
Entre resolver um assunto e resolver outro as vezes permito-me o luxo de almoçar. Fui novamente a um restaurante hoje mas não estou aqui para criticar ou elogiar a casa. É de outra coisa que quero falar.
Pode ser que eu esteja meio pra baixo... Mundo esquisito esse nosso...
Tudo arrumadinho. A menina na porta me recebeu com um terninho, cabelo preso. "Boa tarde, senhora. Lugar para quantas pessoas?" E um sorriso inexpressivo. Comuniquei-me nos minutos seguintes com outros seres treinados e alguma coisa me doeu por dentro. Alguma coisa parecia estar errada no mundo.
Novidade!!! Oh!
Claaaaaro (bãããã) que o mundo está cheio de coisas erradas. Não estou descobrindo a pólvora, apenas um outro aspecto que me chamou a atenção. Nada de mais.
Lá dentro do restaurante uma coisa fundamental não estava funcionando. Entenda: os ambientes pagos existem para nos dar a ilusão de que está tudo bem, tudo certo com o mundo - pelo menos com o nosso mundo. Os restaurantes por exemplo existem para dizer que não há fome, que cozinhar é rapidinho e não dá trabalho nenhum! Que eu posso pedir o que eu quiser e isso não trará incômodo, que existe um monte de gente atrás da cortina doidinha para me fazer feliz, que tudo naquele ambiente foi preparado com carinho para os meus olhos. E assim é nas lojas, hotéis, parques e tudo o mais. Natural. A gente paga pra isso e se indigna quando não funciona.
"Não há problema ao meu redor, eu sou bem-vinda, não dá trabalho algum realizar os meus desejos. Sou muito simpática e receber-me com elegância é algo tão simples e natural que as pessoas fazem isso sem nem notar."
Pois é, mas naquele restaurante bem decorado com funcionários uniformizados, ar condicionado e música ambiente no volume certo, as pessoas que trabalhavam me pareceram tão pobres e deslocadas que... Como dizer? Tinham uma "pedra emocional" nos sapatos.
Esforçavam-se tanto para pôr em prática os gestos "finos" aprendidos no treinamento e aquilo era tão postiço que me incomodou. Não no mau sentido, mas no sentido de comover, doer mesmo.
O garçon, magro demais naquela roupa larga que já devia ter sido usada por uns outros seis rapazes antes dele, falava comigo como se eu fosse muito importante. "Mesa para quantos, senhora?" "Mais alguma coisa, senhora?" "Aqui está o seu pedido, senhora." Quando eu perguntava mais alguma coisa, algum detalhe a mais, era visível a dificuldade em me entender. Parecia que eu estava falando grego. Eu tive que repetir algumas vezes o que eu estava falando. Sério. Fiquei imaginando como ele se sairia numa prova com interpretação de texto.
Todos eles eram assim. Tão jovens, tão esforçados e aquelas frases saíam quase que rasgando, sem naturalidade nenhuma. Acho que só ali eles conseguiam encontrar utilidade para o termo "aqui está..." tal coisa.
Quem sou eu, que percebo isso? Quem são eles, que precisam parecer tão diferentes do que são para trabalhar naquele lugar? Que país é esse?
Por quê as características que eles trazem de onde vêm são tão inaceitáveis naquele restaurante? Não era um lugar tão fino! Prova disso é que eu estava lá e pude pagar. De onde eles vieram, que foi preciso treinar-lhes como robôs? O que há de tão errado com eles, Deus do Céu? Ou comigo? Ou com o dono do restaurante? Ou com todo mundo?!
Acho que não tô muito boa esses dias...
Primeiro: aparente vc não está muito boa esses dias... eheheh
ResponderExcluirSegundo: O problema "deste país" é a falta de educação do povo. Se fossem bem educados, de berço e escola, tudo pareceria mais natural, sem que fosse preciso um treinamento para que parecessem bem educados, o treinamento seria apenas em como cozinhar, como servir e não em quais palavras pode e não pode dizer e em que entonação.