domingo, 20 de setembro de 2009

A arte de perder


Adoro pessoas decididas. Observo pessoas decididas e me pergunto: como elas conseguem ser assim?
Já interroguei um desses seres instigantes com essa perguntinha: "Como você consegue ser assim? Você não volta a ser atormentado novamente pela outra opção? Ela não retorna ao seu pensamento como uma mosca incômoda o tempo todo? Comigo é assim!" A resposta:

"- Não. Depois que decido acabou-se. Não me permito pensar mais na outra opção."

"- Mas e se você calculou errado e a outra opção era a melhor?"

"-Se era a melhor, ...deu-se. Arco com as consequências do meu erro ou acerto, custe o que custar. Paciência. Não há mais o quê considerar, ficar pensando, remoendo! Chega! Entendeu?"
"Ah, tá" pensei eu, como se tivesse caído a ficha. Claro que não caiu. Fiquei pensando e repensando na possibilidade de adotar, daquele dia em diante, a postura sábia e light do entrevistado. Começou a chatisse: seria aquela a melhor postura diante da vida e de seus desafios ou será que aquela maneira de lidar com os problemas não era a melhor? Eu era mais sábia e ponderada ou era apenas uma barata atrapalhada no meio das mudanças? Ele, pela sua falta de paciência para analisar mais detidamente os permenores dos fatos, estaria regligenciando pontos importantes, portanto seria mais propenso a tomar decisões equivocadas? Ou eu é que me enredaria com um monte de pensamentos tortuosos e desnecessários desembocando, por fim, em uma "decisão indecisa" que jamais resultaria na tão desejada Pax Domini? Sim, porque o fato é que a "mosca" nunca me deixa! Existe um exército de moscas incansáveis atrás de mim a vida toda!
Não, esse não é bem o caminho da sabedoria...
Decidi: o caminho da sabedoria é o caminho que decide, esquece e se porta como se não houvesse mais segunda opção para ser apreciada. Sim, esse é o caminho e ele nada mais é do que A ARTE DO DESAPEGO.

Decidir é se conscientizar de que a opção 1 acabou, não tem mais, morreu, bola pra frente.

A arte de decidir é também - e principalmente - a arte de perder. Quem quer tudo, não tem nada, nem paz. Decidir é abrir mão, é saber que não dá pra oscilar pra sempre, que não somos donos de todos os caminhos, que não podemos estacionar nosso carro em dois lugares ao mesmo tempo. Não podemos ficar indefinidamente no meio da rua sem saber em qual das vagas colocá-lo.

A paz só vem com a perda e essa é a parte mais difícil da lição, pelo menos para mim. Perder nunca soa como uma coisa serena e adulta aos meus ouvidos...

Continuo admirando as pessoas decididas. Acho que hoje estou um pouco mais perto delas porque descobri como conseguem ser como são. Já é um passo, né? (Não é???)

Acho que o segundo passo é visitar meus armários e jogar um monte de cacarecos fora, fazer umas doações de roupas, sapatos e bolsas. Assim, pra efeito de treinamento.

Não ria! Você pensa que é fácil? Isso gera um tremendo sentimento de perda sinsinhô! Tudo na vida é treinamento! O lance já vai criando o chão necessário onde será erguida a catedral simbólica da Mulher Decidida que serei qualquer dia desses, para a serenidade minha e enlevo da posteridade que me contemplará boquiaberta.

É só esperar.

(Obs.: Eu até comecei bem. Como pude terminar dessa forma delirante?)

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domingo, 20 de setembro de 2009

A arte de perder


Adoro pessoas decididas. Observo pessoas decididas e me pergunto: como elas conseguem ser assim?
Já interroguei um desses seres instigantes com essa perguntinha: "Como você consegue ser assim? Você não volta a ser atormentado novamente pela outra opção? Ela não retorna ao seu pensamento como uma mosca incômoda o tempo todo? Comigo é assim!" A resposta:

"- Não. Depois que decido acabou-se. Não me permito pensar mais na outra opção."

"- Mas e se você calculou errado e a outra opção era a melhor?"

"-Se era a melhor, ...deu-se. Arco com as consequências do meu erro ou acerto, custe o que custar. Paciência. Não há mais o quê considerar, ficar pensando, remoendo! Chega! Entendeu?"
"Ah, tá" pensei eu, como se tivesse caído a ficha. Claro que não caiu. Fiquei pensando e repensando na possibilidade de adotar, daquele dia em diante, a postura sábia e light do entrevistado. Começou a chatisse: seria aquela a melhor postura diante da vida e de seus desafios ou será que aquela maneira de lidar com os problemas não era a melhor? Eu era mais sábia e ponderada ou era apenas uma barata atrapalhada no meio das mudanças? Ele, pela sua falta de paciência para analisar mais detidamente os permenores dos fatos, estaria regligenciando pontos importantes, portanto seria mais propenso a tomar decisões equivocadas? Ou eu é que me enredaria com um monte de pensamentos tortuosos e desnecessários desembocando, por fim, em uma "decisão indecisa" que jamais resultaria na tão desejada Pax Domini? Sim, porque o fato é que a "mosca" nunca me deixa! Existe um exército de moscas incansáveis atrás de mim a vida toda!
Não, esse não é bem o caminho da sabedoria...
Decidi: o caminho da sabedoria é o caminho que decide, esquece e se porta como se não houvesse mais segunda opção para ser apreciada. Sim, esse é o caminho e ele nada mais é do que A ARTE DO DESAPEGO.

Decidir é se conscientizar de que a opção 1 acabou, não tem mais, morreu, bola pra frente.

A arte de decidir é também - e principalmente - a arte de perder. Quem quer tudo, não tem nada, nem paz. Decidir é abrir mão, é saber que não dá pra oscilar pra sempre, que não somos donos de todos os caminhos, que não podemos estacionar nosso carro em dois lugares ao mesmo tempo. Não podemos ficar indefinidamente no meio da rua sem saber em qual das vagas colocá-lo.

A paz só vem com a perda e essa é a parte mais difícil da lição, pelo menos para mim. Perder nunca soa como uma coisa serena e adulta aos meus ouvidos...

Continuo admirando as pessoas decididas. Acho que hoje estou um pouco mais perto delas porque descobri como conseguem ser como são. Já é um passo, né? (Não é???)

Acho que o segundo passo é visitar meus armários e jogar um monte de cacarecos fora, fazer umas doações de roupas, sapatos e bolsas. Assim, pra efeito de treinamento.

Não ria! Você pensa que é fácil? Isso gera um tremendo sentimento de perda sinsinhô! Tudo na vida é treinamento! O lance já vai criando o chão necessário onde será erguida a catedral simbólica da Mulher Decidida que serei qualquer dia desses, para a serenidade minha e enlevo da posteridade que me contemplará boquiaberta.

É só esperar.

(Obs.: Eu até comecei bem. Como pude terminar dessa forma delirante?)

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