
A foto nos mostra uma moça passeando de bicicleta e ao mesmo tempo nos passa a sensação oposta ao que o ato de andar de bicicleta normalmente representa para nós.
Passear de bicicleta não seria uma das coisas mais descontraídas e relaxantes de se fazer? Um passeio casual, livre, sem custos, saudável, rápido o suficiente para sentir o vento e lento o suficiente para sentir a paisagem desfilar. Ir sem a pressa de um carro e sem o vagar por demais lento dos passos, pé ante pé que não nos permite sentir tanto o vento nem aquela coisa gostosa de quase voar.
Quem anda de bicicleta não faz pose mas se debruça despreocupadamente, olha para os lados e pensa livre, mais ou menos como nada. É só pegar o ritmo da respiração e pronto, o resto vai no automático.
A moça da foto não sabe de nada disso. A moça da foto só sabe que é bonita, só vê a si mesma e à platéia que a vê.
Não, não há platéia na foto - para mim e para você. Mas na cabecinha dela o mundo está povoado de olhos.
Na mente de um vaidoso sempre há platéia mesmo no meio do Saara, numa estrada selvagem, no meio do nada. Sempre haverá olhos atentos e medições cruéis.
A moça da foto é linda e doente. É doente de linda. Não vê nada que não seja a si mesma. Não intui sequer que de nada valerá seu ridículo guarda-chuvas diante da tempestade que se arma. Tempestade? Que tempestade? - diria.
Uma pessoa, para se manter impecável, não pode se preocupar com tempestades...
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