A essas alturas da minha vida começo a desconfiar do ato de pedir conselhos. Acaba sendo tudo muito tendencioso.
Geralmente quem pede, já sabendo pra quem pede, sabe igualmente a resposta. Ao escolher o conselheiro a resposta já está sendo automaticamente escolhida. O humilde pedidor não passa de um safadinho disfarçado.
Conversei esses dias com meu Anjo da Guarda. Disse-lhe que precisava ouvir uma opinião sensata a respeito de um certo assunto. Ele foi logo tirando o seu da reta:
Anjo - nem vem que não tem! Não passo de um reles anjo da guarda. Faço meu serviço de segurança e não sei nadica de nada a respeito da vida terrena e das aflições dos mortais com suas convenções sociais grotescas.
Eu - como não sabe nada? Zanza pelo mundo há milênios! Nâo é possível que não tenha aprendido nada.
Anjo - Pois é, não aprendi. A gente só consegue aprender aquilo que gosta.
Eu - Ah, você não gosta de nós? Deus vai saber disso!
Anjo - Hã... hum... Nâo foi isso o que eu quis dizer.
Eu - Pelo jeito nesse tempo todo você já aprendeu algumas coisinhas úteis, não é?
Anjo - Eeeeeu? Como o quê?
Eu - Como se sair de uma gafe.
Anjo - É... pois bem, onde estávamos?
Eu - (Esse anjo é só má vontade...) Vem cá, me diga quanto você costuma receber pelos seus serviços de segurança.
Anjo - Um sorriso de Deus é o suficiente. Faço tudo na camaradagem - quer dizer, por amor.
Eu - Ah, entendi. Uma mão lava a outra.
Anjo - Não foi isso o que eu quis dizer! Amo tudo e todos e faço o meu serviço com carinho. Repito: O MEU SERVIÇO. Dar conselhos é outro departamento. Não quero entrar numa fria.
Eu - Em qual fria você poderia entrar?
Anjo -Ah, não lembra daquele antigo companheiro que foi para o olho da rua só porque deu uma idéia para a Eva?
Eu - Lembro...
Anjo - Pois é, tô fora minha filha.
Eu - Como sou uma pessoa muito pacata, estou começando a achar que seu serviço é inútil, uma moleza do outro mundo. Deus vai ficar sabendo disso e te remanejar para coisas mais difíceis e menos maneiras... Basta uma simples oração. Eu sou "assim" com ele.
Anjo - Tá, tá. Não vou dar conselhos mas posso indicar quem dê.
Eu - Já me serve.
Anjo - Que tal o Fulano? Gosto dele.
Eu - Eu também gosto, e ele de mim. Aí que mora o problema.
Anjo - Não entendi.
Eu - Ele gosta de mim então vai dizer tudo o que quero ouvir: que tenho toda a razão, que está tudo bem, que eu sou maravilhosa, que eu não esquente etc.
Anjo - sim, e daí?
Eu - Conveniente demais. Quero alguém mais isento.
Anjo - Tem o Beltrano, que costuma ser bem isento.
Eu - Isento? Ha ha ha. Ele é azedo e legalista. Já vi tudo! Aposto que vai dizer que faço tudo errado, que tenho que consertar isso e mais aquilo e mais aquilo outro. Pra ele todo mundo é um fora da lei. vou chamá-lo de puritano e a gente vai acabar discutindo. Não dá.
Anjo - Acho que "Y" é um meio-termo aceitável.
Eu - Você acha que eu vou perder meu tempo ouvindo um simplório daquele? Já notou que "Y" é incapaz de pensar por si mesmo? Pra tudo o que a gente diz ele já vem com uma solução besta e simplificada na ponta da língua. Não entende nada de vida real. Só sabe dar respostas de algibeira.
Anjo - É uma besta mesmo... É, desculpa! Não foi bem isso o que eu quis dizer.
Eu - Você nunca quer dizer nada mas acaba dizendo. Só não diz o que eu peço!
Anjo - Admiro o "X". Eu quase fui anjo da guarda dele, mas o Senhor não quis...
Eu - Está insatisfeito comigo é? Tá de má vontade?
Anjo - Não! Eu te adoro - quer dizer - te amo! Sério! Verade verdadeira!
Eu - Tá. Mas veja: "X" é uma pessoa que admiro; costumo concordar com tudo o que diz. Sendo assim, já sei o que dirá. é irritante admitir mas JÁ SEI TUDO. Por conhecê-lo bem, ele é a pessoa mais previsível do mundo. Ora, se já sei o que ele vai dizer, pra quê perguntar?
Anjo - Tudo bem: que um conselho?
Eu- quero!
Anjo - Vá encher a paciência de outro!
Pois é...
O religioso pensa como religioso, fala como religioso, raciocina como religioso e condena como religioso.
O ateu fala com ateu, pensa como ateu, diz coisas de ateu e como tal, não condena. E ainda diz que eu faça o que fizer, no final todo mundo morre e acabou tudo, nada importará daqui a alguns anos. E filho? Só pode raciocinar como filho, sentir como filho e detonar como filho. Irmãos? Ou estarão sempre do meu lado nao importa a caca que eu faça... ou me cobrarão uma perfeição do outro mundo.
Eliminei os que iriam dizer o que eu não queria ouvir e eliminei também os que iriam dizer exatamente o que eu queria ouvir. Sobrou ninguém.
Na dúvida... continuo na dúvida. Pensando bem... Ei! Você é neutro e imparcial???
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segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010
Procura-se conselheiro
A essas alturas da minha vida começo a desconfiar do ato de pedir conselhos. Acaba sendo tudo muito tendencioso.
Geralmente quem pede, já sabendo pra quem pede, sabe igualmente a resposta. Ao escolher o conselheiro a resposta já está sendo automaticamente escolhida. O humilde pedidor não passa de um safadinho disfarçado.
Conversei esses dias com meu Anjo da Guarda. Disse-lhe que precisava ouvir uma opinião sensata a respeito de um certo assunto. Ele foi logo tirando o seu da reta:
Anjo - nem vem que não tem! Não passo de um reles anjo da guarda. Faço meu serviço de segurança e não sei nadica de nada a respeito da vida terrena e das aflições dos mortais com suas convenções sociais grotescas.
Eu - como não sabe nada? Zanza pelo mundo há milênios! Nâo é possível que não tenha aprendido nada.
Anjo - Pois é, não aprendi. A gente só consegue aprender aquilo que gosta.
Eu - Ah, você não gosta de nós? Deus vai saber disso!
Anjo - Hã... hum... Nâo foi isso o que eu quis dizer.
Eu - Pelo jeito nesse tempo todo você já aprendeu algumas coisinhas úteis, não é?
Anjo - Eeeeeu? Como o quê?
Eu - Como se sair de uma gafe.
Anjo - É... pois bem, onde estávamos?
Eu - (Esse anjo é só má vontade...) Vem cá, me diga quanto você costuma receber pelos seus serviços de segurança.
Anjo - Um sorriso de Deus é o suficiente. Faço tudo na camaradagem - quer dizer, por amor.
Eu - Ah, entendi. Uma mão lava a outra.
Anjo - Não foi isso o que eu quis dizer! Amo tudo e todos e faço o meu serviço com carinho. Repito: O MEU SERVIÇO. Dar conselhos é outro departamento. Não quero entrar numa fria.
Eu - Em qual fria você poderia entrar?
Anjo -Ah, não lembra daquele antigo companheiro que foi para o olho da rua só porque deu uma idéia para a Eva?
Eu - Lembro...
Anjo - Pois é, tô fora minha filha.
Eu - Como sou uma pessoa muito pacata, estou começando a achar que seu serviço é inútil, uma moleza do outro mundo. Deus vai ficar sabendo disso e te remanejar para coisas mais difíceis e menos maneiras... Basta uma simples oração. Eu sou "assim" com ele.
Anjo - Tá, tá. Não vou dar conselhos mas posso indicar quem dê.
Eu - Já me serve.
Anjo - Que tal o Fulano? Gosto dele.
Eu - Eu também gosto, e ele de mim. Aí que mora o problema.
Anjo - Não entendi.
Eu - Ele gosta de mim então vai dizer tudo o que quero ouvir: que tenho toda a razão, que está tudo bem, que eu sou maravilhosa, que eu não esquente etc.
Anjo - sim, e daí?
Eu - Conveniente demais. Quero alguém mais isento.
Anjo - Tem o Beltrano, que costuma ser bem isento.
Eu - Isento? Ha ha ha. Ele é azedo e legalista. Já vi tudo! Aposto que vai dizer que faço tudo errado, que tenho que consertar isso e mais aquilo e mais aquilo outro. Pra ele todo mundo é um fora da lei. vou chamá-lo de puritano e a gente vai acabar discutindo. Não dá.
Anjo - Acho que "Y" é um meio-termo aceitável.
Eu - Você acha que eu vou perder meu tempo ouvindo um simplório daquele? Já notou que "Y" é incapaz de pensar por si mesmo? Pra tudo o que a gente diz ele já vem com uma solução besta e simplificada na ponta da língua. Não entende nada de vida real. Só sabe dar respostas de algibeira.
Anjo - É uma besta mesmo... É, desculpa! Não foi bem isso o que eu quis dizer.
Eu - Você nunca quer dizer nada mas acaba dizendo. Só não diz o que eu peço!
Anjo - Admiro o "X". Eu quase fui anjo da guarda dele, mas o Senhor não quis...
Eu - Está insatisfeito comigo é? Tá de má vontade?
Anjo - Não! Eu te adoro - quer dizer - te amo! Sério! Verade verdadeira!
Eu - Tá. Mas veja: "X" é uma pessoa que admiro; costumo concordar com tudo o que diz. Sendo assim, já sei o que dirá. é irritante admitir mas JÁ SEI TUDO. Por conhecê-lo bem, ele é a pessoa mais previsível do mundo. Ora, se já sei o que ele vai dizer, pra quê perguntar?
Anjo - Tudo bem: que um conselho?
Eu- quero!
Anjo - Vá encher a paciência de outro!
Pois é...
O religioso pensa como religioso, fala como religioso, raciocina como religioso e condena como religioso.
O ateu fala com ateu, pensa como ateu, diz coisas de ateu e como tal, não condena. E ainda diz que eu faça o que fizer, no final todo mundo morre e acabou tudo, nada importará daqui a alguns anos. E filho? Só pode raciocinar como filho, sentir como filho e detonar como filho. Irmãos? Ou estarão sempre do meu lado nao importa a caca que eu faça... ou me cobrarão uma perfeição do outro mundo.
Eliminei os que iriam dizer o que eu não queria ouvir e eliminei também os que iriam dizer exatamente o que eu queria ouvir. Sobrou ninguém.
Na dúvida... continuo na dúvida. Pensando bem... Ei! Você é neutro e imparcial???
Geralmente quem pede, já sabendo pra quem pede, sabe igualmente a resposta. Ao escolher o conselheiro a resposta já está sendo automaticamente escolhida. O humilde pedidor não passa de um safadinho disfarçado.
Conversei esses dias com meu Anjo da Guarda. Disse-lhe que precisava ouvir uma opinião sensata a respeito de um certo assunto. Ele foi logo tirando o seu da reta:
Anjo - nem vem que não tem! Não passo de um reles anjo da guarda. Faço meu serviço de segurança e não sei nadica de nada a respeito da vida terrena e das aflições dos mortais com suas convenções sociais grotescas.
Eu - como não sabe nada? Zanza pelo mundo há milênios! Nâo é possível que não tenha aprendido nada.
Anjo - Pois é, não aprendi. A gente só consegue aprender aquilo que gosta.
Eu - Ah, você não gosta de nós? Deus vai saber disso!
Anjo - Hã... hum... Nâo foi isso o que eu quis dizer.
Eu - Pelo jeito nesse tempo todo você já aprendeu algumas coisinhas úteis, não é?
Anjo - Eeeeeu? Como o quê?
Eu - Como se sair de uma gafe.
Anjo - É... pois bem, onde estávamos?
Eu - (Esse anjo é só má vontade...) Vem cá, me diga quanto você costuma receber pelos seus serviços de segurança.
Anjo - Um sorriso de Deus é o suficiente. Faço tudo na camaradagem - quer dizer, por amor.
Eu - Ah, entendi. Uma mão lava a outra.
Anjo - Não foi isso o que eu quis dizer! Amo tudo e todos e faço o meu serviço com carinho. Repito: O MEU SERVIÇO. Dar conselhos é outro departamento. Não quero entrar numa fria.
Eu - Em qual fria você poderia entrar?
Anjo -Ah, não lembra daquele antigo companheiro que foi para o olho da rua só porque deu uma idéia para a Eva?
Eu - Lembro...
Anjo - Pois é, tô fora minha filha.
Eu - Como sou uma pessoa muito pacata, estou começando a achar que seu serviço é inútil, uma moleza do outro mundo. Deus vai ficar sabendo disso e te remanejar para coisas mais difíceis e menos maneiras... Basta uma simples oração. Eu sou "assim" com ele.
Anjo - Tá, tá. Não vou dar conselhos mas posso indicar quem dê.
Eu - Já me serve.
Anjo - Que tal o Fulano? Gosto dele.
Eu - Eu também gosto, e ele de mim. Aí que mora o problema.
Anjo - Não entendi.
Eu - Ele gosta de mim então vai dizer tudo o que quero ouvir: que tenho toda a razão, que está tudo bem, que eu sou maravilhosa, que eu não esquente etc.
Anjo - sim, e daí?
Eu - Conveniente demais. Quero alguém mais isento.
Anjo - Tem o Beltrano, que costuma ser bem isento.
Eu - Isento? Ha ha ha. Ele é azedo e legalista. Já vi tudo! Aposto que vai dizer que faço tudo errado, que tenho que consertar isso e mais aquilo e mais aquilo outro. Pra ele todo mundo é um fora da lei. vou chamá-lo de puritano e a gente vai acabar discutindo. Não dá.
Anjo - Acho que "Y" é um meio-termo aceitável.
Eu - Você acha que eu vou perder meu tempo ouvindo um simplório daquele? Já notou que "Y" é incapaz de pensar por si mesmo? Pra tudo o que a gente diz ele já vem com uma solução besta e simplificada na ponta da língua. Não entende nada de vida real. Só sabe dar respostas de algibeira.
Anjo - É uma besta mesmo... É, desculpa! Não foi bem isso o que eu quis dizer.
Eu - Você nunca quer dizer nada mas acaba dizendo. Só não diz o que eu peço!
Anjo - Admiro o "X". Eu quase fui anjo da guarda dele, mas o Senhor não quis...
Eu - Está insatisfeito comigo é? Tá de má vontade?
Anjo - Não! Eu te adoro - quer dizer - te amo! Sério! Verade verdadeira!
Eu - Tá. Mas veja: "X" é uma pessoa que admiro; costumo concordar com tudo o que diz. Sendo assim, já sei o que dirá. é irritante admitir mas JÁ SEI TUDO. Por conhecê-lo bem, ele é a pessoa mais previsível do mundo. Ora, se já sei o que ele vai dizer, pra quê perguntar?
Anjo - Tudo bem: que um conselho?
Eu- quero!
Anjo - Vá encher a paciência de outro!
Pois é...
O religioso pensa como religioso, fala como religioso, raciocina como religioso e condena como religioso.
O ateu fala com ateu, pensa como ateu, diz coisas de ateu e como tal, não condena. E ainda diz que eu faça o que fizer, no final todo mundo morre e acabou tudo, nada importará daqui a alguns anos. E filho? Só pode raciocinar como filho, sentir como filho e detonar como filho. Irmãos? Ou estarão sempre do meu lado nao importa a caca que eu faça... ou me cobrarão uma perfeição do outro mundo.
Eliminei os que iriam dizer o que eu não queria ouvir e eliminei também os que iriam dizer exatamente o que eu queria ouvir. Sobrou ninguém.
Na dúvida... continuo na dúvida. Pensando bem... Ei! Você é neutro e imparcial???
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