade de uma proteção. Uma armadilha em cada esquina. Era assim que eu via o mundo. Aí você chegou mais perto e... Como eu me escorava em você! Deixei que carregasse todas as malas, tomasse todas as decisões. Era exploração! Mas você nunca reclamou, pelo contrário: tanto me preservou que quando dei por mim nem prestava mais atenção ao seu tamanho. Você ocupa muito espaço, rapaz! 

Eu olhava o mundo da guarita segura que você construiu para mim. E as nossas conversas? Ah Medo, como você é convincente!  À sua menor agumentação eu cedia, convencida e acalmada como um ratinho na toca.  Deixei de ir, deixei de ser, de falar, de esmurrar a mesa; não fui a inúmeras festas, não fiz vários amigos, livrei-me de todas as aventuras, não comi, não fumei, não bebi, não comprei, não li, não participei.

Sim, você preserva mais que formol, Mais que embalagem à vácuo!  Bom moço, bom moço.

Medo: obrigada. Você foi fundamental em minha formação. Valeu mesmo, mas olhe: aqui terminamos como dupla.

Está vendo aquele ponto cinza lá longe? É a plataforma da próxima estação. A cidade se chama Passado.  Desça ali e dedique-se a outra pessoa. Muitos precisam de você.  Quanto a mim, descerei mais à frente, na estação Imperatriz Confiante. Pegue suas  coisas.

Quem sabe? Nas voltas que essa vida vá pode ser que nossos caminhos se cruzes cruzem. 


Estou levezinha...  Vou seguir adiante sem a armadura que tanto me protegia do sol quanto desviava de mim o vento.

Não há mais contas  a acertar com o passado. Agora só quero pisar nas poças e vê-las prateadas, não mais como abismos dissimulados a quererem me engolir.

Adeus, Medo! Vou só.

2 comentários:

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Agradeço muito a sua escolta

Querido amigo Medo:

Valeu!

Reconheço o tremendo segurança que você é. Sem você o que teria sido de mim? Como me sairia bem nesse mundo inóspito? Se hoje sou o que sou, se sobrevivi, devo muito disso a você.

Esse seu jeitão emburrado...  essa sua cara feia...  Inicialmente eu não te queria por perto.  Na verdade eu te odiava. Não reconhecia o valor do seu trabalho nem o quanto você era bem intencionado.

Depois, sabe como é. A gente cresce, vê o tamanho da selva onde está metido e sente a necessidade de uma proteção. Uma armadilha em cada esquina. Era assim que eu via o mundo. Aí você chegou mais perto e... Como eu me escorava em você! Deixei que carregasse todas as malas, tomasse todas as decisões. Era exploração! Mas você nunca reclamou, pelo contrário: tanto me preservou que quando dei por mim nem prestava mais atenção ao seu tamanho. Você ocupa muito espaço, rapaz! 

Eu olhava o mundo da guarita segura que você construiu para mim. E as nossas conversas? Ah Medo, como você é convincente!  À sua menor agumentação eu cedia, convencida e acalmada como um ratinho na toca.  Deixei de ir, deixei de ser, de falar, de esmurrar a mesa; não fui a inúmeras festas, não fiz vários amigos, livrei-me de todas as aventuras, não comi, não fumei, não bebi, não comprei, não li, não participei.

Sim, você preserva mais que formol, Mais que embalagem à vácuo!  Bom moço, bom moço.

Medo: obrigada. Você foi fundamental em minha formação. Valeu mesmo, mas olhe: aqui terminamos como dupla.

Está vendo aquele ponto cinza lá longe? É a plataforma da próxima estação. A cidade se chama Passado.  Desça ali e dedique-se a outra pessoa. Muitos precisam de você.  Quanto a mim, descerei mais à frente, na estação Imperatriz Confiante. Pegue suas  coisas.

Quem sabe? Nas voltas que essa vida vá pode ser que nossos caminhos se cruzes cruzem. 


Estou levezinha...  Vou seguir adiante sem a armadura que tanto me protegia do sol quanto desviava de mim o vento.

Não há mais contas  a acertar com o passado. Agora só quero pisar nas poças e vê-las prateadas, não mais como abismos dissimulados a quererem me engolir.

Adeus, Medo! Vou só.

2 comentários: