Não sou má pessoa! Eu não cometeria esse ato de violência!
Dois jovens. Todo um futuro pela frente. Agora apenas uma família atônita e uma mãe-peixa lamentando para o resto da vida.
Dois irmãos. Iam tranquilos jogar a bolinha de sábado a tarde. Conversavam amenidades. Falavam nas enormes guelras da filha da vizinha e como ela parecia querer ostentá-las. Riam e faziam planos para o outro final de semana.
A coisa mais linda é ver dois irmãos unidos e saudáveis. Eram parecidos sim, porque todos os peixes o são, mas esses eram mais porque tinham enormes afinidades. A única diferença entre os dois era que o mais novo era tão impulsivo! Gostava de novidades, gostava de arriscar, adorava experimentar novos caminhos, aventuras. O mais velho preferia o previsível e seguro e por isso, apenas por isso, as vezes discutiam.
Para diminuir essa pequeníssima diferença é que a vida de ambos foi lamentavelmente encurtada. O mais velho disse não, não vamos. Por que não seguir pelo caminho de sempre, testado e aprovado pelos cardumes conhecidos, pelos nossos pais, tios e primos? Mas não, o novinho queria novidades, outras paisagens, queria chegar mais perto do "céu da água", queria ver novas peixinhas, queria tudo, tudo de uma vez porque se sentia feliz, ágil e cheio de vigor. Foram.
Cairam na rede. Eram peixes.
Hoje poderiam estar em uma faculdade. Poderiam estar casados ou pelos menos borbulhantemente apaixonados. Tinham uma linda vida pela frente e muito tempo ainda antes que o dourado de seus corpitchos desbotasse. Quem diria... Terminar na flor da idade assim, só cabeça e espinho...
Comi. com um dó que vocês nem podem imaginar; quase choro. Pobres maparás... Mas não deixa de ser belo pensar que agora a valentia, juventude e amizade deles correrá em meu sangue. Acho até que estou sentindo um coiso diferente. Tô mais esperta. Deu até uma vontade de nadar! Mas os sonhos deles, aqueles lindos sonhos ... esses se perderão para sempre. Não consigo sonhar como peixe.
Nossa, estou bem alimentada. Pelo menos garanto que esses jovens não morreram em vão. Acho que eu sou uma boa causa.
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