domingo, 29 de novembro de 2009

Gatos e outros bichos

Deus é testemunha: até me esforço para gostar de animais. Isso atesta meu crescimento espiritual - registre-se! Até pouco tempo atrás nem força eu fazia.

Com o advento da Lucrécia tenho procurado ativar em mim uma parte de minha alma que não veio de fábrica - ou veio com defeito.

Os bichos são esquisitos, todos eles. Pra começar não tem rosto, tem cara e sem expressão. Algo como uma máscara. Atribuimos a eles gostos e estados de "espírito" mas eles não nos dão pistas "faciais". Tudo o que dizem é com o corpo, pulando, sacudindo, rosnando, enchendo o saco.

No caso da Lucrécia, felina, mais estranhos ainda me parecem os bichos. Os gatos nos olham como se pretendessem nos hipnotizar. É um olho-no-olho que incomoda, quase uma afronta. Eles nos fitam entre assustados e furiosos, já notaram? Assim ... como quem sabe de algum segredo terrível ou pressente algo. Parece coisa de filme de mistério, de castelo fantasma, eu hein!

Por essas e por outras que os gatos foram tão perseguidos e quase extintos na idade média. Os devotados cristãos, que viam diabo em tudo, achavam que eles (juntamente com 80% da população feminina ) tinham parte com o Diabo. Sério! Os bondosos cristãos, com sua lendária fobia pelo Maligno, ao verem um gato parar e encará-los como nenhum outro bicho faz, detonavam o pobre.

Pois é, já falei pra Lucrécia parar com isso, mas ela não me ouve!

Relevo os olhares da Lucrécia mas o que não relevo é esse lambe-lambe, esse cheiro de bicho, os pelos, os modos irremediavelmente não humanos que me repugnam.

Às vezes a acaricio. Finjo que é um brinquedo de pelúcia mas logo vejo seus movimentos estranhamente ágeis, suas manias, preferências esdrúxulas por ficar nos telhados, seu prazer em beber água de vala, seus nervos à flor da pele.

Os bichos não riem nunca, não importa o que você faça por eles.

O fato é que a não humanidade dos bichos me irrita. E tudo neles que lembra os humanos me irrita ainda mais, pois parece um arremedo grotesco e pretensioso.

Ninguém ocupará o lugar da Lucrécia em minha vida. E isso não é uma frase de amor.

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domingo, 29 de novembro de 2009

Gatos e outros bichos

Deus é testemunha: até me esforço para gostar de animais. Isso atesta meu crescimento espiritual - registre-se! Até pouco tempo atrás nem força eu fazia.

Com o advento da Lucrécia tenho procurado ativar em mim uma parte de minha alma que não veio de fábrica - ou veio com defeito.

Os bichos são esquisitos, todos eles. Pra começar não tem rosto, tem cara e sem expressão. Algo como uma máscara. Atribuimos a eles gostos e estados de "espírito" mas eles não nos dão pistas "faciais". Tudo o que dizem é com o corpo, pulando, sacudindo, rosnando, enchendo o saco.

No caso da Lucrécia, felina, mais estranhos ainda me parecem os bichos. Os gatos nos olham como se pretendessem nos hipnotizar. É um olho-no-olho que incomoda, quase uma afronta. Eles nos fitam entre assustados e furiosos, já notaram? Assim ... como quem sabe de algum segredo terrível ou pressente algo. Parece coisa de filme de mistério, de castelo fantasma, eu hein!

Por essas e por outras que os gatos foram tão perseguidos e quase extintos na idade média. Os devotados cristãos, que viam diabo em tudo, achavam que eles (juntamente com 80% da população feminina ) tinham parte com o Diabo. Sério! Os bondosos cristãos, com sua lendária fobia pelo Maligno, ao verem um gato parar e encará-los como nenhum outro bicho faz, detonavam o pobre.

Pois é, já falei pra Lucrécia parar com isso, mas ela não me ouve!

Relevo os olhares da Lucrécia mas o que não relevo é esse lambe-lambe, esse cheiro de bicho, os pelos, os modos irremediavelmente não humanos que me repugnam.

Às vezes a acaricio. Finjo que é um brinquedo de pelúcia mas logo vejo seus movimentos estranhamente ágeis, suas manias, preferências esdrúxulas por ficar nos telhados, seu prazer em beber água de vala, seus nervos à flor da pele.

Os bichos não riem nunca, não importa o que você faça por eles.

O fato é que a não humanidade dos bichos me irrita. E tudo neles que lembra os humanos me irrita ainda mais, pois parece um arremedo grotesco e pretensioso.

Ninguém ocupará o lugar da Lucrécia em minha vida. E isso não é uma frase de amor.

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