segunda-feira, 14 de maio de 2007

Eles ou eu?


Pensei que eu já tivesse conseguido dirgerir isso com uma indiferença maldita e confortável.

A gente vê tanta miséria que acaba cansando de pensar nela. Ou se acostuma a pensar que é um fato da vida e ponto final. Bem, nem sei dizer como encaro as fotos e filmagens sobre a miséria.

O detalhe é que ao vivo é diferente.
Pensei que eu já estivesse acostumada, mas não. Na televisão ou em fotos a mente da gente acaba classificando tudo aquilo junto com as imagens dos filmes dramáticos que já vimos; guerras, romances impossíveis, fim do mundo, história de assassinos, catástrofes, incêndios etc. Para defender nossa saúde mental temos um dispositivo interno que arquiva as informações horrorosas e chocantes na mesma prateleira dos filmes. Acho que é assim que funciona.

Tá na hora de mudar essa arrumação. A miséria humana tem que ter uma prateleira só para ela, bem de frente, ao alcance dos olhos.

Hoje a noite vi uma cena comum para os outros. Para mim, que vivo em uma bolha-classe-média não é comum. É uma coisa do outro mundo - mesmo!

Quando fui pegar meu carro para voltar para casa vi umas pessoas no meio de um monte de lixo catando algo para comer. Eles reviravam o lixo como se fossem cães! Meu Deus! Tudo fedia! Como alguém poderia comer alguma coisa daquele monte?

Na televisão não choca. A gente está acostumado. Mas ao vivo e à cores é um soco no estômago. Dói o coração, dói a alma e a consciência.

Aquilo é indigno de um ser humano! É degradante. Não consigo esquecer.

Como será que aquelas pessoas se sentem? Ou elas não tem tempo para essas filosofadas? Filosofar não enche barriga, né?

Elas poderiam me olhar pelo menos com ódio, mas não. Passei perto sem chamar a mínima atenção. Nada! Não despertei o menor interesse naquelas pessoas. Para eles o lixo tinha mais a lhes oferecer do que eu. Havia mais esperança no lixo do que na minha pessoa. O silêncio deles foi contundente.

E o que estou fazendo aqui? Será que escrever no blog pode ajuda-los? Claro que não. Não ajuda nem a mim mesma, que saí de lá me sentindo uma assassina.

Seres humanos como eu, catando lixo como cães!

Agora olhe em meus olhos e crave em meu peito a pergunta fatal: "E aí, Cristina? O que você fez por eles? Conte o resto da história."
Resposta: não fiz nada. Na verdade temi que me assaltassem ou agredissem. Sabe-se lá o que passa na cabeça daquelas pessoas estranhas!

Tendo em vista tudo o que foi dito, quem se desumanizou dentro desse contexto: eles ou eu?
Cristina Faraon

5 comentários:

  1. É Cristina, essas cenas estão cada vez mais corriqueiras, mas será que temos culpa mesmo disso? Ai... ai... Olha, podemos até ter, mas qual seria a melhor forma de ajudarmos? Seria dando comida, roupas e carinho? Acredito que não, pois o "buraco é mais embaixo", mas enfim, espero um dia que essas cenas sejam menos frequentes e que nós sejamos iluminados para pensarmos numa boa solução para esse problema.

    BEIJÃO!

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  2. Pior que infelizmente, nosso senso de normalidade ´e tão grande que diariamente tratamos dessa realidade patente aos nossos olhos de uma forma absurdamente indiferente.No entanto,qnd paramos e refletimos um pouquinho... ficamos com os corações apertados, um nó na garganta, a vergonha de tantas vezes não valorizarmos quem somos, oq temos(como se Deus tivesse a obrigação de nos privilegiar!) e a sensação de que nada podemos fazer mas, será mesmo que nada podemos fazer???Sei não!
    beijo grande pra vc!

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  3. Sabe, Cristina, essa triste realidade nós a vemos por toda parte, querendo ou não!!! É claro que em nossa singularidade pouco ou quase nada podemos fazer. Mas é justamente para nos representar, que elegemos nossos governantes. O problema é que... a sociedade se esqueceu do sentido verdadeiro de "fazer política", não acha?! Liderados pelos nossos bons (! ond estão?!) políticos, poderemos fazer muito, em comunidade! Adorei sua reflexão. saudações. geraldo rdr.

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  4. Bem Cris, eu tenho estudado muito sobre sociedade e tudo que a envolve, e é engraçado como todas entram no curso de Serviço Social com o profundo desejo de ajudar os outros, de fazer caridade...mas não é isso que deve ser feito. É dever do Estado lógico, mas podemos sim nos mobilizar e promover algum auxílio. Existem alguns projetos aqui em belém que trabalham com reabilitaçao de pessoas à sociedade, abigos para elas tomarem banho, comer e dormir. Promovem cursos, enfim, mas é impossível alcançar todos.
    De fato é uma questão muito difícil. Mas creio que isso faz parte de uma crise política e do anúncio fim dos tempos.
    (desculpe se falei bobagem, é o que penso)

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  5. essa de fato é uma realidade q nos faz pensar...ás vezes eu, com o meu amor por animais, fico triste ao ver um cão abandonado na rua, dá vontade de levar pra casa (sei q vc n curti esta mesma paixão...ehehe), e qd vem um ser humano pedir um pouco de assistencia, a gente fica com raiva, diz "vai trabalhar!", e compaixão q é bom, nada!o fato é q a gente tá acostumado a pensar q n podemos fazer nada, q a vida segue assim...o fato é q todos dizem "se cada um fizer sua parte..." mas no fundo isso soa como um clichê manjado, e q na verdade n quer dizer muita coisa...a gente pensa "pq ele n se vira?eu n sou rico, to trabalhando...pq ele n faz o mesmo"..é verdade q tem muitos ali q tão nesta vida por pura "vadiagem", vícios, etc...mas outros por pura falta de oportunidades, por desgraça da vida, pq perderam tudo, pq ninguém se interessa por eles...aqui em casa sempre sobra comida, há fartura, e ainda assim já aconteceu deu negar um prato de comida simplesmente pq eu n quero "acostumar mal" o indivíduo...e se for parar pra pensar, há isso mesmo..é complicado demais..é difícil saber qd ajudar sem deixar a pessoa cômoda a essa vida, qd a pessoa tá naquela situação simplesmente pq é preguiçosa, escorona...ou qd realmente ela n teve outra escolha, e precisa de qq ajuda, sendo minha, sendo sua...na verdade, será q cabe a mim julgar qd a pessoa aparenta merecer minha compaixão, ou será q eu sempre tenho q fazer a minha parte, pelo menos por "descargo de consciência"...ah, sei lá...n sei...tô confusa...eu sei q enquanto eu me pergunto, tem gente morrendo, passando fome...a verdade é q isso é sim, uma realidade, e ás vezes a gente se acha bonzinho por ter pena, e n age...aaaaaaai, é uma droga..sei q no mundo sempre vai ocorrer isso, uns tem tudo, outros nada...n acho q a gente deva adotar o socialismo, onde todo mundo vai ter o básico, daí n falta pra ninguem...mas tb é triste ver gente ostentando, qtos outros estã miseráveis pela rua...gente, q coisa triste ir na praça da república e ver crianças nesta situação...parte o coração, mas tb nunca passei por lá pra deixar um pão, um prato...será q é de todo ser humano esse egoísmo, ou é só eu??acho q n faço nada mais por comodismo memso, por achar q isso é triste, mas eu n tenho nada a ver com isso...mas isso em si já é egoísmo, n???aaai, enfim...a verdade é q a gente sabe no fundo oq fazer, mas tá sempre deixando pro próximo essa responsabilidade..é um ciclo vicioso!!

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segunda-feira, 14 de maio de 2007

Eles ou eu?


Pensei que eu já tivesse conseguido dirgerir isso com uma indiferença maldita e confortável.

A gente vê tanta miséria que acaba cansando de pensar nela. Ou se acostuma a pensar que é um fato da vida e ponto final. Bem, nem sei dizer como encaro as fotos e filmagens sobre a miséria.

O detalhe é que ao vivo é diferente.
Pensei que eu já estivesse acostumada, mas não. Na televisão ou em fotos a mente da gente acaba classificando tudo aquilo junto com as imagens dos filmes dramáticos que já vimos; guerras, romances impossíveis, fim do mundo, história de assassinos, catástrofes, incêndios etc. Para defender nossa saúde mental temos um dispositivo interno que arquiva as informações horrorosas e chocantes na mesma prateleira dos filmes. Acho que é assim que funciona.

Tá na hora de mudar essa arrumação. A miséria humana tem que ter uma prateleira só para ela, bem de frente, ao alcance dos olhos.

Hoje a noite vi uma cena comum para os outros. Para mim, que vivo em uma bolha-classe-média não é comum. É uma coisa do outro mundo - mesmo!

Quando fui pegar meu carro para voltar para casa vi umas pessoas no meio de um monte de lixo catando algo para comer. Eles reviravam o lixo como se fossem cães! Meu Deus! Tudo fedia! Como alguém poderia comer alguma coisa daquele monte?

Na televisão não choca. A gente está acostumado. Mas ao vivo e à cores é um soco no estômago. Dói o coração, dói a alma e a consciência.

Aquilo é indigno de um ser humano! É degradante. Não consigo esquecer.

Como será que aquelas pessoas se sentem? Ou elas não tem tempo para essas filosofadas? Filosofar não enche barriga, né?

Elas poderiam me olhar pelo menos com ódio, mas não. Passei perto sem chamar a mínima atenção. Nada! Não despertei o menor interesse naquelas pessoas. Para eles o lixo tinha mais a lhes oferecer do que eu. Havia mais esperança no lixo do que na minha pessoa. O silêncio deles foi contundente.

E o que estou fazendo aqui? Será que escrever no blog pode ajuda-los? Claro que não. Não ajuda nem a mim mesma, que saí de lá me sentindo uma assassina.

Seres humanos como eu, catando lixo como cães!

Agora olhe em meus olhos e crave em meu peito a pergunta fatal: "E aí, Cristina? O que você fez por eles? Conte o resto da história."
Resposta: não fiz nada. Na verdade temi que me assaltassem ou agredissem. Sabe-se lá o que passa na cabeça daquelas pessoas estranhas!

Tendo em vista tudo o que foi dito, quem se desumanizou dentro desse contexto: eles ou eu?
Cristina Faraon

5 comentários:

  1. É Cristina, essas cenas estão cada vez mais corriqueiras, mas será que temos culpa mesmo disso? Ai... ai... Olha, podemos até ter, mas qual seria a melhor forma de ajudarmos? Seria dando comida, roupas e carinho? Acredito que não, pois o "buraco é mais embaixo", mas enfim, espero um dia que essas cenas sejam menos frequentes e que nós sejamos iluminados para pensarmos numa boa solução para esse problema.

    BEIJÃO!

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  2. Pior que infelizmente, nosso senso de normalidade ´e tão grande que diariamente tratamos dessa realidade patente aos nossos olhos de uma forma absurdamente indiferente.No entanto,qnd paramos e refletimos um pouquinho... ficamos com os corações apertados, um nó na garganta, a vergonha de tantas vezes não valorizarmos quem somos, oq temos(como se Deus tivesse a obrigação de nos privilegiar!) e a sensação de que nada podemos fazer mas, será mesmo que nada podemos fazer???Sei não!
    beijo grande pra vc!

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  3. Sabe, Cristina, essa triste realidade nós a vemos por toda parte, querendo ou não!!! É claro que em nossa singularidade pouco ou quase nada podemos fazer. Mas é justamente para nos representar, que elegemos nossos governantes. O problema é que... a sociedade se esqueceu do sentido verdadeiro de "fazer política", não acha?! Liderados pelos nossos bons (! ond estão?!) políticos, poderemos fazer muito, em comunidade! Adorei sua reflexão. saudações. geraldo rdr.

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  4. Bem Cris, eu tenho estudado muito sobre sociedade e tudo que a envolve, e é engraçado como todas entram no curso de Serviço Social com o profundo desejo de ajudar os outros, de fazer caridade...mas não é isso que deve ser feito. É dever do Estado lógico, mas podemos sim nos mobilizar e promover algum auxílio. Existem alguns projetos aqui em belém que trabalham com reabilitaçao de pessoas à sociedade, abigos para elas tomarem banho, comer e dormir. Promovem cursos, enfim, mas é impossível alcançar todos.
    De fato é uma questão muito difícil. Mas creio que isso faz parte de uma crise política e do anúncio fim dos tempos.
    (desculpe se falei bobagem, é o que penso)

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  5. essa de fato é uma realidade q nos faz pensar...ás vezes eu, com o meu amor por animais, fico triste ao ver um cão abandonado na rua, dá vontade de levar pra casa (sei q vc n curti esta mesma paixão...ehehe), e qd vem um ser humano pedir um pouco de assistencia, a gente fica com raiva, diz "vai trabalhar!", e compaixão q é bom, nada!o fato é q a gente tá acostumado a pensar q n podemos fazer nada, q a vida segue assim...o fato é q todos dizem "se cada um fizer sua parte..." mas no fundo isso soa como um clichê manjado, e q na verdade n quer dizer muita coisa...a gente pensa "pq ele n se vira?eu n sou rico, to trabalhando...pq ele n faz o mesmo"..é verdade q tem muitos ali q tão nesta vida por pura "vadiagem", vícios, etc...mas outros por pura falta de oportunidades, por desgraça da vida, pq perderam tudo, pq ninguém se interessa por eles...aqui em casa sempre sobra comida, há fartura, e ainda assim já aconteceu deu negar um prato de comida simplesmente pq eu n quero "acostumar mal" o indivíduo...e se for parar pra pensar, há isso mesmo..é complicado demais..é difícil saber qd ajudar sem deixar a pessoa cômoda a essa vida, qd a pessoa tá naquela situação simplesmente pq é preguiçosa, escorona...ou qd realmente ela n teve outra escolha, e precisa de qq ajuda, sendo minha, sendo sua...na verdade, será q cabe a mim julgar qd a pessoa aparenta merecer minha compaixão, ou será q eu sempre tenho q fazer a minha parte, pelo menos por "descargo de consciência"...ah, sei lá...n sei...tô confusa...eu sei q enquanto eu me pergunto, tem gente morrendo, passando fome...a verdade é q isso é sim, uma realidade, e ás vezes a gente se acha bonzinho por ter pena, e n age...aaaaaaai, é uma droga..sei q no mundo sempre vai ocorrer isso, uns tem tudo, outros nada...n acho q a gente deva adotar o socialismo, onde todo mundo vai ter o básico, daí n falta pra ninguem...mas tb é triste ver gente ostentando, qtos outros estã miseráveis pela rua...gente, q coisa triste ir na praça da república e ver crianças nesta situação...parte o coração, mas tb nunca passei por lá pra deixar um pão, um prato...será q é de todo ser humano esse egoísmo, ou é só eu??acho q n faço nada mais por comodismo memso, por achar q isso é triste, mas eu n tenho nada a ver com isso...mas isso em si já é egoísmo, n???aaai, enfim...a verdade é q a gente sabe no fundo oq fazer, mas tá sempre deixando pro próximo essa responsabilidade..é um ciclo vicioso!!

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