Navegar é preciso - viver não é preciso

Todo mundo ouve um chamado. Para uns, é a sereia no mar, como nessa famosa frase. Alguém no passado ouviu esse chamado e muito sentidamente afirmou que era preciso navegar nem que o mundo se acabasse; o chamado à existência não clamava assim com a mesma força sedutora.

Estamos todos com uma imposição sobre nossas cabeças. Geralmente não nos damos conta disso mas repare: seguir determinado rumo na vida a despeito de tudo e de todos, pare o bem ou para o mal... Você nunca conheceu ninguém assim? Claro que sim!

Ou segue em frente ou passa a vida no cais, encantado e chorando. Lançar-se ao mar pode significar morrer mas a segunda opção é viver?

Nada advogo, apenas entendi que "navegar é preciso; viver não é preciso". Ouvi dia desses meu vizinho cantando esta música e pela primeira vez essa letra fez sentido na minha cabeça.

O chamado nem sempre é para o mar. As vezes é para a boemia. O mundo se acaba mas boemar é preciso, fundamental e inadiável.

Para outros é pregar o Evangelho. Jesus não parava, não sossegava e morreu por isso. Quem ia segurar o homem? Para ele viver não era preciso, pelo menos segundo aquilo que o povão etende por "viver". Ele meteu a cara e navegou por mares nunca dantes navegados. Impossível convencê-lo a passar o resto da vida como carpinteiro. Simplesmente não dava, estava fora de questão. Maria, se tentou algum dia convencê-lo do contrário, desistiu. Destino. Os discípulos sacaram, se apaixonaram também e morreram parecido.

Camille Claudel... Pra ela foi a paixão avassaladora que não pesa, que não pensa. E que não é necessariamente viver. É romper, seguir em frente, desmoronar no mar. "Desmoromar". Mas entenda: era absolutamente necessário.

Para mim é... Deixa pra lá. E para você?

Viver? Depois a gente pensa nisso.

[Nota: "Navigare necesse; vivere non est necesse" - latim, frase de Pompeu, general romano, 106-48 aC., dita aos marinheiros, amedrontados, que recusavam viajar durante a guerra, cf. Plutarco, in Vida de Pompeu]