
Saiu no globo.com (01/10/09 - 15h27) que "Mestre-sala da Unidos da Tijuca é suspeito de agredir porta-bandeira. Soco nas costas aconteceu após discussão, diz polícia. Ele será intimado a prestar esclarecimentos..."
Caraca! Vãos destruir mais essa figura do meu imaginário?
Sempre adorei ver o mestre-sala e a porta-bandeira fazedo aquelas evoluções, aquelas mesuras um para o outro. Sempre achei uma coisa linda, de singular elegância e charme, com uma afetação que lembrava (como se eu tivesse vivido!) a época da escravatura no Brasil Imperial, quando os escravos, por algum motivo, brincavam de senhor e senhora e exageravam nos gestos. O encanto residia também no fato de serem negros, estarem magnificamente vestidos, com o queixo esguido. A moça altiva com pose de rainha exigindo que o rapaz lhe devotasse todas as cortesias que sua juventude e beleza bem mereciam. Ele, vivaz e sedutor, sabia ser sensual sem jamais ultrapassar o limite da vulgaridade. Sapatos limpos, impecáveis, sorriso muito braco e os olhos pregados em seu rosto como se ela fosse uma deusa talhada em ônix, como se a adorasse e a quisesse mais que tudo. Aí vem um mestre-sala f.d.p e chuta a porta-bandeira! Lasca com tudo, acaba com toda a pose da escravatura vestida de realeza. Não, a escravatura que alcançou a realeza!
Nesse ponto sou arrancada das fantasias do passado e remetida via bofetão para o aqui-agora da falta de educação, do marido que bate em mulher, das mulheres-jararacas que dão unhada nas caras dos maridos, nos filhos berrando diante da cena, nas blusas rasgadas, nos dentes cariados cravados de casca de feijão, cuspindo farofa - a farofa do almoço que foi o pivô de toda a discução. Aí me vem, voando pela mente, o chinelo que rebentou no meio da briga e da avenida e a angústia de saber que naquela noite o homem não volta pra casa, mas vai gastar todinho o dinheiro do aluguel em cachaça. Vidinha fuleira, viu!
Certas notícias sacaneiam com a gente, te juro. Tenho em meu cérebro minhas imagens de estimação e senti-me igualmente chutada ao mancharem em minha mente aquela porta-bandeira que eu queria ser. Confesso: sempre me vi faceira e altiva sendo cortejada por um mestre-sala ágil, jovem, sorridente e solícito. Vocês não acham que eu dou para isso? Diz que sim! Diz que sim!!!!!
Vai dar um trabalhinho arrumar novamente tudo na gaveta da minha cabeça. Vocês sabem que meu cérebro é meio complicada, né?
Vou pesquisar. Acho que nisso cabe indenização.
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