quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Um violeiro



Meu violeiro não tem nome.
Tem, mas só vai me dizer
Quando chegar a nossa hora
Porque tudo que sei dele
Sai da ponta de seus dedos
E da cintura de sua viola
Enroscada em sua coxa morena

O violeiro que conheci futuramente
Não lembro onde nasceu
Mas terá um sotaque curioso
Embalado de brisa e musicalidade

Só que falará pouco e nunca terá chorado
Ele não é como nós; é diferente.
Não me façam explicar.

Poucos olhares estiveram
Na direção do seu ônix
Encaixados em cílios espessos.

Quando eu o encontrar
Vou beijar-lhe os olhos também.

Para mim tantas modas compôs
Que emparelhadas as notas
Chegariam à lua
Dando-lhe voltas em colares

Meu violeiro é jovem e quieto
Parece-me que nem dorme
De tanto que compõe
Para me surpreender
É o que está fazendo agora
Precisamente

Diz dos banhos de rios
Das suas blusas que molharei
Dos passarinhos que adotaremos
Do travesseiro de feno

Procurarei em seu bolso segredos
E encontrarei
Todas as flores secas que dei
Sorrirei então luminosamente
O mais lindo sorriso do mundo
E ele ficará feliz
Verei seus dentes bancos
E desejarei sua língua

Porque ele é o violeiro
Que guarda minhas flores
Do lado do coração

Com suas mãos grandes de homem
Borda canções delicadas
Que fazem a gente chorar
Quando olha a lua no rio
E o rio dentro do olhar

Em seu colo peso menos que a viola
Sempre morna de abraço e amor
Há mistério no calor e na música
E ninguém chega a essas terras
Enquanto isso planto jasmins
E separo aromas
Pra completar o feitiço
E também para o tempo passar

Para as pessoas passarem
Supondo que penso em pedras
Ou contas ou tijolos
Mas estou mesmo esperar
Que o sol compreenda
Que precisa partir
Então irei também
No rastro da noite

Porque ele é o violeiro
Que guarda minhas flores
No lado do coração
Com mãos grandes e delicadas
Faz modas de viola pra mim
E colares colares para a lua.

Cristina Faraon

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quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Um violeiro



Meu violeiro não tem nome.
Tem, mas só vai me dizer
Quando chegar a nossa hora
Porque tudo que sei dele
Sai da ponta de seus dedos
E da cintura de sua viola
Enroscada em sua coxa morena

O violeiro que conheci futuramente
Não lembro onde nasceu
Mas terá um sotaque curioso
Embalado de brisa e musicalidade

Só que falará pouco e nunca terá chorado
Ele não é como nós; é diferente.
Não me façam explicar.

Poucos olhares estiveram
Na direção do seu ônix
Encaixados em cílios espessos.

Quando eu o encontrar
Vou beijar-lhe os olhos também.

Para mim tantas modas compôs
Que emparelhadas as notas
Chegariam à lua
Dando-lhe voltas em colares

Meu violeiro é jovem e quieto
Parece-me que nem dorme
De tanto que compõe
Para me surpreender
É o que está fazendo agora
Precisamente

Diz dos banhos de rios
Das suas blusas que molharei
Dos passarinhos que adotaremos
Do travesseiro de feno

Procurarei em seu bolso segredos
E encontrarei
Todas as flores secas que dei
Sorrirei então luminosamente
O mais lindo sorriso do mundo
E ele ficará feliz
Verei seus dentes bancos
E desejarei sua língua

Porque ele é o violeiro
Que guarda minhas flores
Do lado do coração

Com suas mãos grandes de homem
Borda canções delicadas
Que fazem a gente chorar
Quando olha a lua no rio
E o rio dentro do olhar

Em seu colo peso menos que a viola
Sempre morna de abraço e amor
Há mistério no calor e na música
E ninguém chega a essas terras
Enquanto isso planto jasmins
E separo aromas
Pra completar o feitiço
E também para o tempo passar

Para as pessoas passarem
Supondo que penso em pedras
Ou contas ou tijolos
Mas estou mesmo esperar
Que o sol compreenda
Que precisa partir
Então irei também
No rastro da noite

Porque ele é o violeiro
Que guarda minhas flores
No lado do coração
Com mãos grandes e delicadas
Faz modas de viola pra mim
E colares colares para a lua.

Cristina Faraon

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