terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Tortura


Não sei porque tratam o homicídio como se fosse o pior crime do mundo. Não é. Digam o que disserem, NÃO É mesmo. Claro que existe o argumento de que ele não pode ser reparado mas pensando bem o quê pode ser reparado nessa vida? Nada.

O que torna um crime pior é a soma de dois fatores malévolos: crueldade do agente + degradação da vítima.

Ninguém precisa ser um monstro para matar outra pessoa, principalmente se estiver usando uma arma de fogo. É a coisa mais fácil do mundo. Qualquer zé mané puxa um gatilho. Aliás o que mais tem nesse mundo é zé mané puxando gatilho.

Um cidadão mediano em um momento infeliz faz isso e estraga seu resto de vida. Eu, na raiva, posso sentar uma paulada em alguém e manda-lo para a eternidade. Você, hipotético mau motorista, pode detonar cinco de uma vez. Cara, matar é simples, fácil e não requer experiência ou dose extra de maldade, mas torturar...



Ninguém tortura sob forte emoção nem em um momento impensado. Ninguém tortura sem sentir prazer. Qualquer ser humano normal, se se sente ameaçado ou encegueirado pelo ódio o que faz? Mata, claro. Mas prolongar a dor, ver outro ser humano gritar, contorcer, degradar-se e não conseguir sentir nenhum tipo de agonia, piedade, misericórdia, aflição? Ficar impassível? Pior: gostar? Repetir? Prolongar o ato por horas? Fazer piadinha? É um aleijão emocional. A humanidade não precisa de pessoas assim. Algo tão daninho é menos que gente. E é aí que entra o primeiro problema.


1) Bicho é menos que gente (pra mim, é) mas por mais cruel que seja, tem direito ao seu espaço no planeta. Não posso sair por aí dizendo que a humanidade não precisa de cascavéis nem de ursos ferozes ou onças e sair matando todos eles (embora ninguém tenha misericórdia do mosquito da dengue).


2) Posso exigir que uma cobra se comporte como um coelho? Não. Se um torturador é um verme eu deveria aceitar sua estranha natureza e não criticá-lo. Se sente prazer com o que faz, paciência. O que fazer com este estranho ser? Aceitar sua natureza ? Uma vez tendo sido aceito, tratá-lo como tal?

Como tratamos os vermes? Hmmm... Não os condenamos... Mas também não os suportamos!

Complicado.


3) Uma vez tendo concluído que o torturador é gente sim, mas alguém voluntariamente pervertido e que tortura é o pior crime do mundo, a coisa mais horrível que se pode fazer com alguém, como lidar com o assunto em termos legais? O que o torturador merece, no mínimo? Ser torturado, claro. Mas quem o torturará? Alguém pago pelo Estado?

Como o Estado criará e custeará um monstro para castigar outro monstro da mesma marca? Temos aí uma contradição. Se podemos manter vivo e alimentado às expensas da União um nojento desse, é de se admitir que ele não seja tão nojento assim. Se não é tão nojento assim, por que castigá-lo com tanto rigor? Estaríamos sendo incoerentes. E se é tão nojento assim, como criar um igualzinho sob o manto da Justiça?



4) Se não o torturo, o que faço com ele? Mato? Mas como castigá-lo com um crime menor do que o que ele cometeu? Nem faço justiça nem o regenero. Não é justo nem prático. Além do mais, manter um matador pago pelo Estado não é muito melhor do que manter um torturador pago pelo Estado.


5) Podemos tentar regenerá-lo? Como assim? Alguém convence outra pessoa que o que lhe dá prazer de hoje em diante deve ser considerado desprazer? Alguém consegue convencer um heterossexual a ser homossexual? Alguém consegue convencer um homossexual a ser heterossexual?

Se o maluco sente prazer/poder ao torturar e humilhar, qual a chance de faze-lo mudar de idéia?



Não assisti mas gostei do filme Laranja Mecânica. Mas filme é filme, trata-se de ficção. O método não tem sua eficácia comprovada.



Adoro opinar a respeito de tudo e de todos. Tenho um blog justamente para isso só que esse tema é tão perturbador que não consigo ir além do que estou indo. Parei aqui. Quem puder que me ajude. Não consigo passar disso.

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terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Tortura


Não sei porque tratam o homicídio como se fosse o pior crime do mundo. Não é. Digam o que disserem, NÃO É mesmo. Claro que existe o argumento de que ele não pode ser reparado mas pensando bem o quê pode ser reparado nessa vida? Nada.

O que torna um crime pior é a soma de dois fatores malévolos: crueldade do agente + degradação da vítima.

Ninguém precisa ser um monstro para matar outra pessoa, principalmente se estiver usando uma arma de fogo. É a coisa mais fácil do mundo. Qualquer zé mané puxa um gatilho. Aliás o que mais tem nesse mundo é zé mané puxando gatilho.

Um cidadão mediano em um momento infeliz faz isso e estraga seu resto de vida. Eu, na raiva, posso sentar uma paulada em alguém e manda-lo para a eternidade. Você, hipotético mau motorista, pode detonar cinco de uma vez. Cara, matar é simples, fácil e não requer experiência ou dose extra de maldade, mas torturar...



Ninguém tortura sob forte emoção nem em um momento impensado. Ninguém tortura sem sentir prazer. Qualquer ser humano normal, se se sente ameaçado ou encegueirado pelo ódio o que faz? Mata, claro. Mas prolongar a dor, ver outro ser humano gritar, contorcer, degradar-se e não conseguir sentir nenhum tipo de agonia, piedade, misericórdia, aflição? Ficar impassível? Pior: gostar? Repetir? Prolongar o ato por horas? Fazer piadinha? É um aleijão emocional. A humanidade não precisa de pessoas assim. Algo tão daninho é menos que gente. E é aí que entra o primeiro problema.


1) Bicho é menos que gente (pra mim, é) mas por mais cruel que seja, tem direito ao seu espaço no planeta. Não posso sair por aí dizendo que a humanidade não precisa de cascavéis nem de ursos ferozes ou onças e sair matando todos eles (embora ninguém tenha misericórdia do mosquito da dengue).


2) Posso exigir que uma cobra se comporte como um coelho? Não. Se um torturador é um verme eu deveria aceitar sua estranha natureza e não criticá-lo. Se sente prazer com o que faz, paciência. O que fazer com este estranho ser? Aceitar sua natureza ? Uma vez tendo sido aceito, tratá-lo como tal?

Como tratamos os vermes? Hmmm... Não os condenamos... Mas também não os suportamos!

Complicado.


3) Uma vez tendo concluído que o torturador é gente sim, mas alguém voluntariamente pervertido e que tortura é o pior crime do mundo, a coisa mais horrível que se pode fazer com alguém, como lidar com o assunto em termos legais? O que o torturador merece, no mínimo? Ser torturado, claro. Mas quem o torturará? Alguém pago pelo Estado?

Como o Estado criará e custeará um monstro para castigar outro monstro da mesma marca? Temos aí uma contradição. Se podemos manter vivo e alimentado às expensas da União um nojento desse, é de se admitir que ele não seja tão nojento assim. Se não é tão nojento assim, por que castigá-lo com tanto rigor? Estaríamos sendo incoerentes. E se é tão nojento assim, como criar um igualzinho sob o manto da Justiça?



4) Se não o torturo, o que faço com ele? Mato? Mas como castigá-lo com um crime menor do que o que ele cometeu? Nem faço justiça nem o regenero. Não é justo nem prático. Além do mais, manter um matador pago pelo Estado não é muito melhor do que manter um torturador pago pelo Estado.


5) Podemos tentar regenerá-lo? Como assim? Alguém convence outra pessoa que o que lhe dá prazer de hoje em diante deve ser considerado desprazer? Alguém consegue convencer um heterossexual a ser homossexual? Alguém consegue convencer um homossexual a ser heterossexual?

Se o maluco sente prazer/poder ao torturar e humilhar, qual a chance de faze-lo mudar de idéia?



Não assisti mas gostei do filme Laranja Mecânica. Mas filme é filme, trata-se de ficção. O método não tem sua eficácia comprovada.



Adoro opinar a respeito de tudo e de todos. Tenho um blog justamente para isso só que esse tema é tão perturbador que não consigo ir além do que estou indo. Parei aqui. Quem puder que me ajude. Não consigo passar disso.

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