sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Perdas & Perdas


Há coisas que a gente perde e sabe que perdeu, tem plena consciência. Lamenta, fica olhando foto e chora de vez em quando (ou não).

Há vários tipos de perdas: as anunciadas e as repentinas. As repentinas dividem-se em violentas e as "ploft", que nada mais são do que aquelas que se acabam porque tinham que acabar mas não geram grande alarde ou estupefação, como o final de um sanduiche, a partida de um conhecido sem grandes vínculos emocionais conosco ou o final de uma Havaiana.

Acho que a perda "mais pior", mas a "mais pior de ruim mesmo" é aquela que a gente demora a se dar conta de que aconteceu. Aquela que passam-se dias, meses, até anos e de repente olhamos para trás e notamos que empobrecemos em algo que nos era tão caro. A gente tenta desesperadamente lembrar quando foi pelo menos para colocar a memória de luto, mas não consegue!

Perdas... Perdas... A perda da juventude é parecida com isso mas não é exatamente assim. A gente nunca sabe onde ou quando deixou de ser jovem mas sabe com toda a certeza que está deixando de ser todo o santo dia. E ao contrário do que os jovens pensam, isso não nos poupa do susto no espelho no meio de alguma madrugada mal dormida. Mas repito que essa perda é diferente por ser exaustivamente anunciada.

A perda da alegria de viver, essa sim se encaixa de forma perfeita fatal no exemplo dado.

Um dia é outono nos olhos e nenhum pássaro é gracioso o suficiente. Um dia nada parece mais idiota do que ficar todo molhado na chuva e sair correndo de braços abertos. Um dia não há sentido algum em fazer esforço para pegar um caju em uma árvore e ralar o joelho; pior ainda se for para ficar lá em cima se equilibrando para come-lo sem lavá-lo antes, tendo o sumo da fruta a escorrer pelo braço, cotovelo, observá-lo brilhar rapidamente nos últimos raios do sol da tarde e por fim enfiar-se na terra em câmera lenta. Qual o motivo lógico para manter-se no cajueiro com o olhar perdido entre as folhas observando os primos brincarem no quintal e imaginar qual peça lhes pregar? Um dia o colo do pai não é mais o lugar mais seguro do mundo nem o da mãe o mais macio e confortável e todas as verdades que ela disser podem ser derrubadas ao menor argumento. Um dia não há mais paciência para ouvir a mesma música, os filmes não emocionam, as festinham ficaramm chatas e previsíveis e os amigos, repetitivos. Um dia a gente descobre que o mundo não mudou. Nossos olhos é que ficaram cinzentos e a alegria de viver desvaneceu. Não saberíamos dizem como, em qual momento, devido a quê. Grande perda. Talvez a maior delas.

Pra você ver... Tudo isso só porque eu li um artigo dizendo que hoje em dia perdemos uma coisinha de nada: perdemos a exclusividade da atenção das pessoas. Atenção exclusiva é artigo de luxo. Já notou que durante uma conversa com um amigo ele fatalmente dará paradinhas para atender (ou desligar ou colocar no silencioso) o celular ou lendo uma mensagem rapidinho, anotando alguma coisa, fazendo um sinal para alguém que passa ("amanhã eu te ligo!") e você terá que relevar? Você, por exemplo, já deve ter interrompido umas três vezes pelo menos a leitura deste texto.

Que tal mais essa perda? Doeu em você ou no meio de tantas outras essa é fichinha?

Nenhum comentário:

Postar um comentário

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Perdas & Perdas


Há coisas que a gente perde e sabe que perdeu, tem plena consciência. Lamenta, fica olhando foto e chora de vez em quando (ou não).

Há vários tipos de perdas: as anunciadas e as repentinas. As repentinas dividem-se em violentas e as "ploft", que nada mais são do que aquelas que se acabam porque tinham que acabar mas não geram grande alarde ou estupefação, como o final de um sanduiche, a partida de um conhecido sem grandes vínculos emocionais conosco ou o final de uma Havaiana.

Acho que a perda "mais pior", mas a "mais pior de ruim mesmo" é aquela que a gente demora a se dar conta de que aconteceu. Aquela que passam-se dias, meses, até anos e de repente olhamos para trás e notamos que empobrecemos em algo que nos era tão caro. A gente tenta desesperadamente lembrar quando foi pelo menos para colocar a memória de luto, mas não consegue!

Perdas... Perdas... A perda da juventude é parecida com isso mas não é exatamente assim. A gente nunca sabe onde ou quando deixou de ser jovem mas sabe com toda a certeza que está deixando de ser todo o santo dia. E ao contrário do que os jovens pensam, isso não nos poupa do susto no espelho no meio de alguma madrugada mal dormida. Mas repito que essa perda é diferente por ser exaustivamente anunciada.

A perda da alegria de viver, essa sim se encaixa de forma perfeita fatal no exemplo dado.

Um dia é outono nos olhos e nenhum pássaro é gracioso o suficiente. Um dia nada parece mais idiota do que ficar todo molhado na chuva e sair correndo de braços abertos. Um dia não há sentido algum em fazer esforço para pegar um caju em uma árvore e ralar o joelho; pior ainda se for para ficar lá em cima se equilibrando para come-lo sem lavá-lo antes, tendo o sumo da fruta a escorrer pelo braço, cotovelo, observá-lo brilhar rapidamente nos últimos raios do sol da tarde e por fim enfiar-se na terra em câmera lenta. Qual o motivo lógico para manter-se no cajueiro com o olhar perdido entre as folhas observando os primos brincarem no quintal e imaginar qual peça lhes pregar? Um dia o colo do pai não é mais o lugar mais seguro do mundo nem o da mãe o mais macio e confortável e todas as verdades que ela disser podem ser derrubadas ao menor argumento. Um dia não há mais paciência para ouvir a mesma música, os filmes não emocionam, as festinham ficaramm chatas e previsíveis e os amigos, repetitivos. Um dia a gente descobre que o mundo não mudou. Nossos olhos é que ficaram cinzentos e a alegria de viver desvaneceu. Não saberíamos dizem como, em qual momento, devido a quê. Grande perda. Talvez a maior delas.

Pra você ver... Tudo isso só porque eu li um artigo dizendo que hoje em dia perdemos uma coisinha de nada: perdemos a exclusividade da atenção das pessoas. Atenção exclusiva é artigo de luxo. Já notou que durante uma conversa com um amigo ele fatalmente dará paradinhas para atender (ou desligar ou colocar no silencioso) o celular ou lendo uma mensagem rapidinho, anotando alguma coisa, fazendo um sinal para alguém que passa ("amanhã eu te ligo!") e você terá que relevar? Você, por exemplo, já deve ter interrompido umas três vezes pelo menos a leitura deste texto.

Que tal mais essa perda? Doeu em você ou no meio de tantas outras essa é fichinha?

Nenhum comentário:

Postar um comentário