domingo, 7 de março de 2010

Bondade "desconstrangida" como alvo

Acho legal gente legal. O problema... é que "ser legal" as vezes vira cilada.
As pessoas confundem "ajudar"  com "assumir".  

"As pessoas" quem? Ora, tanto o ajudado quanto o ajudador.

Quem é ajudado passa a entender  que você topou adotá-lo. Na cabeça dele, os seus bens se tornaram uma fonte incessante de socorro. Ele olha para você e vê escrito em sua testa: "Perpétuo Socorro";  sente que faz parte da sua lista mensal de despesas e isso é uma situação vitalícia, estendendo-se inclusive aos seus demais familiares. Toda bronca que pintar, é em sua porta que ele vai bater. Isso é tão certo quanto a noite seguir-se ao dia.  Só que...

No dia em que a fonte secar (ou porque você está sem grana ou porque achou melhor gastar o SEU dinheiro em outra coisa) ele vai se sentir profundamente traído.  Você faz uma vez, faz duas e de repente... ai de você que não faça mais! Toda a sua beneficência anterior estará perdida nas brumas do passado e ele desejará que um raio lhe parta ao meio, seu egoísta safado!

Se a pressão vem de fora é mais fácil libertar-se. Mais brabo é quando a pressão vem de dentro. Refiro-me ao sentimento que toma conta da mente fraca do ajudador quando ele mesmo passa a acreditar que está casado com aquele ser carente pelo resto da vida.  Não se sente mais a vontade para dizer não e toda telha quebrada, sofá furado e unha encravada do ajudado passa a ser da sua conta. E pensar que você nem come ele!

Ao contrário do que se possa pensar a princípio, essa sensação de "adoção automática" não é uma coisa boa. É um (mau) sentimento que simplesmente rouba da gente aquele prazer elevado de ajudar as pessoas.

Nada feito por obrigação é prazeiroso.  O obrigatório pesa como chumbo.   Bom, mas bom mesmo, é ajudar em liberdade. Saber que  "faço porque quero, sinto vontade, me sinto bem e livre para fazê-lo quando quiser e pelo tempo que quiser. E isso é uma alegria pra mim." 

Se não for assim... é uma droga.

Esse sentimento de "lascou-se, agora é pra sempre" ao invés de ajudar os pobres, prejudica-os. Por medo de se envolver até o pescoço é que muita gente nem começa. Acham que os carentes vivem em um labirinto de teias onde, quem chegar muito perto, acaba enredado.   Essas pessoas não colocam nem a ponta do pé na estrada da caridade por medo de grudar e dali não sair nunca mais. Tipo areia movediça.

Aliás,  é por esse motivo - e não por modéstia ou humildade - que muitas pessoas preferem ajudar anonimamente. O anonimato garante a liberdade. A liberdade por sua vez incentiva a liberalidade, a liberalidade dá à luz a generosidade que, por sua vez, é uma das fontes eficazes de felicidade.

O problema é que sempre achei que ajudar sem envolvimento é apenas tapar-buraco emocional.  Sabe  aquela coisa de se sentir culpado porque fez a coisa certa, aproveitou as oportunidades da vida e hoje você pode até viajar e comprar roupa nova? Pois é. Há muitos cidadãos bem supridos que se sentem culpados por conseguirem se sustentar. Só que a felicidade deles nunca é completa porque é como se eles fossem um dos culpados pela miséria alheia. Assim, estendem a mão ao aflito porque ele mesmo está aflito e precisa desse alívio para enfim curtir seus bens arduamente conquistados.  Ou seja: não é amor nem caridade que o move, apenas a necessidade de um anestésico contra a doença. A doença, nesse caso, passa a ser o próximo, que lhe amargura a vida.   Triste estado...

É triste olhar o próximo como a doença que me faz sentir dor. E é deprimente fazer "caridade" (enter aspas mesmo) sem amor; porque o que não é feito com amor, não tem valor espiritual, só valor material. Assim penso eu. Ajudar nesses termos equivale a dar esmola para si mesmo - e isso é doentio.

Meu alvo é ser humana e generosa, mas LIVRE.  Não quero ser refém de sentimentos adoecidos.

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domingo, 7 de março de 2010

Bondade "desconstrangida" como alvo

Acho legal gente legal. O problema... é que "ser legal" as vezes vira cilada.
As pessoas confundem "ajudar"  com "assumir".  

"As pessoas" quem? Ora, tanto o ajudado quanto o ajudador.

Quem é ajudado passa a entender  que você topou adotá-lo. Na cabeça dele, os seus bens se tornaram uma fonte incessante de socorro. Ele olha para você e vê escrito em sua testa: "Perpétuo Socorro";  sente que faz parte da sua lista mensal de despesas e isso é uma situação vitalícia, estendendo-se inclusive aos seus demais familiares. Toda bronca que pintar, é em sua porta que ele vai bater. Isso é tão certo quanto a noite seguir-se ao dia.  Só que...

No dia em que a fonte secar (ou porque você está sem grana ou porque achou melhor gastar o SEU dinheiro em outra coisa) ele vai se sentir profundamente traído.  Você faz uma vez, faz duas e de repente... ai de você que não faça mais! Toda a sua beneficência anterior estará perdida nas brumas do passado e ele desejará que um raio lhe parta ao meio, seu egoísta safado!

Se a pressão vem de fora é mais fácil libertar-se. Mais brabo é quando a pressão vem de dentro. Refiro-me ao sentimento que toma conta da mente fraca do ajudador quando ele mesmo passa a acreditar que está casado com aquele ser carente pelo resto da vida.  Não se sente mais a vontade para dizer não e toda telha quebrada, sofá furado e unha encravada do ajudado passa a ser da sua conta. E pensar que você nem come ele!

Ao contrário do que se possa pensar a princípio, essa sensação de "adoção automática" não é uma coisa boa. É um (mau) sentimento que simplesmente rouba da gente aquele prazer elevado de ajudar as pessoas.

Nada feito por obrigação é prazeiroso.  O obrigatório pesa como chumbo.   Bom, mas bom mesmo, é ajudar em liberdade. Saber que  "faço porque quero, sinto vontade, me sinto bem e livre para fazê-lo quando quiser e pelo tempo que quiser. E isso é uma alegria pra mim." 

Se não for assim... é uma droga.

Esse sentimento de "lascou-se, agora é pra sempre" ao invés de ajudar os pobres, prejudica-os. Por medo de se envolver até o pescoço é que muita gente nem começa. Acham que os carentes vivem em um labirinto de teias onde, quem chegar muito perto, acaba enredado.   Essas pessoas não colocam nem a ponta do pé na estrada da caridade por medo de grudar e dali não sair nunca mais. Tipo areia movediça.

Aliás,  é por esse motivo - e não por modéstia ou humildade - que muitas pessoas preferem ajudar anonimamente. O anonimato garante a liberdade. A liberdade por sua vez incentiva a liberalidade, a liberalidade dá à luz a generosidade que, por sua vez, é uma das fontes eficazes de felicidade.

O problema é que sempre achei que ajudar sem envolvimento é apenas tapar-buraco emocional.  Sabe  aquela coisa de se sentir culpado porque fez a coisa certa, aproveitou as oportunidades da vida e hoje você pode até viajar e comprar roupa nova? Pois é. Há muitos cidadãos bem supridos que se sentem culpados por conseguirem se sustentar. Só que a felicidade deles nunca é completa porque é como se eles fossem um dos culpados pela miséria alheia. Assim, estendem a mão ao aflito porque ele mesmo está aflito e precisa desse alívio para enfim curtir seus bens arduamente conquistados.  Ou seja: não é amor nem caridade que o move, apenas a necessidade de um anestésico contra a doença. A doença, nesse caso, passa a ser o próximo, que lhe amargura a vida.   Triste estado...

É triste olhar o próximo como a doença que me faz sentir dor. E é deprimente fazer "caridade" (enter aspas mesmo) sem amor; porque o que não é feito com amor, não tem valor espiritual, só valor material. Assim penso eu. Ajudar nesses termos equivale a dar esmola para si mesmo - e isso é doentio.

Meu alvo é ser humana e generosa, mas LIVRE.  Não quero ser refém de sentimentos adoecidos.

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